Folha de S. Paulo
Líderes de centrão e direitas ainda tentam
entender o que se passa com os Bolsonaros
Tombo de sexta no mercado foi exagero, mas
preços financeiros devem piorar um tanto
Assim que soube de "Flávio 26",
a maioria dos donos do dinheiro vendeu ações,
reais e títulos da dívida pública. Foi o maior paniquito em quatro
anos, com juros e dólar em alta forte. É óbvio medo de que "Flávio
26" facilite Lula 4.
Mas suponha-se que Flávio
Bolsonaro viesse a aparecer bem nas pesquisas. "O
mercado" voltaria a se animar, aceitando assim qualquer coisa que não seja
Luiz Inácio Lula da Silva?
A hipótese por ora é improvável e a pergunta pode parecer piada, mas dá o que pensar nas dificuldades do governo em 2026 e de um possível Lula 4.
Ouve-se de centrão e centrão-direitão que não
houve articulação alguma para o lançamento de Flávio Bolsonaro. Nem mesmo
combinação para produzir um balão de ensaio. Mais difícil dizer se os
Bolsonaros teriam feito acerto secreto com Tarcísio de
Freitas (Republicanos).
Sim, "Flávio 26" pode ser só "fake": os Bolsonaros cobrando
pedágio, fazendo extorsão política (querendo indulto, anistia, acertos
regionais e até proteção judicial para Flávio).
O presidente do União Brasil,
Antônio Rueda, foi às redes para dizer, em outras palavras e sem mencionar a
família golpista, que a combinação era outra (Tarcísio), fim.
O presidente do PP, Ciro Nogueira,
já irritado com os Bolsonaros , ficou mudo. No Republicanos, Marcos Pereira diz
que soube de "Flávio 2026" pelos jornais —é um modo de dizer que
levou rasteira. Gilberto
Kassab (PSD) levou
rasteira dupla e está quieto. Mas todos querem manter uma aliança: poder sobre
o governo de 2027 e para peitar o STF.
Líderes do centrão dizem que "todo
mundo" ainda tenta entender o que se passa. Que a decisão de Jair foi
tosca como ele. Que quanto mais tempo Flávio permanecer candidato e sem milagre
nas pesquisas, mais provável que: 1) partidos de direita cuidem de alianças e
candidaturas regionais, com aumento de bancadas; 2) ressurja a hipótese Ratinho Jr (PSD).
Ratinho é esperança de certa elite econômica
e também da tecnocracia e dos quadros técnicos órfãos na política desde a morte
do PSDB,
faz década. Nessa visão, algo ingênua, o governador do Paraná seria a
"pacificação nacional", agregando a direita, fora o PL, gente pensante e
eleitores de centro. Não há articulação para lançar Ratinho. Mas, se
"Flávio 2026" perdurar, a hipótese passa a ser considerada.
Quanto ao sururu nos mercados financeiros,
foi demonstração óbvia de que, quanto maior a probabilidade de Lula 4, mais
turbulência haverá, ainda sob Lula 3. Pareceu exagerado. A surpresa foi total.
Para piorar, veio logo antes do final de semana (ficar até segunda
"comprado" pareceu arriscado demais). A primeira reação foi o pânico
de alguns. As perdas detonaram quase automaticamente outra rodada de vendas
("stop loss") a fim de conter prejuízos, mesmo que não se quisesse
vender.
Ainda assim, é óbvio que Lula 4 tem um preço
para "o mercado": piora nas condições financeiras. De que tamanho e
em quais condições?
Fatores externos favoráveis (por ora) e juros
domésticos ainda brutais em 2026, por exemplo, tenderiam a atenuar nos preços
do mercado o risco de Lula 4, ao menos no início do ano que vem. Um
"Flávio 26" que perdure, novos sinais de desagregação das direitas e
Lula quieto sobre o que faria em 2026 podem azedar o caldo de 2025. Aliás,
ainda que o presidente diga algo razoável, está bem baixo o crédito de Lula
quanto a contas públicas, impostos e interesse (ou capacidade) de fazer
mudanças grandes.
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