segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Preto Zezé - O clima da favela

O Globo

Populações de baixa renda têm menos recursos para se adaptar ou se recuperar de desastres

A crise climática é fato, e temos dados e pesquisas de sobra. Embora seu entendimento ainda seja algo distante, ela tem impactos severos nas favelas, tanto em termos sociais quanto ambientais.

As favelas — que surgem muitas vezes caracterizadas por urbanização desordenada e infraestrutura precária — têm sido impactadas de várias formas. Diante disso, após o G20 das Favelas, que pautou as maiores economias do planeta, caminha-se para o F30 (Favela 30), com o objetivo de tratar a questão ambiental, tão crucial para esses territórios.

Durante este período de chuvas e eventos climáticos extremos, as favelas são as mais atingidas por inundações e deslizamentos de terra. Isso ocorre devido à falta de um planejamento justo de distribuição da terra, que obriga populações a se alojarem em locais vulneráveis, como encostas ou regiões próximas a rios.

A ausência de áreas verdes e a densidade urbana tornam as favelas mais propensas ao efeito de ilhas de calor, piorando as condições de vida dos moradores. Associada a isso, a falta de acesso a saneamento básico para grande parte da população (o maior projeto ambiental para as favelas hoje) agrava a escassez hídrica, intensificada pela crise climática.

Sem mecanismos de controle e participação efetivos, as populações das favelas vivem uma desigualdade em expansão, aprofundando desigualdades preexistentes. As populações de baixa renda têm menos recursos para se adaptar ou se recuperar de desastres.

As cidades enfrentarão períodos desafiadores com a migração gerada pelos eventos climáticos extremos, que forçam famílias a abandonarem suas casas. Isso gera deslocamentos internos, pressionando ainda mais os serviços públicos.

Os impactos na saúde são graves, pois a combinação de calor extremo, falta de saneamento e aumento de doenças transmitidas por vetores (como dengue e zika) tem um impacto devastador nas condições de vida.

Ou apostamos em outros modelos de cidades, sustentáveis e socialmente justas, com infraestrutura resiliente, como sistemas de drenagem eficientes e habitações seguras, ou não reduziremos os impactos climáticos.

Estive num evento na Câmara Municipal do Rio e observei que existe, no Plano Diretor da cidade, um capítulo inédito específico sobre as favelas, o que insere na lei nossa participação efetiva.

De novas práticas e ideias o país está cheio. A hora de atuar em integração com o setor público, as organizações comunitárias das favelas e o setor privado é agora. Caso contrário, todos nós pagaremos caro.

A crise climática exige uma abordagem integrada que combine políticas públicas, participação comunitária e inovações tecnológicas. As favelas, apesar de suas vulnerabilidades, também têm um imenso potencial de resiliência e inovação quando recebem suporte adequado e uma escuta eficiente.


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