• Fez mal a presidente Dilma Rousseff em não viajar para o Rio de Janeiro e desejar um Natal melhor aos pacientes do SUS. Sua popularidade poderia melhorar se fizesse uma visita ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo
- Correio Braziliense
A presidente Dilma Rousseff vai ganhar o melhor presente de Natal que poderia ter num ano de tantas dificuldades, o segundo netinho. Mas esse foi um mau pretexto para cancelar a viagem que faria ao Rio de Janeiro ontem, onde deveria inaugurar, em Deodoro, mais uma das instalações esportivas das Olimpíadas de 2016. Na avaliação do Palácio do Planalto, a agenda era uma fria: a ex-capital da República vive uma das piores crises do seu sistema de saúde, com os hospitais em colapso. Até a reserva estratégica de medicamentos para o período dos Jogos Olímpicos corre risco.
Para enfrentar a situação, acompanhado do chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou a criação de um gabinete de crise, do qual vão participar “toda a nossa rede federal, estadual e municipal para fornecer equipamentos, medicamentos e transferência de pacientes que forem necessários”. O maior problema é a infestação da cidade pelo mosquito Aedes aegypti. O Exército será mobilizado para combatê-lo. Além de transmitir a dengue e a chikungunya, o Aedes aegypti agora também transmite a zika, que tem o problema adicional das sequelas da enfermidade que é a microcefalia, “o grande problema de saúde pública que temos hoje no Brasil”, afirmou o ministro.
“O grave problema da saúde no Rio de Janeiro”, cuja rede hospitalar entrou em colapso por falta de verbas, também é uma ameaça ao sucesso das Olimpíadas, depois de tantos investimentos feitos pelo prefeito carioca, Eduardo Paes. Seu grande legado urbanístico será a reurbanização da antiga região portuária e a mudança de padrão da mobilidade no centro do Rio, com o veículo leve sob trilhos, além da Vila Olímpica, na Barra da Tijuca. Mas o êxito dos jogos é importante para a imagem internacional da Cidade Maravilhosa.
Caixa d’água
Os mata-mosquitos já foram uma das figuras características do Rio de Janeiro, nos tempos dourados de capital da República. Eles surgiram com Oswaldo Cruz, em 1904, durante a reforma sanitária que resultou na Revolta da Vacina. A reforma incluía a demolição das favelas e cortiços, expulsando seus moradores para as periferias, e a vacinação obrigatória contra a varíola. Naquela época, o centro do Rio abrigava pântanos e um grande manguezal; eram constantes as epidemias de tifo e febre amarela.
Entre 10 e 16 de dezembro daquele ano, a cidade virou um campo de batalha. A população depredou lojas, virou e incendiou bondes, fez barricadas, arrancou trilhos, derrubou postes, atacou a polícia com pedras, paus e barras de ferro. Saldo de 30 mortos e 110 feridos. Os alunos da antiga Escola Militar da Praia Vermelha, eternos bagunceiros, também se sublevaram. A saída foi decretar estado de sítio e mandar os líderes da revolta para o Acre. Por pura ironia, o presidente Rodrigues Alves, que nomeara Oswaldo Cruz no primeiro mandato (1902-1906), morreu de “gripe espanhola” logo no começo do segundo mandato, em 1918.
Uma variante desse vírus, o Influenza A subtipo H1N1, esteve de volta ao Brasil alguns anos atrás, com o nome de “gripe suína”. Mas voltemos ao Aedes aegypti, que virou uma constante nos verões brasileiros e, neste ano, se tornou um problema dramático, por causa do zika vírus, que provoca microcefalia nos recém-nascidos e deixa sequelas piores do que a paralisia infantil e a talidomida, pois atinge o cérebro das crianças. Uma das dificuldades para erradicar o mosquito é a proliferação de caixas d’água nas cidades brasileiras, cujo padrão de abastecimento contraria o princípio adotado em quase todas as cidades do mundo: a gravidade, que dispensa o armazenamento, ao contrário do sistema de bombeamento. Mas essa é outra história.
Fez mal a presidente Dilma Rousseff em não viajar para o Rio de Janeiro e desejar um Natal melhor aos pacientes do SUS. Sua popularidade poderia melhorar se fizesse uma visita ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste, cujos médicos há três dias foram à 33º DP dar queixa contra a falta de condições para prestar atendimento à população, temendo punições futuras, de caráter criminal, por omissão de socorro. No Getúlio Vargas, na Penha, médicos enviaram carta ao Conselho Regional de Medicina (Cremerj) alertando sobre os graves problemas de desabastecimento de insumos e medicamentos essenciais.
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