quarta-feira, 13 de junho de 2012

Quem deve ficar preocupada com Lula é Dilma e não o PSDB, diz FHC

Em evento, ex-presidente tucano avaliou tom crítico do petista contra o PSDB como "bazófia"

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ressaltou ontem que a presidente Dilma Rousseff tem de se preocupar com a disposição de seu antecessor no Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, de voltar à Presidência da República em 2014. Em entrevista, na semana passada, ao Programa do Ratinho, o dirigente petista reconheceu que pode disputar a sucessão presidencial caso a atual presidente não queira se lançar à reeleição em 2014. No programa, Lula disse ainda que não vai permitir que um tucano volte à Presidência.

O ex-presidente tucano avaliou o tom crítico do seu antecessor petista como uma "bazófia" e lembrou que faz parte do estilo dele adotar um discurso "um pouco agressivo".

- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre teve esse discurso um pouco agressivo, é do estilo dele. Agora, depende do povo. O povo que vai decidir quem será o próximo presidente. É uma bazófia do ex-presidente, é o estilo dele de 'vou fazer' e 'vou acontecer'. Eu desconto a declaração pelo estilo dele, não é para levar ao pé da letra. Quem está preocupado não são os tucanos, mas a presidente Dilma Rousseff, ela que tem de se preocupar com essa disposição do Lula - afirmou Fernando Henrique Cardoso, após participar do painel "Os caminhos a serem percorridos pelo Brasil", no Congresso Internacional de Varejo, em São Paulo.

Mensalão

O ex-presidente tucano defendeu que o julgamento do processo do mensalão, marcado para o início de agosto, seja "objetivo" e não considerou como "o melhor caminho" a pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). Na avaliação dele, ou os tribunais são respeitados ou não há democracia no país. Fernando Henrique Cardoso afirmou ainda que houve uma tentativa de pressionar a Suprema Corte, caso for verdadeira a tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de adiar o julgamento do mensalão, em encontro com o ministro Gilmar Mendes. A pressão na democracia, de acordo com ele, é sempre possível, "o problema é o limite dela". O ex-presidente tucano discordou da tese, de alguma lideranças petistas, de que a mídia tem pressionado pela condenação dos réus do escândalo político.

- O que é preciso é que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue, que faça um julgamento objetivo. Eu não acredito que seja o melhor caminho pressionar a Suprema Corte, nem de um lado nem de outro. Uma vez nas mãos dos tribunais, ou nós respeitamos os tribunais ou não há democracia. A mídia noticia e, ao noticiar, ela procura sempre dar o outro lado. O STF tem tido a sua independência - afirmou o ex-presidente tucano.

CPI

Fernando Henrique Cardoso disse ainda que espera que o governador de Goiás, Marconi Perillo, demonstre que não cometeu irregularidades em depoimento à CPI do Carlinhos Cachoeira, no Congresso Nacional, e ressaltou que o potencial das denúncias desgastarem o PSDB vai depender da performance do governador tucano na comissão de inquérito.

- Não quero julgar a priori, espero que ele justifique. Eu espero que ele demonstre que está certo - afirmou.

Haddad

O tucano também rebateu as críticas feitas pelo pré-candidato petista à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, sobre a gestão das universidade federais na época que FHC era presidente.

"É um erro. Cada um cresce em função no que o outro fez. Se não fosse o Paulo Renato ter renovado a educação, desde a Lei de Diretrizes e Bases até o provão, não seria possível avançar. É chato cuspir no prato que você vai ter que comer."

Investimento em infraestrutura contra crise

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu na palestra a lojistas de Shopping Centers em São Paulo, que o País racionalize os gastos com a máquina pública e concentre os esforços em investimentos na área de infraestrutura. Segundo o ex-presidente, ao contrário da China, que no passado investiu em infraestrutura e atualmente incentiva o consumo da população para minimizar os efeitos da crise econômica internacional, o Brasil precisa fazer o inverso."Nós não fizemos o que a China fez: nós não investimos", concluiu FHC em seu discurso no 12º Brasilshop - Congresso Internacional do Varejo.

"Na época da bonança nós deveríamos ter investido mais em infraestrutura. Hoje todo mundo reclama que não tem estradas, os aeroportos não avançaram. São questões que não se resolve do dia para a noite", criticou FHC.

Para o ex-presidente, a arrecadação do governo federal é suficiente para que o País invista em infraestrutura e continue crescendo. "Essa massa de recursos, em boa parte, está sendo desperdiçada porque enche a máquina sem que ela tenha produtividade", avaliou. "Com a taxa de juros caindo, vai haver mais (recursos). Vai sobrar mais dinheiro para o governo federal", emendou.

De acordo com ele, o País poderia ter avançado na política de concessões, o que não aconteceu por "preconceito ideológico". "Essas coisas (ideologias) atrasam o País, impedem de crescer mais depressa", opinou.

Fernando Henrique elogiou o desempenho da presidente Dilma Rousseff na "cruzada" contra os juros altos. "Acho que, no desafio atual, a taxa de juros tinha de ser enfrentada mesmo", admitiu após fazer um resumo da trajetória econômica brasileira e da manutenção das políticas iniciadas a partir do Plano Real (1994).

Na opinião do ex-presidente, a crise internacional afetará o Brasil "até certo ponto" porque não se sabe qual será o destino da Europa diante do impasse: injetar mais recursos e recuperar a capacidade de compra da população ou aumentar o rigor fiscal. "Isso vai nos afetar não só pelas exportações, pelas linhas de crédito internacionais que podem ser abaladas, mas afeta principalmente porque a China tem na Europa um grande consumidor e portanto a China também vai parar. Tem uma diminuição significativa do crescimento e da demanda chinesa e, no nosso caso, de minério e alimentação. Então a crise mundial nos afeta", analisou. FHC acredita que Europa precisa retomar o crescimento e a economia diversificada do Brasil pode ajudar o País. "Nós aprendemos a lidar com certos fatores, como o câmbio e os juros", completou.

FONTES: O GLOBO, FOLHA DE S. PAULO E ESTADO DE S. PAULO

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