Carolina
Nalin / O Globo
RIO
— A pandemia derrubou
o Produto Interno Brasileiro (PIB) em 2020, levando o país a enfrentar a mais
profunda recessão em décadas. A economia encolheu 4,1%, segundo dados
divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE, a maior queda desde 1990, quando houve
o confisco do presidente Fernando Collor de Mello.
Naquele
ano, o PIB brasileiro desabou 4,35%. O desempenho do ano passado veio em linha
com as expectativas de mercado, que projetava queda de 4,20%.
O
resultado de 2020 também leva o país a um desastre econômico mais grave que o
vivenciado na década de 1980, a chamada década perdida, quando estagnação e
hiperinflação faziam parte do cotidiano dos brasileiros.
Segundo
estimativas do Ibre-FGV, a economia cresceu 0,3% ao ano na década encerrada em
2020, desempenho pior que o registrado nos anos 1980, quando avançou 1,6%
anualmente. Com isso, a última década terá sido a pior em 120 anos.
A
série histórica do IBGE, pela atual metodologia do instituto, teve início em
1996. Mas estatísticas do Ipea e da FGV trazem dados para o PIB desde 1901.
Com tamanho tombo da economia e elevado desemprego, a renda per capita foi a menor da História em 2020. Ficou em R$ 35.172, baixa de 4,8% em relação a 2019.
Serviços e indústria puxam queda
Segundo
o IBGE, o setor de serviços encolheu 4,5% e a indústria, 3,5% no ano passado.
Somados, esses dois setores representam 95% da economia nacional. Por outro
lado, a agropecuária cresceu 2%, puxada pelas safras recordes se soja e café.
O
fechamento de hotéis, academias e restaurantes foi o segmento dentro da área de
serviços que teve o pior desempenho, pois foram muito afetados pelas medidas de
distanciamento social.
“O resultado (do PIB em 2020) é efeito da
pandemia, quando diversas atividades econômicas foram parcial ou totalmente
paralisadas para controle da disseminação do vírus”, analisa a coordenadora de
Contas Nacionais, Rebeca Palis.
Ela
continua:
"Mesmo
quando começou a flexibilização do distanciamento social, muitas pessoas
permaneceram receosas de consumir, principalmente os serviços que podem provocar
aglomeração".
Construção
civil despenca
Na
indústria, o segmento de construção civil foi o mais fortemente afetado. Apesar
do recorde de financiamento com recursos da poupança para
compra da casa própria no ano passado, a construção civil desabou 7% em 2020.
A
indústria da transformação recuou 4,3%, principalmente devido à queda na
produção de veículos. Já a chamada indústria extrativa avançou 1,3%, com alta
na produção de petróleo e gás, que compensou a queda da extração de minério de
ferro.
Pelo
lado da demanda, todos os componentes recuaram em 2020, na comparação com o ano
anterior. O consumo das famílias caiu 5,5%, o pior resultado da série
histórica do IBGE, iniciada em 1996.
Consumo
das famílias tem queda histórica
Isso
pode ser explicado, segundo a coordenadora de Contas Nacionais, principalmente
pela piora no mercado de trabalho e a necessidade de distanciamento social.
A
queda no consumo do governo também foi histórica (-4,7%),com o fechamento de
escolas, universidades, museus e parques ao longo do ano.
Já
os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) caíram 0,8%, encerrando uma
sequência de dois anos positivos.
Perda
de fôlego no 4º trimestre
Ao
longo do ano, o PIB despencou no segundo trimestre, quando as restrições à
circulação foram mais rígidas. Os três meses seguintes apontaram para uma
recuperação, ainda que lenta.
No
quarto trimestre, porém, a economia voltou a perder fôlego. O PIB cresceu 3,2%
entre outubro e dezembro. A mediana das expectativas do mercado era de alta de
2,8%.
O
país até teve certo dinamismo no último trimestre, fruto do arrefecimento da
Covid-19 a partir de setembro, o que permitiu o afrouxamento das medidas de
distanciamento social.
No
entanto, o recrudescimento da doença nos meses seguintes e a redução do valor
do auxílio emergencial fizeram a atividade econômica perder força e o ritmo de
recuperação desacelerar.
Projeção
de queda no 1º trimestre
O
ritmo lento de vacinação por conta da falta de vacinas, o fim do auxílio
emergencial a partir de janeiro e sem a definição de um novo programa, além da
preocupação com o endividamento público têm levado analistas a estimarem uma
queda no PIB no primeiro trimestre de 2021.
A
Tendências projeta um pequeno crescimento do PIB no primeiro trimestre, seguido
de uma leve queda no segundo. Mas a consultoria não descarta a possibilidade de
um cenário com duas quedas consecutivas do PIB no ano, levando o país de volta
à chamada recessão técnica:
— Viemos de dois trimestres positivos. Então, a base de comparação é mais elevada, e a ressaca do fim dos auxílios e a piora da pandemia sugerem um contexto de acomodação da atividade, o que pode acabar resultando em dois trimestres de pequena perda do PIB. É um risco bastante presente que está no radar — aponta Silvio Campos Neto, economista da consultoria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário