O Globo / Folha de S. Paulo
Em três anos de governo, Jair Bolsonaro
empossou sete ministros na Educação e na Saúde. Esse desfile seguiu um padrão.
Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, na Saúde, respeitaram os critérios de
competência profissional e acabaram fritos. Os demais atolaram na inépcia e no
destrambelho: Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, na Saúde; Ricardo Vélez,
Abraham Weintraub e Milton Ribeiro, na Educação.
Ribeiro revelou-se um campeão. De um lado,
ganha um fim de semana num garimpo ilegal quem for capaz de apontar uma só
iniciativa competente que ele tenha patrocinado no MEC. Não mexeu em
malfeitorias passadas e meteu-se com pastores das sombras que pediam capilés
para tramitar processos junto ao benevolente Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação (FNDE). O ministério que já foi ocupado por Gustavo Capanema, Darcy
Ribeiro e Ney Braga acabou nas mãos de um pastor que patrocinava colegas que
enfiavam fotografias suas em exemplares da Bíblia. Coisa de deslumbrado.
Existem traficâncias federais, estaduais e municipais, Ribeiro meteu-se em malfeitorias municipais. Os dois pastores que o orientavam levavam prefeitos ao ministério, acompanhavam processos para a construção de escolas ou creches e mordiam os alcaides. Num caso, com pedido de um quilo de ouro, segundo a vítima.
Ribeiro parece típico, mas, no primarismo
de suas falas e no silêncio de suas iniciativas, assemelhou-se a Ricardo Vélez
e a Abraham Weintraub. Nenhum desses dois expoentes do primarismo deixou
registro de que tenha se metido em pastoreios.
O capitão assumiu dizendo que havia formado
um ministério de técnicos. Na Educação, atrasou a chegada da internet à rede
pública. Em certa medida, até fez o certo quando, em seu governo, a Controladoria-Geral
da União detonou o edital do FNDE que torraria R$ 3 bilhões em equipamentos
eletrônicos. Essa teria sido uma verdadeira traficância federal, mexendo com o
equivalente a dez toneladas de ouro. Os 255 alunos da escola Laura Queiroz, em Itabirito
(MG), receberiam 30.030 laptops. Parou de fazer o certo quando não perguntou
quem fez o maldito edital.
Bolsonaro cultiva superstições. A
cloroquina derrubou dois ministros da Saúde e lesou um terceiro. Felizmente,
suas paixões pelo nióbio e pelo grafeno foram contidas. Sua visita a uma
empresa americana que pesquisava a transmissão de energia elétrica sem fios
ficou no talvez.
Em qualquer época, um ministro deve
trabalhar olhando para a gestão de sua pasta e para os desejos do presidente ou
de seu círculo de conselheiros. Dos sete ministros da Educação e da Saúde de
Bolsonaro, dois (Mandetta e Teich) olharam mais para o serviço. Os outros
cinco, pelos mais diversos motivos, olharam mais para o Palácio do Planalto.
Ralaram-se.
Ribeiro passará o resto de seus dias
lembrando que recebeu os pastores das sombras a pedido de Bolsonaro. Faltou-lhe
a percepção do limite. O çábio que patrocinava a causa da transmissão de
energia elétrica sem fio foi discretamente colocado em seu lugar, e o assunto
morreu. Ribeiro, julgando-se mais esperto, lidava com pastores que ilustravam
Bíblias com sua ilustre figura.
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