domingo, 7 de dezembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Abertura comercial terá efeito imediato na produtividade

Por O Globo

Acordo Mercosul-UE e redução do tarifaço de Trump são cruciais para sanar deficiência crônica do Brasil

Nos últimos cinco anos, a renda per capita cresceu 1,7% ao ano no Brasil. O principal motor do avanço foi a queda no desemprego. Em outubro, ele caiu a 5,4%, nível mais baixo da série histórica iniciada em 2012. Mas é impossível o desemprego seguir caindo de forma indefinida sem gerar pressão inflacionária. A situação atual da economia expõe, ao mesmo tempo, o limite das políticas de estímulo ao consumo e a dificuldade crônica do Brasil de enfrentar sua maior deficiência— a improdutividade.

A competição no Brasil é baixa, e isso é um problema. O tamanho médio das empresas é muito menor que no Chile ou na China. Companhias antigas não são maiores que as iniciantes, e sua produtividade não cresce. Tudo isso decorre de uma economia que permite a sobrevivência dos incompetentes, por isso roda abaixo da capacidade. “Empresas mais produtivas não crescem, e as empresas de baixa produtividade permanecem no mercado”, diz Fernando Veloso, diretor de pesquisa do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS). Não é surpresa que a produtividade por hora trabalhada avance a passos de tartaruga. De 1981 a 2024, cresceu ridículo 0,5% ao ano. Nos últimos cinco anos, a situação piorou: o crescimento caiu a 0,3%, segundo o Observatório da Produtividade Regis Bonelli. A melhora se deve basicamente ao agronegócio. No setor industrial, o valor gerado por hora trabalhada caiu 23% em 30 anos. Além do atraso de uma indústria protegida por subsídios e barreiras comerciais, a informalidade — que emprega quatro em dez brasileiros — favorece produtividade baixa.

Uma economia improdutiva não tem como produzir riqueza na proporção necessária para combater miséria e desigualdade. Os remédios são conhecidos, mas custosos. O mais óbvio é pôr mais gente para trabalhar. Infelizmente, o Brasil já não pode mais contar com o bônus demográfico, período em que a população em idade produtiva supera crianças e idosos. À medida que o país envelhece, é preciso achar alternativas. A educação é a resposta mais duradoura. Se ainda somos um país onde proliferam ocupações que não geram riqueza, como flanelinhas, porteiros de prédio, cobradores de ônibus ou até ascensoristas, é porque não temos uma população bem formada, preparada para trabalho produtivo. É verdade que tem havido melhora, mas esse é um desafio que só pode ser superado no longo prazo — e não temos tempo para esperar.

Outra saída, defendida por Veloso e outros autores no estudo “Integração comercial internacional do Brasil”, é a abertura econômica. O fim de barreiras comerciais resultaria em benefícios imediatos: ampliaria o acesso a máquinas e insumos importados, aumentaria a competição e inibiria a informalidade. Nos setores expostos, empresas informais pouco produtivas cederiam lugar àquelas com chance de conquistar novos clientes no exterior.

Por isso são tão relevantes as negociações entre Brasil e Estados Unidos para reduzir o tarifaço de Donald Trump. A abertura do mercado brasileiro a produtos americanos pode destravar as negociações e, ao mesmo tempo, aumentar a competição por aqui. Outra contribuição poderá vir da aprovação do acordo Mercosul-União Europeia, prevista para este mês. É alvissareiro que uma gestão do PT — em geral afeito a dogmas protecionistas — pareça enfim ter descoberto as vantagens do livre-comércio, crucial para combater a pobreza e a desigualdade.

Governo do Rio comete erro ao facilitar aprovação no ensino médio

Por O Globo

Medida pode até reduzir taxa de evasão e melhorar nota no Ideb, mas representa retrocesso pedagógico

O governador do Rio, Cláudio Castro, assinou decreto para que os 515 mil alunos da rede pública possam passar de ano mesmo que sejam reprovados em até seis disciplinas, se estiverem no primeiro e no segundo ano do ensino médio, ou em até três, se estiverem no terceiro. O objetivo da nova política de progressão é reduzir a evasão escolar, motivando o aluno a recuperar o conteúdo não aprendido sem prejudicar sua formatura. Mas parece evidente que um estudante com seis disciplinas pendentes, cerca de metade da grade, não terá condições de aprender tudo o que não aprendeu e, além disso, absorver novos conteúdos.

No primeiro ano do ensino médio, a evasão em 2022 chegou a 10%, ante média nacional de 6,5%, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC. É até possível que o índice melhore com a nova política. Mas de que adianta se os estudantes não tiverem boa formação? A reprovação não pode ser regra, mas é preciso haver limites. O sistema de progressão continuada deve ser condicionado ao número de disciplinas e às condições para o aluno aprender os conteúdos pendentes. Seis é um número excessivo, no entender de Cláudia Costin, presidente do Instituto Equidade.Info, ligado à Universidade Stanford, e ex-diretora global de Educação do Banco Mundial.

Redes de ensino que lançam mão da progressão continuada precisam garantir que, no ano seguinte, o estudante terá todo o reforço pedagógico necessário para recuperar o conteúdo que não aprendeu no ano anterior. “Permitir que o estudante com notas baixas em seis disciplinas seja aprovado dificulta muito esse trabalho no ano seguinte”, afirma informe do movimento Todos Pela Educação.

Pelos últimos dados disponíveis, referentes a 2023, o Rio obteve nota 3,3 no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb). É o penúltimo colocado no país, melhor apenas que Rio Grande do Norte. Como o Ideb é calculado com base nas taxas de aprovação e nas notas dos alunos no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), a nova política de “aprovação automática” deverá ter impacto positivo na nota do Rio.

Mas sem avanços pedagógicos. “Não estão enfrentando estruturalmente o problema da evasão”, afirma o coordenador-geral do Fórum Estadual de Educação do Rio, Waldeck Carneiro. “Não houve diálogo com as escolas, nem o Conselho Estadual de Educação foi consultado sobre a medida, que interfere no cotidiano escolar e tem problemas de concepção e método. Não se trata de cultuar a repetência. O que não se pode é negar ao aluno o direito ao conhecimento.”

É preciso fazer o possível para manter os alunos na escola, mas não se pode esquecer que o objetivo principal continua o mesmo: eles aprenderem.

Câmara tem de cassar Eduardo, Ramagem e Zambelli

Por Folha de S. Paulo

Deputados fugitivos têm condenações na Justiça; filho de Bolsonaro tramou contra o país e falta sessões

Com provável condenação de Eduardo, os três ficarão inelegíveis; cassação acrescentaria rejeição de práticas ofensivas ao mandato popular

Câmara dos Deputados depara-se com a inusitada situação de ter de lidar com um trio de parlamentares que fugiu do país para escapar das garras da Justiça. Mandatos eletivos, conferidos no exercício da soberania popular, deveriam ser cassados só em situações excepcionais pelos pares —chegou-se a esse ponto nos três casos.

Carla Zambelli (PL-SP), presa na Itália enquanto aguarda a conclusão de processo de extradição, e Alexandre Ramagem (PL-RJ), que se evadiu para os Estados Unidos, têm contra si diplomas de condenação criminal transitada em julgado expedidos pelo Supremo Tribunal Federal.

A deputada foi condenada a dez anos de prisão por invasão do sistema computacional do Conselho Nacional de Justiça e emissão de um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Em outro processo, pegou mais cinco anos pela famigerada perseguição, de arma em punho, a um provocador na véspera do segundo turno de 2022.

Ramagem, ex-chefe da Abin na administração Jair Bolsonaro (PL), foi sentenciado a 16 anos de prisão no mesmo julgamento que condenou o ex-presidente e outros seis réus por tentativa de golpe de Estado. Como não cabe mais recurso desta decisão, tampouco das contra Zambelli, a cassação dos mandatos decorre de um comando constitucional.

No artigo 15, a Carta de 1988 abre poucas exceções a permitir a anulação dos direitos políticos, sendo uma delas a "condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos". Resta em aberto, como tema de longa controvérsia, o modo como essa ordem deve ser cumprida.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), parece inclinado a submeter a decisão, no caso da dupla condenada, ao plenário da Casa. Não é despropositado consultar todo o corpo dos deputados, já que os pares deveriam resolver sobre perda de mandato, e espera-se que a ampla maioria vote pela cassação em obediência à Constituição.

A situação do fujão Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é distinta, embora ele mereça a mesma punição. Saiu do país para tramar com o governo dos Estados Unidos contra a soberania e a economia brasileiras e falta às sessões desde março último. Nesse período, os contribuintes já desembolsaram R$ 1 milhão para sustentar a estrutura do representante que não representa mais ninguém.

Pelas regras da Câmara sobre ausências, o seu posto de deputado poderá ser declarado vago em março de 2026. Concomitantemente, responde à revelia a um processo no STF por coação que deverá colocá-lo na mesma situação de Zambelli e Ramagem.

Com a provável condenação de Eduardo Bolsonaro, os três ficarão inelegíveis pelos próximos ciclos eleitorais, o que para políticos já significa castigo severo. A cassação dos mandatos acrescentaria a seus deploráveis currículos a rejeição, pelos pares, de práticas incompatíveis com o exercício da função parlamentar.

A mal explicada decisão de Toffoli no caso Master

Por Folha de S. Paulo

Sem justificativa clara, ministro do STF decreta sigilo em caso sobre suspeitas graves de fraude bancária

Banco Master, sob comando de Daniel Vorcaro, é investigado por desvio de R$ 12,2 bi e quebra espetacular que custará R$ 41 bi ao FGC

Em um despacho de míseras três páginas, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, transformou o caso do Banco Master em um enigma impenetrável.

Com ligeireza espantosa, o magistrado determinou a remoção do processo da Justiça Federal para as mãos da corte mais alta do país, invocando a prerrogativa de foro de um deputado federal mencionado em contrato apreendido pela Polícia Federal.

Também difícil de entender foi a imposição de sigilo mais elevado, expandindo o grau de confidencialidade a um patamar que impede o acesso às letras iniciais de identificação das partes, ao andamento do processo e às próprias decisões judiciais.

No texto sucinto de Toffoli, não há justificativa compreensível para a manobra. Em apenas um parágrafo com quatro linhas, o ministro se limita a afirmar que a investigação "supostamente dirigida contra pessoas com foro por prerrogativa de função, conforme inclusive já noticiado pela mídia formal" respaldaria a competência do Supremo.

Em contraste com a peça rarefeita, há evidencias sólidas de corrupção, possivelmente sistêmica, envolvendo o caso. O Banco Master, sob o comando de Daniel Vorcaro, é suspeito de fraudes bilionárias —contratos fictícios, desvio de R$ 12,2 bilhões e uma quebra espetacular que custará R$ 41 bilhões ao Fundo Garantidor de Créditos, cujos recursos são custeados em última instância por milhões de poupadores.

A decisão mal explicada não contribui para a credibilidade da corte nem do magistrado. Toffoli não é um novato em medidas que despertam questionamentos, como nas sucessivas anulações de processos contra réus confessos da Operação Lava Jato.

A imagem do Supremo se desgasta com a percepção crescente de permeabilidade a interesses particulares, seja na flexibilização de normas que regulam conflitos de interesses, seja nos encontros entre ministros e políticos e empresários com causas em potencial na corte.

O caso em tela é particularmente grave devido à extensão da influência do dirigente do Master, abarcando esquerda, direita e centro. Vorcaro era patrocinador voraz de eventos que reuniam a elite política e jurídica de Brasília.

O Master recebeu generosas aplicações de recursos de fundos previdenciários estaduais, incluindo o do Rio, e municipais, em escolhas de difícil compreensão. A própria demora do Banco Central em liquidar o banco demanda esclarecimentos. Dos ministros do STF se exigem agora rigor e clareza de propósitos.

A força dos jornais centenários

Por O Estado de S. Paulo

Se a imprensa profissional em geral é o anteparo das sociedades abertas contra seus inimigos, mais ainda o é a imprensa centenária, justamente homenageada pela ANJ

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) homenageou no dia 4 passado os 13 jornais centenários que a integram, entre os quais este Estadão, que neste ano celebra 150 anos. Como bem enfatizou o presidente-executivo da ANJ, Marcelo Rech, “os jornais centenários são guardiões da história do País, responsáveis por documentar a vida pública ao longo de gerações e por manter vivo o compromisso com a verdade factual”.

A mera existência de jornais com mais de um século de atuação mostra que, ao contrário das aparências, ainda há no Brasil quem se interesse por informação de qualidade, apurada com rigor e editada conforme os mais altos padrões éticos e técnicos. Intuitivamente, esse público parece saber que é desse tipo de informação que depende a própria existência da democracia, pois não é possível participar do processo político coletivo se não houver consensos minimamente razoáveis sobre a realidade que se pretende mudar. Não é à toa que os liberticidas celebram quando um jornal fecha – é menos um para contradizê-los em suas maquinações contra as instituições.

Se a imprensa profissional em geral é o anteparo das sociedades abertas contra seus inimigos, mais ainda o é a imprensa centenária. Um veículo que sobrevive mais de cem anos num país econômica e politicamente instável como o Brasil transforma-se naturalmente numa espécie de reserva moral do País. Com erros e acertos, esses jornais tradicionais tornaram-se referência no debate nacional porque parecem existir desde sempre, já que estão na memória de gerações de brasileiros.

Desse modo, jornais com tais características tornam-se autoridades no melhor sentido da palavra. Não se ganha esse status da noite para o dia. São necessárias décadas de bom jornalismo, numa construção permanente de credibilidade. Por mais críticos que sejam os leitores dessas publicações, todos reconhecem neles, em seu conjunto, a estatura de uma instituição democrática indispensável para tomar decisões, das mais comezinhas às mais graves.

Eis aí a autoridade da imprensa profissional, que não se impõe pela força, mas pela legitimidade. Jornais tradicionais influenciam decisivamente a política porque atuam como o pulso da própria sociedade, de cujas transformações ao longo do tempo foram testemunhas e cronistas. Os cidadãos sabem que é nas páginas desses veículos que está sendo escrita a sua própria história.

É por isso que há tantos inimigos da imprensa em geral e dos jornais tradicionais em particular. Para os que desejam reescrever a história segundo seus gostos pessoais, os veículos jornalísticos sérios são um formidável empecilho, que deve ser desmoralizado a todo custo.

Nessa empreitada antidemocrática, os liberticidas ganharam aliados poderosos – a inteligência artificial, que a custo baixíssimo permite a distorção da realidade, e as redes sociais, cujos algoritmos arruínam o debate público ao dar maior visibilidade à fraude e à violência, monopolizando a atenção e drenando receitas publicitárias.

O velho e bom jornal, nesse contexto, trava uma luta quase quixotesca pela sobrevivência. Mas é preciso destacar que a tecnologia usada para ameaçar a imprensa profissional é a mesma que abre um enorme campo de possibilidades de atuação para esses veículos que souberam atravessar grandes mudanças tecnológicas ao longo de mais de um século.

Jornais velhos, portanto, não podem significar jornais antiquados: o grande desafio é explorar o admirável mundo novo da digitalização da vida sem perder a capacidade de servir aos cidadãos e ao País como mediador confiável do real e como infraestrutura democrática. Aliás, a tecnologia hoje disponível permite ir ao encontro do ideal de Julio Mesquita, que fez do Estadão uma espécie de rede social de seu tempo, um veículo que desde aquela época congrega seus leitores, de todos os cantos do País, por meio do jornalismo, construindo a partir disso sua sólida opinião.

É por isso que a permanência de jornais como o Estadão e os demais veículos centenários é essencial: ao refletir o sentimento dos cidadãos e expressar com vigor suas demandas, os jornais tradicionais servem como limite ao poder.

Morde e assopra

Por O Estado de S. Paulo

É conveniente para Lula culpar o Congresso pelo ‘sequestro’ do Orçamento ao mesmo tempo em que avaliza um inédito calendário para garantir o pagamento das emendas a deputados e senadores

A campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já começou, e o petista escolheu seu inimigo. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro preso e definitivamente fora da disputa, Lula só precisava definir um antagonista para culpar pelos problemas que ele não quis ou não conseguiu resolver, e o Congresso, ao menos neste momento, vestiu a carapuça.

De um lado, a combinação entre inflação mais baixa e desemprego no menor nível histórico já deixa o terreno confortável para o incumbente em um pleito que é, de certa forma, um plebiscito sobre a aprovação ou reprovação de seu mandato. Já as trapalhadas do clã familiar de Bolsonaro na tentativa de livrá-lo da cadeia presentearam o petista com a bandeira da soberania nacional no malfadado tarifaço dos Estados Unidos.

Em contrapartida, Lula tem na segurança pública um enorme telhado de vidro, e sua insistência em tratar do assunto pelo viés da desigualdade social, mesmo após o apoio da população à megaoperação policial nos Complexos do Alemão e da Penha no Rio de Janeiro, fez seu índice de rejeição voltar a subir após meses de recuperação nas pesquisas. Mas, como a candidatura da oposição ainda parece indefinida, o Congresso tem facilitado bastante a vida do presidente na busca de um adversário com quem rivalizar.

A aprovação de pautas-bomba e a derrubada indiscriminada de vetos presidenciais à nova lei do licenciamento ambiental são os episódios mais recentes a piorar a imagem do Legislativo. Ademais, se encaixam bem na releitura que Lula tem feito da narrativa do “nós contra eles”, retomada desde a tramitação do projeto que isentava o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e taxava os mais ricos.

Mas o petista não é ingênuo e sabe que não pode prescindir completamente do Congresso para governar. Por isso, investe em um conveniente morde e assopra e sabe bem onde pisar. O discurso é duro, mas suas ações são um verdadeiro afago e focam naquilo que mais importa aos deputados e senadores.

Afinal, o presidente que criticou abertamente a obrigatoriedade de pagamento das emendas parlamentares e acusou o Congresso de ter “sequestrado” o Orçamento é o mesmo que discretamente assentiu com a criação de um inédito calendário para a execução dessas indicações.

Estabelecido na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), aprovada na semana passada pelo Congresso, o calendário era uma demanda antiga dos parlamentares e vai garantir que 65% das emendas individuais, Pix e de bancada terão de ser pagas até o fim do primeiro semestre de 2026. Isso significa que mais de R$ 12 bilhões chegarão às bases dos atuais deputados e senadores a poucos meses da eleição.

Para Lula, o estabelecimento da obrigatoriedade das emendas, aprovado por meio de emenda constitucional, foi um “grave erro histórico”, mas a medida, segundo ele, só cairá quando mudarem “as pessoas que governam e que aprovaram isso”. Ora, se Lula realmente acreditasse no que disse, ele jamais poderia ter compactuado com o calendário incluído na LDO. O artifício certamente vai desequilibrar a disputa a favor de quem já tem mandato, contribuindo para perpetuá-los no poder e, assim, manter o caráter impositivo das emendas.

A questão é que Lula não sairá de mãos abanando. Com o acordo, os parlamentares deram ao governo autorização para ignorar o centro da meta fiscal e mirar em seu limite inferior em 2026. Assim, em vez de buscar um saldo positivo de R$ 34,3 bilhões entre receitas e despesas, o Executivo poderá registrar um déficit de até R$ 23,3 bilhões.

Lula, portanto, poderá gastar mais e ainda assim dizer que tem responsabilidade fiscal, uma vez que a meta será cumprida. Já o Congresso pode até ser alvo das críticas do presidente, mas não correrá o risco de ver suas emendas bloqueadas.

Providencialmente, em meio à sessão na qual a LDO era aprovada, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), telefonou para o Palácio do Planalto para questionar a que Lula se referia quando mencionou o “sequestro” do Orçamento, mas nem por isso deixou de aprovar a proposta. O combinado, afinal, só saiu caro para a sociedade.

O poder paralelo dos bandidos

Por O Estado de S. Paulo

Prisão de políticos acusados de conluio com facções expõe sociedade acuada pelo crime

A prisão preventiva do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), por suspeita de ligação com a facção criminosa Comando Vermelho (CV), é mais uma peça na apuração sobre a eventual infiltração do crime organizado não apenas na economia formal, mas também no poder público. Bacellar é acusado de ter vazado informações sigilosas da investigação policial que há cerca de três meses resultou na prisão do então deputado pelo MDB Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, sob a mesma acusação de envolvimento com o CV.

No fim de semana anterior à prisão, Bacellar ocupava interinamente a cadeira de governador do Estado, substituindo Cláudio Castro (PL), que viajara ao Peru para acompanhar a final da Copa Libertadores. A sucessão direta de Castro por Bacellar, antigos aliados, faz parte de um arranjo político que culminou com a renúncia, em maio, do vice-governador Thiago Pampolha, indicado para o Tribunal de Contas do Estado. Bacellar, que até pouco tempo preparava candidatura a governador em 2026, precisava ganhar visibilidade.

Pelo menos nisso não se pode dizer que tenha fracassado. O deputado nunca esteve tão em evidência quanto nos últimos dias, preso durante a Operação Unha e Carne, da Polícia Federal. A presumível associação de facções criminosas em atividades econômicas formais e na política institucionalmente constituída também vem ganhando destaque nacional. Em agosto, a Operação Carbono Oculto revelou ligações da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) com fintechs e empresas do setor de combustíveis.

O sequestro da atividade formal pelo crime organizado desafia o Estado Democrático de Direito. Em setembro, quando TH Joias foi preso, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) anunciou uma série de medidas que visavam a reduzir a interferência de traficantes e milicianos nas eleições de 2026. A principal delas é a mudança de endereço de dezenas de seções eleitorais no Estado. Na época, o vice-presidente do TRE-RJ, Claudio de Mello Tavares, destacou que eleitores de áreas sob o domínio do crime votam com medo. Ou seja, o eleitor, que parece ter se livrado do voto de cabresto do antigo coronelato político, agora se vê acuado pelo crime.

O ex-deputado TH Joias, aliado de Bacellar na Alerj, é um suspeito reincidente. Em 2017, foi preso pela Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), acusado de ser articulador do tráfico de drogas e armas do Rio. De acordo com a acusação, lavava dinheiro para as três facções rivais do Rio. Apesar do histórico, concorreu nas eleições de 2022 e conseguiu uma suplência, assumindo o cargo dois anos depois, com a morte do deputado titular. Depois da nova prisão, foi imediatamente expulso do partido.

O controle dos partidos políticos deveria ser rigoroso já no processo de filiação, funcionar como um filtro dos candidatos a cargos eletivos e aumentar ainda mais ao longo dos mandatos. Se o crime está, de fato, conseguindo se embrenhar com tanta facilidade no Estado, é porque, entre outras razões, os partidos têm permitido que criminosos se filiem e usem a política como blindagem e meio de ampliar poder e riqueza.

A visão de mundo do governo Trump

Por Correio Braziliense

Assim como ocorreu no século 19 e em outros períodos da história, a estratégia nacional atualizada pelo governo Trump pretende ampliar a influência militar e econômica na América Latina

Na última sexta-feira, o governo de Donald Trump anunciou sua visão de mundo e como pretende agir nos próximos anos no contexto global. A Casa Branca divulgou documento no qual detalha a nova estratégia nacional dos Estados Unidos, com o resgate de uma das diretrizes mais importantes da política externa norte-americana: a Doutrina Monroe. Lançada em 1823 pelo então presidente James Monroe, ela cunhou uma ideia que se tornou um mantra para o atual incumbente republicano: "A América para os americanos".

Assim como ocorreu no século 19 e em outros períodos da história, a estratégia nacional atualizada pelo governo Trump pretende ampliar a influência militar e econômica na América Latina. "Após anos de negligência, os EUA reafirmarão e farão cumprir a Doutrina Monroe para restaurar a preeminência americana no Hemisfério Ocidental (América Latina) e proteger nosso acesso a áreas-chave em toda a região", atesta o documento. "O Corolário Trump à Doutrina Monroe é uma restauração sensata e eficaz do poder e das prioridades americanas, consistente com os interesses dos EUA", prossegue o texto de 33 páginas.

A atualização da política externa norte-americana pode ser vista como a formalização de tudo que o presidente Donald Trump tem dito e feito nos últimos anos — e que o levou a conquistar um novo mandato na Casa Branca. O resgate da Doutrina Monroe vai ao encontro do lema "Make America Great Again", conhecido pela sigla Maga. Trata-se de uma estratégia voltada para reposicionar a maior potência militar e econômica diante de um mundo repleto de desafios nos quais, muitas vezes, os Estados Unidos exercem um papel fundamental.

Oficialmente, o governo Trump pretende ampliar suas ações na América Latina. As operações militares na região do Caribe e a ofensiva contra a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela representam um grau acima no nível de intervenção norte-americana na região. As operações têm alcançado tamanha contundência que há suspeitas da ocorrência de crimes de guerra no enfrentamento ao tráfico de drogas.

Em outra frente, o presidente republicano mantém evidente seu posicionamento ideológico ao autorizar o apoio bilionário para o governo de Javier Milei seguir adiante com as reformas na Argentina. E conduz uma negociação tarifária lenta e gradual com o Brasil, após anunciar punições a autoridades por meio da Lei Magnitsky e repudiar uma suposta "caça às bruxas" nos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores.

Há outros pontos relevantes no Corolário Trump. O governo norte-americano reafirma o ceticismo em relação à Europa, classificada como um continente decadente. E sustenta, de forma categórica, que a imigração e o federalismo representam uma ferida de morte aos países-membros do bloco, fragilizados em sua soberania. "Se as tendências atuais continuarem, o continente será irreconhecível em 20 anos ou menos", prevê Washington. Mais uma vez, os EUA avisam que não pretendem financiar a segurança militar na região, deixando para os europeus a tarefa de controlar a política autocrática e expansionista de Vladimir Putin.

A visão de mundo externada pelos Estados Unidos serve de alerta para a diplomacia brasileira. Após os avanços na redução do tarifaço, é fundamental persistir na histórica relação bicentenária mantida pelos dois países e evitar divergências de rasa natureza ideológica, desprovida de pragmatismo. Os EUA deram um recado ao mundo. É preciso tirar o melhor proveito da mensagem.

Dezembro Vermelho: os avanços na luta

Por O Povo (CE)

Ao atingir o menor número de mortes por aids em 32 anos, o Brasil precisa refletir que o investimento no SUS, ao oferecer gratuitamente tecnologias modernas de prevenção, diagnóstico e tratamento, é necessário a fim de permitir alcançar as metas de eliminação da transmissão vertical como problema de saúde pública

No mês em que se celebra o Dia Mundial de Luta contra o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, sigla em inglês), uma notícia ajuda a intensificar a conscientização sobre HIV e aids. Pela primeira vez em três décadas, o Brasil registrou menos de 10 mil óbitos por aids. Os números apontam que foram 9,1 mil mortes no ano de 2024, o que representa uma queda de 13% quando comparado ao ano de 2023. Ou seja, mais de mil vidas salvas.

Os dados foram divulgados pelo recente boletim epidemiológico, publicado pelo Ministério da Saúde (MS). De acordo com o documento, os casos de aids também apresentaram redução no período. Houve queda de 1,5%, passando de 37,5 mil em 2023 para 36,9 mil em 2024.

Além disso, o Brasil eliminou a transmissão vertical do HIV da mãe para o bebê, considerado um problema de saúde pública. O País manteve a taxa de transmissão vertical abaixo de 2% e a incidência da infecção em crianças abaixo de 0,5 caso por mil nascidos vivos. Também conseguiu atingir mais de 95% de cobertura em pré-natal, testagem para HIV e oferta de tratamento às gestantes que vivem com o vírus.

São dados que refletem que os cuidados com a saúde, se priorizados, promovem avanços. As ações de prevenção, diagnóstico e, principalmente, acesso gratuito pelo SUS a terapias de qualidade são capazes de tornar o vírus indetectável e intransmissível. Isso aumenta a qualidade de vida da população, trazendo mais bem-estar, o que é positivo para todos.

Ao atingir o menor número de mortes por aids em 32 anos, o Brasil precisa refletir que o investimento no SUS, ao oferecer gratuitamente tecnologias modernas de prevenção, diagnóstico e tratamento, é necessário a fim de permitir alcançar as metas de eliminação da transmissão vertical como problema de saúde pública. E assim sendo, é uma questão que interessa a toda a sociedade. Embora haja avanços, é preciso entender que o Dezembro Vermelho (em referência à conscientização sobre HIV e aids) serve como uma data de alerta para enfrentar as desigualdades no acesso universal à prevenção e ao cuidado continuado.

De acordo com o Ministério da Saúde, o SUS mantém oferta gratuita de terapia antirretroviral e acompanhamento a todas as pessoas diagnosticadas com HIV. Mais de 225 mil utilizam atualmente o comprimido único de lamivudina mais dolutegravir, combinação considerada de alta eficácia, melhor tolerabilidade e menor risco de efeitos adversos a longo prazo. Como há a concentração do tratamento em uma única dose diária, o esquema favorece a adesão e melhora a qualidade de vida.

Assim, aprimoram-se as estratégias a fim de fornecer à população a garantia dos princípios fundamentais de direitos humanos. É preciso estar atento à cobrança aos governos para que haja, sobretudo, vidas protegidas e um sistema fortalecido de saúde no País.  

 

 

 

 

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