Correio Braziliense
Olhando para frente, há razões para otimismo
moderado. O Brasil tem uma economia diversificada, um setor agrícola
competitivo e um mercado consumidor significativo
O ano de 2025 começa para o Brasil em um
contexto de desafios internos e pressões externas que testam a resiliência de
sua economia. Com a inflação em alta, ajustes fiscais pendentes e um cenário
global mais incerto, o país precisa equilibrar crescimento econômico e
estabilidade financeira. Apesar das dificuldades, também há oportunidades para
fortalecer as bases do desenvolvimento, caso decisões estratégicas sejam
tomadas com foco no longo prazo.
No plano interno, a economia brasileira vive um momento de superaquecimento. O desemprego está em níveis historicamente baixos, enquanto a demanda cresce mais rápido do que a oferta, pressionando os preços. Nesse contexto, o Banco Central terá que tomar medidas para desacelerar o ritmo de crescimento em 2025 e 2026, com o objetivo de trazer a inflação de volta à meta de 3% ao ano. Esse ajuste será essencial para garantir a estabilidade econômica no médio prazo, ainda que possa gerar certo desconforto no curto prazo.
Os desafios fiscais do Brasil continuam sendo
uma preocupação central em 2025. Apesar de o governo reconhecer publicamente a
necessidade de ajustes, a condução da política fiscal tem sido marcada por
medidas de curto prazo, em detrimento de um planejamento estratégico. A
expansão de gastos sem contrapartidas claras, combinada com uma reforma
tributária tímida, tem alienado o mercado financeiro e gerado desconfiança
entre investidores. As promessas de disciplina fiscal frequentemente esbarram
em pressões políticas por mais despesas, enfraquecendo o compromisso do país
com a responsabilidade fiscal.
Além disso, erros de comunicação e a falta de
clareza na formulação de políticas econômicas têm afastado potenciais parceiros
comerciais e investidores internacionais. Declarações conflitantes entre
membros do governo alimentam a percepção de falta de coordenação e aumentam a
volatilidade no mercado. Em vez de priorizar uma narrativa de previsibilidade e
estabilidade, o governo parece mais focado em atender a demandas imediatistas,
o que tem prejudicado a percepção do Brasil como um destino confiável para capital
estrangeiro. Nesse sentido, um freio de arrumação em 2025 se mostra
imprescindível.
No cenário global, o retorno de Donald
Trump à presidência dos Estados Unidos marca o início de uma nova fase nas
relações comerciais internacionais. Sua política America first, caracterizada
por maior protecionismo, pode trazer desafios para as exportações brasileiras,
especialmente em setores como o agronegócio. Além disso, a desaceleração da
economia chinesa adiciona uma camada extra de incerteza, dado que a China é o
principal destino das exportações brasileiras.
Apesar desses riscos, o Brasil possui
vantagens competitivas que podem ser exploradas para mitigar os impactos
externos. A diversidade de sua matriz exportadora, aliada à abundância de
recursos naturais, coloca o país em uma posição estratégica para atender à
demanda global por alimentos e energia, especialmente em um momento de
transição energética e mudanças climáticas.
Outro ponto de atenção é a política monetária
global. A possibilidade de que os Estados Unidos adotem medidas fiscais
expansionistas pode pressionar os juros internacionais, aumentando o custo de
captação para países emergentes. Nesse cenário, será fundamental que o Brasil
mantenha a credibilidade de sua política econômica e a estabilidade de suas
instituições, como o Banco Central.
Olhando para frente, há razões para otimismo
moderado. O Brasil tem uma economia diversificada, um setor agrícola
competitivo e um mercado consumidor significativo. Além disso, a transição
energética e as demandas por sustentabilidade no cenário global criam
oportunidades únicas para o país se posicionar como líder em áreas como
bioenergia e agricultura sustentável. É preciso escapar das discussões de curto
prazo, colocar a política fiscal em ordem e apontar para essa agenda positiva
futura.
Em 2025, o Brasil encontra-se diante de um
momento decisivo. Com planejamento estratégico e foco na execução de reformas,
o país pode transformar os desafios atuais em oportunidades de crescimento e
desenvolvimento. Ainda que o caminho seja complexo, o futuro permanece em
aberto — e dependerá das escolhas feitas agora para construir uma trajetória
mais estável e promissora.
*Diretor Nacional do Ibmec
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