Enquanto a presidente Dilma toca bumbo para os avanços sociais, os tucanos atacam o mau desempenho da economia
Em evento de relançamento da candidatura presidencial do senador Aécio Neves, ontem em Goiânia, líderes do PSDB mantiveram o foco alto nas vulnerabilidades econômicas do governo Dilma. Visitando mais um estado governado pelo PSB, a Paraíba, em clara estratégia para dividir os aliados de seu possível concorrente, o governador Eduardo Campos, a presidente voltou a tocar bumbo para os avanços sociais. Está claro que é com este discurso que ela vai para a campanha. Mas dispensemos a batida e grosseira blague do marqueteiro James Carville, chamando de estúpido quem não percebia que seu cliente, o presidente Bill Clinton, seria reeleito pelos bons resultados econômicos em seu primeiro mandato.
É claro que a oposição brasileira, não sendo estúpida, já decifrou o jogo de Dilma e sabe que neste não levaria qualquer vantagem. É verdade que o governo tucano deu início às políticas de transferência de renda, com o Bolsa-Escola e o programas de combate ao trabalho infantil, programas que recentemente a presidente depreciou chamando de “precários”. Não menos verdade, porém, é que o governo Lula, depois de algum tempo buscando um rumo para o programa Fome Zero, um mote de campanha, unificou os antigos programas sob a legenda Bolsa Família e criou o Ministério do Desenvolvimento Social. Ali, sob Patrus Ananias, foi criada uma tecnologia social que, aliada ao crédito farto, produziu dois resultados complementares e indiscutíveis: a ascensão social de quase de 30 milhões de brasileiros que viviam na pobreza extrema e o aquecimento das micro-economias municipais, especialmente no Nordeste, contribuindo para a obtenção dos índices de crescimento do período Lula.
Dilma, a partir de 2011, lançou o Brasil Carinhoso (foco nas crianças) e mais algumas ações, unificando-as sob novo guarda-chuva, o Brasil Sem Miséria, que segundo o governo, de 2011 para cá tirou 22 milhões da miséria. O governo prepara este ano a intensificação das ações de comunicação em torno destas políticas. Mas, na economia, o governo Dilma nunca repetiu a performance da gestão anterior, apesar dos esforços que contiveram os efeitos da crise.
Neste campanha prematura que estamos vendo se desenrolar como se fosse natural, embora tenha algo de anormal, cada qual faz a pauta que lhe convém. Enquanto na Paraíba Dilma entregava casas financiadas pelo governo e tocava o bumbo social, em Goiânia os tucanos atacavam o baixo crescimento, incorporando ao discurso o novo índice do “pibinho” de 2011, 0,9%: “É inadmissível o Brasil crescer menos de 1% ao ano”, bradou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra. Jorraram críticas aos gargalos da infra-estrutura, ao custo Brasil, à carga tributária. Este é o discurso que sensibiliza os empresários, os que produzem, os que exportam. Mas, por ora, ele faz pouco sentido para as grandes massas, especialmente para os mais pobres. A não ser que a economia se mantenha na maré baixa, comece a produzir desemprego e a frustrar a arrecadação (que acaba de bater novo recorde), comprometendo as políticas sociais.
Falta ver também com que discurso virá, se sair candidato, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que tem a simpatia de boa parte do empresariado nacional, inclusive o de São Paulo. Por ora, como os tucanos, ele tem batido na tecla da economia.
Do que Dilma disse ontem, uma frase deve dar o que falar, ainda que tenha sido apenas um recurso de retórica de quem fala pouco de improviso: “Nós podemos disputar eleição, nós podemos brigar na eleição, nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”, emendando que, no exercício do mandato, todos devem se respeitar. Mas, como as campanhas presidenciais têm sido marcadas por altas taxas de veneno, quando a presidente diz que eles, os ligantes, podem fazer o diabo na campanha, todo mundo se arrepia.
Aliados em guerra
Se alguém tinha dúvida sobre o acirramento da disputa entre PT e PMDB na pré-campanha eleitoral do Rio, elas foram dissipadas na convenção peemedebista de sábado. No melhor estilo das convenções petistas, grupos de militantes atuavam na platéia, com faixas e palavras de ordem. Mas foi a delegação do Rio, patrocinada pelo governador Sergio Cabral, que mais interrompeu o discurso da presidente Dilma com a ladainha: “É União: Dilma, Cabral e Pezão”. Uma referência ao “racha” da aliança pela candidatura Lindbergh Farias. Dilma pediu que a deixassem terminar e saiu-se com esta pérola diversionista: “Eles estão animados porque o Rio está de aniversário, 448 anos”.
Craquelê gaúcho
O Rio Grande do Sul é um dos estados onde dificilmente PT e PMDB estarão juntos na campanha em que governador Tarso Genro vai buscar o segundo mandato. Até hoje, desde que a reeleição foi instituída no Brasil, no pleito de 1998, nenhum governador gaúcho conseguiu se reeleger. Os gaúchos, estes vizinhos sempre diferentes! Dilma tem um ministro do PMDB gaúcho, Mendes Ribeiro, da Agricultura, mas a ala do partido que faz oposição local a Tarso prepara a candidatura do ex-governador Germano Rigotto.
Ainda na base dilmista, o PP gaúcho está embalado com a idéia de ter, pela primeira vez, uma candidata competitiva, a senadora Ana Amélia. E o PSB acalenta a candidatura do líder do partido na Câmara, Beto Albuquerque, que até pouco tempo era secretário de Tarso e hoje é um dos principais articuladores da campanha presidencial do governador Eduardo Campos.
Embrião de coligação
O senador Armando Monteiro, do PTB pernambucano, anunciou ontem na tribuna do Senado (muito movimentada para uma segunda-feira, em sinal dos novos tempos), seu apoio à candidatura presidencial de Eduardo Campos: “Isso cansa”, disse ele referindo-se à polaridade PT-PSDB. O PTB pode ser o primeiro partido da coligação eleitoral de Campos, liderada pelo PSB.
Fonte: Correio Braziliense
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