O Estado de S. Paulo
A baixa coesão partidária no Brasil é fruto da busca pela sobrevivência eleitoral
É muito comum entre eleitores brasileiros uma
boa dose de frustração em relação aos partidos políticos. Muitos argumentam que
os partidos não têm uma ideologia clara, não partilham de crenças comuns, nem
de objetivos compartilhados. Isto é, têm baixa coesão.
No artigo “Frustrated marriage? The
ideological distance of members of congress from their parties in Latin
America”, os cientistas políticos João Guedes e Scott Morgenstern mostram que
essa frustração não ocorre apenas entre os eleitores brasileiros, mas também é
observada entre os próprios parlamentares latino-americanos.
A pesquisa deles é baseada em questionários aplicados com 1753 legisladores de 51 partidos políticos de 18 países latino-americanos entre 2010 e 2017 pelo “Observatório de Elites Parlamssentares na América Latina” (PELA).
Metade dos parlamentares latino-americanos se
percebe substancialmente distante ou dissonante da preferência ideológica média
dos partidos a que pertencem e 40% deles expressam grande frustração com a
distância ideológica entre seus colegas de partido e a sua própria ideologia.
Os autores mostram que o nível de dissonância
e de frustração do parlamentar com seu partido varia de acordo com a ideologia.
Enquanto os parlamentares de direita são mais dissonantes da preferência média
de seus partidos, especialmente em questões morais, os de esquerda apresentam
maior frustração, especialmente em questões econômicas.
Se uma quantidade considerável de
legisladores da América Latina é dissonante (especialmente os de direita) dos
membros seus respectivos partidos e, além disso, também se sente frustrada
(especialmente os de esquerda) com essa falta de coesão, por que se filiam a
partidos que discrepam da sua ideologia?
A resposta está na busca pela sobrevivência
eleitoral. Como a América Latina e o Brasil em particular são reino da
representação proporcional para o Legislativo, a conexão eleitoral tende a não
se desenvolver em torno dos partidos, mas sim por meio de conexões individuais
entre os eleitores e redes locais de interesse. A coesão partidária, portanto,
tende a ser baixa, dado que o parlamentar procura o partido que traz mais
retornos eleitorais e não necessariamente o que tem mais identidade.
Mas, paradoxalmente, os partidos são fortes
dentro do Legislativo. Embora não sejam coesos, são muito disciplinados. É a
partir da disciplina que os legisladores têm mais acesso aos recursos
partidários que proporcionam sobrevivência eleitoral. Quando as partes
envolvidas entendem o que está em jogo, a frustração cede lugar para a
conveniência.
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