quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Crise financeira no Rio leva caos à saúde no Estado

Crise na saúde faz hospitais do Rio fecharem emergência

- Folha de S. Paulo

RIO - A crise financeira do governo estadual do Rio deixou hospitais sem luvas, esparadrapo, algodão e remédios, para atendimento até de pacientes em situação de emergência. O cenário é resultado da dívida com fornecedores que acumula R$ 1,4 bilhão.

Após quase uma semana de unidades estaduais fechadas -em alguns casos até com tapumes- para afastar pacientes, o Estado obteve nesta quarta-feira (23) promessa de ajuda dos governos federal e municipal. Em um dia, as três esferas de governo anunciaram aporte de R$ 297 milhões no setor.

A Prefeitura do Rio emprestou R$ 100 milhões. O governo federal repassou R$ 45 milhões e prometeu envio de itens básicos, como remédios. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), disse ter obtido "receitas extras" de R$ 152 milhões para os hospitais.

"Esses recursos vão nos ajudar a atravessar dezembro até 10 de janeiro", disse o governador, que decretou situação de emergência na saúde para agilizar o recebimento de verbas federais.

A União prometeu mais R$ 90 milhões até a primeira quinzena de janeiro.

O Estado alega que a arrecadação de ICMS, em queda desde o início do ano, teve uma redução brusca a partir de outubro. Aponta ainda um rombo nas contas públicas causado pela queda do preço do barril de petróleo, que afetou a receita com royalties.

O colapso se instalou após sucessivos atrasos a fornecedores. Itens básicos deixaram de ser entregues. Médicos passaram a recusar pacientes por falta de condições de atendimento. Funcionários de limpeza terceirizados abandonaram o trabalho após atraso nos salários.

A falta de verba afetou 17 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e sete hospitais, que fecharam parcial ou totalmente nos últimos dias.

Tapume
A penúria nas unidades de saúde levou a medidas extremas. O diretor do Hospital Albert Schweitzer, Dilson Pereira, foi à polícia registrar em boletim de ocorrência a escassez de recursos para explicar, antecipadamente, o fechamento da emergência.

Os hospitais da Mulher e Getúlio Vargas fecharam com tapumes suas portas.

Grávida, a estudante Viviane Valdivino, 18, precisou discutir em frente ao Albert Schweitzer, em Realengo (zona oeste) no domingo (20) para ser internada e ter o seu filho, Luan. Atendentes a mandaram para casa duas vezes.

"Se não fizesse isso, meu filho nasceria em casa. Eles diziam que não tinham condições de me receber", disse.

Internado desde outubro, o pedreiro José das Graças, 60, viu a cada dia a situação do hospital se deteriorar. Segundo ele, faltam luvas e algodão.

A Justiça determinou que o Estado aplique 12% do orçamento em saúde. De acordo com o Portal Transparência da Secretaria de Fazenda, o valor empenhado no setor é 10% do total de R$ 56 bilhões já comprometidos.

"Não estamos conseguindo fazer [o repasse] financeiramente, mas orçamentariamente [permite o gasto, mas sem repasar o dinheiro]. Nosso esforço é minorar o sofrimento da saúde. Mas é evidente que eu não consigo pagar tudo", disse o secretário de Fazenda, Júlio Bueno.

O empréstimo prometido pelo município deve ser pago até junho e gasto diretamente nos hospitais Albert Schweitzer e Rocha Faria.

A crise não atinge só a saúde. O Estado já teve que parcelar o pagamento dos salários de novembro e do 13º.

A Uerj (estadual do Rio) suspendeu suas aulas por causa da falta de limpeza. Duas bibliotecas-parques chegaram a ser fechadas, mas foram reabertas após a prefeitura assumir o custo de manutenção do espaço.

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