Folha de S. Paulo
Candidatura de Flávio parece mais um jogo de
equilíbrio de forças nas internas do clã Bolsonaro
'Seu Jair' corre o risco de ver sua liderança
contestada abertamente pela direita insatisfeita
Não parece ter sido coincidência: na
terça-feira (2), Michelle
Bolsonaro derrota os enteados no lance do veto à aliança
do PL com Ciro Gomes (PSDB)
no Ceará; na sexta (5), o primogênito Flávio
Bolsonaro diz que recebeu do pai sinal verde para se
lançar candidato a presidente pelo partido.
A aparência é muito mais de um jogo de equilíbrio das forças familiares do que propriamente do lançamento de uma candidatura para valer, daquele que representaria a direita na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente seria o maior beneficiário dela e, portanto, deve estar achando ótimo.
Já a direita, a centro-direita e mesmo o centro —todos os partidos que
não se alinham à esquerda nem à cartilha do capitão— num primeiro momento
reagiram com descrença, formalidade e, em alguns casos, silêncio. E político
quando cala ou fala pouco é porque não pode ou não quer dizer o que pensa.
Desnecessário muito esforço de raciocínio
para concluir que mais essa de tantas outras ideias do clã tem um quê de
geringonça. Lançamento no vácuo, cujos preparativos limitaram-se à disseminação
de boatos travestidos de informações dos chamados bastidores.
Flávio estava queimado pelo episódio da convocação da vigília em protesto contra a prisão do pai.
O ex-presidente rebaixado à condição de "seu Jair" depois de bulir com a tornozeleira.
Carlos sendo contestado pela direita em Santa Catarina e Eduardo, sem assunto nos EUA, buscando
abrigo no muro das Lamentações em Israel.
Para a cena da família desunida e protagonista
de noticiário negativo, providenciou-se um antídoto na forma de candidatura
presidencial a fim de afetar vigor político. Por enquanto, é só.
As primeiras reações não indicam um
desenrolar positivo do que os Bolsonaros veem como estratégia esperta que mais
uma vez pode se revelar fracassada. E ainda cria o risco real de a direita
ignorar a imposição, contestar abertamente a liderança de Jair
Bolsonaro, isolar o PL e fazer a alegria do PT.

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