Revista Será?
Certo, não existe uma guerra limpa, todas são insensatas e mortais. Mas o que o presidente Donald Trump está fazendo no Caribe e no Pacífico, bombardeando barcos que circulam pelas águas próximas da Venezuela e da Colômbia e matando os seus tripulantes – criminosos ou não – é uma guerra muito suja. Na verdade, todo o seu curto governo tem sido uma grande sujeira, distribuindo intimidações, lançando chantagens e executando uma quantidade incontável de agressões e desrespeitos à maioria dos países, aliados ou adversários. Cada dia ele inventa e acrescenta um novo elemento de estresses nas relações internacionais, num movimento errático que cria instabilidade econômica e política. Sem falar nas decisões autocráticas que implementa internamente nos Estados Unidos.
Nesta “guerra às drogas”, como ele alardeia,
foram mobilizados dez mil homens, oito navios de guerra, entre submarinos,
contratorpedeiros e uma embarcação adaptada para ataque anfíbio que estão
operando na região próxima da Venezuela e da Colômbia. Com uma força
desproporcional para enfrentar pequenos barcos, o presidente dos Estados Unidos
pretende, ao mesmo tempo, intimidar e derrubar governos da América Latina,
tratando o continente como o quintal da Casa Branca. Não interessa que a
Venezuela seja governada por um autocrata violento e corrupto, que fraudou as
eleições e perseguiu os opositores, que manipula as Forças Armadas com dinheiro
do petróleo e mantêm um corpo miliciano para agredir os cidadãos. Os Estados
Unidos não podem interferir diretamente nos assuntos internos do país com
manobras militares e ingerência da CIA no território venezuelano. Os países
democráticos devem questionar a ditadura de Nicolas Maduro, protestar contra os
seus abusos, conceder apoio político e diplomático à oposição e, até mesmo,
impor sanções econômicas. Mas, devem, ao mesmo tempo, rejeitar a interferência
direta dos Estados Unidos nos assuntos internos do país. Por outro lado, em se
tratando de democracia, Trump não tem nenhuma autoridade moral para atacar a
Venezuela.
As agressões à Venezuela e à Colômbia por
tropas americanas são graves e devem merecer o repúdio internacional. No
entanto, mais inaceitável e condenável é o assassinato puro e simples de
cidadãos que navegam pelo mar do Caribe. A operação de Trump já destruiu nove
barcos – seis no Caribe e dois no Pacífico – matando 37 pessoas, sem nenhuma
prova de crime e sem que os supostos traficantes tenham reagido à fiscalização
da carga e à detenção da tripulação. Não interessa quem conduzia os barcos, as
tropas de Trump deveriam deter, investigar e, comprovando que eram criminosos,
prender e processar. Em nenhuma hipótese bombardear os barcos e eliminar os
seus ocupantes, mesmo que fossem traficantes levando drogas para abastecer o
insaciável mercado norte-americano.
Em um Estado democrático, uma operação
policial de combate ao tráfico de drogas não pode sair matando os suspeitos,
nem mesmo os comprovadamente criminosos. A polícia e a justiça devem
fiscalizar, deter os suspeitos, investigar, prender e levar a julgamento,
quando tiverem provas de atividades criminosas. Se isto é certo para operações
policiais nos países democráticos, mais ainda quando se trata de ações fora das
fronteiras nacionais. O presidente Trump se comporta como se fosse o gendarme
do planeta, atuando sem qualquer respeito às regras internacionais democráticas
e aos direitos humanos, mandando matar aqueles que, na sua paranoia, considera
como inimigos.
O mais estranho é a quase ausência de
protestos internacionais contra esta guerra suja de Trump no Caribe e no
Pacífico, como se o mundo estivesse tão perplexo diante das ações
desequilibradas do presidente dos Estados Unidos, que não consegue reagir e
denunciar os seus crimes. Mesmo as poucas reações se limitam à denúncia da
ameaça trumpista à soberania da Venezuela. O próprio governo brasileiro, que
condenou a agressão à paz da América do Sul e à soberania da Venezuela, não
parece seriamente incomodado com o uso da força militar estadunidense
destruindo barcos e assassinando supostos traficantes. A operação militar dos
Estados Unidos na região constitui, de fato, um crime contra a humanidade. E,
como tal, deve ser tratado e condenado.

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