Por Renato Rostás, Cristiane Agostine e Ricardo Mendonça | Valor Econômico
SÃO PAULO - Ao despedir-se de sua esposa, Marisa Leticia, durante o velório no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no sábado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que não pretende se afastar da disputa política no cenário nacional. "Marisa, descanse em paz. O seu 'Lulinha paz e amor' vai continuar lutando muito por aqui", afirmou o ex-presidente, muito emocionado, depois de perder a companheira com quem dividiu 44 anos de sua vida. Dias antes, quando Marisa ainda estava na UTI, Lula disse a militantes que lutará para não se deixará abater. "A pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que Marisa chegou", disse, referindo-se à Operação Lava-Jato. "Mas isso não vai me fazer ficar chorando pelos cantos. Vai ficar apenas batendo na minha cabeça, como mais uma razão para que a luta continue".
Com a morte de sua esposa, o ex-presidente deve reforçar os ataques contra a força-tarefa da Lava-Jato, que colocou sua família no alvos das investigações. No velório, Lula chamou os investigadores de "facínoras", cobrou um pedido de desculpas e disse que está acusado injustamente. "Se tem alguém que praticou corrupção, não é este homem que está enterrando sua esposa. Não tenho que provar que sou inocente, e sim eles têm que provar que as mentiras que contam são verdade".
Amigos e aliados de Lula intensificaram nos últimos dias as críticas à força-tarefa da Lava-Jato e repetiram a que as investigações têm como objetivo tirá-lo da disputa presidencial de 2018. Segundo petistas, a morte de Marisa não pode ser dissociada dos desdobramentos da operação. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que a esposa do ex-presidente, com 66 anos, foi "vítima dos ataques cruéis da elite" e teve sua vida vasculhada e exposta sem que encontrassem irregularidades. Mesmo depois da morte da ex-primeira-dama, Falcão afirmou que Lula não recuará das disputas políticas. "Lula vai continuar nos liderando com certeza nas lutas que ainda temos pela frente", afirmou Falcão. "Acredito que não só os militantes do PT, mas também todo brasileiro quer que você continue na luta", disse o dirigente.
O ex-presidente deve assumir o comando do PT em junho, durante o Congresso petista. Na ocasião, o partido avalia se já lançará a candidatura de Lula para 2018.
Apesar de defenderem o lançamento de Lula para mais uma disputa à Presidência, amigos do ex-presidente preocupam-se com a dependência emocional que ele tinha em relação à esposa. O petista sempre se aconselhava com Marisa e era ela quem "segurava a barra", como disse o próprio Lula.
Embora nunca tenha disputado eleição, não tenha sido nomeada para cargos públicos e evitasse os holofotes, Marisa teve sua vida marcada pela política nas últimas quatro décadas. A ex-primeira-dama acompanhou toda a construção da carreira sindical e política de Lula. Os dois dividiram experiências das grandes greves do fim dos anos 70, da fundação do PT, em 1980, e das cinco candidaturas à Presidência, com derrotas em 1989, 1994 e 1998, e vitórias em 2002 e 2006.
O ex-presidente e sua esposa se conheceram quando Lula ainda era diretor do setor de assistência social do sindicato, em São Bernardo. O casal tem quatro filhos.
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