O Globo
Jair Bolsonaro declarou que botaria a “cara
no fogo” pelo ministro da Educação. Quatro dias depois, decidiu rifá-lo do
governo. O pastor Milton Ribeiro não caiu por defeitos novos. Sua demissão é
uma tentativa de aliviar as queimaduras na imagem presidencial.
As denúncias no MEC chamuscaram um dos
pilares do discurso bolsonarista: a mentira de que o governo é imune à
corrupção. O escândalo começou com suspeitas de tráfico de influência. Em
poucos dias, descobriu-se a existência de um balcão de negócios na pasta.
Dois pastores ligados ao ministro foram
acusados de cobrar propina para agilizar a liberação de recursos. Um prefeito
contou que o pedágio podia ser pago com um quilo de ouro (cerca de R$ 300 mil
na cotação atual).
A revelação das negociatas deu início a um festival de hipocrisia. A bancada evangélica, que indicou o ministro, passou a exigir sua cabeça. O pastor Silas Malafaia, que orava de mãos dadas com Eduardo Cunha, fez discurso indignado contra a corrupção.
No último dia no cargo, Ribeiro finalmente
confessou uma heresia. Admitiu ter autorizado a produção de Bíblias com sua
foto, distribuídas pelos pastores citados no esquema.
Na carta de despedida, o ministro negou
outros pecados que poderão ser julgados pela Justiça dos homens. Citando o nome
de Deus, ele se disse interessado numa investigação “com profundidade”. Em
seguida, tentou reescrever a história da própria demissão.
“Minha decisão decorre exclusivamente de
meu senso de responsabilidade política e patriotismo”, afirmou. A frase contém
duas falsidades. A decisão foi de Bolsonaro, e Ribeiro não caiu por ser
responsável ou patriota.
O pastor também jurou fidelidade ao
presidente, por quem disse ter “respeito” e “gratidão”. Ele deixa para trás uma
pasta arrasada, que terá o quinto ministro desde o início do governo.
A corrupção é só uma face da crise na
Educação. Antes de virar caso de polícia, a pasta já havia sido sequestrada
pela guerrilha ideológica e submetida ao aparelhamento religioso. Na campanha
de 2018, Bolsonaro disse que gostaria de invadir o prédio do MEC com um
lança-chamas. Quatro anos depois, deixará a pasta reduzida a cinzas. Ninguém
pode dizer que ele não avisou.
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