Por Raquel Ulhôa
BRASÍLIA - O programa partidário do PSDB que foi ontem ao ar em rede nacional mostrou o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do partido e pré-candidato à Presidência da República, em viagem por cidades de quatro Estados brasileiros (Paraíba, Ceará, Mato Grosso e São Paulo), nos quais mostra exemplos e conversa informalmente com moradores sobre inflação, desperdício de recursos públicos, falta de infraestrutura para escoamento agrícola e educação.
Nos dez minutos do programa, que não tem efeitos especiais, aponta os problemas e deixa clara a diferença com o PT em relação ao papel do Estado. O recado do tucano é que o Estado tem que dar as condições, mas quem muda a vida do cidadão é o próprio cidadão.
"Estamos conversando com o Brasil real, ouvindo e construindo um projeto para o Brasil", afirma o presidenciável, no início do programa, que é aberto com o título de "O PSDB apresenta: Conversa com os Brasileiros".
Aécio é a única liderança do PSDB a aparecer, o que marca uma diferença em relação ao de maio, quando dividiu a tela com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin e seu antecessor, José Serra.
Em Campina Grande (PB), primeira parada, o senador conversa com a feirante Suênia sobre o aumento dos preços dos alimentos. Ela relata que fornece 150 refeições por dia e teve de aumentar preço porque comprava o quilo do feijão por R$ 3 e agora não encontra por menos de R$ 6 a R$ 7. "O lucro diminui", conta Suênia. "Vejo o governo dizendo que a inflação está sob controle", comenta o senador. No caminho para a próxima cidade, Mauriti (CE), Aécio defende o empreendedorismo, mas diz que as pessoas ficam desestimuladas com o aumento do preço dos alimentos, e conclui: "Governo tem que cuidar da economia, ter tolerância zero com a inflação."
Em Mauriti, Aécio mostra um trecho abandonado da obra da transposição do rio São Francisco e conversa com o agricultor Francisco, que se queixa da seca, diz que a obra está parada há três anos e confessa não ter "fé" de ver a água passando por ali. "Dá uma tristeza danada ver a obra do jeito que ficou", afirma Aécio ao agricultor.
A próxima cidade visita é Sorriso (MT), onde Aécio conversa com produtores rurais. "Aqui, a gente percebe o que é o Brasil hoje: da porteira para dentro, não tem país mais produtivo. O problema começa da porteira pra fora, na hora de escoar a produção", diz.
Os agricultores contam que produzem mais do que esperavam, mas o problema é a falta de infraestrutura para escoar a produção. Relatam que a previsão é que em dez anos a produção de soja, milho e algodão do Mato Grosso seja dobrada e que a estrada é a mesma há 30 anos. "Infelizmente, do ponto de vista de infraestrutura logística, o Brasil parou no tempo. Isso não pode acontecer. Está na hora de inaugurar um tempo onde o setor privado seja estimulado cada vez mais a produzir e o setor público faça a sua parte: utilizar as hidrovias que estão abandonadas, fazer as ferrovias que ficaram pelo meio do caminho e as rodovias essenciais ao desenvolvimento do país", diz Aécio.
O presidenciável termina o programa na capital de São Paulo. Lá, a conversa é com um grupo de jovens e sobre educação e ensino profissionalizante. O senador fala que o Brasil tem dois desafios: voltar a crescer de forma sustentável, para gerar emprego, e investir em educação de qualidade.
Ele cita o programa de ensino técnico do governo Alckmin, que diz considerar extraordinário. Diz que vê dois "Brasis": "Um é esse do paternalismo, do Estado que passa a mão na tua cabeça. Mas, do outro lado, é o Brasil do Henrique [o estudante que aparece], que acorda de manhã, olha no espelho, dá um sorrisão e fala "vou estudar, trabalhar, porque vou construir um tempo melhor pra mim"".
Sentado com um grupo de jovens em uma escadaria da capital, o senador conta que, ao assumir o governo de Minas, definiu a educação como prioridade e estabeleceu metas. Quando uma meta era alcançada, todo mundo que trabalhava no local recebia um salário a mais. Isso, segundo ele, garantiu um "salto de qualidade" na educação de Minas, considerada a melhor do país - segundo o Ministério da Educação, como diz.
Um tema da conversa com o grupo são as manifestações de rua. Ele pergunta o que motivou uma jovem a ir às ruas. Ela responde que decidiu ir atrás dos seus direitos. E Aécio comenta que os protestos não foram contra um partido ou um governante. Foram contra todos que fazem política.
"Está todo mundo cansado de enrolação, das mesmas promessas", diz. Ao ser perguntado por qual razão os jovens deveriam acreditar que um governo do PSDB seria diferente, Aécio dá o recado final. "Eu tenho uma visão diferente daqueles que estão no governo hoje, que acham que o Estado faz tudo pra você. Eu acho que quem muda o Brasil é você."
Fonte: Valor Econômico
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