O
senador Flávio Bolsonaro acaba de comprar uma casa no Setor de Mansões Dom
Bosco, um dos mais valorizados da capital, no valor de R$ 5,7 milhões
Max
Weber, em sua antológica palestra A política como vocação, divide os políticos
em duas categorias: os que vivem para a política e os que vivem da política. No
primeiro caso, estão aqueles que veem a política como bem comum; no segundo,
como negócio. As duas espécies se digladiam na democracia, faz parte do jogo na
ordem capitalista. Mas no Brasil é diferente: todos dizem defender o bem comum,
ninguém assume que está na política para defender interesses empresariais. Como
temos um pé no Oriente, em razão de nossas raízes ibéricas, muitos estão na
política para formar patrimônio.
Parece o caso do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que acaba de comprar uma casa no Setor de Mansões Dom Bosco, um dos mais valorizados da capital, no valor de R$ 5,7 milhões. O imóvel tem área total de 2,4 mil metros quadrados. O registro em cartório da aquisição do imóvel revela que houve o pagamento de R$ 2,87 milhões à vista, além do valor da parcela do financiamento, entre R$ 18,7 mil e R$ 21,5 mil. Para justificar a operação, o filho primogênito do presidente Jair Bolsonaro disse que vendeu um apartamento na Barra da Tijuca (RJ) e a franquia de sua loja de chocolates para dar a entrada no imóvel na capital federal.
Um
blogueiro gozador, rapidamente, fez as contas, comparando o valor do imóvel com
a quantidade de Nhá Benta (merengue coberto por chocolate), equivalentes aos R$
6 milhões: 182.370 caixas de 90 gramas, de acordo com os preços da loja virtual
da Kopenhagen. O financiamento obtido no Banco de Brasília (BRB) para aquisição
do imóvel foi bem camarada. Pelas regras do sistema financeiro habitacional, a
prestação não pode ultrapassar 30% da renda bruta. Do valor total do imóvel, R$
3,1 milhões foram financiados, em 360 parcelas, a uma taxa de juros de balcão
efetivos de 4,85% ao ano. No cartório em Brazlândia, onde foi registrada a
operação de compra e venda, consta que Flávio Bolsonaro tem renda de R$ 28,3
mil e sua esposa, R$ 8,6 mil.
A
notícia da compra do imóvel pegou de surpresa os aliados do presidente Jair
Bolsonaro, pois o senador tem direito a apartamento funcional. Logo, repercutiu
nas redes sociais, porque o imóvel havia sido anunciado por corretores e havia
abundância de imagens em vídeo da mansão na internet (https://youtu.be/TrzNkaBgYE4).
Recentemente, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por 4 votos a
1, havia anulado a quebra de sigilo das contas do senador, que é investigado no
escândalo das “rachadinhas” da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro,
supostamente, por ter movimentado cerca de R$ 2,3 milhões. De acordo com a
denúncia do Ministério Público, o dinheiro teria sido lavado com aplicação em
uma loja de chocolates no Rio, da qual o senador era sócio, e em imóveis.
Preconceitos
Para
o senso comum, as pessoas ricas poderiam se dedicar inteiramente à política de
forma genuína, pois não teriam interesses econômicos nela. As pessoas que vivem
da política seriam aquelas que veem na política sua profissão. Essa é uma visão
preconceituosa, que não é bem o que Max Weber quis dizer, porque dá margem à
ideia de que pessoas ricas estariam mais habilitadas a entrar na política, pois
não roubariam, enquanto uma pessoa pobre não poderia fazer o mesmo, pois veria
na política um meio de garantir sua vida financeira.
O que Weber quis dizer é que políticos que vivem para a política atuam em defesa do bem comum, não importa se são ricos ou pobres. A remuneração de um parlamentar existe exatamente para permitir que um assalariado possa exercer seu mandato sem pôr em risco a sobrevivência de sua família. De igual maneira, há pessoas que entram na política não porque vão ganhar um alto salário como deputado, por exemplo, mas, sim, porque esse cargo lhe permitirá participar da cúpula do poder, com a possibilidade de tomar decisões que favoreçam um grupo específico ao qual pertence ou ao qual deva favores, o que é legítimo na democracia. Mas também há inúmeros casos de homens ricos que estão na política para fazer seus próprios negócios e que se notabilizaram como políticos corruptos.
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