Dias depois de publicar na Folha a primeira entrevista do presidente Hugo Chávez a um jornal brasileiro, em agosto de 1999, escrevi uma reportagem com o seguinte título: "Economia ameaça revolução' de Chávez".
Com um salto de quase 14 anos e trocando o nome de Chávez por Nicolás Maduro, o texto continua atualíssimo. Ou seja, muita coisa mudou profundamente na Venezuela de Chávez, mas os desafios resistem.
Primeiro parágrafo: "Chávez assumiu há seis meses e governa com alta taxa de aprovação, mas depende de melhoras na economia para manter o apoio popular à sua revolução'".
Segundo: "Outros dois desafios: a desconfiança que ele desperta no exterior, tanto no meio político quanto empresarial, e o início de uma reação da oposição venezuelana".
Chávez tinha exata noção de que nada seria fácil: "A revolução que estamos fazendo não é para a geração que aí está. É para os nossos filhos, para os nossos netos".
Maduro começou a corrida presidencial embalado pelo impacto político da morte do grande líder, mas perdeu vigor e chega hoje, dia da eleição, com uma margem nas pesquisas bem menor do que a prevista.
Como chanceler de Chávez, era elogiado pelo equilíbrio e serenidade. Como candidato a reencarnar Chávez, parece meter os pés pelas mãos. Frases de mau gosto sobre bananas e mandiocas, a história do espírito de Chávez num passarinho, insinuações homofóbicas contra o adversário Henrique Capriles...
Se quiser se passar por Chávez, vai se dar mal. É melhor construir uma identidade política própria para, aí sim, enfrentar a economia, o desemprego, a violência, a dependência excessiva e danosa do petróleo.
Só assim, se realmente vencer as eleições de hoje, Maduro poderá continuar a "revolução" que ainda não é para "esta geração que está aí" e talvez não chegue nunca para os filhos e netos venezuelanos, como sonhava Chávez, o original e único.
Fonte: Folha de S. Paulo
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