“Era por demais previsível, e desde o começo do processo eleitoral, que não só a opinião pública se apresentasse fortemente cindida como a maioria do eleitorado poderia não votar na classe política, nos seus setores de centro, nem no PT. Mesmo assim não deixa de ser surpreendente o fato de que Bolsonaro e principalmente Haddad, que nas pesquisas veio de lá atrás, chegarem ao segundo turno quase levando, pelas suas campanhas, a uma grande maioria do eleitorado não identificado com nenhum deles, a votar nulo ou em branco.
As eleições de 2018 transcorreram sem a intervenção eficaz de correntes moderadas que não conseguiram construir uma candidatura competitiva. O maior partido das esquerdas e o seu líder deram as costas à conjuntura de colapso do sistema político, agindo corporativamente. Sempre se recusaram a entender que impedir o retrocesso significa deixar em aberto caminho para as melhorias da sociedade, mesmo que mais parciais e mais graduais. As eleições terminaram num tsunami em que a imensa maioria do eleitorado se posicionou antissistema, particularmente impondo derrota desorganizadora às correntes moderadas da vida política brasileira.”
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Cf. A polarização da eleição de 2018, revista Política Democrática n. 52, dezembro de 2018.
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