quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A derrota de Gabeira


Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Os votos de Paes devem ser na sua maioria os votos dos pobres (principalmente dos pobres evangélicos) e dos menos instruídos. Isso não desqualifica e nem qualifica
Quando Fernando Gabeira(PV) começou a crescer nas eleições para prefeito do Rio de Janeiro, percebi que chegaria ao segundo turno atropelando os demais concorrentes à esquerda e à direita, no rastro de Eduardo Paes (PMDB). A esquerda carioca é forte como movimento de opinião; seus partidos, porém, são fracos. Sempre se agrupam em torno daquele candidato que representa seus interesses numa circunstância determinada. Foi assim na eleição do embaixador Negrão de Lima (PSD), em 1965, quando a antiga Guanabara votou pela primeira vez contra o regime militar; e na eleição de Saturnino Braga (PDT), um político de Niterói, na primeira eleição da prefeitura da capital após a fusão com o antigo estado do Rio, em 1985.

Suburbanos

Como faço parte de um grupo de ex-alunos da Universidade Federal Fluminense que reorganizou o movimento estudantil carioca no final dos anos 1970, acompanhei pela internet a polêmica da nossa “Armata Brancaleone” em torno do “voto útil” em Gabeira no primeiro turno, cujo principal propósito foi remover o senador Marcelo Crivella (PRB) da disputa. Depois, no segundo turno, quando o PT, o PCdoB, o PSB e o PDT aderiram a Eduardo Paes, muita gente começou a questionar o voto em Gabeira por causa do apoio que recebeu do prefeito Cesar Maia. Essa discussão não mudou o voto de quase ninguém, apenas reforçou os argumentos a favor de Gabeira. O que barrou a sua ascensão, na minha perspectiva aqui de Brasília, foi a desastrada conversa por celular na qual Gabeira chamou de suburbana uma vereadora tucana de Campo Grande, fato que Paes soube transformar num eficiente divisor de águas.

Após as eleições, não resisti à tentação de provocar um querido amigo, um dos protagonistas dos debates, o professor de história Silas Ayres, ex-militante do antigo “Partidão”, hoje um tucano de carteirinha, que mantém o grupo unido pelo papo agradável e pluralista, a gastronomia e a dança de salão. Logo após a apuração, mandei-lhe um e-mail curto e grosso: “Gabeira perdeu por causa do preconceito pequeno burguês de carioca da Zona Sul. Aquele ‘suburbano’ foi um tapa na cara de quem já balançou num trem da Central ou da Leopoldina. Dinamitou a ponte para os subúrbios cariocas. Vamos ver a votação por região da cidade para conferir. A tradição é a esquerda ganhar do Grajaú ao Leblon.”

Preconceitos

Silas, que morou em Pilares durante 25 anos, não gostou: “Não foi isso que deu a vitória ao Paes, apesar de achar que você tem razão nas duas afirmações; a de que existe preconceito contra o suburbano e de que a esquerda tem voto do Leblon ao Grajaú.

Paes ganhou pelo preconceito existente contra homossexuais, contra prostitutas, contra a luta pela legalização da maconha, do preconceito contra o aborto em situações extremas. Ganhou pela campanha negativa baseada em boatos e mentiras. Ganhou por causa do poder econômico e da corrupção. Ganhou pelo poder do uso da máquina. Ganhou pelo aumento da abstenção provocada por decreto do governador dando feriado nesta segunda-feira. Ganhou pelo medo que uma novidade provoca no eleitor.

Ganhou também porque muitos acreditam sinceramente nas propostas do PMDB. Ganhou porque muitos acharam que Paes ganhando fortaleceria o Serra e isso não queriam. Ganhou porque muitos também acreditam que Paes e Gabeira não têm diferença nenhuma e votaram nulo ou em branco. Enfim, Paes ganhou por muitas razões que se conjugaram no momento da deposição do voto na urna.


Concordo com você que é preciso analisar a votação pelas áreas, a conferir, mas acho que não haverá muita surpresa.Os votos do Paes devem ser na sua maioria os votos dos pobres (principalmente dos pobres evangélicos) e dos menos instruídos. Isso não desqualifica e nem qualifica os votos desses segmentos. Só comprovam que eles têm interesses diferentes dos que votaram no Gabeira. São esses interesses legítimos, de ambos os lados, que devem ser alvo de nossas reflexões para solidificarmos a nossa democracia e avançarmos no rumo de uma sociedade mais justa. Um abração”, escreveu-me Silas.

Respeito a avaliação do bravo comandante-em-chefe da nossa “Armata”, mas ainda acho que aquele “suburbano” pejorativo custou os votos que faltaram a Gabeira para ser o novo prefeito do Rio, apesar do seu pedido de desculpas.

O dilema do novo prefeito


Zuenir Ventura
DEU EM GLOBO


Pensando bem, acho que foi melhor para o Gabeira. Eleito, além de governar a cidade, ele teria a difícil tarefa de administrar a esperança e o sonho de seus eleitores. Já o seu oponente passará os próximos quatro anos pagando promessas. Elas são mais de 80, 20 por ano, quase duas por mês, e tudo debaixo da cobrança implacável de pelo menos metade do município. A vitória política do candidato verde foi bem maior do que a apertada derrota eleitoral. Só por fazer renascer no jovem a motivação política, ele já seria vitorioso. Mas, além disso, inaugurou uma nova maneira de fazer campanha eleitoral, recuperando valores éticos que pareciam fora de moda como sinceridade, transparência e limpeza, não só material.

Ao comemorar a vitória, Eduardo Paes elogiou a "lealdade" do adversário. Nem sempre houve reciprocidade. Inteligente e articulado, sua campanha não precisava ter apelado para golpes baixos como os folhetos apócrifos e o uso da máquina governamental. No debate da TV Globo, chegou a ser patética a obsessão com que trazia Cesar Maia para a cena, lembrando curiosamente em estilo e retórica o próprio personagem citado. Aquele espetáculo de criatura se voltando contra o criador com tamanha fixação só Freud explica. Às vezes deixava de mimetizar Maia para lembrar o Garotinho das pegadinhas e cascas de banana. Foi pena. A disputa poderia ter sido exemplar. Livre do risco maior no primeiro turno, a cidade ficou mais à vontade para escolher entre dois candidatos que a rigor tinham idéias e propostas de governo que se equivaliam. A diferença era de estilo e atitude. Houve quem tivesse votado em Paes não por rejeição a Gabeira, mas por achar que o candidato do PMDB era "o mais bem preparado", como ele próprio anunciava e agora vai ter que provar.

Eduardo Paes tem tudo para fazer um bom governo - e para fazer um governo ruim. Por um lado, deverá ter o que tanto apregoou - a parceria dos governos federal e estadual - e competência administrativa. Por outro lado - e esse será o seu grande desafio -, vários de seus apoios, alianças e ligações representam o lado, digamos, menos nobre da política carioca. Como resistir à pressão deles? A fatura será apresentada. Essa gente não brinca em serviço.

A esperança é que, aos 38 anos, ambicioso e com um futuro promissor, o jovem prefeito saiba escolher entre continuar uma tradição de governantes que saem do poder para o lixo da História, ou começar uma nova era. Na sua primeira aparição como prefeito, Paes prometeu que a partir do dia seguinte iria unir a "cidade partida" - que já era partida socialmente e agora é politicamente. Foi mais uma promessa, a primeira como prefeito, a 84ª da série. Estaremos na torcida para que seja cumprida.

PPS perde terreno e aposta em Serra para voltar a crescer

Eugênia Lopes, BRASÍLIA
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Manter aliança com o PSDB é esperança para reverter fraco desempenho nas eleições

O PPS vai apostar todas as suas fichas na candidatura do governador José Serra (PSDB) à Presidência, em 2010, para voltar a crescer. É com essa perspectiva que espera reverter o quadro das eleições municipais, quando elegeu 57,1% menos prefeitos do que em 2004. Mesmo diante desse desempenho, a cúpula do partido descarta a curto prazo a hipótese de fusão ou incorporação a outra sigla.

“Fusão ou incorporação é uma possibilidade que tem relação com uma eventual reforma política que impossibilite a nossa sobrevivência”, disse o líder do PPS na Câmara, Fernando Coruja (SC). Ao garantir que não está nos planos a associação a nenhuma outra legenda, o presidente do PPS, Roberto Freire, observou que o partido sofreu defecções desde que deixou de apoiar o governo Lula, em dezembro 2004. Dos 310 prefeitos eleitos há quatro anos, apenas 84 permanecem no PPS até agora.

“Por isso digo que tivemos um crescimento de 54%: pulamos de pouco mais de 80 prefeitos para 132 agora eleitos”, explicou Freire, referindo-se ao resultado das urnas deste ano. “O PPS não está minguando. Mas também não vou dizer que tivemos grande vitória.” Nenhuma das 132 cidades conquistadas pelo partido tem mais de 200 mil eleitores.

Tanto Freire quanto o secretário-geral do partido, Rubens Bueno, alegam que o PPS foi a legenda que mais perdeu políticos ao romper com o governo. Dois governadores deixaram a sigla - Eduardo Braga, do Amazonas, e Blairo Maggi, de Mato Grosso. O partido também começou a minguar com a saída do hoje deputado Ciro Gomes (PSB-CE), além do prefeito reeleito de Porto Alegre, José Fogaça, que foi para o PMDB. Em 1998 e 2002, Ciro foi candidato à Presidência pelo PPS. Com sua derrota, o partido passou a apoiar Luiz Inácio Lula da Silva, mas deixou o governo em 2004.

“Pagamos um preço por romper com o governo Lula”, observou Bueno. “Toda oposição sofre sempre. Todos os governos se transformam em majoritários”, ponderou Freire. As perdas do PPS vêm ocorrendo ao longo dos últimos anos e não se restringem às prefeituras: em 2006, o partido elegeu 24 deputados e hoje conta com apenas 14.

Criado em 1993, o PPS está decidido a manter a aliança com o PSDB e o DEM. “A eleição agora é 2010 e o caminho natural é mantermos o bloco com o PSDB e o DEM”, resumiu Bueno. “Nosso projeto político é apoiar a candidatura do governador José Serra. Essa é uma possibilidade concreta para o PPS voltar a crescer”, ressaltou Coruja.

O fator econômico


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. Na geografia peculiar dos atuais ocupantes do Palácio do Planalto, parece que somente agora as más notícias cruzaram o Atlântico aqui para o nosso lado e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já admite que a crise será longa e deixará seqüelas. Também o presidente do PT, Ricardo Berzoini, pede juízo ao PMDB e lembra que a base aliada do governo tem uma crise econômica para enfrentar no próximo ano. Os resultados das eleições municipais, mesmo que não tenham uma ligação direta com as eleições nacionais, serviram para expor alguns fatos que certamente terão conseqüências no arranjo futuro das alianças políticas.

O presidente Lula, que pretendia usar as eleições para fortalecer sua base aliada, mostrou que acredita mais em alianças políticas do que o PT. Deu espaço para todos crescerem, não tentou interferir nos locais em que partidos da base disputavam o mesmo espaço e tentou ajudar os aliados onde o partido se batia contra a oposição.

Talvez convencido de que sua popularidade de 80% seria o bastante para eleger quem ele quisesse, se deixou levar pela disputa pessoal com o líder do DEM, senador José Agripino, e foi a Natal tentar derrotar Micarla de Souza, a candidata do PV que tinha o apoio do DEM.

Tão desatento à possibilidade de colocar em xeque sua capacidade de transferir votos, disse expressamente que estava ali para derrotar Agripino e, como não conseguiu eleger a candidata do PT, acabou tendo que engolir uma vitória de seu inimigo preferencial, transformando Agripino em um vitorioso emblemático.

O caso de Marta Suplicy em São Paulo era inevitável, o presidente não tinha como não entrar de cabeça na eleição da capital. Mas podia ter evitado falar demais, e nem precisava garantir que a candidata do PT venceria mesmo quando já estavam dadas as condições para uma vitória acachapante do prefeito do DEM.

Nesses dois locais, o presidente Lula transformou o DEM em seu adversário principal, e perdeu. A partir dessa crise econômica que relutou em aceitar como realidade nossa, o presidente Lula estará enfrentando sua verdadeira prova de fogo.

Tendo assumido com uma aprovação de 75%, registrados em abril de 2003, Lula amargou durante seu primeiro governo duas crises graves de popularidade, sempre com questões ligadas à corrupção: a primeira em 2004, devido ao caso Waldomiro, e a segunda um ano depois, no "mensalão".

Em ambas as ocasiões, a avaliação de seu governo caiu a cerca de 20% na soma "ótimo+bom", mas a situação econômica era diferente. Em 2004, a economia cresceu 5,7% e os efeitos da crise se dissiparam logo.

O caso do mensalão, além de ter sido mais grave, ocorreu em um ano em que a economia caiu para um crescimento de apenas 2,9% do PIB, e sintomaticamente a crise levou seis meses para se dissipar, e quase afeta a capacidade de Lula concorrer à reeleição.

O percentual dos que não confiavam em Lula oscilou negativamente, de 52% em agosto para 51% em setembro, enquanto o daqueles que nele confiam passou de 43% para 44%. Há relatos recentes que revelam que os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, chegaram a propor a Lula que fizesse um acordo com a oposição, se comprometendo a não se candidatar à reeleição para não arriscar perder o mandato.

A recuperação da popularidade de Lula mostra quão resiliente ele é, mas se ocorrer uma queda do crescimento do PIB como está sendo previsto devido à crise internacional, de uma média acima de 5% nos dois últimos anos para cerca de 2% a 3% nos próximos anos, será um teste para sua liderança carismática mas, sobretudo, para seu ego.

Será preciso ver para crer Lula com sangue frio para resistir à tentação de manter o crescimento econômico através de medidas de incentivo ao consumo interno, e se contentar em encerrar seu segundo mandato com a economia declinante.

Se, mesmo com esse cenário, o presidente Lula ainda tiver força política para conseguir eleger seu sucessor, sem que seja um político de luz própria, será o caso de a oposição desistir de se opor a esse fenômeno político.

O presidente Lula tem no momento 81% de aprovação, o mesmo índice de aprovação que o ex-presidente José Sarney atingiu em abril de 1986, e em julho do mesmo ano chegou a atingir pelo Ibope a inacreditável marca de 97,5%, no auge do Plano Cruzado. Mas amargou raquíticos 9% de apoio no final de 1988.

O Plano Cruzado, lançado em fevereiro de 1986, teve a breve duração de 9 meses, mas ajudou o governo a ter a maior vitória eleitoral da história da República, no dia 15 de novembro daquele ano: o PMDB elegeu a totalidade dos governadores, e quase dois terços da Câmara e do Senado e das Assembléias Legislativas.

O jogo virou logo depois da eleição, com a edição do Plano Cruzado II, que trouxe aumentos brutais como 60% no preço da gasolina; 120% dos telefones e energia; 100% das bebidas; 80% dos automóveis; 45% a 100% dos cigarros.

Já a popularidade de Fernando Henrique Cardoso chegou a 75% no ano da posse do primeiro mandato, em 1995, e girou sempre em torno de 40%, permitindo que se reelegesse no primeiro turno. Mas, logo após a posse, em 1999, a desvalorização do real e os problemas econômicos levaram a uma queda de seu prestígio popular que permaneceu até o final.

A avaliação do desempenho de Fernando Henrique Cardoso piorou em agosto de 2002, em plena campanha eleitoral para a sua sucessão, com 49,6% desaprovando o seu desempenho. A economia é determinante na política em qualquer país. O ex-presidente George Bush pai chegou a ter mais de 80% de aprovação depois da Guerra do Golfo, e perdeu a reeleição para Bill Clinton por causa da economia, estúpido.

O infiel da balança


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A dinâmica eleitoral obedece mais ou menos à lógica das escolas de samba: quando um carnaval termina, os barracões engatam de imediato os preparativos para o próximo desfile.

Os principais partidos, PT, PSDB e PMDB, estão assim. Os ossos ainda nem foram contados, as feridas estão quase todas abertas, há cadáveres mal sepultos por todo lado, mas a próxima eleição já põe os três em estado de total estica e puxa.

Na realidade, petistas esticam e tucanos puxam, porque o PMDB, tranqüilo, tamborila sobre a mesa (de negociações?) os dedos da vitória como quem diz, ao molde do velho ACM, que eleição sem ele agora mesmo é que não vale.

E não se fala aqui apenas da presidencial, pois o partido está com tudo também nas disputas pelo comando da Câmara e do Senado. Com uma diferença crucial: no Legislativo ambiciona à ocupação das presidências, enquanto no Executivo pretende continuar sendo um coadjuvante mais e mais privilegiado.

Quem ouvir um pemedebista falando em candidatura própria para 2010 estará diante de um ilusionista ou de uma voz isolada. No conjunto, o interesse partidário é se firmar no lugar de parceiro cobiçado pelas forças de governo e oposição, ficando assim nesse lá e cá alternando desequilíbrios ao sabor das melhores circunstâncias.

Não adianta cobrar nem tentar adivinhar definições desde já. Oficialmente, o PMDB continua um parceiro fidelíssimo do governo Luiz Inácio da Silva, entre outros motivos porque não há razão para abrir mão de dois anos de proveitosa convivência com o poder.

Situação que não o impede de conversar com tudo e todos, se aliar ora com um ora com outro sem sofrer por causa disso nenhum tipo de admoestação nem correr qualquer risco de perder seus postos federais.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, tentou até simular autoridade sobre o companheiro de aliança quando pede a petistas e pemedebistas que tenham “juízo” na manutenção de uma política de boa vizinhança. Pura cena. Se alguém precisa de bom senso é o PT para não se atritar com o PMDB mais do que já se atritou na eleição municipal.

Em caso de dúvida, basta lembrar que foi o PMDB e não o PT quem impôs ao presidente Lula o roteiro dos palanques proibidos durante a campanha e, no fim, ainda comemorou junto com o PSDB a acachapante derrota sofrida pelo PT em São Paulo, enquanto o Palácio do Planalto assistia a tudo bem calado.

Não por gesto de espontânea elegância, mas por absoluta falta de alternativa.

Correção de rumo

Os receios sobre os efeitos eleitorais da crise financeira de modo geral se justificam. Só extrapolam o limite do razoável quando dão às dificuldades um caráter de ineditismo.

Nos últimos anos, o Brasil só passou por eleições em ambiente de tranqüilidade na economia em 2006. Em 1994 o Plano Real era um experimento, em 1998 a política econômica foi virada do avesso, em 2002 a vitória próxima do PT fez retroceder os bons indicadores e, antes disso, a inflação presidiu todos os pleitos.

De dois dias para cá, o governo federal caprichou no pessimismo em relação aos efeitos da crise. Como nada aconteceu de novo nesse meio tempo, parece estratégia para inversão de expectativas, fruto do evidente mau conselho dado pelo excesso de otimismo em relação ao resultado das eleições municipais.

Infalível

Muito mais significativo que listas de vencedores e vencidos - cuja validade depende das circunstâncias - é o efeito de vitórias e derrotas sobre determinadas situações partidárias.

O fracasso de Marta Suplicy fez desaparecer aquele clima de carinho da primeira fase da campanha em que a então candidata exibia contente o “companheiro Lula” como o melhor cabo eleitoral para chamar de seu.

Hoje o ambiente é de puro fel, com troca de acusações e caça a culpados inexistentes quando Marta saía pelas ruas cantando e dançando, confiante, ironizando as brigas internas no campo adversário, indiferente ao enorme índice de rejeição que já lhe dava notícias sobre as agruras a serem produzidas pelas urnas.

Do lado contrário, o sucesso de Gilberto Kassab deu sumiço às animosidades entre os tucanos que durante mais de seis meses produziram um espetáculo de autofagia cheio de cenas de insultos, mau-caratismo, cinismo, cobiça, traição e zero grau de compostura.

Agora o recinto recende a mel. Todos são amigos, defensores empedernidos de Kassab, seguidores fiéis da candidatura José Serra, analistas de primeira hora sobre “o inequívoco” fortalecimento do governador de São Paulo, até outro dia alvo de criteriosa desqualificação por parte dos mesmos personagens.

Mais que inerente à atividade política, o oportunismo é atinente à natureza humana. E esta, se por vezes tarda, nunca falha.

Jogando conversa fora


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Como é perfeitamente natural e se repete a cada eleição, uma vez divulgados os resultados, as rodas de conversa fiada de candidatos vencedores ou derrotados, de parlamentares e de toda a miuçalha que cata vantagens à sombra do poder, gastam o tempo vadio na interminável análise e especulação sobre as mudanças no cenário e as projeções sobre o futuro próximo e o mais remoto, até onde a imaginação alcance.

Não se pode dizer que é tempo perdido por quem não acha nada de útil para fazer. O que ainda cutuca a curiosidade é a ênfase da voz impostada para os círculos em torno de coisa nenhuma.

Os jornais de ontem, como certamente os de hoje, os noticiários das redes de televisão insistirão em abrir colunas para o realejo do óbvio. Pior para o óbvio do interesse de cada um.

Francamente, não é preciso ser um analista de refinada sabedoria, um poço sem fundo da experiência de décadas de militância para recolher na beira da praia as conchas de evidências como a ascensão do governador de São Paulo, José Serra, como candidato natural das oposições – se unidas pela prioridade de ganhar a eleição para depois se engalfinhar pela divisão do bolo.

E na mesma batida da mediocridade, colocar quase no mesmo degrau do pódio o governador Aécio Neves, que deu um nó no azar e elegeu o prefeito de Belo Horizonte.

Saltita a dúvida que continua atormentando o coração dos donos do PMDB, o maior partido do país, a legenda mais votada, com a maior bancada nas duas Casas do Congresso e como que engessada pela acomodação na mediocridade deve seguir na sina de contentar-se com os nacos suculentos e as sobras do poder?

Nunca se sabe se, falando sério ou apenas blefando para melhorar o butim, as lideranças de sempre falando grosso, pretendem bater chapa e eleger os presidentes da Câmara e do Senado.

É ver para crer.

Do lado do governo, há pouco a comemorar. O PT cresceu para baixo, elegendo prefeitos em seis capitais e em 558 municípios. Mas, a derrota da sexóloga Marta Suplicy, com a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM) para a capital de São Paulo, é uma bota de chumbo que a ministra-candidata Dilma Rousseff terá que arrastar, daqui a dois anos, na campanha para a sucessão do presidente Lula, ao fim do seu reinado de oito anos, com longínqua chance de mais um ou dois mandatos em 2014 ou 2018.

Mas, é aqui no Rio que os primeiros acenos depois da apertada eleição de Eduardo Paes, o prefeito eleito por uma coligação em que se dissolve a legenda, salpicam advertências no cenário de verdes esperanças.

O cacoete de tentar escalonar prioridades para os desafios de uma ex-capital do país, abandonada à decadência de todos os serviços públicos, que inchou como uma desenganada doente de obesidade mórbida, precisa ser denunciado, com o grito que desperte a reação do eleitor, antes que seu voto se perca mais uma vez.

Claro, que para onde se volte os olhos, as chagas estão à vista: na saúde pública, na rede escolar, na segurança, no transporte, em qualquer das centenas de favelas.

E o Rio é o retrato ampliado de praticamente todos os municípios fluminenses. Como de quase todos os Estados, com as exceções conhecidas.

Ainda há tempo de salvar o Rio? Não arrisco um palpite. O que é evidente é que é indispensável tentar. Durante décadas, que são segundos na vida de uma cidade, assistimos de olhos fechados às favelas serem dominadas pelo tráfico de drogas e invadidas pela maior migração interna do século.

Tudo ao ritmo da mais descarada demagogia. E é desesperante o risco de mais uma frustração, que arranha a porta de tábuas rachadas e fechadura sem chave.

Para quando o carnaval passar


Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO

De imediato, não será, como nunca foi o tempo de ação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para este tipo de providência. Critério pré-definido, não existirá, e quem forçar vai irritar o chefe. Pode não haver desejo, mas reconhecimento da necessidade. Assim, a cautela recomenda não esperar reforma ministerial abrangente, muito menos agora, no calor das mágoas eleitorais e antes do Natal, como o presidente não gosta. Mas quando o ano novo chegar, após as eleições das Mesas da Câmara e do Senado, em fevereiro, com a definição sobre o que será o governo nos dois anos finais de mandato do presidente Lula, ficará evidente a exigência de ser feito um arranjo na tropa governista para armar as batalhas da sucessão. O presidente já tem, e terá ainda mais, razões de sobra para trocar peças do seu governo. E vai fazê-lo.

O que se tem dito hoje não conta. Alguns políticos com acesso ao presidente informam que ele não fará reforma ministerial nenhuma. Outros comentam que haverá "mudanças pontuais", mas derrotados não receberão posto. Um critério, por sinal, que nunca foi o do presidente Lula. Ele formou seu primeiro staff praticamente só com derrotados.

Há um consenso nas informações: Marta Suplicy (PT), derrotada na disputa da Prefeitura de São Paulo, não voltará ao governo, "de onde saiu por sua conta e risco" para uma empreitada incerta. Ora, o presidente não desestimulou sua candidatura, empenhou-se pessoalmente para elegê-la, e o PT não tem nomes novos sobrando no Estado para produzir candidaturas em futuro próximo. Não se consegue perceber por que vai rifar a Marta, que ainda tem milhões de votos, deixando-a sem palanque durante dois anos inteiros, nem que seja para tentar, por exemplo, uma cadeira no Senado.

Haverá também a pressão do grupo de petistas mais próximos a ela para que lhe seja destinado um cargo que permita a exposição máxima. Provavelmente não retomará o Ministério do Turismo. Mas uma solução virá. Para formar novos nomes do partido em São Paulo, o governo federal não pode se dar ao luxo de desprezar os já conhecidos, e Marta é o que restou de mais importante.

Como seus principais adversários do PSDB, que também precisam consolidar nomes para as novas disputas, o governo registra que tem algumas promessas para o futuro. Luiz Marinho, prefeito eleito de São Bernardo depois da campanha mais rica de toda a sucessão municipal, é um emergente que terá apoio para se transformar em opção. Emídio de Souza, a partir de Osasco, é outro nome nos planos prospectivos do presidente Lula. Há os que já eram citados antes, como Arlindo Chinaglia, hoje na presidência da Câmara mas fora dela no ano que vem, e José Eduardo Cardozo, secretário geral do PT. E, sempre, Antonio Palocci. Se absolvido, Lula vai levá-lo de volta ao governo, confirmou isto para mais de um interlocutor, e não necessariamente como ministro da Economia. Em qualquer ministério que esteja, Palocci freqüentará o centro do poder, o Palácio do Planalto, como já faz hoje. Mas ganhará um posto formal.

Há outros emergentes no partido do presidente que precisam de foco. Fernando Pimentel, revigorado com a eleição de um afilhado desconhecido no segundo turno, em Belo Horizonte, e desde o início um entusiasta da candidatura Dilma Rousseff à sucessão de Lula, não merecerá o ostracismo. Há o PT da Bahia, um caso especial, que não dá mostras de arrefecimento na sua competição com o PMDB local. O tamanho e profundidade da ruptura que houve ali entre os dois partidos aliados a Lula, só o presidente poderá reparar. O PMDB venceu, mas o feito do PT foi enorme ao chegar ao segundo turno desbancando o tucanato e o carlismo. Como vai se sustentar este PT para pleitear a reeleição ao governo do Estado, uma vez que a derrota desqualifica Jaques Wagner para a sucessão presidencial, é algo que exige ajuda do processo político e eleitoral que o presidente toca.

O PT revelou outras estrelas, como Luizianne Lins, no Ceará, e João Paulo, em Pernambuco, mas, vitoriosos, terão palanques naturais nestes próximos dois anos para seu grupo. Não se sabe de onde o presidente tirará mais cargos para todo o PT, mas o partido pressiona até com as vagas do Tribunal de Contas da União, instância que quer enquadrar às suas regras e projeto.

O PMDB volta com uma sede correspondente ao sucesso eleitoral que teve. Já começa querendo mais no Congresso, onde senadores anunciam que, além da presidência da Câmara, que o PMDB terá por acordo, o partido faz questão da presidência do Senado. No Planalto já se comenta que se o PMDB quiser as duas Casas, pode ficar sem nenhuma.

Não é lenda o horror que o presidente Lula tem a demissões, afastamentos, dispensas. Ele gosta de contratar e aumentar salários. Trocar ministro em véspera das festas de fim de ano sempre conseguiu evitar. Diz agora, oficialmente, que não haverá reforma ministerial, até porque, se admiti-la, não suportará a voracidade dos principais partidos da sua aliança.

Mas vai fazer. Além de acomodar forças do PT, tem a conquista definitiva do PMDB para sua aliança em 2010, a solução da crise que restará das escolhas dos presidentes da Câmara e do Senado, as consequências da crise econômica sobre seu plano de governo, os dois últimos anos de administração e a construção de um discurso para a campanha em que, já anunciou a muitos, pretende eleger seu candidato, custe o que custar. A maioria no Congresso é absolutamente necessária, e não é para aprovar a reforma tributária. Esta já chegou à fase da desconstrução do caminho andado, tendo em vista sua eterna inviabilidade. Mas precisa de maioria para aprovar as medidas destinadas a combater a crise financeira.

O teorema implica a melhora da gestão, tendo em vista os dois últimos anos de mandato. E são claros os sinais de insatisfação com alguns ministros. Márcio Fortes, das Cidades, que não responde aos investimentos feitos pelo PAC em sua área, é um destes. José Temporão, da Saúde, apesar da torcida dos amigos, continua sem dizer o que faz no governo. E Tarso Genro, da Justiça, que não demonstra intimidade com os acordos entre a Polícia Federal e a Agência de Inteligência (Abin). Não será por falta de quem demitir que o presidente ficará sem vagas para a reforma ministerial.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Belo Horizonte em três tempos

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS

Nunca tínhamos tido algo parecido. Pelo menos, que se tenha registro. Foram três grandes “ondas”, às quais corresponderam três processos de ascensão e queda da candidatura de Márcio Lacerda e, no segundo turno, de Leonardo Quintão

Muito ainda vai se falar sobre as eleições de Belo Horizonte este ano, como foram e o que significaram. É cedo para fazer uma avaliação mais detida, mas algumas coisas podem ser desde logo apontadas.

A mais curiosa é que ela terminou exatamente da maneira que se imaginava lá atrás, quando ela mal tinha começado para a opinião pública. Um observador que tivesse viajado para bem longe e permanecido sem informações de maio até domingo não teria nenhuma surpresa, ao saber que Márcio Lacerda venceu a eleição com cerca de 60% dos votos válidos.

Contando com o apoio de Aécio e de Pimentel, era isso mesmo que se esperava. Sua votação foi, por exemplo, proporcionalmente igual ou até maior que a obtida por Patrus Ananias em 1992 (que teve 59%) e que a de Célio de Castro em 2000 (com 58%). Só foi menor que a de Célio em 1996 e a de Pimentel em 2004. Note-se, aliás, que essa foi a única eleição na cidade que se resolveu em um turno, pois tanto Patrus, quanto Célio (por duas vezes) tiveram que passar por um segundo turno, como Márcio.

Mais curioso, no entanto, é que o previsível só aconteceu depois de algumas oscilações espetaculares, como não se conheciam na história eleitoral brasileira. Em eleições maiores, para prefeito de cidades grandes e capitais, governador e presidente, nunca tínhamos tido algo parecido. Pelo menos, que se tenha registro.

Foram três grandes “ondas”, às quais corresponderam três processos de ascensão e queda da candidatura de Márcio Lacerda e, no segundo turno, de Leonardo Quintão.

Nas primeiras semanas de campanha, de julho a agosto, nada aconteceu. Lacerda permaneceu em um discreto terceiro lugar nas pesquisas, lideradas por Jô Morais e pelo candidato do PMDB. Do dia 19 de agosto em diante, quando começou a propaganda eleitoral na TV e no rádio, tudo começou a mudar, em alta velocidade.

A subida de Lacerda, de menos de 10%, para a liderança das pesquisas, foi questão de dias. Já no dia 24, quando alcançou 32% das intenções de voto, ele tinha mais que a soma de seus adversários. E continuou subindo, até chegar a 45% no final da primeira semana de setembro.

Ou seja, em pouco mais de 15 dias ele passou de 10% a 45%, em um crescimento mais veloz e mais intenso que qualquer candidato nas eleições brasileiras que conhecemos. Nesse patamar, que representava pouco mais que 60% dos votos válidos, ele estacionou, lá permanecendo até por volta do dia 25 do mês passado.

Nos 30 dias entre essa data e o dia do segundo turno, a eleição de Belo Horizonte viveu uma espécie de montanha-russa, com subidas e descidas vertiginosas. Em forte crescimento, Quintão chegou ao dia 5 de outubro colado em Lacerda e continuou subindo, alcançando o patamar de mais de 60% dos votos válidos no dia 8. Lá ficou por cerca de uma semana, até faltarem menos de 10 dias para a eleição. Era o exato inverso da situação de um mês antes, na primeira quinzena de setembro, quando era Lacerda quem tinha 60% do válido.

A segunda “onda”, a de Quintão, foi forte, mas foi breve. Ela subiu em pouco mais de uma semana e se desfez logo em seguida. Uma campanha mais organizada de Márcio Lacerda, seu novo posicionamento na propaganda, sua presença mais afirmativa, somadas à mobilização daqueles que não desejavam Quintão na prefeitura fizeram com que outra “onda” se formasse.

A oito dias do segundo turno, Lacerda ainda estava com apenas 40% dos válidos, a uma distância de 20 pontos percentuais de seu adversário. Dia a dia, a diferença foi caindo, até que o quadro fosse novamente invertido, desta vez a seu favor. O “x”, como se diz na gíria do automobilismo, aconteceu quando faltavam três ou quatro dias para a eleição.

A terceira “onda”, a arremetida final de Márcio Lacerda, foi mais rápida que seu crescimento inicial, em agosto. Ganhou (ou reconquistou) até cinco pontos ao dia, chegando aos 60% que obteve domingo.

Voltou, assim, ao ponto ao qual todos achavam que chegaria. Para ele, a eleição foi um percurso emocionante, de alcançar, perder e voltar a um mesmo lugar. Quando lá chegou de novo, tinha, no entanto, se transformado em outro candidato, em que as pessoas se sentiam mais à vontade para votar. Sucesso a Márcio Lacerda!

O desafio do TSE


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


WASHINGTON - A melhor notícia sobre a eleição no Brasil veio da Justiça Eleitoral. Em 2010, a internet poderá ser liberada para a livre expressão de opiniões e como ferramenta legal na arrecadação de fundos de campanha. O presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, é o autor da sugestão: "Enquanto não sai o financiamento público de campanha -que se impõe-, a internet poderia fiscalizar e dar mais transparência às doações.

Nesse ponto, os norte-americanos têm a nos ensinar". Sobre a liberdade de expressão valerá o bom senso, pois "o internauta é maduro o suficiente para deletar as mensagens que não o interessam".

O ministro Ayres Britto está certo. O uso da internet produziu um efeito nunca antes visto em eleições presidenciais dos EUA. Milhões de jovens começaram a discutir política por meio das redes de relacionamento social.

Na semana passada, em Miami, um grupo de aficcionados de videogame conectados pela internet fez uma reunião com o objetivo de debater a eleição. Todos os dias, sem exceção, os eleitores cadastrados nos sites de Barack Obama e John McCain recebem alguma mensagem eletrônica (ou várias) informando o que cada um fez ou discursou nas últimas horas.

No plano da arrecadação de fundos, uma massa inédita de pessoas passou a doar para os seus políticos prediletos. Tudo de maneira limpa e rápida, pela internet, com cartão de crédito ou débito. Obama já passou dos 3 milhões de doadores, muitos contribuindo com menos de US$ 100. Lula, em 2006, declarou ter recebido dinheiro de apenas 1.634 doadores.

A liberação total da internet em campanhas brasileiras dará mais transparência ao processo. Mas o TSE tem um desafio pela frente. Precisa tomar a decisão com rapidez e assim evitar as pressões de praxe às vésperas da eleição.

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1133&portal=

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A derrota de Paes


DEU NO BLOG DE CORA RÓNAI

Abrindo mão das próprias convicções (se é que um dia as teve), aliando-se ao que há de mais podre no estado, gastando rios de dinheiro, jogando sujo, usando descaradamente a máquina estadual, federal e universal, beneficiando-se até de um feriado mal intencionado, enfim, com tudo isso, Eduardo Paes só conseguiu ganhar de Gabeira por 50 mil míseros votos.

Como vitória política, já é um resultado extremamente questionável; mas do ponto de vista pessoal, é uma derrota acachapante.

Eduardo Paes levou a prefeitura, sim, mas de contrapeso ficou com uma quadrilha de aliados que não deixa nada a dever àquela que ele acusava o presidente Lula de comandar.

Vai ser prefeito, sim, mas vai ter de arranjar boquinhas para o Crivella, para o Lupi, para o Piciani, para a Clarissa Garotinho, para o Roberto Jefferson, para a Carminha Jerominho, para o Babu, para o Dornelles, para a Jandira... estou esquecendo alguém?

Conquistou um cargo, é verdade, mas conquistou também o desprezo mais profundo de metade do eleitorado.

Em compensação, como carioca, perdeu a chance de viver um momento histórico, em que a prefeitura seria, afinal, ocupada por um homem de bem, com idéias novas e um novo jeito de fazer política; perdeu a chance de ver o Rio de Janeiro sair do limbo a que foi condenado nas últimas décadas, e ganhar projeção pela singularidade da sua administração.

Se Gabeira tivesse sido eleito prefeito, o Rio, que hoje não significa nada em termos políticos, voltaria a ter relevância, até pelo inusitado da coisa. Um prefeito eleito na base do voluntariado, do entusiasmo dos eleitores e da vontade coletiva de virar a mesa seria alguém em quem o país seria obrigado a prestar atenção.

Agora, lá vamos nós para quatro anos de subserviente nulidade, quatro anos em que o recado das urnas será interpretado, pela corja que domina esta infeliz cidade, como um retumbante "Liberou geral!"

Nojo, nojo, nojo.

Mudando de conversa


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O PT não esperava arrasar quarteirões em massa País afora. Sabia que as eleições municipais em alguns locais, como São Paulo, seriam uma parada dura e que poderia haver derrotas significativas aqui e ali.

O Palácio do Planalto tampouco imaginava que o partido seria um sucesso absoluto de bilheteria e já previa que talvez fosse um fracasso junto à crítica, aí entendida como tradução do eleitorado de classe média para cima, mais escolarizado e bem informado que vem se distanciando do partido.

Mas nem o partido nem o governo estavam preparados para colher das urnas tantos resultados adversos, ao ponto de o desfecho da eleição deixar o presidente Luiz Inácio da Silva desprovido de discurso.

Sem uma vitória importante para pôr na conta de sua popularidade (Luiz Marinho ganhou em São Bernardo ao custo de muito dinheiro, empenho e, ainda assim, só no segundo turno), Lula não teve outra saída a não ser improvisar uma fala de magistrado; isso depois de ter falado como militante partidário até as pesquisas revelarem os primeiros indícios de más notícias.

De acordo com o novo script, o presidente nunca foi um partidário da tese da transferência de votos, jamais perdeu a noção de que eleições municipais dizem respeito exclusivo a temas de interesse local, nem por um momento quis dar ao pleito um caráter plebiscitário de forma a produzir uma sentença de rejeição aos seus adversários e muito menos pretendeu estabelecer relações de causa e efeito entre as eleições de 2008 e a disputa presidencial de 2010.

Ontem Lula deu logo o passo adiante anunciando uma reunião de prefeitos eleitos em janeiro para “orientá-los” sobre a aplicação dos recursos do PAC e convidando a todos para, juntos, firmarem um pacto de combate ao analfabetismo.

Uma agenda tão inusitada quanto vazia: verbas orçamentárias (a razão social da marca fantasia “recursos do PAC”) não dependem de orientação do presidente da República e pactos são entidades de plantão destinadas a preencher vazios até a ocorrência de idéias mais criativas.

Aqui, a urgência é a mudança de assunto. Qualquer coisa é melhor que a análise fria e realista do resultado da eleição, principalmente frente à expectativa criada pela sobrevalorização do capital político/eleitoral do campo governista.

Por isso o PT prefere ater-se aos resultados numéricos, citar porcentuais de crescimento de prefeituras ocupadas pelo partido ou pela “base aliada”, fazendo de conta que a eleição de 13% a mais de vereadores no País e a reeleição de 56% dos prefeitos petistas é tão ou mais importante que a redução da presença petista nos redutos de maior peso político.

O PT ganhou em muitas cidades, é verdade. Mas não ganhou nas cidades em que gostaria e está fora daquelas onde seria preciso para firmar hegemonia, coisa que obviamente não se faz no comando de pequenas capitais nem de municípios geográfica e/ou politicamente periféricos.

A contabilidade miúda não reduz o impacto da derrota de Marta Suplicy em São Paulo para um político praticamente desconhecido, cuja candidatura passou meses sendo semeada no ambiente de guerra de extermínio interno do PSDB.

Não há fabulação em torno de PAC ou de pactos que possa competir com o fato de governo tão poderoso terminar a eleição no Rio na base da disputa voto a voto e sendo representado por um candidato recentemente perdoado pelo presidente por ter sido chamado dos piores qualificativos. Isso depois de ter tido todo o plantel de aliados eliminado na primeira fase.

Impossível também esconder atrás de porcentuais o papel de caudatário do PMDB que conseguiu impor ao presidente Lula a regra da neutralidade e, com isso, posar diante de muitos eleitorados (sendo o caso da Bahia o mais eloqüente) como o verdadeiro canal de mobilização de benefícios federais.

Outra tarefa inglória a que se atribuem agora o governo e o PT é a da eliminação da figura da ministra Dilma Rousseff como candidata predileta do presidente Lula à sucessão de 2010.

Segundo a versão em vigor desde domingo à noite, o presidente Lula não apenas jamais pretendeu transferir votos como nunca pretendeu fazê-lo para Dilma e, por isso, não se pode dizer que a queda da “tese do poste” tenha enfraquecido a futura candidatura. Qual candidatura?

A mesma celebrada até há poucas semanas. A mesma que estaria agora sendo oficialmente lançada se o PT estivesse ocupado em comemorar exaustivamente os resultados e não preocupado em justificá-los à exaustão.

E agora, Paes, como unir a cidade do Rio?


Alessandra Duarte e Pedro Motta Gueiros
DEU EM O GLBO

Para especialistas e moradores comuns, eleitorado mostrou novo patamar de cobrança por ética na política

Vencedor da eleição no Rio por apenas 55 mil votos, o peemedebista Eduardo Paes herdará uma cidade não apenas dividida, mas com uma cobrança por ética na política muito mais forte, em grande parte por causa do desempenho do adversário, Fernando Gabeira (PV). Para moradores, cientistas políticos, urbanistas e economistas, enquanto o verde deixa como marca uma mudança na forma de fazer campanha no Rio - tendo tido praticamente a mesma votação do rival, sem a máquina estadual e o apoio de 13 partidos -, o novo prefeito terá que pagar a fatura das alianças com os partidos políticos sem fisiologismo, se quiser atender à cobrança por relações mais éticas na política cobradas pelo eleitorado .

Para o cientista político Luiz Werneck Vianna, do Iuperj, uma das dificuldades do novo prefeito será a divisão do eleitorado:

- A parte que não está dentro (do apoio a Paes) é grande, metade da cidade. Além disso, ele tem contas a pagar, e contas ruins. A conta do (Jorge) Babu (do PT, acusado de envolvimento com milícias) é ruim de pagar - disse Vianna, para quem Paes terá de ser hábil para governar com a marca deixada por Gabeira. - Gabeira teve uma campanha sem muito partido, na qual a sociedade se fez envolver.

Pela internet, por exemplo, que foi incorporada por Gabeira à gramática das campanhas eleitorais, segundo Vianna:

- Os próximos candidatos terão de levar isso em conta. Por todas essas marcas deixadas, sem dúvida Gabeira foi o vencedor. Não o vejo numa disputa para o governo estadual ou numa nova eleição para prefeito. Acho que, a partir de agora, ele aparece como um parlamentar muito influente, como estimulador de uma nova política.

Entre os aliados e a ética

O professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Mauro Osório, doutor em planejamento urbano pelo Ippur, afirma que Paes terá de lidar com a exigência por ética levantada pela campanha de Gabeira:

- O Gabeira, no primeiro turno, conseguiu catalisar o sentimento pela ética, e mostrou que isso é uma demanda forte no Rio. Nas últimas décadas, a política na cidade teve uma hegemonia clientelista, e a população mostrou-se contra isso. A votação que Gabeira teve mostrou que as máquinas têm poder menor do que se pensa, e que a opinião pública conta muito numa eleição majoritária.

Para Osório, um desafio de Paes será atender aos pedidos dos apoios dos partidos que o elegeram e ao mesmo tempo atender a essa demanda da população por ética:

- Paes vai ter de não ser fisiológico ao nomear as secretarias e se relacionar com a Câmara, que continua predominantemente clientelista. Sem falar que alterou o campo político dele para vencer: o Paes nasceu com o Cesar Maia, na centro-direita, e agora venceu num campo centro-esquerda. Se ele, e também o governador Sergio Cabral, tiverem de consolidar a aliança com o PT, não pode ser de forma fisiológica. A população do Rio terá dois anos, até a eleição de 2010, para avaliar o governo do Paes e a sua aliança com o PT.

O professor de ciência política da PUC-Rio Ricardo Ismael chama atenção para a divisão geográfica do voto com o qual Paes terá que lidar. Para Ismael, Paes agora é devedor das forças políticas que o apoiaram. Ao mesmo tempo, terá de lidar com as promessas que fez, "em cima de novos gastos, como as UPAs e o bilhete único, num ano difícil, de crise internacional".

- Ele vai ter que ter muita criatividade - completa Ismael, para quem Gabeira "deixou uma marca política": - A outra campanha fazia um vale-tudo, com panfletos que podem ter pesado para eleitores menos esclarecidos. Já Gabeira mostrou que é possível fazer campanha com as forças sociais e sem os partidos, sem ficar refém de acordos políticos tradicionais. Ele reinventou a campanha no Rio, e agora a população passa a exigir isso.

O calor da disputa deixou marcas na velha relação. Para reconquistar a parte da cidade que perdeu, Paes tem a voz das ruas para orientá-lo. Ao sair de um restaurante, ontem à tarde em Ipanema, Gabeira foi aplaudido de pé e teve o nome gritado por moradores e trabalhadores. Como era dia de feira, o candidato do PV também foi ovacionado por barraqueiros e camelôs, saídos de várias partes da cidade.

- Dizer que o Gabeira é o candidato das elites é um preconceito com o qual não concordo. Mas já que essa visão partiu do Paes, ele deveria respeitar a tal parte intelectualmente superior e adotar as propostas do Gabeira - disse a urbanista Luísa Santos, que saudou a passagem de Gabeira enquanto almoçava com amigas num restaurante japonês.

Ao seu lado, a arquiteta Evelyn Gomes apontava o transporte público como principal caminho para a integração:

- É o principal. Se o prefeito conseguir fazer um planejamento, a cidade toda ganha.

Com dois cordões de dentes de alho em torno do pescoço, o feirante Diogo Rosário não tem expectativas de transformação pela política:

- Anulei o voto duas vezes, que paga minhas contas sou eu. Mês passado meu esgoto entupiu e, se eu não botasse a mão, ainda estaria assim.

Com oito filhos e uma barraca em que vende caju, jabuticaba e limão na feira que parou para aplaudir Gabeira ontem, o camelô Flávio Bastos votou no verde mas agora faz fé em Paes.

- Se for melhor do que o Cesar Maia, está bom. Precisamos trabalhar, mas a fiscalização não deixa - disse, apontando para sua banca.

- Votei no Paes porque tive um pouquinho de medo do novo. Se ele agir em toda a cidade, acaba com essa divisão - disse Luiz Dantas, sócio de uma loja em Ipanema.

Do outro lado da rua, as amigas do escritório de arquitetura ainda vão demorar para assinar embaixo dos projetos do novo prefeito.

- Temos que fiscalizar. Não ponho minha mão no fogo por ele, mas não estou contra, porque seria ficar contra o Rio - disse Ana Paula Philipsen.

O urbanista e ex-secretário municipal de Habitação Sérgio Magalhães avalia que Paes precisa, agora, investir na valorização do subúrbio, uma das tônicas de sua campanha:

- Precisa, por exemplo, investir no projeto de transformação de trens em metrôs e na recuperação dos corredores das zonas Norte e Oeste.

Projetos que alavanquem a receita do município nesse momento de crise, como a nota fiscal eletrônica, também devem ter atenção, segundo o economista Mauro Osório:
- Os programas dos dois candidatos não eram muito diferentes. A questão será a operacionalização, que vai depender da composição do secretariado e da relação com a Câmara. A boa relação com o estado e a União não é tudo.
Paes deve mirar na classe média
Para conservar a base de apoio e recuperar o eleitorado que perdeu, Paes tem alguns compromissos a cumprir. Para o cientista político Ricardo Ismael, o prefeito eleito precisa honrar compromissos de campanha e atender a algumas demandas da classe média.

- Primeiro, terá que atender aos projetos sociais, como a saúde pública e o fim da aprovação automática. Disso, não pode fugir - disse Ismael, antes de enumerar as ações para se reaproximar do eleitorado perdido: - Além de ações para conter as favelas, a desordem urbana e do trânsito, Paes precisa ter cuidado para não lotear cargos. Com as alianças que fez, não será tarefa tão simples.

Palco de rivalidades acaloradas, ontem o Maracanã abrigava a tolerância. Depois de fazer hidroginástica, Maria de Oliveira, de 75 anos, se dirigia à aula de dança de salão no Maracanãzinho com orgulho das conquistas que teve, na vida e nas urnas. Órfã de pai e mãe desde os 10 anos, voltou a estudar aos 42 para se tornar auxiliar em enfermagem. Com 15 netos e sete bisnetos, escolheu Paes para cuidar do futuro da família:

- Acho que ele devia conversar com o Gabeira. A cidade não agüenta mais briga, quem sofre é o povo.

Gabeira é visto como peça-chave em 2010


Wilson Tosta
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Qualquer que seja seu caminho agora, o candidato derrotado da Frente Carioca (PV-PSDB-PPS) à Prefeitura do Rio, Fernando Gabeira, será peça-chave para as eleições de 2010 no Estado, avaliam políticos que o apoiaram na disputa de 2008. Uma possível candidatura a governador, a senador e até a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB) à Presidência são algumas alternativas levantadas para o futuro político do parlamentar, que perdeu por apenas 55.225 votos para Eduardo Paes (PMDB).

No campo verde-tucano fluminense, ninguém quer desperdiçar o patrimônio político acumulado pelo candidato - 1.640.970 votos, 49,17% dos válidos, e uma invejável exposição à mídia.

Entre verdes, tucanos e integrantes do PPS, o chamado de Gabeira às forças que o apoiaram para uma mobilização anti-dengue, anteontem, foi interpretado como sinal de que o parlamentar pretende ser um ator importante na próxima eleição, talvez concorrendo a algo mais que apenas uma reeleição para a Câmara dos Deputados. Antes de admitir oficialmente a derrota, no domingo, Gabeira expôs a idéia a aliados.

“Conversei com ele por telefone”, contou a vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB). “Ele disse para continuar o movimento, juntar a sociedade civil, a iniciativa privada, entrar nessa questão da dengue, melhorar o Rio de Janeiro. Então, acho que tem aí, sim, uma caminhada para frente, para 2010.”

CAETANO

Principal cabo eleitoral de Gabeira, Caetano Veloso não votou nele no domingo. O cantor e compositor, que mora no Rio, estava em Roma, onde participou do 3º Festival Internacional de Cinema da cidade - o documentário Coração Vagabundo, de Fernando Grostein Andrade, que o retratou durante uma turnê internacional, foi exibido durante uma mostra paralela em homenagem ao cinema brasileiro.

Serra diz que existe diálogo entre PSDB e peemedebistas


Roberto Godoy e Guilherme Scarance
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Governador resiste a falar como presidenciável, alegando que 2010 está mais longe do que parece?, mas destaca sua boa relação com o PMDB

Embora diga que "2010 está mais longe do que parece" e garanta que não está "focado" na corrida presidencial e não negocia apoio, o governador José Serra admitiu, em entrevista ontem à TV Estadão: "Existe um diálogo do PSDB com o PMDB, isso é indiscutível." O partido foi o grande vitorioso da corrida municipal e é cortejado tanto pelos partidos governistas como de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Assista à íntegra da entrevista

Indagado sobre o saldo dos peemedebistas, Serra admitiu que o partido sai com "posição forte, do ponto de vista nacional". "O PMDB é um partido que tem capacidade, elasticidade. Fogaça, em Porto Alegre, tinha sido do PMDB, foi eleito pelo PPS, voltou para o PMDB e aí foi reeleito. Paes era PSDB, foi eleito pelo PMDB. O PMDB consegue absorver integrantes de outros partidos em situações-chave e conseguiu esse resultado bastante apreciável."

Serra resiste, porém, a admitir a candidatura a presidente. Diz que o partido conversa com o PMDB, não ele. "Não estamos negociando 2010", afirmou.

Mesmo assim, o tucano destacou a boa relação que mantém com o partido: "Temos proximidade com muitos setores do PMDB. Quando fui candidato em 2002 tive o apoio do PMDB, na eleição presidencial. E há proximidade, até em alguns casos mais pessoal do que política."

Tomando cuidado para evitar falar como presidenciável, Serra insistiu em que a corrida municipal "foi uma eleição local". E acrescentou: "2010 ainda falta muito para chegar, tem muito tempo daqui até lá e eu, realmente, não estou focado na questão de eleição. Os jornalistas estão. Eu não estou na questão de 2010 porque tem muito chão, tem muita coisa para acontecer daqui até lá."

O governador listou os pontos que, segundo ele, impedem raciocinar agora em torno da sucessão de Lula: "Quero apenas mencionar de passagem a crise econômica, que está chegando ao Brasil, impasses políticos, problemas de alianças partidárias. Há muita coisa indefinida no ar a respeito das suas conseqüências e do que vai acontecer, de modo que 2010 está longe, mais longe do que parece."

MONOPÓLIO

Ao fazer um balanço do País que saiu das urnas, o tucano disse: "O fundamental que essa eleição mostrou é que ninguém tem o monopólio da verdade nem do voto. A eleição sublinhou a pluralidade, a diversidade da vontade do eleitorado. Esse é o aspecto mais importante. Se for olhar o conjunto do Brasil e também o que aconteceu no primeiro turno, você vê que o povo não concentrou os votos, não deu a ninguém o monopólio."

Indagado se sai também vencedor das urnas na cidade de São Paulo, onde viu seu padrinho político, Gilberto Kassab (DEM), reeleito - contra a mesma adversária que ele próprio bateu, em 2004 -, o tucano se disse "muito satisfeito".

"Me considero partícipe pelo fato de que fui eleito em 2004, Kassab era o meu vice, deu continuidade ao programa que nós começamos na prefeitura, ampliou, inovou, fez coisas até diferentes e deu certo", comentou. "Kassab foi eleito, ou reeleito, devido à boa administração que ele fez em São Paulo. Não é o fato de ser meu afilhado, até porque os meus afilhados têm menos idade."

Quadro decadente


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

NOVA YORK. O quadro partidário brasileiro é tão caótico que permite que se faça a análise que se quiser do resultado das eleições municipais. O presidente Lula, por exemplo, foi peremptório: PSDB, DEM e PPS foram os grandes derrotados, pois perderam prefeituras e número de votos, enquanto os partidos aliados do governo venceram, porque todos eles aumentaram a participação no bolo eleitoral. Parece verdadeiro, mas não corresponde à realidade política. O grande vencedor desta eleição foi o PMDB, que formalmente faz parte da base aliada do governo. Mas é possível dizer que em 2010, ou mesmo antes, o partido estará unido em torno da candidatura oficial do PT à sucessão de Lula?

Já ontem começaram as escaramuças, com o PMDB mais uma vez brandindo a ameaça de uma candidatura própria e o PT mostrando dentes para o "aliado", anunciando pelo secretário-geral Luiz Eduardo Cardozo que não abre mão de candidato próprio.

O presidente do PMDB de São Paulo, por sua vez, na qualidade de sócio da vitória de Gilberto Kassab na prefeitura da capital, já se colocou como parte "daquele PMDB que quer Serra como presidente do país". Portanto, nada indica que a base política do governo poderá contar integralmente com as 1.201 prefeituras peemedebistas.

Embora tenha perdido prefeituras e eleitores nas estatísticas, o PSDB continua sendo o segundo partido em número de prefeituras - elegeu 786 prefeitos contra 861 em 2004 -, e, sobretudo, manteve sob sua órbita a capital paulista. Os votos dados a Kassab não entraram na contagem oficial dos tucanos, o que mostra a distorção da estatística, que mascara o real poder político.

Assim como em Belo Horizonte, onde os votos contabilizados para o PSB de Márcio Lacerda devem-se muito mais ao PSDB de Aécio Neves e ao prestígio pessoal do prefeito Fernando Pimentel e à parte do PT que ficou com ele.

No Rio, por exemplo, a enxurrada de votos que o candidato Fernando Gabeira teve foi contabilizada na conta do Partido Verde, formalmente na base aliada do governo, o que é um equívoco político.

Os três partidos de oposição, PSDB, DEM e PPS, que são, segundo Lula, os grandes derrotados, têm somados 1.416 prefeituras, o que os torna a maior força política municipal saída desta eleição, já que nada indica que estarão separados nas eleições de 2010.

O mesmo não se pode dizer do chamado "bloco de esquerda", que, teoricamente se aliará ao PT na eleição presidencial. PSB, PCdoB, PDT, PMN e PRB têm juntos 784 prefeituras, mas terão dificuldades em se aliar ao PT na sucessão de 2010.

O PP, outro partido teoricamente da base do governo, fez 555 prefeituras em todo o país, e não é sensato dizer-se que estará coligado ao PT na sucessão de Lula.

Como se vê, uma análise linear do resultado das urnas leva a confusões próprias de um quadro partidário que consegue fazer com que a extrema direita política esteja junta à extrema esquerda num mesmo governo, cujo projeto político só os une por ser indefinido, dando margem de manobra a todo tipo de atuação.

O fato de que os membros dessa estranha coalizão tenham crescido na distribuição de poder municipal é mais uma demonstração de que deu para cada um dos seus representantes no gigantesco Ministério do segundo governo de Lula usar seus poderes e suas verbas para alavancar seu partido, sem um projeto coletivo.

O Ministério das Cidades, ocupado pelo PP, certamente teve papel relevante para o aumento de prefeituras do partido, assim como o da Integração Nacional teve para a vitória do PMDB baiano, não apenas em Salvador como no interior do estado, consolidando o poder político do ministro Geddel Vieira Lima.

O que vai dificultar a negociação para a permanência no governo, ou facilitar a lenta e gradual mudança de rumo em direção aonde os ventos soprarão para 2010, é justamente a força política de cada um, revigorada na eleição em que ser do governo local representou uma força natural, fosse ele oposição ou situação a nível federal.

Esse, aliás, é um dos motivos pelos quais o movimento para rever a legislação e acabar com a reeleição está perdendo fôlego. Quem estava no poder se reelegeu em uma média de 70%.

A mesma lógica impede que se faça uma reforma do quadro partidário, que a cada dia se mostra mais deformado.

Não há nenhum interesse das lideranças partidárias em mudar o que está dando certo para eles, embora esse seja um raciocínio que leva à decadência em que nos encontramos.

O novo prefeito do Rio, Eduardo Paes, terá que levar em conta a demonstração de metade do eleitorado da cidade em favor da mudança da maneira de se fazer política. Sem máquina partidária, sem estrutura de campanha, sem reduto eleitoral, o deputado Fernando Gabeira transformou-se no símbolo de um movimento que se alastrou pela cidade.

O governador Sérgio Cabral teve uma grande vitória política ao eleger seu candidato preferido, mas, diante do anseio de grande parte da cidade por uma nova postura no enfrentamento das dificuldades, ela foi ofuscada pela maneira nem sempre lisa com que a campanha oficial foi tocada, deixando antever que as alianças com representantes do atraso político que sempre dominou o estado estavam se sobrepondo aos propósitos declarados tanto do governador quanto do seu candidato, finalmente eleito.

As primeiras palavras de vitória do governador, exaltando Eduardo Paes como "o mais preparado", pareceu mais um desabafo arrogante de um governante que foi surpreendentemente contestado em sua vontade por uma cidade dividida entre o velho e o novo.

O novo prefeito deu um passo adiante, afirmando que trabalhará para unir novamente a cidade.

Para isso, terá que abrir mão da velha política que aprendeu quando preferido do prefeito Cesar Maia, e adotar novas posturas, mais de acordo com o futuro por que grande parte da população da cidade anseia.

Verdades e meias verdades


Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - O presidente não transferiu votos, os governadores foram os grandes vencedores e o PMDB virou o partido mais cobiçado do planeta. Isso tudo é verdade, mas política não se faz com números nem com certezas, mas com combinações de números e tendências. Senão, vejamos.

Lula não transferiu voto para este ou aquele candidato, mas seus 80% de popularidade pairaram sobre a eleição e sobre muita vitória por aí.

Serra, Aécio e Sérgio Cabral saem bem na foto, mas Jaques Wagner enfrentou uma barreira de PMDB e carlismo na Bahia e recua nas suas pretensões nacionais. E o PMDB...bem, o que vem a ser o PMDB?

Cabral e Eduardo Paes, no Rio, são peemedebistas e lulistas ferrenhos hoje, mas já foram tucanos ontem e podem muito bem estar ou com Dilma ou com Serra amanhã.

Caso do grande vitorioso na Bahia, o já bastante badalado Geddel Vieira Lima, que é Lula no plano nacional e anti-PT no regional.

Se José Sarney votou no domingo pregando a aliança PMDB-Lulismo para 2010, Quércia apoiou Gilberto Kassab sob a perspectiva de uma vaga ao Senado na composição serrista em São Paulo para 2010.

Avaliações numéricas devem ser lidas com uma lupa dialética em eleições municipais, onde o que interessam são as questões comezinhas, o jogo político local e composições às vezes estapafúrdias, bem distantes do Planalto.

Dá para atribuir os 3,8 milhões de votos de Kassab para o DEM? Dá para creditar a derrota de Walter Pinheiro em Salvador para Lula? E o PSB, computado entre os 16 partidos da base aliada, em quantos lugares se aliou ao PSDB para derrotar o PT? Isso foi vitória governista ou oposicionista?

A eleição municipal fortaleceu uns, enfraqueceu outros. Pôs as cartas na mesa para a sucessão presidencial. Mas tem muito jogo até lá.

As fichas dependem da crise e de seus efeitos sobre o país e sobre a força política de Lula.

O fim dos "ismos"?


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Algumas anotações sobre o tema da transferência de votos, que é tudo o que 2008 lega, eventualmente, para 2010.

Transferência de voto, ao menos em São Paulo, tem tudo a ver com os "ismos" que empobreceram durante décadas a política paulista.

Antes do golpe militar, Adhemar de Barros elegeu Lucas Nogueira Garcez (1951), assim como Janio Quadros elegeu Carlos Alberto de Carvalho Pinto (1958). Os dois eleitos (para o governo estadual) tinham pouca ou nula experiência eleitoral, eram considerados técnicos e de escasso apelo emocional para o eleitorado.

Ganharam porque a política paulista foi dominada por dois "ismos", o "janismo" e o "adhemarismo", que só começaram a morrer quando seus líderes foram cassados pelo regime militar. Mesmo assim, surgiu outro "ismo", o "malufismo", que, como seus parentes próximos, elegeu o poste da vez na figura de Celso Pitta, em 1996, ou seja anteontem -o que prova a permanência do poder de transferir votos.

Por que, então, Lula não conseguiu eleger Marta Suplicy? Palpites, à espera dos sociólogos:

1 - Não existe "lulismo", pelo menos não em São Paulo, tanto que nem Lula nem o PT conseguiram eleger um único governador no Estado, nem quando o candidato foi o próprio Lula (1982).

2 - Os "ismos" estão em fase terminal na política brasileira, à medida que o país se moderniza -aos trancos, mas se moderniza. O "carlismo" perdeu duas vezes seguidas na Bahia -e para partidos diferentes, o que, em tese, significa que não houve troca de um "ismo" pelo outro.

Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, ficou perto desta tese em seu comentário antes do turno final: "Os dados mostram que o eleitor está prestando mais atenção à perspectiva de resolução dos problemas locais, mais próximos, do que aos apoios recebidos pelos candidatos".

A agenda de "um novo Bretton Woods"


José Eli da Veiga
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Foi somente em 1950 que o crescimento econômico virou objetivo supremo das políticas governamentais. Ruptura forjada por rápido convencimento prévio de que só ele seria capaz de engendrar pleno emprego, objetivo até então preferido por todos os que haviam aderido ao keynesianismo. E uma ruptura para a qual foi decisiva a combinação das idéias de Sir Roy Forbes Harrod, na Inglaterra em 1939, com as de Evsey Domar, nos EUA em 1946, no persuasivo modelo Harrod-Domar. Em plena Guerra Fria, a panacéia foi inevitável: fosse qual fosse o contexto, não haveria mazela social que pudesse resistir a uma boa dose de crescimento econômico. Nem mesmo as desigualdades.

As críticas não demoraram a surgir. Basta lembrar que em 1958 foi lançada a primeira edição do clássico "A Sociedade Afluente" de John Kenneth Galbraith. Embora tenha sido ignorado pela maioria dos economistas, por considerarem o autor no máximo um bom comentarista político, nada de parecido poderia ter ocorrido com Ezra J. Mishan ao publicar, em 1967, uma obra-prima sobre os custos do crescimento econômico (traduzida no Brasil com título tragicamente equivocado). O longo e acirrado debate entre Mishan e Wilfred Beckerman inaugurou a controvérsia científica sobre o crescimento como dogma.

Entretanto, foram posteriores os mais incisivos ataques contra aquilo que passou a ser chamado de "mania" ou "fetiche" do crescimento. E menos motivados pelos custos apontados por Mishan, do que pelo avanço da consciência sobre seus limites socioambientais. Particularmente nas obras pioneiras publicadas na década de 1970 por William Kapp, Kenneth Boulding e Herman Daly. Que, por incrível que pareça, nada pesaram no processo de emergência da noção "desenvolvimento sustentável". O famoso documento da ONU "Nosso Futuro Comum", mais conhecido como Relatório Brundtland, mostra bem como era forte em 1987 a miragem de uma "nova era de crescimento econômico baseada em políticas que sustentem e expandam a base de recursos naturais".

Ocorreu o avesso. O que ficou cada vez mais evidente ao longo dos últimos dois decênios foi a irresponsável temeridade de se aceitar a dependência de energias de origem fóssil. Não apenas pela necessidade de se combater o aquecimento global, que agora se mostra incontornável. Também porque não poderiam ser mais sombrias as conseqüências geopolíticas das desigualdades de acesso às jazidas de petróleo, carvão e gás. E o que é pior: sem que qualquer promessa de inovação científico-tecnológica permita vislumbrar a saída. Por isso, é claro que os problemas ambientais globais deveriam dominar a pauta da eventual reunião de cúpula que talvez se imponha por outra razão: o cenário recessivo que brota de uma das mais sórdidas crises financeiras de que se tem notícia.

Só que esse hipotético "novo Bretton Woods" de pouco serviria se não engendrasse firme cooperação internacional para promover efetivas decolagens em cerca de 70 dos países mais periféricos, nos quais o crescimento econômico é condição necessária, e até suficiente, para que se desenvolvam. Exatamente o inverso do que ocorre nos países centrais, onde o mito do "crescimento sustentável" continuará a causar muito mais prejuízos do que benefícios. E se tal virada fosse bem arquitetada, certamente poderia amortecer os impactos sociais causados por reestruturações no Norte, assim como os ambientais resultantes de mais dinamismo no Sul.

A grande incógnita estaria na semi-periferia. Mas não apenas em quatro "BRIC", ou em punhado de "emergentes". Em 72 países cujas trajetórias de crescimento fazem com que tenham emissões de gases estufa que ultrapassam as de países centrais. Principalmente um grupo de 20 que já causa estrago bem maior que o dos dez maiores emissores do núcleo central. E sem que possam sequer admitir uma ínfima dúvida sobre a necessidade de crescimento de suas economias. Continuariam inteiramente à mercê do surgimento de inovações que descarbonizassem suas matrizes energéticas.

O maior obstáculo, contudo, talvez nem fosse esse, e sim a dificuldade de se admitir que os países mais desenvolvidos já possam dispensar o crescimento econômico. Daí a importância de três claros sinais de que começa a sair do gueto o movimento intelectual que pretende caminhar nessa direção.

O primeiro é um livro cujo próprio título enfatiza ser muito melhor reduzir o crescimento de propósito do que ter de encará-lo por desastre: "Managing Without Growth - Slower by Design, Not Disaster", do professor Peter A. Victor, da Universidade de York do Canadá (Edward Elgar: 2008). Com a ajuda de simulações econométricas, mostra os possíveis resultados de um decrescimento bem administrado da economia canadense com a meta de atingir uma condição estacionária por volta de 2030. Os benefícios socioambientais e econômicos não poderiam ser superiores: pleno emprego, eliminação da pobreza, mais lazer, considerável redução das emissões de gases-estufa, e tudo com equilíbrio fiscal.

O segundo está no dossiê "A estupidez do crescimento", que ocupou 15 páginas da edição de 18/10 da revista britânica "NewScientist", com merecido destaque para Herman Daly. Ele reconhece que, além de radical, o anseio de abolir a obsessão pelo crescimento parece politicamente inviável. Mas também pede que se admita quão absurda é a idéia oposta, de crescimento além dos limites biofísicos da Terra. E lembra que seus limites econômicos já estão patentes, pois os benefícios de mais crescimento são cada vez mais excedidos pelos custos.

O terceiro foi a realização da primeira conferência internacional sobre "decrescimento econômico para a sustentabilidade ambiental e a equidade social" (www.degrowth.net). Nem tudo chega a ter razoável qualidade na salada de textos que ocupa as mais de 300 páginas de seus anais. Mas há ali algumas pérolas, como a demonstração proposta pelo mestre holandês Roefie Hueting de que não há conflito entre emprego e conservação, por mais que a sustentabilidade seja incompatível com o permanente aumento da produção.

José Eli da Veiga, professor titular do departamento de economia da FEA-USP e pesquisador associado do "Capability & Sustainability Centre" da Universidade de Cambridge, com apoio da Fapesp, escreve mensalmente às terças.

Lula ainda testa nomes para 2010


Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO



A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ainda é o nome predileto de Luiz Inácio Lula da Silva para candidato do PT, em 2010, mas o presidente da República quer testar outros nomes do partido, antes de fazer uma aposta definitiva para a sucessão. No partido a hora é de reflexão sobre os números que saíram das urnas municipais.

O Diretório Nacional do PT deve se reunir, nos próximos dias, para analisar um relatório com o balanço das eleições preparado pela Executiva Nacional da legenda. Lula quer ler esse relatório antes de pautar seus próximos passos.

Entre os nomes que o presidente deve testar estão os dos ministros Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Fernando Haddad, da Educação. Se há alguma novidade, Lula guarda a sete chaves. A derrota para o PMDB, na eleição de Salvador, parece ter tirado o governador Jaques Wagner da possibilidade da sucessão.

A Bahia é uma situação que o PT quer analisar cuidadosamente. O Estado concentra o quarto maior colégio eleitoral do país. Jaques se expôs na disputa além do que recomendava a prudência e saiu chamuscado. A disputa por Salvador também pôs em evidência a relação do PT com o PMDB, a base na qual se assenta a sustentação política do governo petista.

Numa primeira avaliação, o PT não vê razões para o PMDB posar com ares de grande vitorioso. Em suas contas, dos seis prefeitos de capital eleitos pelos pemedebistas, apenas dois são do PMDB/MDB histórico: Iris Resende, de Goiânia, e José Fogaça, de Porto Alegre. Os outros quatro são cristãos novos. Assim como foram parar no PMDB, circunstancialmente podem mudar de camisa, por conveniência.

O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, que é um histórico, acha difícil que o PMDB venha a ter candidato próprio - "o que seria o ideal" -, por falta de um nome que galvanize o partido. Sem esse nome, vai defender o apoio à candidatura de José Serra (PSDB) a presidente.

"É para contrabalançar com o Lula", diz Quércia. "Se o PMDB tivesse candidato próprio, seria melhor. Não tendo, nós colocamos em São Paulo essa alternativa". Quércia nega que pretenda viajar pelo país para defender a tríplice aliança PSDB, DEM e PMDB na sucessão de Lula. Mas assegura que vai "conversar com as pessoas nesse sentido".

Outro ponto importante no balanço petista é a situação do partido em São Paulo. No plano estadual, afora a derrota em Santo André - onde o PT quase ganha no primeiro turno e não estava nos planos perder no segundo -, se confirmaram as demais expectativas do partido. Esse foi o melhor desempenho do PT até agora no Estado de São Paulo.

O problema que merece a imersão do Diretório Nacional é a capital, porque o placar de 60% a 40% mostra que não foi só a classe média que migrou para a candidatura de Gilberto Kassab, a periferia também votou no candidato do DEM. Até mesmo áreas consideradas redutos eleitorais do PT.

Na realidade, a candidata Marta Suplicy perdeu votos em algumas dessas áreas do primeiro para o segundo turno, casos, por exemplo, de Sapopemba, São Miguel Paulista e Capela do Socorro, o curral eleitoral urbano da família Tatto.

O PT fará uma análise detalhada da conduta da campanha de Marta no segundo turno, o que inclui o ataque homofóbico a Kassab. Não há como esconder a realidade de que o partido perdeu votos em São Paulo. Em 2004, Marta perdeu para Serra por cerca de 500 mil votos de diferença. Agora, Kassab pôs mais de um milhão de frente.

O que os números dizem é que o PT precisa se reciclar na capital. É curioso notar que em sete eleições municipais o partido teve apenas três candidatos: Eduardo Suplicy (duas eleições), Luiza Erundina (duas eleições) e Marta Suplicy (três eleições, duas derrotas). São evidentes o desgaste e a necessidade de renovação.

Os nomes que estão na bica são Luiz Marinho, eleito prefeito de São Bernardo do Campo, o berço do PT, Emídio de Souza, eleito em Osasco, município que já foi reduto tucano, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, o presidente petista, Ricardo Berzoini, e seu secretário-geral José Eduardo Cardozo.

É dessa lista que sairão os futuros candidatos do PT à prefeitura e ao governo estadual, se o partido apostar na política de renovação. Uma incógnita é o deputado Antonio Palocci - ele passa à frente da fila se conseguir se desvencilhar do modesto caseiro Francenildo Pereira, no julgamento do STF.

Maior colégio eleitoral do país, São Paulo é fundamental para qualquer projeto presidencial. Para ajudar Lula a eleger o sucessor o PT precisa se fortalecer no Estado e se recuperar com urgência na capital. Salvador serve como advertência de que o Nordeste não é a moleza que os petistas esperam encontrar na região na eleição de 2010.

Acertado o PT paulistano, tantas vezes questionado pelas outras seções do partido, Lula tem como arrumar os demais palanques estaduais.

O discurso já está pronto e é provável que seja sacado antes mesmo da campanha presidencial, já na condução da atual crise econômica, que terá abordagem diferenciada do governo e da oposição, segundo se crê no Palácio do Planalto, revelando um choque (ideológico) de visões entre o PT e o PSDB.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Vencido, Gabeira diz que vai mobilizar cariocas


Chico Otavio e Sergio Duran
DEU EM O GLOBO


Candidato do PV anuncia que vai articular a sociedade para tocar projetos paralelos, como ajudar no combate à dengue

O reconhecimento da derrota e outras frases de praxe praticamente não apareceram. Na primeira entrevista após a derrota para Eduardo Paes (PMDB), concedida na noite de ontem em Copacabana, Fernando Gabeira (PV) preferiu falar do futuro. De olho nos 1,64 milhão de eleitores que votaram no "43" (49,17% do total), ele anunciou que pretende liderar uma espécie de governo paralelo, contando com a mobilização da sociedade organizada e da iniciativa privada para enfrentar os problemas da cidade.

- Não terei nas mãos o governo, mas poderei articular a sociedade e a iniciativa privada para que consigamos algum resultado - disse.

Em discurso que mais lembrava o de um candidato vitorioso, prometeu que a primeira mobilização das forças que o apoiaram na campanha será contra a dengue, envolvendo até hospitais privados.

- Pretendo colocar todos os recursos que foram um pouco ironizados por aí, mas que são importantes, como um programa de computador produzido no Rio e usado em Fortaleza, e também uma base aérea de levantamento que possa nos dar com precisão os pontos a serem atacados.

A entrevista de Gabeira foi marcada pela emoção. Ele entrou no hotel reservado pela campanha abraçado à mulher, Neila Tavares, e a uma das filhas, Maya, que chorava. No pronunciamento, foi interrompido várias vezes por aplausos de uma militância que, no fim da coletiva, cantou o jingle da campanha.

O candidato do PV lamentou a apreensão de merenda escolar supostamente usada por adversários da boca-de-urna. Indagado se pretende, no seu projeto para a cidade, estabelecer parcerias com a prefeitura, respondeu que tudo depende do grau de confiança nos novos gestores:

- Não posso trabalhar com o governo antes que tenha confiança de que não se usa merenda escolar numa boca-de-urna - lamentou.

Gabeira disse que, diante da conjuntura econômica, Paes terá problemas:

- A situação orçamentária será delicada. Ele entra no momento em que o governo federal, no qual pretende se apoiar, prepara cortes no orçamento e a crise internacional começa a entrar aqui.

Críticas a "luta política suja"

Gabeira votou na Escola Municipal Pedro Ernesto, na Lagoa, aonde chegou às 8h20m, a bordo do Gabeirão - como chama o jipe da campanha. O candidato, que usava um chapéu panamá, enfrentou no caminho um batalhão de jornalistas, que se acotovelaram para registrar imagens e ouvi-lo sobre a disputa voto a voto, comparada por ele a uma corrida de cavalos.

- É uma disputa apertada, como uma corrida de cavalos. Como eu tenho nariz grande, quem sabe eu chego na frente - disse, confiante na vitória.

O candidato do PV achava que o fiel da balança seriam os votos dos indecisos e os dos eleitores da Zona Sul que votaram nulo no primeiro turno e poderiam escolhê-lo no segundo. A confiança na vitória contrastava com a preocupação com fraudes. A notícia de que mesários poderiam votar no lugar de eleitores ausentes foi manifestada pelo candidato.

Gabeira estava acompanhado das filhas, Maya e Tami, e do vice da chapa, Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), que votou depois, numa escola no Engenho de Dentro. De lá, o candidato do PV começou uma carreata que durou cerca de três horas por bairros da Zona Norte. No caminho, cumprimentava eleitores que o saudavam.

Os apertos de mão e gritos de apoio foram mais intensos quando retornou à Zona Sul, no início da tarde. Em Ipanema, onde saltou do jipe para tomar um suco, foi alvo de tietagem explícita e ganhou um broche de uma eleitora, "para dar sorte". Foi aplaudido ao chegar a um restaurante no Leme para almoçar. Ao deixar o local, criticou o adversário pela utilização na campanha de Paes, de sacolas de um projeto dos governos estadual e federal.

- Estão tirando merenda das crianças para fazer luta política suja. Lamento que ainda tenhamos adversários com esse nível, com a visão de que não importa você usar merenda de crianças, o que importa é que você se eleja - criticou. - Isso faz parte de um grande defeito da esquerda que está com eles, do século passado, que sempre disse que os fins justificam os meios. Minha posição de esquerda do século XXI é de que os fins não justificam os meios.

Mais cedo, o candidato lembrara o seu passado de militante da esquerda durante o governo militar. Ele reconhecera ter sido um erro o seqüestro do embaixador americano durante a ditadura.

- A própria filha do embaixador me ligou e expressou simpatia pela minha candidatura. Nesses 40 anos, minha posição mudou radicalmente. Consideramos o seqüestro uma forma de luta abominável, que não deve ser usada nunca.

Outros temas foram abordados pelo candidato ao longo do dia. Ele cobrou do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que reveja a forma de financiamento de campanha, permitindo também doações pela internet. Segundo Gabeira, sua campanha custou R$4 milhões, entre grandes e pequenas doações. Estas geraram custos que poderiam ser reduzidos, caso fossem captadas através da rede.

- O dia em que o TSE reconhecer que estamos no século XXI, reconhecer a internet e admitir a captação de recursos pela rede, não vamos precisar dos grandes empresários, exceto se avaliarmos que isso é necessário - disse.

Gabeira afirmou que a cidade do Rio usou sua candidatura para mandar uma mensagem de mudança.

- O Rio sempre reserva surpresas nas eleições, sempre manda uma mensagem para o país. Aqui é onde se formam os primeiros indicativos de mudança. O Rio usou minha candidatura para mandar uma mensagem, mostrando que quer uma política mais sintonizada com os direitos coletivos, e não centrada na formação de riquezas particulares e pequenas quadrilhas. A cidade do Rio saiu vitoriosa com esta eleição. Antes, eram máquinas contra máquinas na disputa e hoje há uma vontade de lutar contra máquinas e fortunas - discursou Gabeira do alto do banco de pedra.

Para cobrar de Paes

As principais promessas feitas pelo candidato durante a campanha:
TRANSPORTE
1. Implantar o bilhete único, que permite ao usuário pegar mais de uma condução pagando só uma tarifa. Mas o sistema terá de se sustentar sozinho. "Não vou subsidiar empresas de ônibus".
2. Licitar as cerca de 400 linhas de ônibus do município e reorganizar o sistema.
3. Legalizar e licitar as linhas de vans, e regulamentar o transporte complementar.
4. Ajudar o estado a implantar a linha 4 do metrô, da Barra a Botafogo (orçada em R$1,2 bilhão).
5. Ajudar o estado a implantar o novo trajeto da linha 2 do metrô, para evitar baldeação no Estácio.
6. Fazer a ligação entre a Barra e os subúrbios de Madureira e Penha, por meio de ônibus articulados, o projeto T-5.
7. Pôr limites de velocidade diferentes à noite em áreas consideradas de risco. Também substituir os pardais por lombadas eletrônicas, visíveis. Sincronizar os sinais de trânsito.
8. Renovar a frota de ônibus para dar acesso aos deficientes.
9. Ajudar a Supervia a adquirir novos trens.
10. Regulamentar os pontos de embarque e desembarque de vans e reduzir a taxa do Darm (Documento de Arrecadação Municipal) das vans.
11. Dar meia-passagem a universitários. Criar passe livre para pessoas com tratamento continuado na rede municipal de saúde.
12. Expandir os postos GNV.
TRIBUTOS
13. Não aumentar o IPTU. Engordar a receita por meio da base de arrecadação.
14. Implantar a nota fiscal eletrônica, que permite acompanhar on line a emissão de comprovantes que geram arrecadação de ISS. O sistema é um meio de aumentar a arrecadação sem subir impostos.
15. Criar parcerias com os governos estadual e federal visando dar incentivos fiscais às empresas que empregarem o deficiente.
16. Reduzir o ISS das áreas de tecnologia, turismo e seguros. Dar benefícios tributários às cooperativas de táxi.
EDUCAÇÃO
17. Acabar com a aprovação automática nas escolas da rede municipal de ensino.
18. Aumentar a rede de creches, triplicando o número de vagas. Oferecer 160 mil vagas nas pré-escolas, colocando todas as crianças de 4 e 5 anos.
19. Usar clubes e áreas afins para atividades extracurriculares de alunos da rede municipal.
20. Instituir aulas de reforço em todas as escolas municipais, contratar mais professores e investir em qualificação e remuneração.
21. Criar o Pró-Técnico, de bolsas em cursos técnicos.
22. Ampliar a rede de vilas olímpicas e criar programas de prevenção às drogas nas escolas.
23. Ampliar o Ônibus da Liberdade (transporte gratuito a alunos).
24. Criar o Fundo Municipal de Apoio à Pesquisa.
LIXO
25. Não levar o aterro sanitário para Paciência.
26. Criar um programa de reciclagem de lixo.
FAVELAS
27. Aproveitar áreas abandonadas ao longo da Av. Brasil para construir unidades habitacionais.
28. Ampliar o PAC das Favelas nos grandes complexos, como Lins e Penha.
29. Continuar o Favela-Bairro, com adaptações para retomar a concepção original.
30. Ampliar os Pousos para fiscalizar construção em favelas. "Não vou permitir novas ocupações".
31. Para ter o apoio do candidato derrotado do PRB, Marcelo Crivella, prometeu implementar o Cimento Social, com adaptações.
32. Pôr em prática o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, para aplicar R$50 milhões, por ano, no financiamento de cem mil casas populares. Os recursos seriam garantidos com a parceria entre estado e União, além do apoio da iniciativa privada.
SAÚDE
33. Ampliar o Programa Saúde da Família, que no Rio, hoje, tem cobertura de apenas 7%. Criar 60 consultórios de Saúde da Família, funcionando em três turnos.
34. Construir 40 Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) 24 horas, com cinco milhões de atendimento por ano, retirando das filas dos hospitais 20 mil pessoas/dia. Méier e Madureira ganharão as primeiras UPAs.
35. Colocar os postos de saúde abrindo às 6h e fechando às 20h, com plantão permanente de clínicos, pediatras e ginecologistas.
36. Criar um gabinete integrado contra a dengue e um plano emergencial de combate ao mosquito. Contratar, logo, 1.850 agentes de saúde para isso. Postos de saúde e todas as unidades de saúde poderão fazer exame de sangue para diagnosticar a doença.
37. Assumir o papel de gestor pleno da saúde no município.
38. Criar um programa de atendimento domiciliar ao idoso. Criar 20 centros de convivência dos idosos. Readequar as instalações dos centros de saúde municipais pondo rampas, elevadores e outras facilidades.
39. Transformar postos de saúde em Clínicas da Família, com pediatria, ginecologia e odontologia.
40. Ampliar o programa Remédio em Casa para pacientes crônicos.
41. Construir o Hospital da Mulher, em Realengo; uma maternidade em Campo Grande, além de reativar a antiga Maternidade Leila Diniz. As gestantes que fizerem seis consultas de pré-natal vão receber um documento garantindo a maternidade onde terão o filho.
42. Construir cinco centros de reabilitação para deficientes.
43. Criar 150 equipes do Programa de Atendimento Domiciliar ao Idoso (PADI) e implantar 20 Lares do Idoso.
44. Criar 50 equipes multidisciplinares nas escolas, com pediatra, ginecologista, oftalmologista, dentista, psicólogo, fonoaudiólogo e assistente social.
45. Converter unidades de saúde do município em Centros de Referência da Saúde da Mulher, com criação de cinco destes centros.
46. Criar o Hospital do Idoso, na Tijuca.
47. Melhorar o Hospital de Acari e o Paulino Werneck (com obras começando em 2009), aumentar o atendimento do Salgado Filho e do PAM do Méier, além de reequipar todos os hospitais municipais, contratando mais médicos e enfermeiros.
48. Criar três centros de referência para obesos.
ORDEM
49. Criar uma Secretaria de Ordem Pública, para o ordenamento e o combate a pequenos delitos. No início, vai priorizar a Tijuca.
50. Criar corredores iluminados nas áreas que concentram bares e restaurantes, como a Lapa. A Guarda Municipal combaterá os flanelinhas.
51. Adaptar os espaços públicos de lazer aos deficientes.
52. Recuperar e conservar a pavimentação das ruas.
53. Iluminar adequadamente as ruas, em particular os acessos aos corredores de transporte público, aos pontos de ônibus e às estações de trem e metrô.
54. Propor à Câmara um novo Plano Diretor.
55. Construir novos abrigos para população de rua.
56. Criar um centro de cidadania em Bangu. 5
7. Criar um mergulhão sob a linha do trem de Madureira.
58. Adotar o projeto Cidade Limpa, de São Paulo, para limitar a publicidade nas ruas.
CAMELÔS
59. Ordenar, regularizar as áreas em que pode haver camelôs, dar licença e fiscalizar. Mas "a Guarda Municipal não vai bater em camelô". APACs
60. Manter as Apacs, com as normas que protegem casarões e prédios de interesse cultural. Serão complementadas com estudos de impacto de vizinhança para construções em áreas adensadas.
ADMINISTRAÇÃO
61. Manter todos os benefícios do governo atual aos servidores municipais, como carta de crédito, plano de saúde, não cobrança da contribuição previdenciária dos inativos, e dar reajuste salarial anual. Não unir a previdência municipal à do estado.
62. Criar um sistema de acompanhamento orçamentário municipal pela sociedade. Discutir o orçamento cidadão, uma versão do orçamento participativo.
63. Instituir a Secretaria municipal da Mulher.
TURISMO E MEIO AMBIENTE
64. Levar saneamento básico a 100% da Zona Oeste em parceria com o governo do estado.
65. Recuperar as praias da Baía de Sepetiba, e as lagoas da Barra e de Jacarepaguá. Dragar os canais. Retomar o projeto Guardiões dos Rios, que contrata mão-de-obra comunitária para atuar na limpeza dos rios da cidade.
66. Implantar o projeto de reflorestamento Guardiões das Matas
67. Articular com investidores privados a construção e a concessão de um centro de convenções no Aterro do Flamengo. Estimular a expansão da rede hoteleira na Barra da Tijuca. Dinamizar o Centro de Convenções da Cidade Nova.
68. Transformar o Porto e o entorno do Maracanã em áreas turísticas. Investir na promoção da cidade no país e no exterior.
69. Transformar Copacabana em capital brasileira do turismo de terceira idade.
70. Captar recursos para despoluir a bacia de Jacarepaguá.
SEGURANÇA
71. Treinar a Guarda Municipal para trabalhar em cooperação com a polícia. A Guarda terá poder de polícia para combater o pequeno delito, terá seu efetivo aumentado e trabalhará 24 horas.
72. Reformular a Guarda Municipal com o fim do regime celetista, e aumento do efetivo, além de redistribuição da força pela cidade (ênfase na Zona Norte).
73. Equipar o efetivo da Guarda Municipal com armas não-letais e rádios de comunicação.
74. Valorizar as subprefeituras e redefinir seus limites de modo que coincidam com as Áreas Integradas de Segurança Pública.
75. Ampliar o programa Bairro Bacana em parceria com o governo do estado, priorizando áreas com alto índice de crimes de rua.
76. Multiplicar o número de câmeras de vigilância nos principais acessos aos pontos turísticos. Criar um corredor de segurança para o turismo.
77. Criar em parceria com o governo do estado uma nova Delegacia de Atendimento ao Idoso em Copacabana.
78. Apoiar iniciativas de combate à homofobia.
CULTURA E ESPORTE
79. Criar o Incentivo Jovem, para identificar iniciativas culturais e esportivas.
80. Criar um parque de lazer em Madureira. Recuperar o Imperator, no Méier.
81. Manter a terceirização da gestão do carnaval, licitando-a.
82. Conceder a Cidade da Música à iniciativa privada.
83. Criar um calendário cultural, tendo, a cada mês, 12 grandes eventos.