Partido teme que PT se torne hegemônico nas eleições de 2014
A aliança com a presidente Dilma Rousseff tem maioria na convenção do PMDB, mas não é folgada como gostariam os dirigentes do partido. Em resumo, essa foi a conversa "pragmática" que o vice-presidente Michel Temer teve no sábado com Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT, Rui Falcão e o ministro Aloizio Mercadante (Educação). Enquanto o PT tem um projeto nacional, o PMDB é um partido essencialmente regional, poder que se assenta nas eleições estaduais. É a raiz dos desentendimentos.
Para o PMDB o PT precisa dizer o que quer, qual é a sua prioridade. Se é reeleger a presidente da República, deve então fazer concessões ao maior partido da aliança nas eleições para os governos estaduais. Os pemedebistas já estão desconfiados do projeto petista de fazer maioria no Senado. Como é provável que o PT eleja a maior bancada da Câmara, o partido poderia reivindicar o controle das duas Casas do Congresso, tornando-se hegemônico no Executivo e no Legislativo.
Não é à toa que os pemedebistas pensaram em fazer uma pré-convenção em março de 2014, para "sentir o pulso dos delegados". Nos 10 Estados com maior número de delegados à convenção há problemas no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Paraná e Bahia, Rio Grande do Sul e Pará. Mato Grosso do Sul não dispõe de muitos votos na convenção, mas o governador André Puccinelli tem peso na cúpula partidária. O candidato ao governo estadual do PT, Delcídio Amaral, negocia uma aliança com o PSDB. Qual será o palanque de Dilma?
O PT, aliás, tem uma resolução que proíbe coligações com o PSDB e DEM. Se depender de Rui Falcão, que ontem discutiu tática e política de alianças com os dirigentes regionais petistas, a norma será mantida. Delcídio defende que o partido seja flexível com as peculiaridades locais. O PMDB também exige que seu parceiro não intervenha em suas parcerias. No Rio Grande do Norte está em curso uma negociação com o PSB, partido do governador de Pernambuco e pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos.
O argumento do PMDB é que o PT não se importa com o aliado, quando precisa vencer eleição. Lembra-se que para eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo, Lula não só aceitou o apoio como foi à casa de Paulo Maluf, político que já foi considerado uma espécie de antítese do PT. "Se para ganhar a eleição no Rio Grande do Norte eu precisar fazer aliança com a Wilma [de Faria, do PSB], eu vou fazer aliança com a Wilma", disse o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, em uma reunião. "Feio é perder a eleição. Dentro dos critérios éticos básicos, devemos fazer tudo para ganhar."
A cúpula do PMDB considera a situação do Rio de Janeiro como a mais grave na relação com o PT, mas já aceita a realidade de duas, três ou até quatro candidaturas aliadas no Estado. O governador Sérgio Cabral ameaça romper e se mostra acessível ao assédio de Eduardo Campos e Aécio Neves (PSDB). Diz que não aceita o PT lançar o senador Lindbergh Farias contra seu candidato, o vice-governador Luiz Pezão. Um terceiro candidato da base aliada deve reivindicar o apoio de Dilma: Marcelo Crivella, (PRB).
Cabral está sendo "amaciado" por Temer e Lula. Ele queria sair em dezembro. Lula o aconselhou a "mergulhar", dar um tempo, ficar no cargo o máximo que puder e sair em março ou no início de abril, o fim do prazo legal para quem pretende disputar a eleição de outubro. Cabral é candidato ao Senado.
Atualmente, o índice de aprovação do governador é de apenas 20%, segundo pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana. O PMDB nacional avalia que Pezão, quando assumir o governo, tem condições de deixar a rabeira da lista de candidatos graças à maquina estadual "poderosa" e o apoio do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que também entrou numa fase de recuperação de prestígio. O argumento que a cúpula pemedebista usa com o governador é que ele se elegeu e reelegeu governador, elegeu e reelegeu Paes prefeito praticamente por W.O. Chega a hora em que a disputa é inevitável.
O Rio de Janeiro é o Estado com o maior número de delegados à convenção. O Ceará não está muito atrás, mas o problema não é o PT, que concorda apoiar o senador Eunício Oliveira, líder pemedebista no Senado, mas os irmãos Ferreira Gomes. Mais Ciro, atual secretário estadual de Saúde, que Cid, o governador do Estado. Os dois querem lançar um candidato do grupo político que lideram no Estado. Uma situação radicalizada, como a da Bahia, onde não há chance de acordo entre Geddel Vieira Lima e o governador Jaques Wagner. O esforço da cúpula pemedebista é no sentido de Geddel pelo menos liberar seus delegados à convenção para apoiar Dilma.
No Paraná, cuja delegação de convencionais é uma das cinco maiores do PMDB, abaixo apenas do Rio de Janeiro e Minas Gerais, o problema é inverso e requer cuidados urgentes de Michel Temer, segundo integrantes da cúpula. São 13 os deputados estaduais do PMDB, a maior bancada da Assembleia Legislativa. Todos defendem a aliança com o governador tucano Beto Richa. A bancada federal está dividida. A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), que será a candidata do PT, quer o PMDB e ofereceu ao partido o lugar de vice na chapa. O senador Roberto Requião fala em se lançar candidato, mas já não dispõe de força no diretório para tanto.
Pernambuco é considerado caso perdido; o Rio Grande do Sul está dividido. Em Goiás o veterano Iris Rezende quer ser novamente candidato. Iris ainda tem força no partido, mas a vontade dos pemedebistas goianos - e de Lula - é disputar com o empresário José Batista Júnior, o Júnior da Friboi, "porque aí a campanha está resolvida", diz um dirigente. De qualquer forma, Goiás é um problema interno e não deve afetar o apoio a Dilma na convenção nacional. Em Minas o ministro Antonio Andrade (Agricultura) pode ser o vice na chapa do ministro Fernando Pimentel (Indústria e Comércio), mas o senador Clésio Andrade reivindica a candidatura ao governo.
Hoje não há risco para Dilma, mas o PMDB quer definir tudo até março, "porque se chegar em junho e a coisa degringolar [manifestações] não dá mais".
Fonte: Valor Econômico
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