sábado, 19 de outubro de 2024

Hélio Schwartsman - Reforma da esquerda

Folha de S. Paulo

Partidos progressistas vivem momento difícil em vários lugares do mundo, tanto por erros como por acertos

O fraco desempenho do PT e de legendas que lhe são próximas nas eleições municipais está levando muita gente a falar em crise da esquerda e a cobrar desse campo político uma espécie de reforma ou atualização de agenda.

Reluto um pouco em extrair uma mensagem inequívoca de um amontoado de pleitos locais que são, em sua maioria, decididos mais por questões de zeladoria do que de posicionamento ideológico. Mas, se olharmos para uma série histórica mais ampla de eleições e para o que está acontecendo em outros países, acho que dá para falar que a esquerda vive um momento complicado.

Gostaria de destacar dois elementos que podem estar contribuindo para essa situação, um que eu classificaria como erro e outro como acerto.

O erro, a meu ver, é que a esquerda pendeu demais para o lado das questões identitárias e com isso matou ou ao menos enfraqueceu sua bandeira maior, que era a igualdade política de todos os cidadãos.

Não estou obviamente afirmando que racismo e discriminações variadas não sejam um problema. São. Mas penso que precisamos abordá-lo com uma pegada universalista. As diferenças que existem entre as pessoas são, para usar um vocabulário aristotélico, acidentais, não essenciais como o discurso identitário parece sustentar.

O acerto é que a maior parte da esquerda dá sinais de ter aderido de verdade ao jogo democrático. Até os anos 1980 ainda era comum ouvir de esquerdistas que a democracia burguesa era uma farsa e que eles só participavam de eleições para ter uma chance de assumir o poder.

Essa desejável institucionalização da esquerda, contudo, acabou cedendo para a extrema direita o espaço de discursos de contestação e ruptura, que, talvez por uma questão hormonal, têm forte apelo estético para parte dos jovens.

Em 2022, os jovens penderam para Lula, mas neste ano eles ajudaram a impulsionar a votação de Pablo Marçal. É o que vemos em outros países. O voto dos mais novos foi fundamental para a eleição de Milei e explica os números crescentes de partidos de extrema direita em países europeus.

6 comentários:

Mais um amador disse...

" O erro, a meu ver, é que a esquerda pendeu demais para o lado das questões identitárias e com isso matou ou ao menos enfraqueceu sua bandeira maior, que era a igualdade política de todos os cidadãos. "

Ouso, ouso, fazer uma pequena """ correção """ no texto: onde está escrito " igualdade política " eu colocaria " igualdade econômica e social ", baseado no princípio da luta das esquerdas marxistas e leninistas pela extinção da propriedade privada, das classes sociais e apropriação dos meios de produção da burguesia. A igualdade política já teria sido uma conquista da burguesia a partir da Revolução Francesa e congêneres, assim como no campo do Direito nacional e internacional ao longo do século 20. Apesar de fundamental no processo de construção de sociedades mais justas, tal conquista, contudo, segundo essas esquerdas, seria insuficiente para a criação da figura do homem verdadeiramente emancipado e liberto.

laurindo junqueira disse...

Apoiado, camarada!

Mais um amador disse...

( Putz...

Esqueci de completar: NÃO sou marxista-leninista. )

Anônimo disse...

O quê?

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu só não vou dizer,envelheçam,jovens,como Nelson Rodrigues,porque envelhecer é muito ruim,rs.

Anônimo disse...

Mas envelhecer é nossa única (ou melhor) alternativa!