Ranier Bragon, Angela Boldrini | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O ano legislativo começa nesta semana com o governo de Michel Temer enfrentando arestas decorrentes da eleição que, na última quinta-feira (2), reconduziu Rodrigo Maia (DEM-RJ) para mais dois anos no comando da Câmara dos Deputados.
Apesar do êxito –o Planalto apoiou Maia nos bastidores–, partidos governistas que foram derrotados e o PMDB, sigla do próprio presidente da República, demonstram insatisfação. Os alvos da ala contrariada são Maia e o PSDB.
O primeiro derrotou o chamado "centrão", união de siglas governistas médias, que rachou na disputa e agora tende a se dissolver. O segundo assumiu a articulação política da gestão Temer, com a posse de Antonio Imbassahy (PSDB-BA) na Secretaria de Governo, ampliando as reclamações do PMDB de que o partido tem pouco espaço na Esplanada dos Ministérios.
O clima esquentou após Maia declarar, na sexta (3), que DEM e PSDB serão os condutores e garantidores das reformas de Temer –a previdenciária e a trabalhista. Em entrevista à Folha no mesmo dia, disse que o presidente precisa arbitrar a briga por cargos dentro de seu partido.
A menção aos peemedebistas levou deputados da sigla a fazerem críticas inflamadas contra o presidente da Câmara no grupo de troca de mensagens da bancada.
"Foi uma declaração no mínimo infeliz. O PMDB sabe cuidar de seus próprios problemas, não precisamos de ajuda ou conselho externos. Os problemas do PMDB serão resolvidos com o peemedebista Michel Temer", afirmou o deputado Baleia Rossi (SP), líder da bancada.
Parlamentares de outros partidos também reclamaram da suposta hegemonia de PSDB e DEM.
"Tenho certeza de que o presidente Rodrigo Maia não quis dizer isso [que DEM e tucanos irão liderar as reformas]. Porque as reformas só passarão com o voto de mais de 308 deputados [60% da Câmara]. Serão esses deputados que irão liderar as reformas", diz Rogério Rosso (PSD-DF), que integra o grupo derrotado por Maia na eleição da semana passada.
Já o presidente da Câmara e integrantes do Planalto afirmam não acreditar que as insatisfações tenham reflexo na votação das reformas. A da Previdência, que altera a Constituição, precisa do apoio de pelo menos 60% dos deputados para ser aprovada.
O governo diz que em menos de uma semana irá aparar as arestas com o que restou do "centrão" –basicamente, Jovair Arantes (PTB-GO), que recebeu 105 votos na disputa pela presidência da Câmara (Maia teve 293).
O petebista, que já recebeu um telefonema de Temer, diz ter sido vítima de "atropelamento fora do comum", na eleição, por parte de integrantes do Palácio do Planalto.
Integrante do "centrão", o PP pode ficar com a liderança do governo na Câmara, por exemplo.
Maia afirmou à Folha acreditar que os problemas serão rapidamente resolvidos. "Todos os partidos vão estar representados de forma efetiva. O PSDB é o segundo maior partido da base aliada, mas não tenha dúvida que outros partidos da base terão espaço importante no comando político da Casa e no comando dessas reformas."
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