Hugo Henud / O Estado de S. Paulo
Outro desafio para a governabilidade do
petista é o fortalecimento do Congresso
O presidencialismo de coalizão – modelo que
permite ao Executivo formar alianças com o Legislativo para garantir
governabilidade – ainda demonstra eficiência, mesmo diante de desafios como
fortalecimento do Congresso. A avaliação é do cientista político Fernando
Limongi, autor de Democracia Negociada – obra que vê a negociação política como
essencial para construir consensos em momentos de crises. O professor de
Economia da FGV Leonardo Weller é coautor do livro.
“Quando o governo precisa fazer uma coalizão, ele vai fazer. Mas aí tem outro problema que é que o governo não sabe muito bem qual é sua agenda. Lula fala do passado. Mas como voltar? Não há o Bolsa Família ou o Minha Casa, Minha Vida como novidade”, disse Limongi ao Estadão.
Estamos diante de um amadurecimento do presidencialismo de coalizão, agora negociado em novas bases?
Quando o governo
precisa fazer uma coalizão, ele vai fazer. Porque sempre há pessoas que
preferem participar do governo. Por outro lado, sempre há quem prefira
permanecer na oposição, esperando a próxima eleição para chegar ao poder. É o
caso do grupo da direita bolsonarista. O resultado de 2022 trouxe vitória
expressiva para essa direita no Congresso, mas eles perderam a Presidência.
Esse cenário deixou muitos sem interesse em participar do governo. Se fossem
convidados a assumir o Ministério da Saúde, recusariam. Eles não fazem política
dessa forma. Isso complicou a formação da coalizão, mas o poder dado a Arthur
Lira (presidente da Câmara) por Bolsonaro também teve impacto. Na versão de
Bolsonaro do presidencialismo de coalizão, ele cedeu o controle do Congresso e
deixou que “eles fizessem a política”. Mas e aí tem outro problema que é que o
governo não sabe qual é sua agenda. Lula frequentemente fala do passado. Mas
como voltar, se as condições são diferentes? Que política o governo quer fazer?
Não há o Bolsa Família ou o Minha Casa Minha, Vida como novidade. Agora,
contratar um marqueteiro (Sidônio Palmeira para a Secretaria de Comunicação
Social) para isso não resolve. Pode complicar ainda mais a governabilidade.
Como o senhor avalia a base governista nesta segunda metade do governo Lula?
Essencial será a troca de Lira por Hugo Motta
na presidência da Câmara. Lira tinha consolidado um grande poder, seja pelo
controle da agenda, que recebeu de mão beijada por causa da pandemia... Ele
também recebeu de mão beijada parcela significativa do orçamento. Então, estava
controlando boa base de parlamentares. Ele é um cara da escola de Eduardo
Cunha: bom de jogo, perigoso, ativo e capaz. Vamos ver como será com o novo presidente
e o tipo de relação que vai ter com Lula. Não acredito que o novo presidente da
Câmara tenha a mesma envergadura que Lira. E já estão todos de olho em 2026.
Em uma projeção para a próxima eleição presidencial, como avalia a correlação de forças partidárias?
A eleição será
bipartidária. Dificilmente não será. Para isso, teria que haver um erro de
coordenação muito grande. Muito provavelmente, teremos Lula ou um candidato
apoiado por ele enfrentando um candidato de centro-direita forte. Até lá,
dependendo dos desdobramentos do inquérito relacionado ao golpe, esse candidato
pode ser alguém ligado a Bolsonaro ou um nome novo, como Tarcísio (de Freitas,
governador de São Paulo). Isso será determinante para a estruturação do
sistema.
*Cientista político Cientista político, é
professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Autor de ‘Democracia Negociada’
(com Leonardo Weller)
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