Valor Econômico
Ibovespa costuma ter altas excepcionais no
início de governos
Muita gente pagaria um milhão de dólares ou
mais por um conselho certeiro sobre o melhor investimento no mercado financeiro
para o ano que vem. O problema é que essa indicação certeira não existe,
especialmente neste momento conturbado.
Não sabemos quem será o próximo presidente
da República, embora as pesquisas mostrem o ex-presidente Lula bem à frente.
Há também incerteza enorme sobre o próprio
rumo da democracia brasileira, ameaçada pelo autoritarismo do atual presidente,
que já deixou clara a intenção de contestar o resultado das urnas caso não seja
reeleito.
Além disso, seja quem for o eleito, não dá para prever exatamente qual será sua política econômica, se ela vai favorecer mais os investimentos conservadores ou os de maior risco.
Por fim, o cenário mundial também é
ameaçador e incerto. Pode haver uma recessão global, decorrente da guerra da
Ucrânia. Mas um eventual acordo de paz mudaria completamente o humor dos
mercados mundiais, com óbvias repercussões no Brasil.
Apesar dessas ressalvas - e há várias
outras que não cabem neste espaço -, talvez interesse aos investidores mais
estudiosos dar uma olhada no que ocorreu em três indicadores importantes do
mercado financeiro (juros básicos, dólar e Ibovespa) nos últimos sete governos
brasileiros.
Chama a atenção nessa olhada uma repetição
instigante no comportamento da Bolsa de Valores nos inícios de mandatos. As
cotações têm sempre fortes altas no primeiro e/ou segundo ano, com uma exceção,
no primeiro governo Dilma Rousseff.
Os gráficos ao lado, preparados pelo
economista Robinson Moraes, do Valor Data, mostram as médias desses indicadores
em cada um dos mandatos desde o de FHC, iniciado em 1995, até o de Bolsonaro,
em 2019.
Durante a era FHC, por exemplo, a bolsa
subiu em média 18,5% no primeiro mandato e 28,3% no segundo. No segundo ano do
primeiro governo do tucano, porém, o Ibovespa deu um salto espetacular, de
63,8%. Mais sensacional foi a alta no primeiro ano (1999) do segundo mandato de
FHC, de 152%.
Com Lula não foi diferente. No primeiro ano
do seu primeiro mandato, 2003, o Ibovespa subiu 97%. No segundo mandato, no
primeiro ano (2007), a alta foi de 44%.
No primeiro mandato de Dilma ocorreu a
exceção. A bolsa teve péssimo desempenho no primeiro ano, tendo alta apenas no
segundo, de modestos 7,4%. Mas no segundo mandato, a recuperação foi
excepcional quando Temer assumiu: 39% em 2016 e 27% em 2017. Com Bolsonaro, o
Ibovespa subiu 32% no primeiro ano, 2019.
Esse grafismo significa que em 2023 e/ou
2024, primeiros anos do próximo mandato presidencial, vai haver uma escalada
das cotações de ações? Não necessariamente. É bom observar, porém, que vários
analistas internacionais afirmam que “o Brasil está barato”. Ou seja, a cotação
das ações das companhias negociadas na bolsa não reflete o real valor das
empresas.
Claro que as condições econômicas, tanto
internas quanto externas, são muito preocupantes neste momento de início de
campanha eleitoral. A possibilidade de recessão global e a alta dos juros aqui,
nos EUA e na Europa, entre outros fatores, concorrem para desestimular
investimentos de risco.
De qualquer forma, essa incontestável
tendência de alta da bolsa no início dos governos, em seis dos sete últimos
mandatos, talvez reflita, em parte, um viés exageradamente pessimista do
investidor brasileiro, que sempre enxerga catástrofes econômicas quando se
aproxima a hora da troca de governo. Porém, ao perceber que os novos gestores
públicos tomaram posse e “o país não acabou”, volta a apostar nos resultados
das empresas.
Ao escolher uma ação, o investidor pode
levar em conta duas das principais escolas de análises, a fundamentalista e/ou
a técnica (grafista). A primeira analisa o balanço da empresa, sua saúde
financeira, endividamento, patrimônio líquido etc. A segunda, leva em conta
gráficos do desempenho da ação, de maneira a prever possíveis tendências no
preço do papel com base em oscilações passadas.
Mas as análises, obviamente, devem
considerar as perspectivas da economia em que as empresas estão inseridas. E,
também nesse caso, pode-se adotar a escola fundamentalista ou a grafista.
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A elaboração dessas tabelas com os dados de Selic, dólar e Ibovespa foi
sugerida pelo financista e professor Petrônio Barros, que sentiu falta dessas
comparações ao ler a coluna de 12/7, que trazia indicadores macroeconômicos e
sociais dos últimos oito governos, desde Collor até Bolsonaro. Desta vez, não
pareceu razoável incluir estatísticas do governo Collor/Itamar, porque foram
anos de grave crise política, equivocados planos econômicos e desarrumação
total do mercado financeiro e da economia.
Recomendação final ao leitor/investidor do
jornal impresso: veja na coluna online as tabelas completas de Ibovespa, dólar
e Selic, ano a ano, desde FHC até Bolsonaro. E tire suas conclusões.
Um comentário:
Gostaria que ilustra o jornalista a
Comentasse a última pesquisa da Brasmarket, publicada ontem, que demonstra sua metodologia de forma clara e objetiva e que no final
Bolsonaro 39. 8%
Lula 33.1%
Pela primeira vez uma pesquisa coloca Bolsonaro a frente do Lula acima da margem de erro
Ele já é maioria nas mulheres, nos que ganham até um salário mínimo e entre católicos e evangélicos
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