Rio, SP e BH realizam os maiores protestos de alunos e professores
- O Globo*
Em seu quinto mês, o governo Bolsonaro foi alvo de protestos que reuniram alunos e professores de instituições públicas e privada sem mais de 200 cidades dos 26 estados e do Distrito Federal contra o bloqueio de verbas para a educação. O ministro Abraham Weintraub foi sabatinado na Câmara enquanto as concentrações ocorriam, as maiores delas em São Paulo, Belo Horizonte e Rio, onde, no auge, a multidão ocupou cinco quarteirões da Avenida Presidente Vargas. Apesar do clima pacífico nos atos, ao fim da passeata no Rio um ônibus foi incendiado.
Na primeira grande manifestação popular do governo Bolsonaro, centenas de milhares de pessoas foram às ruas dos 26 estados e do Distrito Federal ontem para protestar pacificamente contra os cortes no orçamento do Ministério da Educação (MEC) que atingiram as universidades federais e as etapas básicas de ensino.
São Paulo, Rio e Belo Horizonte foram os maiores polos de concentração, reunindo cerca de 250 mil manifestantes cada, segundo os organizadores—as Polícias Militares das capitais não fizeram estimativas. Em Salvador e em Brasília, os líderes estimaram cerca de 50 mil presentes. Na capital federal, porém, a PM calculou 15 mil pessoas.
Estudantes, professores e servidores do ensino público federal foram os catalisadores do movimento, mas ele atraiu também alunos, pais e profissionais do ensino privado e, em menor número, trabalhadores de outras áreas, sindicalistas e partidos políticos de oposição.
Os atos começaram na manhã de ontem e transcorreram pacificamente ao longo do dia em mais de 200 cidades, mas terminaram em confrontos em Brasília, onde duas pessoas foram presas, e, em maior grau, no Rio, onde um ônibus foi incendiado na Avenida Presidente Vargas e a Polícia Militar afirma ter sido atacada com fogos de artifício. O Panteão de Duque de Caxias, em frente ao Comando Militar do Leste, foi pichado coma frase “80 tiros Exército
assassino”, em referência ao assassinato do músico Evaldo Rosa e do catador Luciano Macedo, fuzilados por homens do Exército em Guadalupe, Zona Norte do Rio.
Os PMs reagiram com bombas de gás, e o tumulto, que se iniciou por volta das 19h20m, quando o ato começava a se dispersar, fechou a Central do Brasil e a estação Presidente Vargas do metrô.
Bolsonaro, que estava em Dallas (EUA), disse ter acompanhado os protestos pela internet e chamou os manifestantes de “idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra”. Sua frase ecoou nas ruas, com cartazes, faixas e gritos de ordem contra o presidente.
O outro alvo dos manifestantes — Abraham Weintraub, ministro da Educação — passou a tarde toda sendo sabatinado na Câmara, onde discutiu com parlamentares e afirmou que os contingenciamentos da pasta, mote dos protestos, foram responsabilidade do governo anterior.
AULAS PÚBLICAS E PASSEATA
No Rio, o dia de protesto se iniciou com acadêmicos das principais universidades públicas da cidade ocupando a Praça XV, no Centro, para aulas públicas em que apresentaram suas pesquisas. O formato também foi usado em cidades como Belém (PA), onde cerca de 20 mil manifestantes se reuniram, segundo a Polícia Militar.
À tarde, os manifestantes cariocas se concentraram na Candelária, de onde saíram em passeata que, no auge, ocupou cinco quadras da Presidente Vargas. O percurso foi marcado por palavras de ordem como “não é mole não, tem dinheiro pra milícia, mas não tem pra Educação” e “tira a tesoura da mão e investe na Educação”.
Cartazes em referência à fala de Weintraub, que classificou as universidades federais como “balbúrdia”, se espalharam pelo ato. Algumas faixas também criticavam a reforma da Previdência e pediam “Lula livre”.
‘SUPRAPARTIDÁRIO’
Em São Paulo, estudantes, professores, ativistas políticos e sindicalistas fecharam as duas pistas da Avenida Paulista durante a tarde, ocupando seis quadras. A concentração foi em frente ao Masp, onde a professora aposentada da USP Heloísa Borsari destacou a importância do movimento, mas afirmou que o campo progressista ainda tem dificuldade em se comunicar com outros setores da sociedade.
— Tem que ser um movimento suprapartidário, para que a gente possa defender minimamente os direitos e a inclusão que nós conseguimos com a Constituição de 1988 —disse.
*Participaram desta cobertura: Ana Paula Blower, André de Souza, Audrey Furlaneto, Dimitrius Dantas, Evelin Azevedo, Henrique Gomes Batista, Gisele Barros, Gustavo Maia, Jussara Soares, Luciano Ferreira, Paula Ferreira, Rayanderson Guerra. Estagiários: Bernardo Falcão, Pedro Capetti e Felipe Moura, sob supervisão de Eduardo Bresciani e Helena Borges
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