Pressão. Sem força para aprovar seus projetos no Congresso, Planalto enfrenta primeiras manifestações de rua; atos contra cortes na Educação acontecem em pelo menos 250 cidades
- O Estado de S. Paulo*
Desgastado por uma série de derrotas e obrigado a fazer concessões no Congresso Nacional, o governo do presidente Jair Bolsonaro foi alvo ontem dos primeiros grandes protestos de rua. Manifestações registradas em ao menos 250 cidades do País contra bloqueio de recursos no orçamento da Educação ganharam um contorno mais amplo de críticas à atual gestão. Em viagem oficial nos Estados Unidos, Bolsonaro procurou desqualificar a mobilização classificando a “maioria” dos manifestantes como “idiotas úteis” e “imbecis, que estão sendo usados como massa de manobra”.
Os protestos pelo País preocuparam o Palácio do Planalto. A avaliação foi a de que, em princípio convocados contra o ministro da Educação, se transformaram em atos de peso contra o governo. A portas fechadas, auxiliares de Bolsonaro disseram que o próprio presidente ajudou a inflamar os protestos ao atacar os manifestantes.
Os atos ocorreram no mesmo dia em que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, participou de uma audiência na Câmara dos Deputados. Ele foi convocado por parlamentares para explicar o contingenciamento na área. A sabatina, porém, expôs ainda mais o clima hostil que o governo enfrenta no Congresso.
O ministro provocou os deputados ao defender o uso de recursos recuperados de corrupção na área, afirmou ter a ficha limpa e não ter passagem pela polícia. Disse que tem carteirada assinada e questionou se os deputados sabem o que é isso. Weintraub foi alvo de vaias de parlamentares da oposição, que pediram em coro sua demissão (mais informações na pág. A10).
Nos atos, diversas faixas usavam a palavra “balbúrdia” para protestar contra o governo. Os manifestantes faziam referência à entrevista dada pelo ministro ao Estado, na qual ele anunciou que universidades federais que promovessem “bagunça” ou “evento ridículo” teriam até 30% de seus recursos bloqueados.
Os maiores eventos aconteceram na Avenida Paulista, em São Paulo, e no centro do Rio. Centrais sindicais deram suporte para as manifestações. Na tentativa de pegar carona nos atos, a CUT decretou “dia nacional de mobilização” em todos os seus sindicatos. A Força Sindical emprestou carros de som e fez pequenas paralisações em fábricas nos Estados para tratar do tema dos protestos.
O presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, avaliou que houve “exploração política” das manifestações. Portal. Como foram os atos pelo País
Na capital paulista, participantes carregavam bandeiras de movimentos estudantis, centrais sindicais e partidos de esquerda. Mas a grande maioria era formada por professores, estudantes e pais de alunos que foram à manifestação de forma espontânea (mais informações na pág. A8).
Redes. Movimentos que atuaram de forma ativa nas manifestações pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff não participaram dos protestos de ontem. Em suas redes sociais, o MBL, porém, fez criticas ao Executivo: “Governo se embananou todo com a história da balbúrdia, ficou uma semana em cima de uma narrativa falsa e a esquerda soube aproveitar, mesmo que com distorção, a oportunidade pra fazer uma de suas maiores mobilizações de rua desde o começo do impeachment.”
Apoiadores de Bolsonaro se dividiram nas redes sociais em críticas ou apoio às manifestações. No Twitter, o músico Lobão disse que “vai vir das ruas e dos estudantes o início da revolta”. “Chamar estudante de idiota útil me lembra o Collor, meio fora da casinha. O presidente tem sido relapso com essa base”, completou. Já o youtuber Nando Moura fez vídeo para dizer que os governos petistas também cortaram verbas de educação. “Enquanto o PT fazia a maior putaria, estavam todos quietinhos. Agora inventam essa esparrela, quando as pautas são Lula Livre e Fora Bolsonaro.”
RICARDO GALHARDO, TÂNIA MONTEIRO, BRUNO RIBEIRO, ISABELA PALHARES, VERA ROSA, JULIA LINDNER, RENATA AGOSTINI, RENATO ONOFRE, GILBERTO AMENDOLA e BRUNO CAPELAS
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