Uma das mais instigantes palestras na XX Conferência da Academia da Latinidade que se realiza no Cairo foi a de Mia Bloom, professora de Assuntos Internacionais da Universidade de Geórgia, em Atenas, sobre a crescente importância do papel da mulher no terrorismo.
Os números são reveladores: aumentou de 8, em 2007, para 32, em 2008, o número de atentados suicidas levados a efeito por mulheres no Iraque.
O crescimento da participação de mulheres-bomba não está limitado a um grupo específico, ressalta a professora: esse padrão tem sido repetido não apenas em organizações seculares e nacionalistas, como também entre movimentos religiosos.
O comportamento dos grupos islâmicos terroristas, que inicialmente resistiam a usar mulheres em seus atentados, recusando torná-las mártires, mudou completamente, segundo as pesquisas de Mia Bloom, autora do livro “Morrendo para matar: a sedução do terror suicida”. Mesmo a AlQaeda, no Iraque, está usando mulheres crescentemente em seus atentados.
Segundo ela, a visão tradicional que atribuía a participação de mulheres a outras causas que não políticas, como depressão ou influência de um homem, está completamente ultrapassada.
Os estudos da professora Mia Bloom, que é membro do Council of Foreign Relations, entidade não partidária, com sede em Nova York, considerada a mais influente em matéria de relações internacionais nos Estados Unidos, mostram que “organizações terroristas inovadoras” estão explorando com sucesso os estereótipos ocidentais em relação às mulheres.
A violência feminina, que é vista como “aberrante e desnaturada”, tem se tornado uma maneira de as mulheres contribuírem “para o bem da nação”. Segundo Mia Bloom, as terroristas são mais “letais”, matando em média quatro vezes mais pessoas que os homens, em parte porque não são submetidas a vistorias com a mesma intensidade, e têm mais facilidade para penetrar nos alvos.
Por serem mais valiosas em termos de propaganda, as mulheres-bomba são consider a das cada vez mais uma estratégia vencedora pelas organizações terroristas, e hoje são mais necessárias do que nunca.
Segundo a professora Mia Bloom, os líderes dos movimentos terroristas fazem cálculos de custo-benefício para selecionar táticas, alvos e os operadores que são mais eficientes, e é nesse contexto que eles exploram estrategicamente os estereótipos femininos.
“O ‘útero explosivo’ tomou o lugar do ‘útero revolucionário’, que produzia e apoiava jovens extremistas, à medida que as mulheres crescentemente se tornaram terroristas suicidas”, escreve a professora.
No Iraque, de acordo com fontes militares americanas citadas por Mia Bloom, a Al-Qaeda está utilizando cada vez mais mulheresbomba, porque elas usam normalmente roupas islâmicas longas e negras, que podem esconder explosivos, e são mais difíceis de serem revistadas.
“Se as tropas invasoras dos Estados Unidos ou da Inglaterra revistam uma mulher invasivamente na fronteira ou em pontos de revista à procura de armas ou explosivos, isso vai sem dúvida provocar raiva na população masculina local.
A honra e a castidade de suas mulheres estarão em risco, e a reação negativa vai sem dúvida fazer com que a população civil se volte contra as tropas internacionais”.
Além disso, ressalta a professora, “revistar mulheres invasivamente sempre as coloca em risco, e os militares tendem a abusar de seus poderes”. Ela cita casos ocorridos em Sri Lanka e Turquia, onde revistas levaram à violação de mulheres pelos soldados e, em consequência, elas se alistaram em organizações terroristas.
Mia lembra que há uma série de bem documentados casos de mulheres no Iraque sendo abusadas sexualmente por soldados, individualmente ou na prisão de Abu Ghraib, o que tem encorajado uma propaganda da AlQaeda que atribui essas violações a um objetivo da ocupação, transformando-as em uma política do imperialismo ocidental para humilhar o mundo muçulmano.
“Qualquer abuso das mulheres pode acionar um mecanismo de radicalização e mobilização da população local pelo movimento terrorista, e o aumento da participação das mulheres nessas organizações”, diz ela.
Mas, adverte Mia Bloom, o reverso também é verdadeiro: se as mulheres ficam livres de uma revista rigorosa, tornam-se armas perigosas.
Na análise da professora, “as mulheres-bomba se tornaram a última palavra em instrumento da guerra psicológica — ninguém sabe quando ou onde vão atacar, e é crescente a ansiedade provocada, à medida que mais e mais mulheres explodem pelo mundo afora”.
Mas, mesmo com a participação das mulheres sendo cada vez mais importante para os movimentos terroristas, mesmo naquelas organizações em que elas têm a autoria da maioria dos atentados, raramente há mulheres na liderança, nota Mia Bloom.
Não há uma razão evidente para isso, mas o fato, analisa a professora, é que a participação na violência não cria mais oportunidades para as mulheres daquelas sociedades.
A professora da Universidade da Geórgia acredita, porém, que um fato mais grave está acontecendo no Iraque, à medida que as mulheres estão sendo cada vez mais revistadas por outras mulheres, para evitar constrangimentos, verdadeiros ou artificiais.
Segundo os estudos de Mia Bloom, os grupos terroristas têm se dedicado a recrutar dois novos alvos: crianças, especialmente meninas, e pessoas que ou são obrigadas a se tornarem suicidas ou mesmo não sabem que estão sendo usados para esse fim.
A perspectiva da professora Mia Bloom é sombria: “(...) Essa tendência (de uso de mulheres-bombas) continuará no futuro, e inclui cada vez mais jovens mulheres e crianças
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