sábado, 29 de julho de 2023

Dora Kramer - Um equilibrista no Planalto

Folha de S. Paulo

Lula busca compensar aliança com centrão com acenos nem sempre sensatos à esquerda

Os preparativos para a entrada oficial do centrão no governo exibem movimentos interessantes. A negativa do presidente Luiz Inácio da Silva, por exemplo, sobre a inexistência do bloco. "O centrão não existe", pontificou.

Ora, não apenas existe como detém a maioria dos votos no Congresso, matéria-prima de interesse do Planalto. Trata-se, no entanto, de uma aquisição que demanda compensações à esquerda pela perda de um antagonista de estimação.

Na falta dele, há sempre à disposição Jair Bolsonaro para trocas de insultos (a mais recente acerca de jumentos) com Lula ou um Roberto Campos Neto a quem se pode chamar de "capacho" e "lacaio" do capital sem maiores consequências.

Fica bonito na foto para a arquibancada. Distrai a torcida enquanto se negociam ministérios ao arrepio da qualificação profissional dos candidatos e se jogam ministros na bacia das almas, expostos ao entra e sai de frigideiras sob a alegação de que não têm votos.

Quem os têm é o centrão, que está mais vivo do que nunca. Daqui deste canto, nada contra deputados e senadores escolhidos de maneira limpa e legítima para representar seus eleitores. Quem se encabula da convivência é quem lhes nega a existência mediante um reposicionamento de marca para justificar a união.

Dessa espécie de política compensatória há mais dois exemplos recentes. A imposição de Marcio Pochmann para a presidência do IBGE, estranho no ninho da equipe e visto na área econômica como um ideólogo da obsolescência.

Outro, a bravata presidencial sobre a extinção dos clubes de tiro, rapidamente legendada pelo ministro da Justiça em tradução para fechamento dos estabelecimentos ilegais. A direita logo se apropriou de argumento (falso) para combater o pacote das armas.

A arte do equilibrismo de resultados requer destreza para não deixar que o centrão entre por uma porta e o juízo saia pela outra.

 

2 comentários:

EdsonLuiz disse...

Isto que Dora Kramer fez neste artigo é fazer jornalismo!

Este e outros artigos de Dora deveriam servir, junto com os artigos de Reinaldo Azevedo, os antigos e os atuais, para ilustrar aulas em turmas de cursos de Comunicação:: os de Dora, para mostrar o que é ser jornalista ; os de Reinaldo Azeredo, incluindo a incoerência dependendo de a quem ele quer servir, para mostrar o que é não ser jornalista.

Reinaldo Azeredo quando extripava covardemente o PT, o fazia por covardia e não pela responsabilidade de discutir o Brasil e discutir os erros e enganos que é a soma de populismo com fundamentalismo politico no PT e depois adicionados a isso o Centrão e corrupção coletiva de Lula, seus petistas e seus novos aliados ; agora, dando um cavalo de pau duplo-carpado, Reinaldo Azevedo faz a normalização em tempo integral dos absurdos conceituais, dos erros técnicos e do alucinado ideologismo petista. Eu nem penso que ele faz isso a soldo do PT:: Reinaldo não se mostrava jornalista antes e não se mostra agora.

Ser jornalista não é ser "do contra" nem ser "do a favor" ; ser jornalista é, simplesmente e tão somente, ser jornalista.

ADEMAR AMANCIO disse...

Concordo,Reinaldo Azevedo é de uma incoerência jornalística sem fim.