terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Opinião do dia – Frei Caneca

Quem bebe da minha "caneca" tem sede de liberdade!
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Frei Caneca, líder da Revolução Pernambucana de 1817, condenado e fuzilado em 13 de janeiro de 1825

Governo reduz subsídio, e luz deve subir duas vezes

Realismo tarifário

• Governo corta R$ 9 bilhões em subsídio, e conta de luz deve subir duas vezes neste ano

Danilo Fariello, Martha Beck – O Globo

Ajuste no setor elétrico

BRASÍLIA - O governo decidiu suspender os aportes do Tesouro ao setor elétrico, que este ano chegariam a R$ 9 bilhões, segundo previsão do Orçamento. Com isso, a conta de luz pode ter dois reajustes em 2015. Caso as distribuidoras não consigam cobrir seus custos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai autorizar revisão extraordinária das tarifas. A crise do setor elétrico foi discutida em reunião da presidente Dilma Rousseff com os ministros de Minas e Energia, Eduardo Braga, e da Fazenda, Joaquim Levy. Ficou decidido que o governo vai dar aval a um último empréstimo, de R$ 2,5 bilhões, às distribuidoras, que será negociado com um grupo de bancos e, a partir daí, será praticado o que o governo chama de "realismo tarifário". Ou seja, os custos de energia serão repassados ao consumidor, com exceção de algumas categorias que continuarão sendo subsidiadas, como a baixa renda.

- Há um compromisso do modelo de subsidiar o consumidor de baixa renda, o Luz Para Todos, e uma série de ações. Esses subsídios serão mantidos. Agora, não haverá pressão sobre o Tesouro, porque nós estaremos tomando medidas estruturantes na CDE (Conta de Desenvolvimento Energético, canal pelo qual o governo vinha fazendo aportes no setor), que é a base de tudo - disse Braga. - A orientação está dada para que nós possamos implementar uma política estruturante (ao setor elétrico) - completou, ao retornar para o ministério, após a reunião no Palácio do Planalto.

O diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, que também participou da reunião, disse que as medidas serão adotadas tendo em vista a aplicação de um "realismo tarifário" que torne o setor sustentável.

- Ou o contribuinte paga ou o consumidor paga. Quem define a política é o governo, como o ministro já explicou. A Aneel executa. A sinalização que nós temos é que não haverá esse aporte - afirmou Rufino.

Solução negociada
Segundo fontes da equipe econômica, a solução encontrada para o setor elétrico foi uma forma de contentar tanto o ministério da Fazenda quanto o de Minas e Energia:

- Foi uma solução de contento que satisfaz as duas pastas - disse um técnico.

A maior preocupação da Fazenda era que não fosse feito apenas mais um empréstimo para resolver um problema emergencial do setor elétrico. Por isso, o que foi acertado entre a presidente Dilma e os ministros Levy e Braga, é que o novo empréstimo (que o governo espera ser o último) será negociado em novas bases depois que a Aneel fizer um estudo detalhado sobre a reestruturação tarifária do setor.

- O novo empréstimo vai ser em novas bases. Isso desata o nó do setor elétrico - disse o técnico. - Do que saiu da reunião, o mais importante é que não haverá mais custos para o Tesouro. As tarifas vão refletir custos reais das distribuidoras - afirmou outro integrante do governo.

Rufino defendeu que a tarifa seja "realista":

- (Adotar medidas estruturantes) é fazer o que precisa ser feito para que a sustentabilidade econômico-financeira do setor seja preservada. É o mecanismo que se usa. Você tem o processo tarifário ordinário ou o extraordinário. É uma situação extraordinária. (&) Você precisa ter uma sustentabilidade dentro do próprio setor elétrico. A forma é ter uma tarifa realista que represente o efetivo custo do setor elétrico.

No dia 20 de janeiro, a Aneel deverá colocar em consulta pública a previsão de orçamento da CDE. Sem esse subsídio, a previsão é de que o déficit da CDE aumente, o que, na visão de Rufino, justificaria um pedido de revisão extraordinária pelas distribuidoras, uma vez que esses custos não eram previstos anteriormente:

- Não agrada a ninguém ter que aumentar tarifa, mas também não adianta viver em um mundo de ilusão. Se o custo efetivo está em outro patamar, a única forma de aumentar a sustentabilidade é encontrar um realismo tarifário. É inevitável, com esse cenário de variação do custo da CDE, que tenhamos revisões extraordinárias (de tarifas).

Segundo Braga, o empréstimo de R$ 2,5 bilhões que será contratado junto ao mercado financeiro para sanar dívidas referentes a novembro e dezembro para as distribuidoras de energia ainda será negociado junto aos bancos pelo governo federal. Bancos privados e públicos já emprestaram R$ 17,8 bilhões ao setor elétrico no ano passado. Além dos custos da energia, o início do pagamento desses empréstimos em 2015 também pressionará as tarifas neste ano.

Pagamento bilionário adiado
A diretoria colegiada da Aneel aceitou prorrogar de hoje para 30 de janeiro o pagamento de R$ 1,054 bilhão a ser efetuado pelas distribuidoras de energia no mercado de curto prazo de energia elétrica, em decisão unânime tomada ontem. A prorrogação foi feita a pedido de governo e das empresas, para ganharem tempo em busca de uma saída para a crise do setor.

O valor indicado pela Aneel é parte do total da dívida das distribuidoras, de R$ 1,603 bilhão, com vencimento em janeiro. A parte desse pagamento que não está incluída na decisão da Aneel e também foi adiada refere-se a negócios bilaterais firmados pelas empresas, que não fazem parte do mercado de curto prazo e, portanto, não necessitam de um parecer da agência reguladora.

A crise do setor é resultado de interferência política, falta de chuvas e atraso em investimentos. Em meados de 2012, o governo decidiu forçar uma queda no preço da energia elétrica para famílias e empresas, por meio da renovação de concessões de empresas do setor. No ano seguinte, o país foi afetado pela falta de chuvas e aumento de consumo e diversas obras do setor elétrico atrasaram. Em 2014, a estiagem ficou mais forte e os reservatórios de algumas hidrelétricas chegaram ao pior patamar desde o racionamento de 2001. Assim, a conta de uso das termelétricas, que já era alta, aumentou.

Economistas elevam previsão de inflação

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA Apesar da promessa do Banco Central (BC) de que fará tudo para controlar a inflação, economistas do mercado financeiro aumentaram - pela segunda vez seguida - a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano, de 6,56% para 6,6%. Com isso, a estimativa para a inflação oficial fica cada vez mais distante do limite máximo da meta estipulada pelo governo (6,5%).

Para piorar o quadro do primeiro ano do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, os analistas avaliam que a economia não crescerá nem mesmo 0,5% em 2015. Segundo a pesquisa Focus, sondagem semanal que o BC faz com as principais instituições financeiras instaladas no Brasil, a expectativa de crescimento neste ano caiu de 0,5% para 0,4%. Também foi a segunda revisão para pior feita pelos entrevistados.

Outro ajuste foi feito na projeção para a expansão da atividade industrial: diminuiu de 1,04% para 1,02%. Apesar de menor que a previsão da semana passada, o número, se confirmado, pode representar uma recuperação, já que o setor encolheu em 2014. O dólar mais caro beneficia o exportador e pode ajudar na recuperação da indústria. E a perspectiva do mercado é que a moeda americana custe, em média, R$ 2,72 no ano. A aposta da semana passada era de R$ 2,71. Para o fim do ano, o palpite é R$ 2,80.

Moeda americana mais cara representa, entretanto, pressão sobre a inflação. Além disso, o preço das tarifas de serviços públicos também deve pesar no bolso. A previsão para o aumento dos chamados preços administrados (controlados pelo governo) subiu de 7,85% para 8%. A projeção dos economistas é que o governo terá de repassar reajustes de tarifas represadas desde 2013, como luz e ônibus.

Para 2016, os analistas mantiveram as principais estimativas. Inflação de 5,7%, por exemplo, mesmo com a promessa do presidente do BC, Alexandre Tombini, de fazer o IPCA chegar ao centro da meta (4,5%) em dezembro. A perspectiva para o crescimento do país também ficou intacta: 1,8%.

Consumidor terá reajuste extra de energia

• Governo decide que Tesouro não vai mais injetar recursos no setor neste ano e que rombo será repassado para tarifa

• Dilma autoriza ainda a negociação de um último empréstimo para distribuidoras, a fim de cobrir buraco de R$ 2,5 bi

Júlia Borba, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo Dilma Rousseff decidiu nesta segunda (12) que o Tesouro não fará mais injeções de recursos no setor elétrico em 2015. Os gastos serão custeados principalmente pelo consumidor, na forma de aumento da conta de luz.

Esses custos poderão ser repassados por meio de um reajuste extra ou se somar ao aumento anual de tarifa da distribuidora.

Foi autorizada ainda a negociação de um último empréstimo bancário para as distribuidoras, que terão de pagar dívida de R$ 2,5 bilhões, referente a 2014, nos próximos dois meses --conforme antecipado pela Folha.

Em reunião com Dilma, os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Eduardo Braga (Minas e Energia) chegaram a uma solução consensual.

Em 2014, até novembro, o fundo do setor elétrico gastou R$ 12,1 bilhões. Desse montante, R$ 9 bilhões vieram do Tesouro. A previsão orçamentária de 2015 incluía outros R$ 9 bilhões.

Esse fundo, a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), é responsável por pagar, por exemplo, programas como o Luz para Todos, a subvenção a consumidores de baixa renda e incentivos para fontes alternativas de energia.

Para tentar reduzir o valor que vai para a conta de luz, o governo vai dar início a uma revisão das despesas programadas. A ideia é enxugar a CDE, eliminando alguns dos subsídios bancados por ela.

Segundo Braga, o governo manterá os principais programas, como subsídio à baixa renda e ao carvão mineral --importante para o Sul-- e o Luz para Todos. Os demais estarão sob análise. "Não haverá pressão sobre o Tesouro."

Também participou da reunião com a presidente Dilma, no Planalto, o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, encarregado de definir a reestruturação da CDE e o percentual de aumento sobre as tarifas. Todas essas definições serão apresentadas no dia 20.

Intervenções
Dilma foi a principal defensora da lei que, em 2012, alterou regras para tornar possível uma redução média de 20% nas tarifas de energia.

Desde então, a conta vem sofrendo aumentos regulares via reajustes aprovados pela Aneel, que levam em consideração não só a inflação mas outros custos, como pagamento elevado com térmicas, ligadas por causa da seca que prejudicou os reservatórios.

"Não vi aborrecimento [na presidente Dilma]", disse Rufino. "O que o Tesouro e a Fazenda têm sinalizado é a busca pelo realismo tarifário", afirmou. "Não agrada a ninguém ter que aumentar tarifa. Mas não adianta viver em um mundo de ilusão", disse o diretor-geral da agência.

Os empréstimos ao setor têm como objetivo ajudar as distribuidoras a pagar suas dívidas com as geradoras.

Só em 2014, foram emprestados R$ 17,8 bilhões para pagar essa conta. Outros R$ 700 milhões saíram do caixa das empresas. Faltou quitar as despesas dos últimos dois meses do ano, que vencem em janeiro e fevereiro.

Neste ano, há ainda outra novidade, que é o sistema de bandeiras tarifárias. Por meio dele, a tarifa é corrigida mensalmente aplicando aumentos caso o uso das térmicas esteja muito acentuado.
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Planalto aproveita posse na Cultura para tentar demonstrar unidade e isolar Marta

• Dilma ordena e 11 ministros comparecem à transmissão do cargo para Juca Ferreira, para quem a senadora petista ‘quis atirar em Deus e acabou acertando no padre de uma paróquia’

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Numa ação combinada para mostrar unidade do governo e isolar a senadora Marta Suplicy (PT-SP), 11 ministros compareceram ontem à posse do novo titular da Cultura, Juca Ferreira. A ordem para prestigiar Juca e ignorar publicamente as críticas de Marta partiu da presidente Dilma Rousseff. Coube apenas ao novo ministro desqualificar os ataques da antecessora, porque, na avaliação de Dilma, tratava-se de ofensa contra a honra, que precisava ser respondida.

"Eu sou um alvo eventual. Marta quis atirar em Deus e acabou acertando no padre de uma paróquia", disse Juca. "O problema dela é com o PT, com a presidente da República e com o desejo já de algum tempo de ser candidata. Ela está manifestando um mau humor."

Em entrevista publicada pelo Estado no domingo, Marta criticou Dilma, apontou "desmandos e irregularidades" na gestão de Juca quando ele foi ministro do governo Lula (2008 a 2010), chamou o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de "inimigo" e disse que o presidente do PT, Rui Falcão, "traiu o partido". Na avaliação de Marta, "ou o PT muda ou acaba".

Dilma ficou indignada com a ex-ministra, que quer ser candidata à Prefeitura de São Paulo em 2016 e sabe que não terá espaço no PT. Motivo: o partido já definiu que o prefeito Fernando Haddad disputará a reeleição.

Para dirigentes petistas, a sucessão de ataques de Marta indica que o desejo dela é criar um fato consumado para deixar o PT e ser candidata por outro partido.

Ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos ontem pelo Estado disseram que dificilmente a Corte teria o entendimento de que a mudança de legenda levaria um ocupante de cargo majoritário, como a senadora, à perda de mandato por infidelidade partidária.

No fim de semana, após ler a entrevista, Dilma conversou com Mercadante, que também falou com Falcão. O presidente do PT esteve ontem no Palácio do Planalto e se encontrou com o chefe da Casa Civil. Lula ainda está em férias, mas petistas o acionaram por telefone.

A estratégia é não dar holofotes para Marta. No diagnóstico de ministros da coordenação de governo, o "diz-que-diz-que" só serve para expor fraturas no PT e no Planalto, alimentar intrigas sobre o relacionamento entre Dilma e Lula e desgastar Haddad.

"Se ela (Marta) quer ir embora, que vá com Deus", disse a presidente, segundo relato obtido pela reportagem. Depois da posse de Juca, Mercadante se recusou a comentar a ofensiva de Marta. "O discurso do Juca fala tudo. Ele fez um belíssimo pronunciamento", esquivou-se.

‘Volta, Lula’. Ao Estado, Marta contou que articulou o movimento "Volta, Lula" com o aval do ex-presidente. De acordo com a senadora, Lula dizia que Dilma não ouvia ninguém e desejava ser candidato, mas preferiu não enfrentar a sucessora.

Para ela, Mercadante "mente" ao afirmar não ter intenção de disputar a Presidência, em 2018, porque "Lula é o candidato do coração da militância", como o ministro disse ao Estado em outubro e em dezembro.

A senadora também revelou ter enviado à Controladoria-Geral da União (CGU) documentos sobre irregularidades em parcerias de R$ 105 milhões, firmadas pelo Ministério da Cultura na primeira gestão de Juca. O ministro rebateu a acusação.

"Eu me senti agredido pela irresponsabilidade com que ela tratou uma pessoa honesta, com quase 50 anos de vida pública", respondeu Juca, que confessou ter sido admirador de Marta nos anos 1980. "Quando eu voltei do exílio, ela tinha um programa de TV e fiquei fã dela por sua coragem em defender a sexualidade feminina e o direito ao orgasmo, coisa que era um tabu", contou. "Depois, minha admiração cresceu quando ela foi prefeita. Mas ela não foi tão boa ministra."

No Planalto, ministros observaram que Marta nunca falou para Dilma o que disse na entrevista nem discutiu esse assunto internamente no PT.

Para Marco Aurélio Carvalho, amigo de Marta e coordenador do Setorial Jurídico do PT, as críticas da senadora não devem ser superdimensionadas. "O PT cresceu com as divergências e a história de Marta e do partido se confundem. Ela é um grande quadro, que merece nosso reconhecimento. Espero que tudo fique no campo do debate político."

A direção do PT vai buscar pontes de diálogo com Marta. Um dos cotados para a tarefa é o presidente do diretório paulista, Emidio Souza, que está em férias. Emidio deve conversar com a senadora e, caso seja confirmada a intenção dela de deixar o PT, pode ajudar a construir uma saída amigável - de preferência, para um partido aliado. / Colaboraram Ricardo Galhardo, Ricardo Brito e Ricardo Della Coletta

Petistas rebatem ataque de Marta, mas partido não deve puni-la

• Para colegas, ex-prefeita busca pretexto para justificar saída da sigla

Fernanda Krakovics e Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA - As críticas ao governo Dilma Rousseff e ao PT, feitas pela senadora e ex-ministra Marta Suplicy (PT-SP), em entrevista publicada no último fim de semana no jornal "O Estado de S. Paulo", foram ontem o pano de fundo da cerimônia de transmissão de cargo para o novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, um dos alvos da petista. Integrantes do PT presentes à cerimônia condenaram as declarações de Marta, que defendeu abertamente o "Volta, Lula", disse que o ex-presidente está "extremamente incomodado" com Dilma e que o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) é "inimigo do Lula".

Na série de ataques, a ex-ministra concluiu dizendo que "ou o PT muda ou acaba". As críticas provocaram mal-estar nas fileiras internas do partido. No entanto, ela não deverá ser punida pelas instâncias partidárias.

O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) considerou a entrevista um "desastre total", e avaliou que ela teria sido motivada pelo desejo de Marta de disputar a prefeitura paulistana. O PT, no entanto, pretende lançar Fernando Haddad à reeleição.

- Achei um desastre total. Na verdade as críticas têm mais a ver com a sucessão na cidade de São Paulo do que com os temas nacionais - afirmou Bittar.

Preocupação com mandato
Já no fim da entrevista, Marta analisou a ampla vitória de Aécio Neves em São Paulo como resultado de um voto "anti-PT, pelos desmandos que o PT tem perpetrado nesses anos todos".

Ontem, o secretário-geral do partido, deputado Geraldo Magela (DF), tentou minimizar.

- O PT é uma metamorfose ambulante, estamos sempre mudando. Se for isso, então não tem problema - disse ele.

Líderes do partido ouvidos ontem pelo GLOBO descartaram a possibilidade de uma punição à ex-ministra. No partido, há quem acredite que o objetivo de Marta é gerar uma crise interna que justifique legalmente sua saída do PT. Assim, ela poderia preservar seu mandato, já que, pela regra da fidelidade partidária estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o mandato pertence ao partido, a menos que haja justa causa, como "grave discriminação pessoal".

Ataques a Juca Ferreira
O ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), um dos mais próximos de Dilma, não quis comentar:

- Só falo sobre o Juca. Ele será um excelente ministro, fará excelente trabalho, foi uma excelente escolha.

Na entrevista, Marta citou pela segunda vez "desmandos" de Juca quando ele foi ministro da Cultura de 2008 a 2010.

- Para criticar o Juca tem que dizer do que se trata. O Juca foi uma boa escolha, assim como a Marta foi anteriormente. É errado esse método, tem que dizer qual foi o desmando - disse o deputado Nilmário Miranda (PT-MG).

Um dos alvos de Marta, Mercadante se recusou a fazer comentários ao deixar a solenidade no Ministério da Cultura.

Em conversas reservadas, Marta tem listado fatos que, na sua opinião, configuraria "grave discriminação pessoal". Os principais motivos citados por ela para deixar o partido, segundo pessoas próximas, seriam as vezes em que foi preterida na disputa interna. Isso aconteceu em 2006, quando o PT preferiu lançar Mercadante ao governo de São Paulo, e em 2012, quando foi pressionada a retirar seu nome em favor de Haddad para a prefeitura.

- Ela está muito magoada e isso faz parte da política. Acho que é fruto de um acúmulo de descontentamentos que vem sentindo desde a eleição passada. Mas Marta tem espaço para fazer a disputa política dentro do partido se ela quiser. Acho que o PT deveria ter uma meia dúzia de Martas, só não concordo com ela ter usado a mídia para falar. Poderia ter feito isso nas instâncias partidárias - disse Francisco Rocha, coordenador da tendência Construindo um Novo Brasil, da qual Marta faz parte.

- Discussões dentro do partido são naturais e próprias do sistema democrático. Pode-se discutir se o formato é o correto ou não. Não enxergo uma estratégia jurídica para avalizar um desligamento do partido - afirmou Hélio Silveira, especialista em direito eleitoral. (Colaboraram Julianna Granjeia e Tatiana Farah)

PMDB do Senado sonda petista para enfraquecer Temer

• Marta recebeu convite da bancada da legenda em jantar na casa de Renan Calheiros; senadora é alvo ainda de PDT, PSB e SD

Ricardo Brito, João Domingos, Daiene Cardoso e Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a provável saída da senadora Marta Suplicy (SP) do PT, partidos aliados da presidente Dilma Rousseff, como PMDB e PDT, e também da oposição, caso do PSB e do Solidariedade, disputam sua filiação.

O objetivo é lançá-la candidata a Prefeitura de São Paulo em 2016. Em uma ação para tentar diminuir a influência do presidente do PMDB e vice-presidente, Michel Temer, a bancada peemedebista do Senado já fez um convite informal à petista.

A oferta de filiação foi feita durante um jantar em dezembro na casa do presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), com seu grupo político. Feito o convite, Marta respondeu que estava avaliando a conjuntura política e que, àquela altura, não tinha conversado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre seu futuro. Afirmou ainda estar “magoada” com o tratamento que tem recebido do PT. Mas ficou de dar um posicionamento aos presentes quando tomasse uma decisão.

Uma eventual ida de Marta para o partido diminuiria o poder de Temer em São Paulo, seu berço político. A avaliação dos senadores peemedebistas é que o vice-presidente saiu fortalecido na reforma ministerial em detrimento das bancadas do Senado e da Câmara. Também creditam a Temer parte do fracasso por resultados eleitorais em outubro, como em disputas a governos estaduais. Articulam ainda um nome para suceder-lhe no comando do partido em março do próximo ano.

Contudo, a ação dos peemedebistas do Senado esbarra em acertos locais. O PMDB paulistano já fechou apoio à reeleição do prefeito Fernando Haddad. O deputado federal e presidente do PMDB na capital, Gabriel Chalita, assumiu recentemente a Secretaria Municipal de Educação e deverá ser o vice de Haddad. Marta também conversou em dezembro com outro partido aliado, o PDT.

Segundo relato do presidente da legenda, Carlos Lupi, ela demonstrou desconforto com o espaço limitado que tinha no PT e os dois ficaram de retomar o diálogo neste mês. A vantagem seria oferecer a ela uma plataforma mais à esquerda. Mas uma possível filiação passaria pela postura a ser adotada por Marta no Senado até o pleito. Como o PDT é da base de apoio da presidente Dilma Rousseff, ela não poderia atuar como oposição. No máximo, independência.

Fora da base aliada, uma possibilidade para Marta seria o bloco PSB, Solidariedade e PPS. Na conversa com o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, ela ouviu que o bloco deve atuar junto nas eleições de 2016, o que lhe garantiria um bom tempo de televisão. No caso do PSB, a sondagem também já ocorreu, conforme relatos.

PT articula reação aos ataques de Marta

Andrea Jubé – Valor Econômico

O PT articulou uma reação conjunta às declarações da senadora e ex-ministra Marta Suplicy, que abriu fogo contra o partido e contra suas principais lideranças, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os principais alvos de Marta não responderam diretamente aos ataques, mas escalaram aliados para mandar recados. Em um gesto calculado, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, prestigiou a posse do novo ministro da Cultura, Juca Ferreira: ambos atingidos pelos disparos de Marta.

A presença de Mercadante foi simbólica: foi a única transmissão de cargo, entre os 24 novos ministros, a que ele compareceu. Estavam ao lado dele os ministros Jaques Wagner, da Defesa, Carlos Gabas, da Previdência Social, Pepe Vargas, da Secretaria de Relações Institucionais, Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da Presidência, e Tereza Campello, do Desenvolvimento Social - todos do PT. O Valor apurou que houve uma ação conjunta dos petistas para prestar solidariedade ao novo ministro e mostrar repúdio, embora silencioso, aos ataques ao partido.

Na dura entrevista que Marta concedeu ao jornal "O Estado de S. Paulo", ela disparou contra Dilma, Lula, Mercadante, Juca, o presidente do PT, Rui Falcão, e o marqueteiro João Santana. Ela chamou o chefe da Casa Civil de "inimigo", Falcão de traidor e afirmou que o PT foi covarde ao não defender a candidatura de Lula à sucessão presidencial, no lugar de Dilma. Disse, ainda, que Mercadante mente ao negar que seja pré-candidato à Presidência da República. Sobre Juca, disse que sua gestão anterior na pasta "foi muito ruim", e que encaminhou denúncias contra ele à Controladoria Geral da União (CGU).

O ex-ministro Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula e um dos nomes mais próximos ao ex-presidente, minimizou os ataques. Negou que Lula tivesse incentivado o movimento para que fosse candidato no lugar de Dilma. "Eles (Lula e Dilma) continuam tão próximos quanto antes, com tanta amizade pessoal, carinho e compreensão política", afirmou, ao final da posse de Juca.

"Foi muito ruim para o partido", reconheceu o vice-presidente do PT Alberto Cantalice. Mas ele aponta um "excesso" nas críticas, já que Marta nunca teria procurado dirigentes do PT para manifestar sua insatisfação. Cantalice lembra que Marta já ocupou vários cargos (prefeita de São Paulo, deputada, senadora) e disputou várias eleições pelo PT. Por isso, não poderia reclamar de falta de espaço no partido.
Embora lideranças do PT tenham vindo a público defender os alvos de Marta, ela externou um descontentamento que persiste nos subterrâneos petistas. Lulistas atribuem ao chefe da Casa Civil - que conduziu a quatro mãos com Dilma a reforma ministerial - supostas injustiças na montagem do novo governo. Entre elas, o fato de Jaques Wagner ter sido alijado do Palácio do Planalto. Lula o queria, preferencialmente, na cadeira de Mercadante, mas como isso não seria possível, tentou emplacá-lo na Secretaria Geral. Wagner acabou na Defesa. Os insatisfeitos também atribuem à falta de empenho de Mercadante frustrações de Lula e do PT na reforma, como o partido não levar o Ministério do Trabalho nem o Esporte nem a Integração Nacional - esta um pleito dos três governadores petistas na Região Nordeste.

Um dirigente petista disse ao Valor, em condição de anonimato, que Marta demonstra ressentimento e desespero, porque deu as declarações quando Lula acaba de costurar o apoio do PMDB à reeleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ao levar Gabriel Chalita para a Secretaria de Educação. Esse movimento restringiria os caminhos para Marta, que pretende se candidatar à prefeitura, e negocia com PSB, PV e PPS nos bastidores.

Na avaliação deste petista, que transita na cúpula partidária, se realmente Marta pretende deixar o PT, deveria fazê-lo sem queimar pontes. "Se ela pretende ser expulsa, não adianta que não será", avisou. A expulsão livraria a petista de um processo de cassação do mandato. Adverte que Marta pode ter o mesmo destino da deputada reeleita e ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), que não se elegeu mais para um cargo majoritário depois de romper com o PT.

Pemedebista procura Aécio para barrar Renan

Raquel Ulhôa – Valor Econômico

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), conversa hoje com o colega Ricardo Ferraço (PMDB-ES), sobre a eleição da Mesa Diretora do Senado, que será em 1º de fevereiro. Com atuação independente do Palácio do Planalto, Ferraço é um dos nomes do PMDB que a oposição cogita apoiar, para evitar a reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL). O catarinense Luiz Henrique também é cotado e, como Ferraço, não descarta eventual candidatura.

PSDB e do DEM, partidos de oposição ao governo Dilma Rousseff, estão decididos a lançar um candidato, mas o nome não foi definido. O ideal é que seja do PMDB, porque, como partido que tem o maior número de senadores (19, a partir de fevereiro), tem direito de comandar a Casa. Mas o candidato precisa ser eleito no plenário.

"Vamos fazer uma análise de conjuntura, de cenário. Vou avaliar as condições objetivas. Essa não é uma conversa proibida. Eu sou uma pessoa livre e independente para conversar sobre o que quiser com quem quiser ", disse Ferraço ao Valor, sobre o encontro com Aécio, marcado para hoje, no Rio de Janeiro. O passo seguinte será discutir o assunto com o líder da sua bancada, Eunício Oliveira (CE).

Na eleição presidencial, Ferraço não seguiu a orientação nacional do PMDB e coordenou a campanha de Aécio no seu Estado.

Luiz Henrique, ex-governador de Santa Catarina e ex-presidente nacional do PMDB, considerado por setores da oposição como nome forte para comandar o Senado, também está mantendo entendimentos sobre a eleição. "Estou sendo procurado por senadores de vários partidos. Não descarto nada. Mas vou conversar com mais colegas e na última semana de janeiro vou anunciar minha posição", afirmou.

O presidente e líder do DEM, José Agripino (RN), garante que, "em qualquer circunstância", a oposição apoiará uma candidatura. Historicamente, a oposição lança adversário ao candidato oficial, ao menos para marcar posição. Em 2013, Pedro Taques (PDT-MT) concorreu com Renan. Agripino, então no PFL, disputou em 2007 e perdeu também para o alagoano.

"Não apoiaremos um candidato oficial do Palácio do Planalto. Vamos ter uma candidatura que não seja claramente alinhada com o governo. No mínimo, independente. De preferência de um partido da base, para trazer votos que, somados aos nossos, garanta a vitória", disse. Segundo, ele, não há nome escolhido. "O que existem são especulações, que não têm fundamento ainda. Tem que ver primeiro quem topa e, depois, quem traz votos."

O líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), também nega que a decisão esteja tomada e, como Agripino, alerta que a oposição não tem votos suficientes para eleger um presidente do Senado. "A decisão que vamos tomar depende de como o PMDB vai se comportar. Se vai simplesmente baixar uma candidatura das suas fileiras sem consultar outras bancadas ou se vai, pelo contrário, fazer uma consulta aos senadores, para encontrar um nome que tenha maior trânsito entre todos", disse Aloysio Nunes.

Renan não anunciou candidatura a reeleição, considerada certa no Senado. Eunício quer reunir os senadores do PMDB na última semana do mês, para discutir a questão da Mesa e das comissões. Se Renan decidir não disputar, na bancada o líder é considerado candidato natural.

Advogado afirma que doleiro nunca deu dinheiro a Anastasia e Cunha

• Basto contradiz depoimento de policial que trabalhou para Youssef

Cleide Carvalho e Maria Lima – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Antônio Figueiredo Basto, advogado do doleiro Alberto Youssef, afirmou ontem que seu cliente "nunca entregou dinheiro" ao deputado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio, e ao senador eleito Antonio Anastasia, do PSDB de Minas. Basto disse que apresentará petição à Justiça Federal do Paraná esclarecendo o fato. Segundo ele, o doleiro deverá depor sobre o assunto quando for convocado, o que ainda não aconteceu.

Anastasia e Cunha foram citados em depoimento pelo policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, que trabalhava para Youssef, preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Careca fazia transporte de dinheiro para o doleiro e também dava cobertura para outros encarregados de distribuir propina aos beneficiados pelo esquema de desvios na Petrobras.

Lotado no Aeroporto do Galeão, no Rio, o policial teria distribuído, entre 2011 e 2012, um total de R$ 16,7 milhões a mando de Youssef. Segundo o depoimento, o policial federal afirmou que levou R$ 1 milhão para Anastasia. O dinheiro teria sido entregue em 2010 numa casa em Belo Horizonte a uma pessoa que não se identificou. Careca, no entanto, teria ouvido de Youssef que a remessa era destinada a Anastasia. Após os policiais apresentarem a ele uma foto do ex-governador, Careca o identificou: "A pessoa que aparece na fotografia é muito parecida com a que recebeu a mala enviada por Youssef, contendo dinheiro", disse.

Aécio se mobiliza
A advogada Tatiana Maia, que defende Careca, reclamou do "vazamento seletivo e deturpado de informações", que, segundo ela, "em nada contribuem às investigações".

Desde que foi veiculada a acusação contra o ex-governador mineiro, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tem mobilizado pessoalmente todo o partido para provar que a citação foi indevida. Na semana passada, Aécio procurou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que atuou na defesa do doleiro até a decisão pela delação premiada, e este intermediou com o advogado Antônio Figueiredo Basto a elaboração da petição à Justiça afirmando que Youssef não citou Anastasia em seu depoimento.

Em conversa com O GLOBO, Anastasia chamou a acusação do policial de "aberração e história da carochinha", e disse estar psicologicamente "no fundo do poço", deprimido com o ataque à sua honra. Além da acareação pedida com o policial, que ele diz nunca ter visto, Anastasia solicitou audiência com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandovski, e requereu toda a documentação do caso.

- É um golpe duro demais! Mas vou recuperar as forças para reagir a isso. Quem me conhece sabe como eu prezo a minha honra. Vamos provar que é uma armação, mas, até lá, o desgaste é muito grande. Não há nem podia haver a citação do meu nome. É uma coisa muito descabida, uma história da carochinha. Porque um governador da oposição receberia esse dinheiro de um esquema operado na Petrobras? - desabafou Anastasia.

Em viagem à Califórnia, Kakay conversou por telefone com Aécio e disse que, enquanto atuou no caso, nunca ouviu o nome de Anastasia. Segundo o advogado, Aécio perguntou se seria uma "armação", mas Kakay disse considerar que houve um erro:

- Eu tenho certeza de que houve um erro. Houve citação de muita gente fora do contexto. Se o Careca disse que ouviu o Youssef dizendo que mandou dinheiro para o Anastasia, e o Youssef diz que isso não é verdadeiro, morreu o assunto - respondeu Kakay.

Anastasia disse não temer a possibilidade de outra pessoa ter recebido o dinheiro citado pelo policial, como caixa dois para sua campanha:

- Não acredito. Minha campanha sempre foi muito rígida, não teria espaço para isso. Por que dariam dinheiro para um candidato do PSDB?

Advogado de doleiro isenta líder do PMDB e senador tucano

Advogado diz que doleiro não deu dinheiro para Anastasia ou Cunha

• Afirmação de Figueiredo Basto contradiz depoimento de policial que trabalhava para Youssef

• Defensor reclama de vazamentos "políticos" e promete protocolar uma petição isentando o senador e o deputado

Severino Motta – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O advogado do doleiro Alberto Youssef, Antônio Figueiredo Basto, disse nesta segunda (12) que seu cliente não tem "negócios" com o senador eleito Antonio Anastasia (PSDB-MG) e nem com o deputado Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB e candidato à presidência da Câmara.

Segundo ele, estão ocorrendo vazamentos "frutos de interesses políticos para tumultuar investigações". Ele irá protocolar na Justiça uma petição dizendo que Youssef não determinou remessas de dinheiro para os dois.

"Meu cliente não tem negócios com Anastasia e nem com Eduardo Cunha. Meu cliente mandou dinheiro para Belo Horizonte, mas não mandou entregar para Anastasia [...] Fazemos uma colaboração correta, evitamos atribuir fatos a terceiros. Qualquer envolvimento de políticos agora é precipitado e perigoso", afirmou.

A Folha revelou na semana passada que o entregador de dinheiro de Youssef, o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, em depoimento em 18 de novembro, disse que entregou R$ 1 milhão a uma pessoa que reconheceu como sendo o "candidato que ganhou a eleição em Minas Gerais" em 2010, Anastasia.

No mesmo depoimento, o policial citou Cunha, dizendo que Youssef teria lhe mandado entregar dinheiro numa casa que seria do deputado.

Anastasia e Cunha negaram participação no esquema e disseram que não conhecem Oliveira Filho ou Youssef.

A Folha revelou também que o Ministério Público Federal pedirá ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que um inquérito seja aberto para apurar se Cunha teve participação no esquema.

Cunha vem rechaçando qualquer participação no esquema revelado pela Operação Lava Jato, que investiga fraudes na Petrobras.

"Não conheço esse senhor [Youssef]. Estou absolutamente tranquilo em relação a isso, de que não há nada. É mais uma iniciativa política para me prejudicar, tenho absoluta convicção. É só olhar de onde estão partindo esses vazamentos, essas informações falsas", disse dias atrás.

Em nota no dia 8, Anastasia afirmou estar "tomado de forte indignação" e "revoltado" por ter sido citado pelo policial.

"Registro que não conheço este cidadão, nunca estive ou falei com ele. Da mesma forma não conheço, nunca estive ou falei com Alberto Youssef. Em 2010, já como governador de Minas, não tinha qualquer relação com a Petrobras", diz a nota.

Lava-Jato estuda requerer devolução de doações a partidos

André Guilherme Vieira e Letícia Casado – Valor Econômico

Os procuradores da Operação Lava-Jato estudam requerer à Justiça que os partidos políticos investigados devolvam parte do dinheiro recebido por meio de doações eleitorais legais. O montante pode ter os desvios de recursos da Petrobras como fonte de origem.

A viabilidade de uma ação judicial pedindo o ressarcimento às legendas mencionadas por delatores do caso ainda está sendo avaliada pelos integrantes da força-tarefa de investigadores, apurou o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.

As evidências, até agora, são mais sólidas nos casos de PP, PT e PMDB. Essas três legendas foram mencionadas como recebedoras de recursos oriundos da Petrobras por pelo menos cinco dos réus que colaboram com a Lava-Jato. As investigações indicam que esses partidos foram os que mais teriam recebido dinheiro desviado da Petrobras e, portanto, uma eventual responsabilização das legendas recairia primeiramente sobre eles.

Outros partidos tiveram políticos citados ao longo das investigações: PSDB, PSB, DEM, PTB, PSDC e SD. A fonte e o caminho do dinheiro doado a elas pelas empreiteiras investigadas na Lava-Jato também estão sendo rastreados.

O Ministério Público Federal (MPF) tem provas materiais para demonstrar que o PP teria utilizado o suposto esquema de desvio de recursos na diretoria de Abastecimento para financiar a máquina partidária - o ex-diretor da área Paulo Roberto Costa é um dos delatores da Lava-Jato.

Os procuradores têm ainda o conteúdo das delações premiadas e os documentos apresentados pelo doleiro Alberto Youssef - principal alvo da operação - e pelo funcionário do doleiro Rafael Ângulo Lopes que indicam a trilha do dinheiro desviado da estatal. As notas fiscais emitidas por empresas de Youssef para prestação fictícia de serviços a empreiteiras que recebiam dinheiro da Petrobras são a principal evidência material que recai contra o PP, segundo o MPF.

A força-tarefa conta também com a movimentação financeira da Dunel, empresa que pertencia a Janene e foi usada para lavar dinheiro, segundo a Justiça Federal.

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi citado pelos delatores Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Pedro Barusco (ex-gerente de Serviços) e Augusto Mendonça (executivo da Setal, prestadora de serviços da Petrobras). Faltam ao MPF, entretanto, documentos que comprovem materialmente que Vaccari integrava o esquema na Petrobras e era o operador financeiro do PT na diretoria de Serviços. Vaccari nega envolvimento.

Proprietário da Setal - única empresa a firmar acordo de leniência até agora -, o executivo Augusto Mendonça disse em delação premiada que parte das propinas supostamente pagas ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque eram feitas por meio de "doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores". Segundo Mendonça, cerca de R$ 4 milhões foram pagos ao PT entre 2008 e 2011, doados por empresas do Grupo Setal - Setec Tecnologia, a PEM Engenharia e a Sog Óleo e Gás.

Mendonça disse ainda que outras formas de repasse ao partido foram "parcelas em dinheiro" e "remessas a contas indicadas no exterior". Renato Duque nega participação nos crimes. Ele deve ser denunciado por corrupção no primeiro semestre de 2015.

Os procuradores investigam o elo entre o PMDB e a estrutura de lavagem de dinheiro e corrupção na estatal. O empresário Fernando Soares, o "Baiano", é apontado como operador do PMDB com atuação na diretoria Internacional da Petrobras, durante a gestão de Nestor Cerveró.

Baiano e Cerveró são réus por corrupção e lavagem de dinheiro pelo suposto recebimento de propina de US$ 30 milhões na contratação de dois navios-sonda em 2006 e 2007. Cerveró está na Inglaterra. Baiano está em prisão preventiva. Os investigadores mantêm investidas para que ele delate o suposto esquema de financiamento que alimentaria o caixa oficial do PMDB. O advogado de Baiano, Mário de Oliveira Filho, tem dito que seu cliente não fará delação premiada "em hipótese alguma".

Relatório de inteligência da PF de novembro de 2014 diz que doações formais de empreiteiras aos partidos políticos, mesmo estando devidamente registradas na Justiça Eleitoral, poderiam se revelar um expediente adotado para dar verniz de licitude a uma sistemática criminosa de financiamento partidário: "(...) Coloca em xeque inclusive as doações eleitorais legalmente registradas, que podem indicar uma forma estruturada de lavagem de dinheiro em que as 'contribuições' são repassadas por meio de doações 'legais' para financiar campanhas políticas".

A força-tarefa depende de extratos bancários da Suíça para consolidar a prova contra partidos e políticos. Deputados federais, senadores e governadores seriam beneficiários de pagamentos no exterior, segundo a investigação. Os procuradores farão nova viagem à Suíça para tentar rastrear o dinheiro da corrupção na Petrobras.

Metalúrgicos param trânsito contra demissões

• Ao menos 6,5 mil trabalhadores saíram de montadoras do ABC Paulista rumo à Via Anchieta

Ronaldo D"Ercole - O Globo

SÃO PAULO- Uma grande manifestação de metalúrgicos em protesto contra as demissões na Volkswagen e na Mercedes Benz paralisou ontem as pistas locais dos dois sentidos da Via Anchieta, que liga a capital paulista a Santos . A Polícia Militar estimou em 6,5 mil o número de trabalhadores que partiram das fábricas das duas montador as em passeata pelas vias marginais da rodovia, na altura do ABC Paulista. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC falou em 20 mil participantes na marcha. Além dos trabalhadores da Volks e da Mercedes, funcionários da Ford, que tem fábrica na região, engrossaram a manifestação em solidariedade aos colegas. Com protestos como o de ontem, sindicato e trabalhadores querem pressionar as empresas a retomar o diálogo para tentar suspender as demissões da semana passada: 800 na Volks e 244 na Mercedes-Benz.

— Uma ação como essa e as demonstrações de solidariedade dos metalúrgicos do ABC, da CUT e outras centrais dão firmeza aos trabalhadores para continuar acreditando que a reversão das demissões é possível — disse o presidente do sindicato, Rafael Marques. Os 13 mil trabalhadores da fábrica da Volks em São Bernardo do Campo estão em greve desde terça-feira passada, e os líderes do movimento dizem que apenas suspenderão a paralisação depois que a direção da empresa se dispuser a discutir as dispensas. Já os trabalhadores da Mercedes voltaram ao trabalho, depois de um dia parados, na quarta-feira. Apesar da greve e dos protestos — que têm contado com a participação de familiares dos trabalhadores demitidos —, até agora nenhuma das empresas sinalizou a intenção de dialogar .

Estratégia contra novas dispensas
Diante do silêncio das empresas, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC apresentou ontem , durante a manifestação , uma pauta de reivindicações, que foi aprovada pelos trabalhadores e será encaminhada aos governos paulista e feder al. Marques, presidente do sindicato, reuniu-se ontem à t ar de com o secretário de Relações do Trabalho de São Paulo , João Dado . Na pauta, a criação do Conselho Estadual de Política Industrial, de uma Câmara de Negociação e Mediação de Conflitos e o combate à guerra fiscal. Do governo federal, os metalúrgicos do ABC cobrarão a criação do Sistema Nacional de Proteção do Emprego e o Programa Nacional de Renovação da Frota de Caminhões.

Em outra frente, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) promove hoje reunião das centrais sindicais para definir novas ações conjuntas contra as demissões na Volks e na Mercedes, e impedir novos desligamentos nas empresas do setor . Também vão à reunião dirigentes de Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores, Nova Central Sindical de Trabalhadores e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil. —Vamos discutir estratégias para frear as demissões, pois cada emprego na montadora representa 18 postos de trabalho na cadeia de produção — disse Miguel Torres, presidente da Força Sindical, que tem grande números de empresas de autopeças em suas bases.

Maioria dos demitidos pode perder seguro-desemprego

• Nova regra pode deixar até 63% dos demitidos sem seguro

Camilla Veras Mota – Valor Econômico

A nova regra para acesso ao seguro-desemprego - que muda o prazo de carência para a concessão do benefício de seis para 18 meses para quem o requisita pela primeira vez - tem potencial para deixar mais da metade dos trabalhadores demitidos sem justa causa sem acesso ao benefício.

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compilados pelo Valor e pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos mostram que, entre janeiro e novembro de 2014, 63,4% dos 10,8 milhões dispensados sem justa causa no país tinham menos de um ano e meio de serviço.

O percentual é uma estimativa aproximada do número de pessoas que, de acordo com as regras anunciadas no fim do ano passado, não terão acesso ao benefício, já que não leva em conta se o trabalhador está sendo demitido pela primeira vez - e, nesse caso, quanto tempo ele passou nos empregos anteriores.

Pela legislação antiga, que estabelecia o limite mínimo em seis meses de trabalho, o percentual de "excluídos", feitas as ressalvas anteriores, era de 21,5%. Levando em conta os números de 2013, o cenário é semelhante, com 22% das demissões concentradas em funcionários com até 5,9 meses de trabalho e 63,7% até 18 meses.

Para Ramos, a estrutura não é exclusiva dos dois anos anteriores - ela reflete as características de uma economia com alta rotatividade no mercado de trabalho. "O tempo médio de permanência no trabalho no Brasil é de três anos."

A mudança, diz Hélio Zylberstajn, professor da FEA-USP, afetará principalmente os mais jovens, que mudam de emprego com maior frequência até se estabelecerem no mercado de trabalho. De acordo com os números do Caged, 78% dos dispensados sem justa causa com até 17 anos entre janeiro e novembro estavam há até 11,9 meses no serviço. No grupo entre 18 e 24, o percentual é de 58,1%. Na faixa entre 25 e 29 anos, cai para 48% - e segue em queda, atingindo 27,1% entre os trabalhadores com mais de 65 anos (desagregado por idade, os dados públicos divulgados pelo Caged não têm a divisão de até 18 meses).

Para Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a exigência da permanência maior no serviço pode incentivar especialmente os jovens - mas também as demais categorias de trabalhadores - a permanecer no emprego por mais tempo. "As empresas gastam muito para treinar novos funcionários. Uma mudança como essa poderia ajudar a aumentar a produtividade da economia", diz.

Neste ano, entretanto, em que a expectativa é que a taxa de desemprego suba e se aproxime de 6% - a estimativa da FGV está entre 5,6% e 5,7% -, muitos desses jovens podem ficar sem emprego não por opção, mas pelos desdobramentos da conjuntura. Nesse caso, pondera o economista, eles ficarão mais dependentes dos pais e poderão contribuir para uma desaceleração mais forte da renda familiar.

Levando em conta a perda de fôlego do mercado de trabalho esperada para este ano, a FGV projeta variação da renda média real de apenas 0,1%, contra alta real de aproximadamente 2,8% observada em 2014.

Segundo o economista da FGV, os dados do Caged não contabilizam apenas aqueles que estão sendo demitidos pela primeira vez. Como a nova regra estabelece o prazo de um ano de tempo de serviço para quem recorre ao seguro pela segunda vez e de seis meses para quem pedi-lo pela terceira vez, o percentual de "excluídos" deve ser um pouco inferior aos 63% revelados pelos dados, ressalva Moura.

Além disso, de acordo com o texto da Medida Provisória 665, de 30 de dezembro, para recorrer ao seguro pela primeira vez não é preciso cumprir um ano e meio de trabalho consecutivo, mas ter a carteira assinada por 18 meses acumulados no decorrer dos 24 meses anteriores à demissão. As regras começam a valer 60 dias após a publicação da medida provisória.

Para Moura, no antigo formato, o seguro-desemprego dava um "incentivo perverso" para que os trabalhadores mudassem com maior frequência de emprego. "Essa troca deve ser pelo menos protelada", diz.

Ramos, da UnB, avalia que as novas medidas - tomadas mais para resolver uma questão fiscal do que para ajustar a alocação de mão de obra, diz - devem coagir uma fraude recorrente no seguro, em que funcionário e empresa combinam uma demissão temporária para que o trabalhador tenha acesso ao benefício e, muitas vezes, também ao FGTS.

A mudança, para ele, não deve reverter a rotatividade alta observada no mercado de trabalho - que seria, afirma o professor, uma decorrência da baixa qualidade de grande parte das vagas geradas pela economia brasileira. "Essa troca de emprego geralmente se dá entre quem não tem muita opção de escolha", afirma.

PMDB atua contra ‘plano B’ no Senado

• Partido tenta barrar estratégia de Aécio para que Ricardo Ferraço seja candidato à presidência da Casa como opção a Renan Calheiros

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A cúpula do PMDB do Senado decidiu agir para desmobilizar, logo no nascedouro, a articulação do senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), de lançar a candidatura do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) à presidência da Casa. A articulação foi revelada pela colunista do Estado Dora Kramer, no domingo.

Os peemedebistas querem manter Ferraço sob o grupo de influência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), candidato à reeleição. Os aliados de Renan consideram que uma candidatura de Ferraço poderia reduzir o “poder de fogo” da bancada – a maior do Senado, com 19 integrantes, seis a mais do que terá o PT – nas negociações com o Palácio do Planalto.

A avaliação de integrantes do PMDB ligados a Renan é a de que o senador capixaba – que apoiou Aécio na eleição presidencial – tem muito mais a ganhar na bancada, caso permaneça aliado ao grupo de apoio ao atual presidente. Nesse sentido, devem assediá-lo com postos de destaque na Casa, como presença na Mesa Diretora ou em comissões de maior relevo.

Ferraço preside atualmente a Comissão de Relações Exteriores do Senado e participa, como titular e suplente, respectivamente, das Comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e de Assuntos Econômicos (CAE), as mais importantes da Casa.

Os peemedebistas também fazem uma ameaça velada a Ferraço: se sair candidato, numa eleição que eles consideram perdida, poderá ficar isolado na bancada e não ser indicado a qualquer cargo de expressão na Casa, o que prejudicaria as pretensões políticas do senador. A eleição para toda a Mesa ocorre no início de fevereiro.

Ao lançar Ferraço, a intenção de Aécio é manter a tradição do Senado segundo a qual a maior bancada fica com a presidência da Casa, ao mesmo tempo em que tenta eleger um candidato que não seja alinhado automaticamente com o Palácio do Planalto como tem sido Renan na atual gestão.

Em entrevista ao Estado, o senador capixaba não descartou a candidatura (mais informações ao lado) e disse que vai se reunir hoje no Rio com Aécio. Mas Ferraço lembrou que o debate sobre a candidatura ainda “não se estabeleceu” e que não há nomes oficialmente lançados. Os senadores Luiz Henrique (PMDB-SC) e Garibaldi Alves (PMDB-RN) já realizaram algumas sondagens com colegas para saber da aceitação dos seus nome.

Lava Jato. Renan já disse que só falará sobre sucessão no fim do mês. Embora tenha respaldo de parte significativa da bancada, o atual presidente do Senado foi um dos 28 políticos citados pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa em sua delação premiada, como revelou o Estado em dezembro.

A tendência é que o Palácio do Planalto apoie a reeleição de Renan para a presidência do Senado desde que, até lá, o peemedebista não seja inviabilizado politicamente por eventuais relações no escândalo investigado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

O presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), admitiu que a estratégia da oposição é ter um candidato competitivo e que o natural é que o nome saia do PMDB. “Nós queremos ter um candidato para ganhar, então não adianta ser um candidato do DEM ou do PSDB. Tem que ser um candidato da base aliada (mas independente do Planalto), para somar votos”, afirmou. 

Cresce disputa dentro do PMDB do Rio

Renata Batista e Robson Sales – Valor Econômico

A disputa antecipada pela candidatura do PMDB à Prefeitura do Rio está alimentando rumores de que o prefeito Eduardo Paes poderá sair da sigla. Paes, que já está em seu segundo mandato, é assediado por PT, PSD e até pelo DEM.

Em conversa com o Valor, o presidente do diretório regional do PMDB, Jorge Picciani, duvidou da saída de Paes e do deputado federal Pedro Paulo (PMDB), pré-candidato à prefeitura. Picciani articula a candidatura de seu filho, o deputado federal Leonardo Picciani. "Essa conversa só interessa aos nossos adversários. Nós já acordamos que somos mais fortes unidos", disse.

De acordo Picciani, que é deputado estadual eleito e trabalha para voltar a presidência da Assembleia Legislativa, os termos do acordo entre os dois grupos políticos dentro do PMDB fluminense estão claros: o candidato do PMDB a prefeitura será Pedro Paulo ou seu filho, Leonardo, desde que o ex-governador Sérgio Cabral não queira disputar o cargo. "Mas ele [Cabral] tem dito que não quer", afirma.

Segundo ele, ao longo de 2015 e 2016, os dois poderão trabalhar por suas candidaturas e Paes terá total liberdade para privilegiar Pedro Paulo, notoriamente o candidato de sua preferência. No fim de 2014, porém, Leonardo ganhou de presente de Paes a secretaria de Transportes, já foi até elogiado em público e tende a ter grande visibilidade nesses dois anos com a inauguração da linha 4 do Metrô e dos BRTs. "O candidato será aquele que unir o partido", resumiu, para depois ir além no afago ao prefeito: "Está consagrado dentro do partido que o candidato ao governo do estado em 2018 será Paes".

A informação de que Paes fica no PMDB vem também de dentro dos partidos que estariam de olho no seu passe. No PT, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, nega ter ouvido qualquer manifestação sobre a intenção do prefeito de deixar o PMDB. Neves, porém, faz parte do grupo de petistas que defende a manutenção da aliança com o PMDB no estado desde o ano passado, quando o senador Lindbergh Farias (PT) e o presidente regional do PT, Washington Quaquá, optaram pelo rompimento. Quaquá não foi encontrado pela reportagem.

Tanto Neves quanto Picciani confirmam a possibilidade de Paes fazer ajustes em sua equipe com vistas a fortalecer sua aliança para as eleições de 2016. O prefeito de Niterói acredita, porém, no fortalecimento de grupos do PT que foram mais fiéis à aliança na disputa estadual. Já Picciani, ao promover o movimento Aezão (de apoio de parte do PMDB ao então candidato do PSDB Aécio Neves) abriu caminho para uma reconciliação de Paes com antigos aliados do PSDB e do DEM, como o ex-prefeito Cesar Maia, que lançou Paes na política, mas rompeu com ele ao se opor a sua candidatura.

Procurada, a assessoria do prefeito informou que não comentaria os rumores. Pelo calendário eleitoral, Paes e Pedro Paulo terão que decidir até julho se ficam ou saem do PMDB. É quando termina o prazo da justiça eleitoral para filiação de candidatos para as eleições de 2016.

Para Paes, não há a premência de 2016. Analistas ouvidos pelo Valor consideram, porém, que como vai ficar dois anos sem mandato, é muito importante para Paes fazer um sucessor totalmente alinhado para se manter no radar do eleitor.

Um partido que poderia receber ambos, sem conflito com a legislação eleitoral e com a regra de fidelidade partidária é o PL, que o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) planeja refundar para, posteriormente, unir ao PSD. No cenário partidário do Rio, porém, os principais nomes do PSD, são fortemente ligados a Picciani e ao PMDB.

Almir Pazzianotto Pinto - PT, a evolução do atraso

- O Estado de S. Paulo

"A única coisa que evoluiu no Brasil foi o atraso", Levir Culpi, Estado, 17/11/2014

Diferentemente do que ocorreu com outras organizações partidárias, o PT evoluiu rapidamente, mas rumo ao atraso.

Lançado por Lula em 1979 no ABCD, o PT visava o monopólio de representação da classe operária. Na primeira eleição, disputada em 1982, elegeu 8 deputados federais e 12 estaduais. Em 1986 foram 16 federais e 39 estaduais. Aumentava, também, o número de prefeitos e vereadores: em 1982 havia sido apenas 1, em Diadema, e 179 vereadores em poucos municípios, quantidade que saltou, quatro anos depois, para 112 e 1.881.

No ano de 1994 elegeu 2 governadores, no Espírito Santo e no Distrito Federal, número que subiu a 3 em 1998, quando foi vitorioso no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul e no Acre, embora derrotado no Distrito Federal, não conseguindo reeleger Cristovam Buarque.

Como explicar a ascendente trajetória do partido que em apenas 24 anos conquistou a Presidência da República com Luiz Inácio Lula da Silva, após ser derrotado por Fernando Collor em 1989 e, em 1994 e 1998, por Fernando Henrique Cardoso?

Lula fez-se conhecido em 1975, quando alcançou a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Até então fora suplente do conselho fiscal e primeiro-secretário, encarregado do departamento jurídico.

Em abril de 1976 o sindicato rompeu com a Federação dos Metalúrgicos ao recorrer contra decisão do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP) que ignorou a pauta anual de reivindicações para lhe impor convenção coletiva de trabalho celebrada pela Fiesp com a federação estadual, dirigida por pelegos. A vitória obtida no Tribunal Superior do Trabalho (TST), em setembro, deferindo cinco cláusulas adicionais, como a de estabilidade da gestante, repercutiu na imprensa e consolidou a liderança de Lula na classe operária, na qual passou a ser visto como dirigente independente do Ministério do Trabalho. O Brasil estava sob o regime militar e gestos de desafio eram algo novo na política trabalhista brasileira.

No ano seguinte Lula deflagrou campanha pela recuperação de perdas decorrentes da manipulação dos índices de custo de vida e em 1978 liderou a primeira greve bem-sucedida pós-1964. Decretada a ilegalidade pelo TRT-SP, os metalúrgicos de São Bernardo não recuaram e obrigaram as indústrias automobilísticas a retomar negociações até assinatura de vitorioso acordo coletivo em 31 de maio.
Seguiram-se as greves de 79 e 80. Em ambas o sindicato sofreu intervenção e na última Lula foi preso e processado pela Lei de Segurança Nacional.

Encerrado o mandato em 1981, Lula não voltou ao sindicato nem à Villares, onde era torneiro mecânico. Optou pela política, com o propósito de disputar o governo estadual. Muito antes, em abril de 1980, após ser deposto da direção do sindicato, entrevistado pela revista IstoÉ (23/4/1980) sobre se cogitava de se candidatar à Presidência da República, seguro de si Lula respondeu: “Isso é brincadeira. Mas, falando sério e sem falsa modéstia, eu seria muito melhor do que o Figueiredo. Seria muito melhor que Maluf, Delfim, esse pessoal todo”.

Foi com tal autossuficiência que o líder, cuja aversão aos livros é conhecida, imprimiu orientação radical ao PT. Exemplo disso foi a abstenção dos petistas no colégio eleitoral que deu a vitória a Tancredo Neves, contra Paulo Maluf, em janeiro de 1985. Os deputados que ousaram divergir foram execrados e banidos.

O PT adotou, como programa, fazer oposição sistemática, agressiva e intolerante a quem se encontrasse no governo. Barba cerrada, munido de megafone, camiseta estampada com a figura de João Ferrador e a frase “hoje não tô bom”, Lula comparecia a portões de fábricas para acusar as injustiças sociais, o arrocho salarial, a corrupção e o peleguismo sindical, propondo a tomada do poder.

Em semanas, jornalistas, universitários, servidores públicos, jovens da classe média, artistas aderiram às fileiras do novo partido, fornecendo-lhe militância gratuita que se transformou em poderosa massa de eleitores. Ao passo que Lula adquiria nome e prestígio, partidos fortes, como o PMDB e o PFL, definhavam, acossados sem cessar pelos militantes petistas.

O sucesso do Plano Real, magistral criação da equipe de Fernando Henrique Cardoso, não foi suficiente para eleger José Serra, a grande esperança dos tucanos, batido por Lula nas eleições de 2002. Em 2006 derrotou Geraldo Alckmin, obtendo o segundo mandato. Detentores de invejáveis carreiras universitárias e políticas, não conquistaram votos para derrotar o metalúrgico iletrado, cuja admiração por ditadores fora dissimulada em hábil campanha publicitária.

A chegada à Presidência da República revelaria, entretanto, a face oculta do PT: nem capitalista, tampouco socialista, apenas demagogo, aético, arrogante, fisiológico.

Tendo por programa a tomada do poder, mas sem saber o que fazer com ele, nos primeiros quatro anos se beneficiou do legado do PSDB na condução da economia, cuja estabilidade fora recuperada. Perdidas, porém, as armas da agitação e da greve, e incapaz de planejar e executar medidas de larga envergadura, optou pela gastança, pelo endividamento e pelo assistencialismo estéril e barato: estava criado o Bolsa Família, o maior cabo eleitoral de todos os tempos.

Em 12 anos de petismo desenfreado, marcados por escândalos, entre os quais se destacam o mensalão e o “Lava Jato”, o Brasil evoluiu, mas no sentido do atraso, como sentenciou Levir Culpi, perspicaz treinador do Atlético Mineiro.

A frase antológica traduz, com clareza, o que pensam do petismo milhões de brasileiros.

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*Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do TST

Merval Pereira - Golpe baixo

- O Globo

A informação do advogado Antônio Figueiredo Basto, responsável pela defesa do doleiro Alberto Youssef, de que seu cliente nunca enviou dinheiro nem para o ex-governador de Minas e atual senador Antonio Anastasia nem para o deputado federal Eduardo Cunha, mais do que inocentar os dois parlamentares nesse caso, traz à tona novamente a utilização política do processo do petrolão.

Quem induziu o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, a denunciar os dois parlamentares tinha objetivos claros: inviabilizar a candidatura de Cunha à presidência da Câmara, e atingir o presidente do PSDB, senador Aécio Neves. Os dois movimentos têm um beneficiário direto, o Palácio do Planalto, que de uma cajadada matava dois coelhos. Tirava do páreo o favorito para presidir a Câmara contra sua vontade, e atingia o senador Aécio, a principal liderança oposicionista no momento, depois de ter saído da disputa presidencial com uma votação consagradora.

Essa não é a primeira vez que o doleiro Youssef é usado para culpar o PSDB. Em outubro do ano passado, pouco antes do segundo turno da eleição presidencial, Leonardo Meirelles, tido como testa de ferro do doleiro nas indústrias farmacêuticas Labogen, afirmou que Youssef mantinha negócios com o PSDB e com ex-presidente nacional do partido senador Sérgio Guerra (PE), morto em março daquele ano.

Da mesma forma que está fazendo agora, o criminalista Antônio Figueiredo Basto negou a veracidade do depoimento e pediu sua impugnação. Não se pense que Youssef tem algum interesse especial em defender o PSDB, tanto que ele também isentou nesse caso o deputado do PMDB Eduardo Cunha. O que o doleiro teme é que seu acordo de delação premiada seja colocado em dúvida pelo Ministério Público que investiga a Operação Lava-Jato, sob a coordenação do juiz do Paraná Sérgio Moro.

A delação de Youssef foi homologada, no fim do ano passado, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, e isso significa que tudo o que ele contou à Justiça foi provado verdadeiro ou pelo menos deu pistas verdadeiras para as investigações avançarem. Se não citou nem Cunha nem Anastasia, e agora surge a versão do policial Jayme Careca, que era um dos entregadores do dinheiro para o doleiro, o mínimo que se poderia imaginar é que Youssef protegeu alguns clientes especiais em seu depoimento.

Careca, ao contrário, prestou depoimento e foi solto, não estando sob as condições da delação premiada. Sua denúncia não precisa necessariamente ser verdadeira na integralidade, pelo menos para efeitos de benefícios posteriores, como sucede na delação premiada. Agora, será preciso saber a quem ele estava servindo ao colocar entre os recebedores de dinheiro de Youssef dois adversários da hora do Palácio do Planalto.

A utilização política do caso só cessará quando a Procuradoria Geral da República apresentar a lista oficial dos que considera envolvidos de fato no escândalo do petrolão. Até lá, os políticos estarão sujeitos a efeitos colaterais como jogadas sujas como essa.

A entrevista da senadora Marta Suplicy à jornalista Eliane Cantanhêde do "Estado de S. Paulo" é a preparação para sua saída do PT para disputar a Prefeitura de São Paulo por outro partido, mas, sobretudo, é a saída que ela encontrou para se distanciar da maneira de fazer política que predomina hoje no partido que ajudou a fundar.

Marta certamente não é uma santa na política e tem experiência suficiente para já ter visto de tudo nessa vida partidária. Mas junta o útil ao agradável quando, desvalorizada pelo grupo político que domina o partido e também pelo que controla o Palácio do Planalto, encontra uma saída honrosa ao denunciar os métodos petistas de fazer política. Que já dá sinais claros de desgaste.

Dora Kramer - De centopeia a saci

- O Estado de S. Paulo

“O governo Lula era uma centopeia: dava um tiro no pé, mas tinha várias pernas para continuar caminhando. O governo da Dilma parece um saci: só tem uma, atira no pé e vai ao chão.”
Quem conta o conto é o senador Romero Jucá, do PMDB, a título de comparação entre os governos Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff, especialmente no campo político. Na avaliação dele, a presidente comete vários equívocos.

O maior é achar que pode prescindir da colaboração de aliados experientes e se isolar com um pequeno grupo de conselheiros exclusivamente petistas que não ajudam a presidente a enxergar de maneira correta o panorama.

“Não pode dar certo um esquema de articulação política que começa já querendo alijar o partido do vice-presidente da República e que, além disso, vai presidir a Câmara e o Senado”, constata. Na avaliação dele, há “chance zero” de o PMDB não ganhar a eleição para as duas Casas no próximo dia 1.º de fevereiro.

E se o governo entrar firme em favor da candidatura de Arlindo Chinaglia, do PT, contra Eduardo Cunha, do PMDB, “vai ser pior”, acredita. A saída ideal, na opinião do senador, seria uma composição, mas não são esses os sinais emitidos do Palácio nem é esse o clima reinante no PMDB. Ali o ambiente é de beligerância. De onde parece ter chegado a hora de discutir a sério a relação.

A começar pela mudança da presidência do partido, ocupada por Michel Temer desde antes da primeira eleição de Lula. Passada a eleição no Congresso, resolvidas mudanças no ministério (Henrique Alves, atual presidente da Câmara, irá para o Turismo) em fevereiro, o PMDB vai começar a elaborar um novo plano de voo.

Em duas vertentes: elegendo um novo presidente cujo compromisso com o governo não seja o mesmo inerente ao posto do vice Michel Temer e, a partir daí, adquirir autonomia para um projeto futuro que, tudo indica, não inclui parceria com o PT. “Não podemos ficar a reboque do desempenho do governo.” Jucá pode ser esse nome (obviamente ele faz de conta que não é), mas pode ser também Eunício Oliveira. Pelo jeito da conversa o essencial é que a pessoa nutra, digamos, uma “zanga branca” em relação ao Planalto.

O senador Romero Jucá se notabilizou no Congresso pela longa e ecumênica carreira de líder de governo. Qualquer um. Ocupando oficial ou informalmente a função, passou por Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff. Na última eleição votou em Aécio Neves.

Apagadas as urnas, Jucá suou literalmente a camisa para fazer aprovar aquela polêmica (para dizer o mínimo) mudança na regra do superávit primário. Votação quase posta a perder pelo Palácio do Planalto com a edição de um decreto liberando verbas de emendas orçamentárias para os parlamentares, mas condicionando o dinheiro à aprovação da questão do superávit.

Caso típico do que o senador exemplifica como o tiro na perna do saci.

Aos navegantes. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, dá o aviso geral à Esplanada e cercanias: “Se pensam que vou entrar em atrito com partidos, movimentos sociais, entidades ou pessoas, ledo e ivo engano. Minha capacidade de adaptação é infinita”.

Ela diz isso a propósito dos tiroteios que enfrentou antes e logo após tomar posse no cargo. Sua receita é a seguinte: não aceitar provocação, silenciar quando for conveniente, responder o necessário, mostrar serviço, atuar politicamente e, sobretudo, não achar que o apoio da presidente é garantia de sustentação.

Indicada à revelia da direção de seu partido hoje mesmo Kátia Abreu terá um encontro com o presidente do Senado e com o relator do Orçamento da União – Renan Calheiros e Romero Jucá, ambos do PMDB – para dar a ideia de que trabalhem por reforços orçamentários aos ministérios que tanto desagradaram aos pemedebistas.

Bernardo Mello Franco - Pra que discutir com madame?

- Folha de S. Paulo

"Madame diz que o samba tem pecado / Que o samba é coitado e devia acabar." Trocando o samba pelo PT, Marta Suplicy disse o mesmo na ruidosa entrevista de domingo ao "Estadão". O partido não quer discutir com madame, como ensina a composição de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, mas tem motivos para se preocupar.

Marta só pensa em concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2016. No PT, estava condenada a espernear até ser preterida outra vez. Em outra sigla, pode não entrar no páreo como favorita, mas tem tudo para dificultar a reeleição de Fernando Haddad.

O prefeito vinha pavimentando a rota para o segundo mandato. Atendeu aos apelos para sair mais do gabinete e conseguiu deixar o fundo do poço nas pesquisas, embora ainda esteja longe da popularidade do início do governo. Na semana passada, selou uma virtual aliança com o PMDB ao convidar Gabriel Chalita para a Secretaria de Educação.

O rompimento de Marta com o petismo pode jogar Haddad de volta à estaca zero. Aliados reconhecem que a senadora preserva muita força na periferia, que concentra os redutos mais tradicionais do PT. Nessas áreas, ela ainda é venerada por marcas de sua gestão (2001-04) como os CEUs, o Bilhete Único e a distribuição de uniforme escolar.

"O eleitor do PT na periferia não se identifica com o Haddad. A Marta tem o que mostrar lá, e ele ainda não tem", resume um aliado do prefeito. "Apoiar ciclovia e grafite faz sucesso na Vila Madalena, mas não dá voto nos bairros que garantiram a nossa vitória em 2012", acrescenta ele.

Faltando menos de dois anos para a eleição, Haddad não tem tempo para discutir com Marta. Seu desafio é mudar o eixo da administração para fincar estacas na base eleitoral da ex-prefeita. O PT está desgastado em São Paulo, e o apoio de Lula não deverá ser suficiente para decidir a disputa. Em 2014, o candidato dele a governador, Alexandre Padilha, teve apenas 22% dos votos na capital.

Raymundo Costa - Sucessão de 2018 já está em curso no PT

• Se não destruiu, Marta deixou Mercadante ferido

- Valor Econômico

O plano A do PT para a sucessão de 2018 é Lula. Não está dado que o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, é o plano B. No momento é apenas o nome mais forte. Há outras possibilidades. Pelo menos três, a olho nu: Jaques Wagner, Fernando Pimentel e Fernando Haddad, caso este seja reeleito prefeito de São Paulo. Mercadante hoje é uma espécie de símbolo do dilmismo. No PT e no governo. Atacado por Marta Suplicy, que o acusou de ser inimigo de Lula e candidatíssimo ao Palácio do Planalto, sua posição ficou vulnerável e só a reação da presidente e do ex dará a medida exata da extensão da fratura que a eleição de 2014 provocou no PT.

A entrevista que a senadora Marta Suplicy concedeu no domingo à jornalista Eliane Cantanhêde, de "O Estado de S. Paulo", foi tão reveladora no campo da política como nada mais no governo de Dilma, uma presidente obcecada com vazamentos. Era o bastidor do bastidor que foi exposto por uma das vozes mais autorizadas do PT. A maioria das passagens sobre o "Volta, Lula" era conhecida, como as reclamações que o ex-presidente fazia de sua sucessora, mas agora essas histórias vieram a público narradas por um dos principais integrantes do movimento.

A novidade contada por Marta é que ela foi autorizada por Lula a procurar o presidente do PT, Rui Falcão, para tratar da retirada de Dilma da disputa. A conversa entre Marta e Rui de fato ocorreu. A própria Marta contou, na entrevista, que considerava a nova candidatura de Dilma um risco para o projeto do PT e que pediu para Rui Falcão convencê-la a desistir da candidatura em favor de Lula. Rui se recusa a falar sobre o assunto, por entender que é exatamente o que Marta quer. Sabe-se, entretanto, que antes de procurar Dilma e soltar a bomba no colo da presidente, Rui fez questão de conferir a história com o próprio Lula.

Falcão tinha suas razões para ficar desconfiado. O próprio Lula precipitara a campanha, ao lançar a candidatura de Dilma, em fevereiro de 2013. Das conversas que teve com Lula concluiu que ele não estava contaminado pelo "Volta, Lula", na medida que o movimento tomara em diversos setores do PT. Fontes ligadas a Lula contam que o ex-presidente, na conversa com Rui, desautorizou a iniciativa de Marta. Disse, inclusive, algo como "Essa mulher está louca, eu já falei para ela parar com isso". Lula também teria argumentado que tinha confiança na reeleição de Dilma. Mais até que Rui Falcão. De acordo com as mesmas fontes, o presidente do PT não contou o episódio a Dilma. A presidente ficou sabendo da movimentação da senadora por causa de um brinde que ela ergueu ao retorno de Lula em uma festa de casamento.

A avaliação feita no PT e no Palácio do Planalto é que Marta, com sua entrevista, tentou fazer um "hedge" à sua eventual saída do partido, temerosa de que o PT peça o mandato de volta, quando ela se desligar da sigla para concorrer à prefeitura de São Paulo. A indicação do deputado Gabriel Chalita para uma secretaria municipal, avalizada pelo vice-presidente Michel Temer, deixa claro que PT e PMDB, provavelmente com Fernando Haddad e Chalita de vice, estarão juntos na disputa de 2016. É Marta outra vez de fora dos planos do PT.

A dúvida que persiste é se quebrou o cristal da relação entre Lula e Dilma. O fato é que o ex-presidente sempre foi ambíguo e ambivalente em relação ao "Volta, Lula" e a presidente, que de início duvidava da existência do movimento, se decepcionou com o patrono e "ídolo" ao conferir que se conspirava contra sua candidatura. O que não os impediu de levar a campanha até o fim, mesmo aos trancos e barrancos. Mas o PT avalia que está em curso uma tentativa da oposição de indispor Lula com Dilma e Dilma com o partido, para aprofundar as dificuldades que o governo enfrenta neste reinício de mandato.

Em princípio, Lula não deve falar. As reações do ex-presidente em relação a Mercadante são as de um pai com o comportamento de um filho rebelde. O que não impediu que ele o aceitasse como candidato a vice na eleição de 1994 e de tê-lo apoiado na prévia feita pelo PT de São Paulo, em 2006, para a escolha do candidato ao governo estadual. A outra concorrente era Marta. Na formação do novo gabinete de Dilma, o ex-presidente defendeu não só a permanência de Mercadante na Casa Civil da Presidência, como também que ele tivesse um papel político mais incisivo.

Existe o outro lado da moeda. Marta falou o que muita gente no PT gostaria de falar de Mercadante: arrogante, autoritário, pródigo em trapalhadas. Se não destruiu, a senadora deixou o ministro ferido. Falou o que todo o governo gostaria de falar. Atualmente, as insatisfações na Esplanada dos Ministérios e no Congresso são muito mais em relação a Mercadante que à própria Dilma. E tem gente do núcleo duro do governo que acha o mesmo que Marta. Fica até difícil para a presidente discutir esse tema no grupo. Quem a conhece diz que Dilma vai xingar, esbravejar, falar mal da Marta, mas refletir.

Nessa face da moeda há uma convicção: se Dilma quiser se recompor "de coração" com o ex-presidente da República, não bastará dizer a Lula "não tenho outro candidato em 2018 a não ser você ou quem você apoiar". Mais que isso, a presidente terá que demitir o ministro Aloizio Mercadante ou tirá-lo da toda poderosa Casa Civil da Presidência da República. Ou Lula vem a público e desmente Marta.

Único político que ainda dorme no presídio da Papuda, entre os condenados pelo esquema do mensalão, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha deve lançar até março um livro em que "retrata os momentos que vivi", segundo contou a amigos. Desde que foi preso, João Paulo Cunha leu 60 livros e resenhou 20 deles. Ele tem desconto no tempo de cadeia por cada livro que lê, mas a imersão na literatura reforçou o gosto de João Paulo pelas letras. O ex-deputado começou a escrever logo depois de ser preso. O livro a ser lançado até março, sobre o qual tem feito mistério, será apenas o primeiro de uma série.