Valor Econômico
Bolsonaro apresenta resultados pífios na
área da educação
A escolha do novo titular do Ministério da
Educação tornou-se termômetro da correlação das forças políticas que integram o
governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Pressionado e com mais um escândalo de
corrupção para explicar, ele tem agora que escolher entre prestigiar - ou
contrariar - a bancada evangélica, o Centrão ou integrantes da ala militar. Há
soluções que podem até conciliar os interesses desses grupos temporariamente,
mas é uma equação difícil de ser resolvida. Um quadro técnico pode desagradar a
todos.
O Ministério da Educação é objeto de disputas desde o período da transição, no fim de 2018. À época, militares e acadêmicos que formulavam o planejamento estratégico da área foram pegos de surpresa quando viram pela primeira vez um professor pouco conhecido entrando na sede do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), edifício utilizado como base para as reuniões entre a equipe que deixava o poder e o grupo que vencera as eleições.
O professor era Ricardo Vélez Rodríguez.
Indicado por Olavo de Carvalho, pouco tempo depois ele seria anunciado ministro
da Educação e se tornaria um dos expoentes da ala ideológica.
É verdade que o grupo derrotado ainda
ocuparia espaços importantes na estrutura da pasta, como o Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (Ebserh). Mas a disputa interna mantinha-se feroz, e Vélez
Rodríguez durou pouco no cargo.
Sua saída não resultou, porém, no
afastamento da ala ideológica do comando do Ministério da Educação. Abraham
Weintraub, o sucessor, ficou mais conhecido pelos ataques que fez ao Supremo
Tribunal Federal (STF) do que pelas políticas públicas que implementou.
Com a exoneração de Weintraub, foi indicado
Carlos Alberto Decotelli, nome próximo ao núcleo militar, mas que ficou
pouquíssimo tempo na cadeira devido a questionamentos em relação ao seu
currículo acadêmico.
Bolsonaro decidiu, então, fazer um aceno ao
eleitorado evangélico. Milton Ribeiro foi nomeado para o cargo com a orientação
de deixar uma marca no ensino superior. Bolsonaristas sempre criticaram a
influência da esquerda nas universidades, mas ao longo da gestão de Ribeiro não
pareceram se importar com a nomeação de indicados do Centrão para funções que
controlam o dinheiro no FNDE.
A escolha do novo titular ainda é dúvida.
Mas, por outro lado, parece certo que o Ministério da Educação continuará
apresentando resultados pífios e sendo usado para agradar aliados.
TSE entre os jovens
Mais do que um acinte a todos que defendem
a liberdade de expressão, a decisão do ministro do Tribunal Superior Eleitoral
Raul Araújo de proibir manifestações políticas durante o festival Lollapalooza
representou um grave revés à estratégia do próprio TSE de se aproximar do
público jovem.
É crescente a preocupação com o
desinteresse dos cidadãos com menos de 18 anos em relação ao processo
eleitoral.
Após sofrer uma série de ataques, a Corte
demonstrou altivez e lançou campanha para atrair a atenção desse público. Até o
dia 21 de março, 854,7 mil brasileiros com idade entre 15 e 18 anos solicitaram
a emissão do primeiro título de eleitor. Um resultado que não deve ser
desprezado, mas ainda assim preocupante. Integrantes do tribunal deveriam estar
atentos ao impacto que sentenças juridicamente questionáveis podem ter sobre
esse público. O prazo para o jovem tirar o título acaba no dia 4 de maio.
A estratégia do PSD
Para correligionários de Gilberto Kassab,
quem pretende entender a insistência do presidente do PSD em lançar um
candidato próprio à Presidência da República precisa olhar para o Congresso
Nacional. Mais precisamente, para os tamanhos das bancadas na Câmara e no
Senado.
Kassab tinha um plano A, outro B e ainda um
plano C. Primeiro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), recebeu o
convite para tentar personificar uma candidatura de terceira via. Convite
recusado, o PSD passou a cortejar Eduardo Leite, que deixou o governo do Rio
Grande do Sul, mas decidiu permanecer no PSDB.
O cotado passou a ser, então, o
ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung. Nada feito.
Mas o sucesso da estratégia do PSD não pode
ser medido apenas considerando o fato de a legenda, no fim das contas, ter ou
não um postulante ao Planalto. Só a discussão sobre uma candidatura própria já
está evitando que parlamentares deixem a sigla durante a janela de troca
partidária com medo de que o PSD se alinhe a um dos lados do polarizado cenário
agora, no primeiro semestre. Ter grandes bancadas é fundamental para qualquer
partido que queira comandar a Câmara ou o Senado a partir de 2023.
Lampedusa na Petrobras
Joaquim Silva e Luna selou seu destino
quando ignorou os pedidos para que a Petrobras aguardasse a votação no
Congresso dos projetos que buscavam a redução dos preços dos combustíveis.
Aqueles que conhecem o temperamento do
general não se surpreenderam: sua postura era uma forma de reafirmar sua
autonomia. E ela teve um preço.
Na visão de aliados do governo, não havia
dúvidas de que estava em curso uma afronta ao Congresso e, portanto, uma
resposta política do Palácio do Planalto se fazia necessária. Era uma questão
de tempo.
Conforme previa o roteiro, o substituto não poderia ser intervencionista a ponto de assustar o mercado nem distante demais do meio político. Era exigido dos interessados na vaga o traquejo político necessário para compreender as preocupações daqueles que dependerão dos eleitores para permanecer onde estão. Ou, como escreveu em “O Leopardo” o romancista italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa, algo devia mudar para que tudo possa continuar como está.
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