segunda-feira, 31 de julho de 2023

Marcus André Melo* - Dilema institucional

Folha de S. Paulo

Imobilismo e voluntarismo geram ineficiência crônica

Reforma Tributária enviada ao Congresso pelo regime militar, em 4 de novembro de 1965, foi promulgada 26 dias após sua apresentação. A natureza autoritária do regime foi essencial para o desfecho, mas não explica tudo; a Reforma Tributária —como a Previdenciária— do governo Thatcher, também foi aprovada em semanas. Em outros modelos de democracias, as reformas são processos negociados e morosos.

No Reino Unido, a proposta não poderia ter sido substancialmente alterada pelos relatores ou comissões congressuais. A oposição não conta com instrumentos de ação disponíveis em países com Legislativo descentralizado (ex. Brasil, EUA). A obstrução também não poderia vir de membros de coalizões governativas: o voto distrital leva ao bipartidarismo. E, por construção, o primeiro-ministro tem maioria. Tampouco poder-se-ia questionar sua constitucionalidade (não há revisão constitucional) ou recorrer à uma Suprema Corte (porque inexistia tal instituição no país até 2009); o país sequer tem Constituição escrita.

Angela Alonso* - Marielle não celebrou o aniversário

Folha de S. Paulo

Prisões de mandantes, se vierem, poderão aplacar o irremediável das perdas

Este governo demorou meio ano para ferver o que o antecessor congelou por quatro. A semana de avanços na investigação dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes foi a do aniversário dos 44 anos que a vereadora não pôde comemorar.

Em vez de festa, houve luto. A volta à tona do caso que nunca afundou no esquecimento reavivou o drama para pais, filha, irmã, viúva, amigos de uma das vítimas. E certamente afetou a família da outra, embora pouco se saiba disso —a imprensa raramente cobre os enlutados com a morte do motorista.

As prisões de mandantes, se vierem, poderão aplacar, nunca suprimir, o irremediável de ambas as perdas.

O espantoso no desvelamento não foram as lágrimas dos enlutados, mas a frieza dos perpetradores.

O depoimento de Élcio de Queiroz faz lembrar "A Sangue Frio", de Truman Capote. No romance-reportagem, sobre crime no interior do Kansas nos anos 1960, o ato de assassinar não perturba os assassinos. Queiroz expressou a mesma insensibilidade.

Bruno Carazza* - Por que Lula precisa do Centrão no ministério

Valor Econômico

Reforma ministerial busca paz e crescimento de olho em 2026

Foi o último ato do primeiro semestre e ao mesmo tempo a primeira imagem do governo Lula em sua última versão.

Sexta-feira, 7 de julho, 17h30. Depois de ter aprovado na Câmara a reforma tributária e o projeto do Carf, o presidente recebeu no Palácio do Alvorada as principais lideranças dos partidos que integram a sua base no Congresso para comemorar.

Estavam lá José Guimarães (PT-CE), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Aliel Machado (PV-PR), Túlio Gadêlha (Rede-PE), Tabata Amaral (PSB-SP), Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) e Luis Tibé (Avante-MG), representantes de partidos da coligação que derrotou Bolsonaro em 2022.

Também se fizeram presentes comandantes do triunvirato de centro-direita que embarcou no governo antes mesmo da posse: Antonio Brito (PSD-BA), Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Elmar Nascimento (União Brasil-BA).

Mas o que chamou a atenção foi o comparecimento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acompanhado dos líderes André Fufuca (PP-MA) e Hugo Motta (Republicanos-PB).

Naquele momento selou-se o pacto entre Lula e o Centrão de Lira.

Gustavo Loyola* - Não perder oportunidades

Valor Econômico

O projeto de reforma sintetiza o anseio na sociedade por um sistema tributário mais racional e equitativo

Roberto Campos teria dito que “infelizmente, o Brasil nunca perde uma oportunidade de perder oportunidades”. Essa frase cai como uma luva quando tramita no Congresso Nacional um projeto de reforma profunda dos tributos que incidem sobre o consumo, cuja aprovação tem o potencial de impulsionar o crescimento da economia brasileira nas próximas décadas.

Muito embora o projeto em discussão no Legislativo represente uma oportunidade ímpar para se adotar no Brasil um regime de tributação sobre o consumo dos mais avançados no mundo, infelizmente grupos de pressão têm atuado ativamente para levá-lo ao fracasso, claramente colocando interesses regionais e setoriais acima do interesse nacional. Como munição, tais grupos, muitas vezes, não hesitam em lançar mão de falácias, meias verdades ou equívocos técnicos flagrantes.

Felipe Moura Brasil - A independência perdida

O Estado de S. Paulo

As vozes independentes, hoje raras no jornalismo, foram quase extintas na política brasileira

Simone Tebet dá um verniz de “frente ampla” a um governo cada vez mais petista, assim como Sérgio Moro dava um verniz de combate à corrupção a um governo que cada vez mais sabotava esse combate.

Quando Jair Bolsonaro atropelou o então ministro da Justiça e trocou o diretor da Polícia Federal por um amigo de família, Alexandre Ramagem, após manifestar incômodo com investigações sobre filhos e aliados, Moro deixou o governo, porque não quis responder pelos eventuais atos de um indicado político naquele contexto.

Quando Lula atropelou a ministra do Planejamento e Orçamento e trocou o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por um ideólogo do PT, Marcio Pochmann, que atribui a crise econômica decorrente dos governos e esquemas do partido ao “golpe de 2016”, ao “receituário neoliberal” e à Operação Lava Jato, Tebet ficou na pasta, alegando que não se incomoda em ser a “segunda voz” da dupla sertaneja com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e que “a mídia não me pauta, companheiros não me pautam, pessoas que me acompanharam na campanha não me pautam”.

Denis Lerrer Rosenfield* - Crédulos e incrédulos

O Estado de S. Paulo

Quando o governo promete o equilíbrio fiscal ou uma reforma tributária que não aumente impostos e tributos, deveríamos considerar tal promessa com especial desconfiança

O novo governo, desde o seu início, mostrou sua inequívoca tendência gastadora, trazendo à tona todas as velhas ideias petistas acerca do aumento do Estado e de suas funções, mostrando uma clara desconfiança em relação à economia de mercado. Sua primeira Proposta de Emenda Constitucional (PEC) foi certeiramente denominada de PEC da Gastança, à qual se seguiram várias iniciativas, entre as quais o projeto hegemônico petista de aparelhamento do Estado, cuja medida mais recente foi a nomeação do presidente do IBGE; a tentativa malsucedida, felizmente, de desrespeito à Lei do Saneamento, que teria implicado o fortalecimento de empresas públicas estaduais ineficientes; e a suspensão do processo de privatizações. O leque seria grande, tendo todas em comum o mesmo pendor para o fortalecimento do Estado em quaisquer circunstâncias, não estando minimamente propenso a avaliar o mérito de funções e projetos governamentais. Em tal ritmo, ainda segundo essa ótica, só mais gastos se tornam necessários, o que, obviamente, se traduz em mais impostos.

Fernando Gabeira - Xingu, 50 anos à frente

O Globo

As pessoas que menos devastaram o planeta são as que mais sofrem, sobretudo vendo desaparecer a água, seu recurso vital

Escrevo no Xingu, algo que, de certa forma, me parece o coração do Brasil. Um coração com algumas pontes de safena, sangue escasso e contaminado de um belo rio que corre pelas suas artérias. Como o grande coração do cacique Raoni, regido por um marca-passo.

A chamado do próprio Raoni, muitas etnias se reuniram aqui para discutir os problemas dos povos originários. Não são poucos.

Grande pesquisador da Amazônia, Paulo Moutinho me disse algo que não esquecerei: o futuro já chegou ao Xingu, a região está 50 anos adiante quanto aos efeitos do aquecimento global.

De fato, há rios secando, rios que se tornam intermitentes, e o belo Xingu também sofre com hidrelétricas, poluição do garimpo e da extensa plantação de soja.

Miguel de Almeida - Tribunal das redes sociais não perdoa

O Globo

Mesmo declarado inocente por dois diferentes júris, Kevin Spacey ainda corre risco

As duas absolvições de Kevin Spacey — pela Justiça americana, em 2022, e agora pela britânica — poderiam significar um antes e um depois na guerra identitária. Ao menos na fratricida dilapidação de biografias e carreiras. Inocentado em mais de uma dezena de acusações de crimes sexuais, inclusive estupro, a tragédia do ator se soma ao de outros personagens, como Woody Allen e Johnny Depp, também abatidos por denúncias jamais comprovadas.

Mesmo declarado inocente por dois diferentes júris, Kevin Spacey ainda corre o risco de seguir o script vivido por seus companheiros de profissão e infortúnio, qual seja, a Justiça terrena absolve, mas o tribunal das redes sociais, e seus lobbies respectivos, martelam uma condenação sumária. Allen, embora nem sequer haja sofrido um processo formal, pela inconsistência das provas, padece ainda em conseguir financiamento para suas obras, além de sofrer o cerceamento na exibição de seus filmes em alguns países. Depp, outro inocentado, continua marcado como alguém que agredia a ex-mulher, apesar de o júri condená-la a indenizá-lo pelas falsas acusações.

Ricardo Henriques - Juventudes e o bônus demográfico

O Globo

Censo mostra que estamos mais próximos do fim do período em que a estrutura populacional é mais favorável ao crescimento econômico por causa da maior proporção de pessoas em idade ativa, em relação a crianças e idosos que não trabalham

Os primeiros dados do Censo do IBGE mostraram que estamos mais próximos que o previsto do fim do bônus demográfico, período em que a estrutura populacional é mais favorável ao crescimento econômico por causa da maior proporção de pessoas em idade ativa, em relação a crianças e idosos que não trabalham. Infelizmente, deixamos de aproveitar plenamente essa janela.

Avanços insuficientes de oportunidades educacionais, nível insatisfatório de qualificação profissional (técnica e universitária) e, mais recentemente, uma crise quase contínua do mercado do trabalho estão entre os fatores que nos prejudicaram.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Mercado de trabalho segue mais forte que o esperado

Valor Econômico

Esse aperto monetário está provocando uma desaceleração da atividade econômica

A economia deu vários sinas de desaceleração no segundo trimestre, depois de um começo de ano muito forte, puxado pelo setor agrícola. Ainda assim, o mercado de trabalho segue com um desempenho melhor do que o esperado. O que é uma boa notícia para o bem-estar da população. Representa, por outro lado, um desafio para o Banco Central baixar a inflação para a meta de longo prazo.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) na sexta-feira mostram que a taxa de desemprego ficou em 8% no segundo trimestre, o mais baixo percentual para essa época do ano desde 2014. O número surpreendeu todas as 26 instituições financeiras e empresas de consultoria ouvidas pelo Valor Data. O mais otimista esperava que o desemprego ficasse em 8,1%.

Poesia | Aleksandr Pushkin - 'Tudo Passará

 

Música | Patricia Marx & Seu Jorge - Espelhos d'Água

 

domingo, 30 de julho de 2023

Paulo Fábio Dantas Neto* - Dois protagonistas e um vácuo político

Após três semanas sem publicação da coluna, permanecerei, neste artigo, próximo ao tema do último publicado antes do recesso (O jogo político e a institucionalidade dos poderes de governo, 09.07.23). Sigo aqui não apenas o fio daquela análise precedente, como pistas de outras análises que também sugerem estar havendo uma reconfiguração da dinâmica interna do sistema político, no que se refere a papéis que Legislativo e Executivo, assim como instituições e atores políticos diversos, vêm desempenhando, praticamente, na sua interação institucional. Tanto os dois poderes como partidos políticos e atores individuais que exercem responsabilidade institucional destacada têm atuado de modo a pôr em xeque a habitual lógica de coalizão parlamentar para fins de governo e a realçar o que, especulativamente, pode se entender como lógica de coligação eleitoral contínua, assentada em acordos pontuais instáveis.

Como possível explicação – ou ao menos interpretação – dessa inflexão nas condutas políticas de atores relevantes (que não vem de hoje, mas se intensificou e “normalizou” a partir das eleições de 2018), aparece o deslocamento das garantias de governabilidade do país de um circuito de relação institucional antes coordenado pelo Presidente da República para outro, controlado por maiorias parlamentares formadas com grande autonomia política perante governos. Enquanto a governabilidade (especialmente econômica) depende cada vez mais dessa coesão legislativa do que de uma interação fluente entre os poderes, as estratégias eleitorais de lideranças e partidos, ao se tornarem atividades permanentes e crescentemente prioritárias, para esses atores, passam a demandar recursos políticos e materiais provenientes de decisões de ambos os poderes, exigindo práticas de cooperação entre eles.  O orçamento público é o melhor exemplar dos laços que os atam.

Luiz Carlos Azedo - Acordo com Centrão ressuscita política de conciliação

Correio Braziliense

Agenda de direitos humanos e pautas identitárias não terão vez na base governista ampliada. Nesses quesitos, o governo só poderá avançar administrativamente

Com o fim do recesso do Congresso e do Judiciário, a política nacional retoma seu curso com dois fatos relevantes na largada. Primeiro, a conclusão do processo de aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária, que ainda dependem de votações na Câmara e no Senado, respectivamente. Segundo, a retomada dos trabalhos do Judiciário, que tem na ordem do dia a conclusão do chamado inquérito das fake news, que investiga os responsáveis pela tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro, a cargo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

É neste contexto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negocia a incorporação do Centrão ao governo, o que provocará um realinhamento de forças na Esplanada, sob a égide da velha “política de conciliação”. Também é neste cenário que o novo ministro do Supremo, Cristiano Zanin, tomará posse, na quinta-feira. Será o principal interlocutor de Lula nos bastidores da Corte. Em outubro, o ministro Luiz Roberto Barroso assumirá a presidência do STF, no lugar da ministra Rosa Weber, que se aposentará. É adversário figadal do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Voltemos às mudanças na Esplanada. Lula finge desconhecer o Centrão, mas a tese de que não existe é apenas um subterfúgio de narrativa. O acordo com o PP, de Ciro Nogueira (PI), e o Republicanos, do deputado Marcos Pereira (SP), sob a liderança do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é uma aliança com um partido conservador e oligárquico, de um lado, e os setores evangélicos ligados ao bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus.

Merval Pereira - Políticos de toga?

O Globo

Professor do Insper analisa o STF e diz que o problema é que juízes ajam e sejam vistos como se fossem iguais aos políticos, com idêntica lógica de atuação, que atuem e sejam percebidos como políticos de toga”.

Muitos tribunais constitucionais no mundo vêm sofrendo ataques crescentes, como o que acontece nos Estados Unidos, em Israel e no México. No caso do Brasil, a política nacional se moveu para a direita na última década, com uma guinada conservadora sobre várias questões que invariavelmente chegarão ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas, como analisa o livro do professor do Insper e especialista no judiciário Diego Werneck Arguelles “O Supremo, entre o Direito e a Política”, a ser lançado pelo selo História Real de Roberto Feith na editora Intrínseca, além desse fenômeno internacional, “temos um desenho injustificável, em que se comportar politicamente ou não depende basicamente da virtude individual dos(as) ministros(as)”.

No Supremo Tribunal Federal (STF), relata Diego Arguelles, ministros têm amplo poder para decidir se, quando e como casos serão julgados. Para decidir ou obstruir casos sozinhos, seguindo suas solitárias crenças, suas preferências político-partidárias e até mesmo seus interesses estritamente pessoais (que podem ser nada republicanos). Para muitas vezes decidir o destino não só de quaisquer políticas públicas, de qualquer governo, mas sobre a pessoa física dos governantes e políticos — para decidir, por exemplo, se atores que foram decisivos para sua própria chegada ao tribunal devem ser presos ou podem concorrer a eleições.

Elio Gaspari - Tebet escolhe suas batalhas

O Globo

O economista Marcio Pochmann foi escolhido para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística numa cavalgada típica do comissariado petista. O IBGE está na jurisdição do Ministério do Planejamento, de Simone Tebet, e, de certa forma, sob o guarda-chuva da Fazenda, de Fernando Haddad. Na quarta-feira, o titular da Comunicação, Paulo Pimenta, anunciou:

“Marcio Pochmann será o novo presidente do IBGE e não tem nenhum ruído quanto a isso.”

Ilusão de palaciano. Horas antes, a ministra Tebet havia dito à repórter Miriam Leitão que não conhecia Pochmann e que a escolha do novo presidente do IBGE seria tratada na hora certa. Tebet e, de certa forma, Fernando Haddad foram atropelados pelo comissariado petista. Pimenta fez o anúncio a mando de Lula. Pochmann é um veterano militante da constelação de economistas do PT, tentou um voo como candidato à prefeitura de Campinas e perdeu.

O ruído que Pimenta garantiu não existir, aconteceu, mas difere dos demais. Simone Tebet tem as boas maneiras de seu pai, Ramez, que presidiu o Senado. Como ela mesma disse, escolhe suas batalhas. Quem a viu na CPI da Covid, sabe como as trava.

Míriam Leitão - A celeuma e o debate real

O Globo

Economia é como cristal, mesmo que seja uma ingerência sutil, pode levar à quebra de confiança

Eles se definem como desenvolvimentistas, mas suas ideias, quando aplicadas, levaram o país a uma queda de 3,5% do PIB em 2015, inflação de dois dígitos, enorme prejuízo na Petrobras, quebra do setor elétrico e juros de 14,25%. Era esse o quadro ao final do governo Dilma.

Eles se definem como liberais, mas abriram os cofres públicos por razões eleitoreiras, atropelaram a governança da Petrobras, derrubando quatro presidentes, e não pagaram dívidas judiciais vencidas, deixando uma bola de neve que ainda ameaça o Brasil. Esse era o quadro ao final do governo Bolsonaro.

O debate que reavivou essa semana não é sobre correntes econômico-ideológicas, mas sobre estar atualizado em economia e ser eficiente na política econômica. A celeuma estourou no mesmo dia em que as manchetes dos jornais on-line davam a melhora da nota de crédito do Brasil.

Dorrit Harazim – Experimentos

O Globo

Reparações históricas e desculpas oficiais costumam vir na rabeira da própria História. E com frequência nada reparam

Na terça-feira, o presidente dos Estados UnidosJoe Biden, anunciou a criação de um Monumento Nacional em memória do menino negro Emmett Till e de sua mãe, Mamie Till-Mobley. Na verdade, serão três os monumentos que evocarão o assassinato de Emmett, com requintes de selvageria, por supremacistas brancos nos idos de 1955. O primeiro será erguido na igreja de Chicago onde o garoto fora velado; o segundo, na ravina do Rio Tallahatchie, no Mississippi, onde encontraram seu corpo brutalizado; e um terceiro, certamente o mais significativo, na entrada do tribunal onde os matadores confessos, dois irmãos graúdos, foram rapidamente absolvidos por um júri branco.

Eliane Cantanhêde - UTI da Esplanada

O Estado de S. Paulo

Flávio Dino e PF estão em todas e ‘dão Ibope’. Por que Dino iria para o Supremo?

Quando surge algum problema no governo, gritase: “Chama o Dino!” Quando aparece uma suspeita, clama-se: “Chama a PF!” E é assim que o Ministério da Justiça foi se transformando na “UTI da Esplanada” e a Polícia Federal, com Andrei Passos, há muito tempo não é tão ativa. Ministério e PF estão em todas.

É improvável a ida de Flávio Dino para o Supremo. O que ele lucraria com isso? E Lula e o governo? Ok, pode-se dizer que o PT tiraria um adversário da frente em 2026, mas ir para o STF não significa evaporar e o mais provável é Dino concorrer à Presidência em 2030, aos 62 anos.

Renata Cafardo - IA, uma ameaça ao aprender a pensar

O Estado de S. Paulo

‘Ferramentas podem exercer um impacto negativo na motivação do estudante’, diz Unesco

Com pouco destaque em um relatório de 200 páginas sobre tecnologia, a Unesco evidenciou na semana passada o que pode ser um impacto amedrontador da inteligência artificial (IA) na educação. Por dar respostas rápidas em um tempo em que rapidez é entendida como sinônimo de eficiência, ferramentas como Chat GPT podem retirar do estudante um dos grandes propósitos pelo qual vamos à escola ou à universidade: aprender a pensar.

Pode parecer catastrófico demais para algo ainda sem muitas evidências, mas a Unesco dá o tom: “essas ferramentas poderiam exercer um impacto negativo na motivação do estudante de conduzir pesquisas independentes e achar soluções”.

E não é só porque as soluções do Chat GPT podem ser piores, ter vieses e informação de fontes não confiáveis, é porque o importante é o processo. A IA em breve vai dar respostas perfeitas. Mas na educação o que vale não é nota 10. É, sim, a construção do conhecimento.

Cristovam Buarque* - O racismo tolerado

Blog do Noblat / Metrópoles

A desigualdade na qualidade das escolas conforme a raça do aluno é um racismo invisível

Até recentemente, muitas manifestações racistas ficavam imperceptíveis, tão aceitas que eram invisíveis. Felizmente, qualquer gesto racista por uma pessoa passou a ser imediatamente visto e combatido. Mas continua aceito o racismo considerado desigualdade na estrutura como vivem, estudam, moram os afrodescendentes brasileiros. É como se as ideias racistas fossem visíveis, mas a desigualdade conforme a cor do usuário não fosse também uma manifestação de racismo.

Esta semana percebeu-se o descuido nas escolas com a oferta de aulas de conscientização contra o racismo, mas não se percebe o racismo embutido na desigual qualidade entre as escolas dos brancos e negros que poderem pagar, em relação às escolas dos negros e brancos por serem pobres. O racismo é visto apenas na falta de aula sobre o assunto, não na falta de escola para todos os assuntos que as crianças precisam aprender. Não se vê como racismo o fato de o sistema escolar separar os brasileiros em “escolas senzala” e “escolas casa grande”, conforme a renda e o endereço, em consequência, conforme a raça porque no Brasil a pobreza tem cor.

Celso Rocha de Barros* - Pochmann no IBGE

Folha de S. Paulo

Tese de ‘virada à esquerda’ está errada

Lula nomeou Marcio Pochmann presidente do IBGE, órgão ligado ao Ministério do Planejamento de Simone Tebet. Alguns observadores viram na nomeação um esvaziamento dos poderes da ministra e/ou uma tentativa de virar o governo à esquerda.

A tese da "virada à esquerda" está errada. Se Pochmann tivesse sido indicado para mudar a política econômica, o enfraquecido teria sido Haddad, não Tebet. O PT até pode sabotar a presidenciável dos outros, mas não teria por que sabotar o próprio.

Na verdade, o episódio ganhou destaque porque Tebet e Alckmin são os grandes fiadores da adesão de setores do centro liberal ao governo.

Com a imposição de Pochmann a Tebet, surgiu a suspeita de que o PT já estivesse antecipando a briga eleitoral de 2026 e rompendo com a "Frente Ampla".

Parece mais provável que Lula tenha apenas recompensado um aliado de longa data com um cargo importante. Não era fácil encaixá-lo no governo: dar a Pochmann um cargo no Ministério da Fazenda teria, aí sim, criado um boato plausível de mudança na orientação geral do terceiro governo Lula.

Bruno Boghossian - A mentira como negócio

Folha de S. Paulo

Ex-presidente escondeu gravidade da pandemia, posou de vítima e foi premiado com Pix

Depois de perder a eleição, Donald Trump arrecadou US$ 255 milhões em oito semanas. O presidente derrotado pedia doações enquanto espalhava alegações de fraude e prometia usar o dinheiro para contestar o resultado das urnas.

A vaquinha enganava os eleitores duas vezes. A primeira lorota era a finalidade das doações. Nem 4% do dinheiro foi gasto com a tentativa de virada de mesa. Uma parte foi usada em propaganda e o resto (cerca de US$ 175 milhões) ficou guardado para uma nova campanha de Trump.

A outra falcatrua era o discurso da eleição roubada. Na última semana, Rudy Giuliani admitiu que, como advogado de Trump, fez acusações falsas de fraude na contagem de votos.

Ruy Castro - Finalmente, fora do limbo

Folha de S. Paulo

Julia Lopes de Almeida, Carmen Dolores, Chrysanthème, Gilka Machado e Adalgisa Nery renascem nas livrarias

Quando se pensa que a história de uma literatura já está escrita, protagonizada pelos suspeitos de sempre, surpresas acontecem. Autores popularíssimos há 100 anos e desde então sepultados voltam de repente à vida, graças a pequenas e bravas editoras. Com isso, renascem em letra de forma e nos fazem perguntar por onde andavam. No limbo, claro, silenciados por cânones literários totalitários.

No caso, são cinco mulheres: as romancistas Julia Lopes de Almeida (1862-1934), Carmen Dolores (1852-1910, pseudônimo de Emilia Bandeira de Mello) e Chrysanthème (1869-1948, pseudônimo de Cecília Bandeira de Mello e filha de Emilia), a poeta Gilka Machado (1893-1980) e a romancista e poeta Adalgisa Nery (1905-80). Exceto Adalgisa, contemporânea delas, mas que só se revelou mais tarde, todas foram ativas e altivas no Rio de 1900 a 1930. E, ao contrário do que se pensa, não sofreram por serem mulheres e escritoras. Não dariam essa confiança aos homens.

Muniz Sodré* - Dinastias iliberais

Folha de S. Paulo

Uma razão acima de provas, eis o elo entre o rei e o autocrata

Vale cotejar no streaming o sul-coreano "A Fortaleza" com um fenômeno político atual: o sumiço de oligarcas e líderes militares na Rússia. O filme encena a monarquia coreana às voltas com a temível invasão da dinastia chinesa Qing. O rei pondera os conselhos, em geral divergentes, de seus ministros. Erros são corrigidos por protocolo elementar: o monarca oferece a si próprio a cabeça cortada do mau conselheiro, militar ou civil.

Tudo isso transcorre no século 17, mas o feroz absolutismo real fornece material presente para uma analogia com o autocratismo homicida de Putin. O importante Sergei Surovikin, notório pelo sinistro epíteto de "General Armagedon", não é visto desde o fim da rebelião dos mercenários. Somem comandantes, milionários despencam de edifícios. O Kremlin opera a todo vapor no modo delete.

IEPfD | A Representação Democrática e suas dificuldades – Seminário 4

Dando continuidade ao *Curso Política e Democracia - reflexões sobre seus desafios para o século XXI* , realizamos ontem nosso quarto seminário. 

O tema abordado foi *“A Representação Democrática e suas Dificuldades”.* Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques apresentaram diferentes enfoques que nos ajudam a entender os desafios da representavidade política para as democracias modernas.

Segue o vídeo completo 

Bom final de semana. 

João Rego – presidente 

O que a mídia pensa: Editoriais /Opiniões

Ampla reforma administrativa não pode ser adiada

O Globo

É um equívoco autorizar novos concursos antes de promover reformulação do setor público

O anúncio feito pela ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, de que já há concursos autorizados para contratar até 8.200 novos servidores neste ano e que pretende antecipar mais 10 mil contratações previstas para o ano que vem significa que o governo Lula dará prioridade a apenas ampliar a máquina burocrática da União, não a torná-la mais eficiente. Melhor faria se antes aprovasse no Congresso uma reforma administrativa para tornar o funcionalismo muito mais produtivo. Assim, proporcionaria ao país a chance de dar um salto qualitativo e fazer uma enorme economia.

Somente uma ampla reforma administrativa conseguirá desvencilhar o Brasil de um de seus maiores problemas: a ineficiência crônica do setor público, que impede o cidadão de ter acesso a serviços de qualidade. Para piorar, a nossa burocracia é cara. As despesas com servidores públicos equivalem a 13% do PIB, percentual maior que os registrados em Portugal e França, segundo levantamento do Banco Mundial. Dados compilados pelo instituto República.org mostram que a mediana dos salários da União é de nada menos que R$ 10 mil mensais. Nos estados, é metade disso.

Poesia | Fernando Pessoa - Agora que sinto amor

 

Música | Urubu malandro - Nilze Carvalho

 

sábado, 29 de julho de 2023

João Gabriel de Lima* - Um crime que envergonha o Brasil

O Estado de S. Paulo

Além do assassinato de Marielle em si, a falta de solução para o crime enlameia a reputação do País

No prédio de número 64 na rua Gitschiner, em Berlim, há um mural para homenagear a vereadora brasileira Marielle Franco e lembrar seu assassinato em março de 2018. De lá, caminha-se 20 minutos pelo bairro boêmio de Kreuzberg e se chega à Marielle-Franco-Platz. Há espaços públicos com o nome de Marielle em Paris, Florença, Amsterdam e Buenos Aires. Em Lisboa, onde moro, há um mural em homenagem a Marielle no Monsanto, o maior parque da cidade.

A repercussão internacional do assassinato de Marielle foi um dos pretextos jurídicos para que a investigação saísse do Rio de Janeiro e passasse à alçada federal, no início deste ano. Nesta semana, em delação premiada, o ex-policial Élcio de Queiroz confirmou que o crime havia sido planejado, acusou o miliciano Ronnie Lessa de ser o executor e revelou detalhes fundamentais para que a Polícia Federal chegue ao mandante.

Bolívar Lamounier* - Onde começa o começo?

O Estado de S. Paulo

A tríade latifúndio, escravidão e monocultura de exportação e a gosma cultural da contrarreforma nos legaram um zero à esquerda em termos de tecnologia

David Fromkin, um dos principais historiadores contemporâneos, professor da Universidade de Boston, certa vez concebeu uma anedota ao mesmo tempo deliciosa e cientificamente importante.

Ao começar seu curso semestral, fez a seus 50 alunos uma proposta deveras inusitada. Distribuiu-lhes pequenos envelopes identificados pelos respectivos nomes, cada um contendo meia folha de caderno. Cada aluno deveria responder em um parágrafo – não mais que um parágrafo – qual foi ou quais foram as causas da Primeira Guerra Mundial. Finda a operação, que foi breve, o professor começou a abrir os envelopes e ler as respostas para a turma. A primeira, por coincidência, foi o lugar-comum mais conhecido: “Um estudante sérvio matou a tiros o Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro presuntivo do trono austro-húngaro”.

Nos outros 49 envelopes, os estudantes deram rédea solta à imaginação. O segundo apontou uma causa distante no passado: o fato de Júlio César, violando as leis de Roma, ter cruzado o Rubicão e entrado na cidade com seu exército.

Rica e divertida, a experiência certamente mostrou aos jovens que determinar com exatidão onde um processo histórico começa, e por que começa, não é uma matéria tão simples como possa parecer. Essa história veio-me à mente outro dia, no programa apresentado por William Waack na TV CNN, quando tive o privilégio de participar de uma troca de ideias com o ex-deputado Roberto Brant, que ocupou uma cadeira na Câmara durante cinco mandatos consecutivos, e o jovem cientista político Carlos Melo, professor do Insper. O mote sugerido por William Waack foi “por que o Brasil não sai do lugar”. Por que nosso sistema político está há décadas afundado neste paradeiro, incapaz de aprimorar sua organização institucional e menos capaz ainda de levar à prática nossos ideais de crescimento econômico e bem-estar social.

Pocchmann no IBGE é escolha pessoal de Lula, que se irritou com críticas

Catia Seabra e Julia Chaib / Folha de S. Paulo

Auxiliares atribuem ao entorno de Tebet restrições à indicação do economista do PT Marcio Pochmann

BRASÍLIA - O presidente Lula (PT) tem manifestado contrariedade com as críticas à sua escolha para a presidência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo interlocutores, o petista está particularmente incomodado com as suspeitas de manipulação de dados levantadas contra o economista Marcio Pochmann, por quem tem apreço pessoal.

Nas palavras de aliados, Lula classifica como uma descortesia supor que, na presidência do IBGE, Pochmann venha a adulterar dados.

Ainda de acordo com esses colaboradores, foi após consultar o presidente que o ministro Paulo Pimenta, da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), confirmou o nome do economista na noite da última quarta-feira (26), à saída do Palácio do Alvorada.

A intenção ali foi colocar um ponto final na controvérsia, "estancar a sangria", evitando que Pochmann seja exposto a ataques até 15 de agosto, quando deverá assumir a função.

Para outra ala de integrantes do Palácio do Planalto, porém, Pimenta foi voluntarioso. Em reunião do Palácio da Alvorada, o ministro questionou Lula sobre as especulações a respeito de Pochmann. Ouviu do presidente que a decisão estava tomada.

O ministro teria interpretado essa resposta como uma orientação para que a tornasse pública. Mas, na avaliação de seus pares, Pimenta se antecipou e, ao divulgar a decisão sem antes conversar com Tebet, constrangeu a ministra. Na noite desta quinta-feira (27), Pimenta telefonou para ela na tentativa de dissipar esse mal-estar.

Dora Kramer - Um equilibrista no Planalto

Folha de S. Paulo

Lula busca compensar aliança com centrão com acenos nem sempre sensatos à esquerda

Os preparativos para a entrada oficial do centrão no governo exibem movimentos interessantes. A negativa do presidente Luiz Inácio da Silva, por exemplo, sobre a inexistência do bloco. "O centrão não existe", pontificou.

Ora, não apenas existe como detém a maioria dos votos no Congresso, matéria-prima de interesse do Planalto. Trata-se, no entanto, de uma aquisição que demanda compensações à esquerda pela perda de um antagonista de estimação.

Na falta dele, há sempre à disposição Jair Bolsonaro para trocas de insultos (a mais recente acerca de jumentos) com Lula ou um Roberto Campos Neto a quem se pode chamar de "capacho" e "lacaio" do capital sem maiores consequências.

Carlos Alberto Sardenberg - Estragar o IBGE, não vai. Mas pegou mal

O Globo

A ideia foi colocar um companheiro numa boa posição, mesmo ele não tendo o currículo e a expertise para o cargo

Numa boa: se era para colocar o economista Marcio Pochmann no governo, a presidência do IBGE foi uma saída de pouco dano. Lá, o potencial de estragos é menor, quase nada.

Com todo o respeito que o IBGE merece, o fato é que lá não se formula nem se pratica política econômica. Trata-se de um órgão que pesquisa e elabora dados. Mede e calcula população, inflação, emprego, desemprego e renda, o Produto Interno Bruto, contas nacionais.

Mais: o IBGE tem tradição e estruturas consolidadas, além de um corpo técnico profissional e gabaritado.

Algumas pessoas levantaram hipóteses de manipulação dos dados, de modo a criar uma imagem mais favorável do país, beneficiando a propaganda do governo.

Eduardo Affonso - Provocação nada homeopática

O Globo

‘Que bobagem!’ não é uma bobagem. É bem fundamentado. Mas opta por matar a vaca para acabar com o carrapato

Uma das fórmulas mais elementares do humor é a “regra de três”: estabeleça, reforce, subverta. Em outras palavras, crie uma expectativa e a quebre. Algo como dizer que há coisas que não se devem engolir de jeito nenhum, tipo bala Soft, caroço de jabuticaba e Marcio Pochmann no IBGE.

Da mesma forma, existem receitas infalíveis para causar polêmica. Misture galhos com bagulhos, junte uma pitada de argumento de autoridade e polvilhe provocação a gosto. Se for uma obra, dê-lhe um título lacrador — como “Que bobagem!”, o recém-lançado livro de Natalia Pasternak e Carlos Orsi, que trata de “pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério”.

Pablo Ortellado - Trabalho por plataforma segue ruim

O Globo

Não há ainda mecanismos legais que garantam o salário mínimo

Nesta semana foi lançada uma nova edição do relatório Fairwork Brasil, que avalia a qualidade do trabalho por plataformas, como Uber, iFood e Parafuzo. Pouca coisa mudou desde a edição anterior, lançada em 2021, que mostrava trabalhos mal pagos, sem equipamento de proteção, com contratos e práticas gerenciais opacas e pouco respeito à liberdade de associação dos trabalhadores.

Numa escala de zero a dez, a maior nota, do aplicativo AppJusto, foi de apenas três. iFood fez dois pontos. Parafuzo fez um. Americanas, 99, GetNinjas, Lalamove, Loggi, Rappi e Uber não pontuaram. A situação destoa de outros países da América Latina, como Colômbia ou Equador, que tiveram aplicativos, avaliados com os mesmos critérios, fazendo até oito pontos.