Declaração do presidente nos EUA é alvo de críticas nos corredores de Brasília e entre estudantes e professores nas ruas
Henrique Gomes Batista, Paola de Orte e Paula Ferreira / O Globo
DALLAS (EUA) E RIO - De Dallas, nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro classificou ontem como “massa de manobra” e “idiotas úteis” os estudantes que participaram das manifestações pelo Brasil contra o corte de verbas para a Educação. As declarações do presidente tiveram reação imediata nas ruas, nas redes sociais e entre políticos.
—É natural, é natural. Agora... a maioria ali é militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8, não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais — declarou Bolsonaro, que disse ter acompanhado os protestos de ontem pela internet e por mensagens do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno.
Para a oposição, a afirmação do presidente mostra sua “falta de condições” de exercer o cargo. O líder do PT, Paulo Pimenta (RS), disse que a frase de Bolsonaro revela “autoritarismo”:
—É reveladora do autoritarismo e da ignorância de um indivíduo que não reúne as menores condições de presidir o país. E que, inclusive, se refere de maneira desrespeitosa e ofensiva a muitas pessoas que meses atrás votaram nele —disse Pimenta.
Já a deputada Perpétua Almeida (AC), vice-líder do PCdoB, acredita que a posição de Bolsonaro vai inflar o movimento contra os cortes:
—A fala é provocadora e irresponsável. Ele (Bolsonaro) não está mais em campanha. É um dirigente do país e deveria se preocupar com essa quantidade de pessoas na rua. Penso que a frase dele só vai aumentar o movimento.
ALIADOS MINIMIZAM
O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), saiu em defesa de Bolsonaro e afirmou que o grupo que foi às ruas ontem representa uma “minoria de fumadores de maconha”. O deputado minimizou o tamanho dos protestos e disse que o estranhamento com a frase de Bolsonaro ocorre porque parte da população não se acostumou ainda com “palavras firmes e duras”.
— São manipulados (os manifestantes). E são uma minoria. Quantas pessoas foram para as ruas? Foram aqueles fumadores de maconha, baderneiros, que picham as faculdades —disse.
Para o presidente em exercício, Hamilton Mourão, houve “uma exploração política” das manifestações para “aproveitar como protesto” ao governo.
— É óbvio que houve uma exploração política nessa manifestação de hoje para aproveitar como protesto ao nosso governo. Disso aí eu não tenho a mínima dúvida. E acho que vocês também entendem que isso ocorreu. Foi isso que ele (Bolsonaro) quis dizer —afirmou.
Ao ser indagado sobre as declarações de Bolsonaro em Dallas, Mourão complementou:
—É óbvio que o presidente tem a forma delem ais incisiva de se manifesta repor isso que ele foi eleito.
Antes, Mourão havia dito que as manifestações faziam parte do sistema democrático e que, se pacíficas, são um meio para “quem se sente inconformado” apresentar o seu protesto. Apesar da diferença de tom em relação ao vice, Bolsonaro negou que haja divergências e disse ontem que Mourão “está fazendo um papel a meu entender muito bom e proveitoso para o Brasil”.
—Não tem divergência nenhuma entre nós. Somos formados na mesma academia militar de Agulhas Negras. Somos de artilharia, somos paraquedistas, muita coisa em comum. Uma pequena diferença é normal, até num casamento existem algumas pequenas divergências — disse, após se reunir com o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush.
A frase de Bolsonaro também virou alvo dos estudantes e educadores que protestavam ontem nas ruas de diversas cidades do país. Heloísa Borsari, professora aposentada do Institutode Matemática e Estatística da USP, participou do protesto em frente ao Masp, em São Paulo, e ironizou a declaração do presidente:
— E ele é um idiota inútil. Mas bastante nocivo.
‘FUTURO DA NAÇÃO’
No Rio, a professora da rede municipal Valéria Oliveira, de 45 anos, também criticou a afirmação de Bolsonaro.
— Os que ele classifica como “idiotas” são os que formam as pessoas que ele está governando. Se mantiver os cortes, vamos ser ainda mais idiotas do que ele considera —ironizou.
A vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Jessy Dayane Santos, disse ser “lamentável que um presidente dê esse tipo de depoimento”. Para ela, Bolsonaro demonstra desconhecimento e descompromisso com a Educação.
— Só lamento que ele nos ache idiotas, mas somos brasileiros e brasileiras responsáveis com o futuro da nação.
Nas redes sociais, a afirmação de Bolsonaro sobre o suposto desconhecimento dos estudantes sobre a “fórmula da água” gerou reação. Na página da UNE, foram postadas fotos respondendo aos questionamentos do presidente.
Colaboraram Marco Grillo, Gustavo Maia e Jussara Soares, de Brasília
Nenhum comentário:
Postar um comentário