Presidente quer reforçar visão de que age no front econômico enquanto governos restringem atividades
Jair
Bolsonaro fez uma jogada dupla ao zerar
tributos sobre o diesel e o botijão de gás. Ainda que o efeito sobre o
preço final seja modesto, o presidente vai mobilizar a máquina de propaganda do
governo para colher benefícios com a medida. De quebra, ele deve reabrir uma
disputa com governadores e tentar fustigar aqueles que atualmente são seus
principais adversários políticos.
O
Planalto vai fazer o possível para mudar de assunto na fase crítica de mortes
por Covid-19 que o país voltou a enfrentar. Uma medida econômica com impacto
sobre os caminhoneiros da base bolsonarista e milhões de brasileiros que usam
botijões de gás já começou a ser explorada como válvula de escape.
Bolsonaro prepara um pronunciamento na TV para tirar proveito da redução. Segundo auxiliares, ele deve citar ações ligadas à compra de vacinas, mas também vai aproveitar o espaço para citar o corte de tributos. A ideia é reforçar a visão de que o Planalto age no front econômico no momento em que governos locais restringem as atividades para conter o colapso da rede hospitalar.
A
opção de dobrar a aposta no negacionismo e atacar as medidas de redução da
circulação vem acoplada a uma disputa econômica com os governadores. Num
momento de escalada da tensão entre o Planalto e os estados, Bolsonaro tenta
pintar seus rivais como alguns dos principais vilões dos combustíveis caros.
Ao
comentar a redução dos tributos nesta terça (2), o presidente destacou que
cartazes deverão discriminar a composição do que é cobrado dos consumidores,
“para a gente começar a apurar os verdadeiros responsáveis pelo preço alto dos
combustíveis”. Ele citou as distribuidoras, os postos e os estados.
Essa
batalha é antiga. No ano passado, Bolsonaro desafiou governadores a zerar o
ICMS para baratear os combustíveis. Ninguém topou, já que o tributo é uma fonte
de receita importante nos estados. Num país que bate recordes diários de
mortes, o presidente só trabalha com afinco para
alimentar desavenças políticas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário