• Para isso, ele preferiu liderar a bancada, onde tem mais influência do que no comando da CCJ do Senado
Fernanda Krakovics | O Globo
Ao deixar a presidência do Senado na última quarta-feira, cargo para o qual foi eleito quatro vezes nos últimos 12 anos, Renan Calheiros (PMDB-AL), em vez de submergir para tentar sair do foco da Operação Lava-Jato, assumiu um posto de destaque, a liderança do PMDB na Casa.
Senadores e pessoas próximas dizem que não é perfil de Renan sair de cena e que ele deve continuar esticando a corda com o Judiciário, até como estratégia de defesa. Assim, caso venha a ser condenado, ele teria o discurso de que estaria sendo perseguido porque contrariou interesses.
Em seu último discurso como presidente do Senado, na última quarta-feira, ele disse defender a continuidade da Lava-Jato, mas não deixou de fazer críticas veladas às investigações, dando um indicativo de que não baixará o tom:
— Embora alguns segmentos no Brasil, na ambição do poder, estejam flertando perigosamente com o fascismo e desprezando o valor do voto, garanto, mais uma vez, que eles não passarão. A história não perdoa os oportunistas e jamais esquece os covardes e os omissos.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou Renan em dezembro do ano passado por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Lava-Jato. O senador é acusado de usar intermediários para pedir e receber dinheiro da empreiteira Serveng, que tem contratos com a Petrobras.
Renan responde a outros dez inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), sendo sete da Lava-Jato. O senador já é réu no Supremo por peculato (desvio de dinheiro público) em processo que apura se a empreiteira Mendes Júnior pagou pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha. O peemedebista nega todas as acusações.
Entre os enfrentamentos de Renan com o Judiciário e o Ministério Público está a tentativa de aprovar projeto endurecendo a punição de juízes e procuradores por abuso de autoridade. Ele também instalou uma comissão para investigar o pagamento de supersalários dos servidores desses órgãos.
Outro motivo para Renan continuar tentando dar as cartas é a eleição de 2018, quando ele e seu filho, o atual governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), devem disputar a reeleição. Nas eleições municipais do ano passado seu grupo político foi derrotado nos maiores colégios eleitorais de Alagoas: Maceió, Arapiraca, Rio Largo e Palmeira dos Índios.
Nesse cenário, a reeleição de Renan não é considerada garantida. São citados como précandidatos ao Senado em 2018, quando duas vagas estarão em disputa, o ministro Maurício Quintella (Transportes), o senador Benedito de Lira (PP), os ex-governadores Teotônio Vilela (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT).
Embora perca protagonismo ao deixar o comando do Senado, Renan continuará influente na Casa e com força para pressionar o Palácio do Planalto.
Nos últimos meses no comando do Senado, Renan estava atuando como aliado de primeira hora do governo, mas ao deixar o comando do Senado ele preteriu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, porque avaliou que teria mais influência política como líder do PMDB. Entre as atribuições da CCJ está sabatinar o ministro do STF que será indicado por Temer para o lugar de Teori Zavascki, morto em um acidente aéreo no último dia 19.
Nessa semana, poderá ficar mais clara a relação do senador com o governo. Temer quer que ele indique logo qual peemedebista comandará a CCJ para indicar o novo ministro do STF. O ex-presidente da Casa poderá acelerar a indicação, como quer o governo, ou manter o controle do jogo demorando mais tempo para definir a questão.
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