Lula
virou político de novo e restabeleceu o que parecia superado: a polarização
Desafio
à esfinge: o que houve de determinante, em tão curto espaço de tempo, que levou
o ex-presidente Lula a
assumir sua candidatura à Presidência da República? Num dia ele lançou Fernando Haddad,
despachando-o para liderar
caravanas. Quinze dias depois, sem revogar a primeira ordem,
declarou de viva-voz o que todos entenderam como um alto lá. Será ele mesmo o
candidato.
No
primeiro movimento, o ex-presidente pretendeu tranquilizar o Supremo Tribunal
Federal quanto à sua submissão à Lei da Ficha Limpa. Não seria candidato mesmo
se lhe fosse favorável o julgamento, esta semana, relativo à suspeição do juiz
Sérgio Moro no caso do triplex do Guarujá.
Duas semanas se passaram e eis que o ministro Ricardo Lewandowski permitiu acesso da defesa aos diálogos entre os promotores da força-tarefa e o juiz da Lava Jato. São 10% as transcrições do grampo que se referem a Lula, agora em exame pelo ministro Gilmar Mendes, o relator do processo.
Os
advogados puderam constatar a extensão do comprometimento não apenas de Sérgio Moro, como do
coordenador Deltan Dallagnol e até do então procurador-geral Rodrigo Janot.
Verificaram que a Justiça teria dados suficientes para considerar Lula vítima
de perseguição. Constataram que os que o prenderam admitiam não ter provas ou
certezas.
Ampliaram-se, então, as expectativas, até aí limitadas ao triplex. Agora seria possível rever também o caso do sítio de Atibaia. Anuladas as sentenças, recuperados os direitos políticos, Lula poderia ser candidato. Aí se precipitou, surpreendendo até quem esperava estabelecer com o PT uma aliança mais ampla ao centro e à esquerda.
O
que fará a seguir ainda está em análise. Poderá pedir a extensão dos argumentos
do triplex para o sítio. Se não for possível, a defesa ingressará com novo
pedido de habeas corpus específico.
Desde
que saiu da prisão, o ex-presidente só se manifestava para louvar a preservação
da sua potência sexual, anunciava planos de casamento com Janja e sugeria uma
vida reclusa em paradisíaca praia da Bahia.
De
repente, uma mudança e tanto. Lula virou político de novo e restabeleceu o que
parecia superado: a polarização. O presidente Jair Bolsonaro exultou. Vinha
projetando o fantasma do ex-presidente como adversário, agora o tinha na
realidade. E a Lula sempre interessou o confronto com Bolsonaro. Ambos querem
uma disputa de recíproca rejeição acreditando, cada um, que o outro tem pior
conceito na praça.
Este
cenário é responsável pela ressurreição, nestes recentes episódios nada
espontâneos, do aviso do
general Villas Bôas ao STF sobre a inconveniência de restaurar
os direitos eleitorais de Lula. Um episódio de dois anos atrás, subitamente
atualizado pela edição do livro de memórias do ex-comandante, com novas
revelações. Entre elas a de que o Alto Comando do Exército referendou a pressão
que exerceu sobre a Suprema Corte.
Desta
vez, com um agravante: a explosão do apoio aos militares do núcleo de
extremistas que sustentam Bolsonaro. Até como pretexto para mais uma vez
agredirem o Supremo, o saco de pancadas do grupo.
Uma
frente que expõe a geleia geral de obscurantismo, negacionismo, diversionismo,
golpismo e provocação.
Como
se o tempo tivesse dado uma meia-volta, volver.
Tal
enredo ainda não está consolidado. Nada impede que o STF contorne polêmicas e
adote uma solução híbrida. Reconheceria a suspeição do juiz Sérgio Moro, mas
não restabeleceria os direitos políticos de Lula, que permaneceria inelegível.
E já houve precedente desta combinação: a decisão de Lewandowski, agora com
sinais trocados, no impeachment da ex-presidente Dilma. Foi deposta, mas sem
perder seus direitos políticos.
Estará
permeando este julgamento a animosidade jamais superada dos militares com a esquerda.
Perfeitamente correspondida.
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