segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Brasil entre riscos e oportunidades em um cenário de incertezas - Reginaldo Nogueira*

Correio Braziliense

Olhando para frente, há razões para otimismo moderado. O Brasil tem uma economia diversificada, um setor agrícola competitivo e um mercado consumidor significativo

O ano de 2025 começa para o Brasil em um contexto de desafios internos e pressões externas que testam a resiliência de sua economia. Com a inflação em alta, ajustes fiscais pendentes e um cenário global mais incerto, o país precisa equilibrar crescimento econômico e estabilidade financeira. Apesar das dificuldades, também há oportunidades para fortalecer as bases do desenvolvimento, caso decisões estratégicas sejam tomadas com foco no longo prazo.

No plano interno, a economia brasileira vive um momento de superaquecimento. O desemprego está em níveis historicamente baixos, enquanto a demanda cresce mais rápido do que a oferta, pressionando os preços. Nesse contexto, o Banco Central terá que tomar medidas para desacelerar o ritmo de crescimento em 2025 e 2026, com o objetivo de trazer a inflação de volta à meta de 3% ao ano. Esse ajuste será essencial para garantir a estabilidade econômica no médio prazo, ainda que possa gerar certo desconforto no curto prazo.

Os desafios fiscais do Brasil continuam sendo uma preocupação central em 2025. Apesar de o governo reconhecer publicamente a necessidade de ajustes, a condução da política fiscal tem sido marcada por medidas de curto prazo, em detrimento de um planejamento estratégico. A expansão de gastos sem contrapartidas claras, combinada com uma reforma tributária tímida, tem alienado o mercado financeiro e gerado desconfiança entre investidores. As promessas de disciplina fiscal frequentemente esbarram em pressões políticas por mais despesas, enfraquecendo o compromisso do país com a responsabilidade fiscal.

Além disso, erros de comunicação e a falta de clareza na formulação de políticas econômicas têm afastado potenciais parceiros comerciais e investidores internacionais. Declarações conflitantes entre membros do governo alimentam a percepção de falta de coordenação e aumentam a volatilidade no mercado. Em vez de priorizar uma narrativa de previsibilidade e estabilidade, o governo parece mais focado em atender a demandas imediatistas, o que tem prejudicado a percepção do Brasil como um destino confiável para capital estrangeiro. Nesse sentido, um freio de arrumação em 2025 se mostra imprescindível.

 No cenário global, o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos marca o início de uma nova fase nas relações comerciais internacionais. Sua política America first, caracterizada por maior protecionismo, pode trazer desafios para as exportações brasileiras, especialmente em setores como o agronegócio. Além disso, a desaceleração da economia chinesa adiciona uma camada extra de incerteza, dado que a China é o principal destino das exportações brasileiras.

Apesar desses riscos, o Brasil possui vantagens competitivas que podem ser exploradas para mitigar os impactos externos. A diversidade de sua matriz exportadora, aliada à abundância de recursos naturais, coloca o país em uma posição estratégica para atender à demanda global por alimentos e energia, especialmente em um momento de transição energética e mudanças climáticas.

Outro ponto de atenção é a política monetária global. A possibilidade de que os Estados Unidos adotem medidas fiscais expansionistas pode pressionar os juros internacionais, aumentando o custo de captação para países emergentes. Nesse cenário, será fundamental que o Brasil mantenha a credibilidade de sua política econômica e a estabilidade de suas instituições, como o Banco Central.

Olhando para frente, há razões para otimismo moderado. O Brasil tem uma economia diversificada, um setor agrícola competitivo e um mercado consumidor significativo. Além disso, a transição energética e as demandas por sustentabilidade no cenário global criam oportunidades únicas para o país se posicionar como líder em áreas como bioenergia e agricultura sustentável. É preciso escapar das discussões de curto prazo, colocar a política fiscal em ordem e apontar para essa agenda positiva futura.

Em 2025, o Brasil encontra-se diante de um momento decisivo. Com planejamento estratégico e foco na execução de reformas, o país pode transformar os desafios atuais em oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Ainda que o caminho seja complexo, o futuro permanece em aberto — e dependerá das escolhas feitas agora para construir uma trajetória mais estável e promissora.

 

*Diretor Nacional do Ibmec 

Nenhum comentário: