domingo, 7 de dezembro de 2025

Caso de família, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Candidatura de Flávio parece mais um jogo de equilíbrio de forças nas internas do clã Bolsonaro

'Seu Jair' corre o risco de ver sua liderança contestada abertamente pela direita insatisfeita

Não parece ter sido coincidência: na terça-feira (2), Michelle Bolsonaro derrota os enteados no lance do veto à aliança do PL com Ciro Gomes (PSDB) no Ceará; na sexta (5), o primogênito Flávio Bolsonaro diz que recebeu do pai sinal verde para se lançar candidato a presidente pelo partido.

A aparência é muito mais de um jogo de equilíbrio das forças familiares do que propriamente do lançamento de uma candidatura para valer, daquele que representaria a direita na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente seria o maior beneficiário dela e, portanto, deve estar achando ótimo.

Já a direita, a centro-direita e mesmo o centro —todos os partidos que não se alinham à esquerda nem à cartilha do capitão— num primeiro momento reagiram com descrença, formalidade e, em alguns casos, silêncio. E político quando cala ou fala pouco é porque não pode ou não quer dizer o que pensa.

Desnecessário muito esforço de raciocínio para concluir que mais essa de tantas outras ideias do clã tem um quê de geringonça. Lançamento no vácuo, cujos preparativos limitaram-se à disseminação de boatos travestidos de informações dos chamados bastidores.

Flávio estava queimado pelo episódio da convocação da vigília em protesto contra a prisão do pai. O ex-presidente rebaixado à condição de "seu Jair" depois de bulir com a tornozeleira. Carlos sendo contestado pela direita em Santa Catarina e Eduardo, sem assunto nos EUA, buscando abrigo no muro das Lamentações em Israel.

Para a cena da família desunida e protagonista de noticiário negativo, providenciou-se um antídoto na forma de candidatura presidencial a fim de afetar vigor político. Por enquanto, é só.

As primeiras reações não indicam um desenrolar positivo do que os Bolsonaros veem como estratégia esperta que mais uma vez pode se revelar fracassada. E ainda cria o risco real de a direita ignorar a imposição, contestar abertamente a liderança de Jair Bolsonaro, isolar o PL e fazer a alegria do PT.

 

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