- O Estado de S. Paulo
• Sinais de alguma reanimação na economia. É torcer para a política não atrapalhar
Pode ser um cuidado exagerado, até um certo trauma em relação ao que aconteceu logo no pós-impeachment, mas é bom se precaver. Há alguns sinais na praça de melhora na atividade econômica, que têm sido interpretados com maior ou menor entusiasmo, dependendo do ponto de vista do analista – e como tem ponto de vista! Indicam um suspiro ou a retomada de fôlego da economia brasileira? Eis aí a questão.
Vamos aos sinais. A confiança dos consumidores voltou a subir: segundo sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o índice de confiança do consumidor subiu 6,2 pontos em janeiro, para 79,3 pontos, quase anulando as perdas registradas nos dois meses anteriores. A parcela das famílias endividadas, segundo a Confederação Nacional do Comércio, caiu para 55,6% em dezembro, nível mais baixo desde junho de 2010. Mesmo os impressionantes números negativos que marcam os balanços acumulados de 2016 podem esconder alguma tênue melhora nos últimos meses. É o caso da produção industrial, que, segundo o IBGE, fechou 2016 com uma queda acumulada de 6,6%, a terceira consecutiva, mas que em dezembro cresceu 2,3% sobre novembro.
A equipe econômica comemora alguns dos chamados indicadores antecedentes – que, como o nome diz, estariam antecipando uma melhora nítida na atividade. Com base nisso, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem repetido o vaticínio de que, no último trimestre de 2017, a economia brasileira estará crescendo no ritmo de 2% ao ano. Número mais adequado, segundo ele, para dar a dimensão do movimento, do que aparecerá ao fim de 2017, provavelmente um minguado 0,5% a 1%.
Medidas. Meirelles também anunciou que nos próximos dias vêm novas medidas com o objetivo de facilitar a vida das empresas e das pessoas físicas, entre elas a reformulação da lei de recuperação judicial. Nada de bombástico capaz de acelerar a atividade econômica, como alguns imaginavam na primeira “tranche” do pacote microeconômico, mas pró-crescimento, segundo o governo, sentido mais de médio e longo prazo. Haveria ainda intenção de atacar o spread bancário – em última instância, o que sustenta os juros em níveis elevadíssimos na prática, mesmo com a queda da taxa básica, a Selic. Um ataque, mas não a golpe de marretas, como já se tentou fazer pouco tempo atrás e não deu em nada. Também estaria um curso um esforço para destravar o programa de concessões, essencial para despertar os investimentos.
Bem, se tudo isso se confirmar, pode ser enfim uma saída do fundo do poço, mas certamente não uma escalada rumo a um forte crescimento. Além do mais, adverte a maior parte dos analistas, é preciso que a política ajude ou pelo menos não atrapalhe. E é o fator político que tem provocado mudanças bruscas nas condições meteorológicas do Planalto, até mesmo no curtíssimo prazo. O governo Temer inicia esta semana, por exemplo, aparentemente mais distante do sufoco que passou na virada do ano.
O alívio, para Temer, veio com o sorteio do ministro Luiz Edson Fachin para a substituição de Teori Zavascki como relator da Lava Jato no STF, bem absorvido tanto nos círculos políticos quanto econômicos. E também com as vitórias obtidas nas eleições de Eunício Oliveira e Rodrigo Maia para o comando do Senado e da Câmara. O controle da chamada base parlamentar, segundo a visão mais otimista, pavimentaria a estrada para as sonhadas reformas – embora a experiência já tenha demonstrado que mesmo a mais ampla base pode se esfacelar quando os interesses do governo não batem com os do eleitorado.
O alerta, porém, veio com o rearranjo do ministério, que peca por repetir manobras da gestão Dilma e duramente criticadas: a criação de novas pastas, em tempos de ofensiva contra gastos públicos, e a concessão do benefício do foro privilegiado ao agora ministro Moreira Franco, citado 37 vezes na Lava Jato. Por mais que se argumente que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, o sinal emitido é de temor da Lava Jato e de proteção à turma do presidente. A Lava Jato, sempre ela, continua pesando sobre a travessia de 2017. Na economia, inclusive.
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