A queda de mais de 10% nas ações ordinárias da Petrobras reflete não apenas as dificuldades de gestão por que passam a estatal, mas, sobretudo, o descrédito da política econômica do governo. Os investidores estrangeiros foram os maiores vendedores dos papéis brasileiros, um recado direto sobre a maneira com que o governo vem lidando com o controle da inflação, a principal razão para que os reajustes dos preços de gasolina e diesel não tenham o aumento compatível com o mercado internacional.
O reajuste anunciado na última sexta-feira foi abaixo do que o mercado esperava, e, sobretudo, não houve uma explicação convincente sobre os critérios adotados pelo Conselho de Administração da empresa. O Ministério da Fazenda agiu corretamente quando vetou a fórmula do gatilho para os reajustes, pois esse mecanismo de indexação só faria alimentar a inflação e poderia contaminar outros preços, mesmo que o sistema fosse adotado informalmente.
Mas segurar o preço dos combustíveis para controlar a inflação é uma manobra que revela a mediocridade da política econômica do governo, além de trazer insegurança aos investidores. A reação do mercado serve para o conjunto da obra de um governo intervencionista e explica o seu distanciamento do setor privado, que só consegue ter regras razoáveis para seus investimentos quando o governo constata a inviabilidade de seus vetos e de suas idiossincrasias.
Como em quase tudo nesse governo, a falta de transparência nas decisões gera uma insegurança que limita os investimentos, como é o caso da Petrobras. Sem regras claras para os reajustes, que deveriam corresponder ao mercado internacional mesmo que não houvessem gatilhos a serem acionados, os investidores temem que a estatal brasileira continuará sendo controlada ao sabor da inflação, sem que suas necessidades de investimento sejam levadas em consideração.
Isso em um govemo que obrigou a Petrobras a ter no mínimo 30% dos campos de petróleo do pré-sal. Como se fosse possível sem investimentos altíssimos, que a estatal hoje não possui capacidade para fazer. A diferença entre preços livres e os administrados nunca foi tão grande quanto agora, e a prova disso é que a infla -ção só não está acima do teto da meta devido aos preços administrados, que tiveram altas pouco acima de 1% nos últimos 12 meses, contra os preços de mercado que foram reajustados em 7,3% no mesmo período.
Em qualquer conta que se faça, a inflação real é maior que a oficial, e essa diferença acobertada pela manipulação dos preços oficiais se reflete na economia. A crise de gestão da Petrobras repercute no preço de mercado das ações e na falta de capacidade para tocar o projeto de pré-sal, pois tem que bancar o subsídio da gasolina e do diesel. O déficit da conta-petróleo foi de US$ 12,7 bilhões até outubro, o maior já registrado.
O governo tem que dar subsídios para o setor elétrico para que o uso das termelétricas não pese nos preços, o que aumenta o endividamento. Esses fatos indicam uma inflação represada que gera outras distorções na economia, que em algum momento vai estourar. O governo se esforça para levar a situação até a reeleição da presidente Dilma, mas a tendência é que o próximo ano seja mais difícil no campo internacional, o que colocará mais obstáculos à frente.
Há comparações a se fazer com duas eleições recentes, as de 1998 e a de 2002. Na reeleição de Fernando Henrique, os sinais de que a economia estava se depauperando eram a cada dia mais evidentes e o PSDB jogou tudo para ganhar no 1º turno, pois temia a disputa no 2e turno em situação econômica caótica.
Deu certo do ponto de vista político, mas logo no início de 1999 o governo teve que desvalorizar o Real, o que teve repercussão negativa junto ao eleitorado. Já em 2002, o mesmo sentimento de mudança que existia, viabilizando a vitória de Lula, fazia com que o mercado financeiro reagisse negativamente a perspectiva.
Há um sentimento de mudança no ar, mas até agora o continuísmo prevalece como favorito nas pesquisas. Pode acontecer o inverso de 2002, isto é, o mercado reagir negativamente à possibilidade de continuidade do modelo, que pode ser aprofundado num 2º mandato.
O raciocínio dos dois lados é o mesmo, por isso a luta do governo para que a eleição seja resolvida no 1º turno. E os dois principais candidatos
Fonte: O Globo
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