Folha de S. Paulo
Apenas através do crescimento da
produtividade conseguiremos chegar lá
Nós, economistas, estudamos como as pessoas
reagem a incentivos. E aqui não há um julgamento moral. A pergunta que sempre
nos fazemos é se os incentivos estão alinhados
com os objetivos almejados, como desenvolvimento econômico e social.
O empresário deseja maximizar o lucro. Se os incentivos estão certos, a busca pelo lucro também deve aumentar o investimento, o emprego e a renda. O empresário deve adotar novas tecnologias, contratar uma mão de obra com mais qualidade, aprimorar o processo produtivo e, com isso, haverá ganhos de produtividade ao nível da firma. Se todas as empresas seguem o mesmo caminho, haverá um aumento de produtividade do país, com trabalhadores mais produtivos e com melhores salários.
No entanto, de forma simplificada, se
um setor
é protegido, pois tem um regime especial, um benefício já
estabelecido, o lucro está assegurado. Então não há necessidade de ser
eficiente e inovador. Uma boa analogia é a seguinte: por que estudar para a
prova se a aprovação está garantida? Até alunos bons e dedicados não vão se
esforçar muito, pois não há incentivos para tal atitude.
Raciocínio similar pode ser aplicado aos
políticos. Como convencer os políticos das boas políticas públicas?
Infelizmente, as cobranças da sociedade e da mídia para que soluções rápidas
sejam encontradas geram, na grande maioria das vezes, resultados ruins.
Se existissem órgãos governamentais com os
objetivos de disseminar informações, subsidiando a formulação e a avaliação de
políticas públicas, e assessorar o governo nas decisões estratégicas, isso não
apenas evitaria o improviso nas escolhas de soluções rápidas e mal elaboradas,
mas também contribuiria para blindar o governo das pressões dos grupos de
interesse.
Podemos ter uma perenidade das boas
políticas públicas, convencendo a sociedade e, consequentemente, os políticos
de que essa é a estratégia a ser adotada; e essas políticas deixarão de ser de
um governo específico e se consolidarão como políticas de Estado. Um exemplo
desse fenômeno é a política educacional no Ceará. Governos de diferentes
partidos políticos têm mantido as mesmas práticas e têm conseguido colher dividendos
políticos dessa estratégia. E toda a sociedade sai ganhando, com o retorno de
um gasto público muito eficiente e justo.
Não existem atalhos para o desenvolvimento
de um país. Apenas através do crescimento da produtividade conseguiremos chegar
lá. Mas isso só é possível com boas políticas econômicas, que consigam alinhar
os interesses individuais dos empresários, dos trabalhadores e dos políticos
com os interesses coletivos.
Esse é o caminho.
*Economista e pesquisadora do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre)
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