Fala,
Bolsonaro!
Quem
diria… Há dois anos, a maioria dos que se preparavam para votar em Jair
Bolsonaro, o Mito, como era chamado, dizia que uma vez eleito, ele combateria a
corrupção como nenhum presidente havia feito antes, defenderia os sacros
valores da família brasileira e ofereceria uma vida melhor aos brasileiros.
Como
essa gente estará se sentindo depois de ver Sergio Moro fora do governo, a Lava
Jato sendo enterrada, o senador Flãvio Bolsonaro envolvido no escândalo da
rachadinha e obrigado a justificar a compra de uma mansão de 6 milhões de reais
em Brasília, e o novo recorde de mortes provocadas pela Covid?
Nas
redes sociais, por enquanto, é de desânimo o estado de espírito dos defensores
do ex-capitão. Os fatos se sucedem a uma velocidade alarmante e eles mal têm
tempo para respirar, quanto mais agarrar-se a bóia de uma narrativa que pareça
convincente. Não significa que ficarão órfãos. Há quem sempre pense por eles.
O
próprio Bolsonaro ensaiou uma explicação ao reunir-se com devotos nos jardins
do Palácio da Alvorada. “Querem me culpar pelas 200 e tantas mil mortes”, disse
ele. “O Brasil é o 20º país do mundo em mortes por milhão de habitantes. A
gente lamenta? Lamentamos. Mas tem outros países [em pior situação]”.
As
famílias e os amigos dos 1.726 mortos pela Covid nas últimas 24 horas aceitarão
de bom grado a desculpa oferecida pelo presidente? Morreram até ontem 257.562
pessoas, e 10.647.845 foram contaminadas. A média de mortes por dia é 23% maior
do que a registrada há duas semanas.
Em média, são 55.318 novos casos por dia, 22% a mais do que 14 dias atrás. Portanto, a tendência é de alta nos casos e também nos óbitos. São 15 Estados e mais o Distrito Federal com alta na média de mortes. Com queda, três. Apenas 3,36% da população receberam a primeira dose de vacina, e 1,02% a segunda dose.
Acendeu
a luz vermelha em todo o país com o agravamento da pandemia – menos,
naturalmente, no Palácio do Planalto e no Ministério da Saúde do general
Eduardo Pazuello. No palácio, a preocupação com o filho mais velho de Bolsonaro
ocupou quase todas as rodas de conversa e os despachos de rotina.
Entre
si, assessores presidenciais chegaram a sugerir que Bolsonaro repreendesse
publicamente Flávio como fez no caso da rachadinha em janeiro de 2019. Naquela
ocasião, o presidente afirmou em resposta à pergunta de um jornalista:
–
Se, por acaso, ele errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai
ter que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar.
Resposta
civilizada, não foi? Um ano depois, Bolsonaro começou a mandar jornalista calar
a boca. Com mais alguns meses, ameaçou encher de porrada a boca de um
jornalista. Há dias, indagado por um jornalista do Acre sobre uma decisão do
Superior Tribunal de Justiça que beneficiou Flávio, Bolsonaro encerrou a
entrevista.
Flávio
é um aplicado agente imobiliário. Desde que se elegeu pela primeira vez
deputado estadual pelo Rio de Janeiro, já comprou e vendeu 20 imóveis, saindo
sempre no lucro. Parte da compra dos imóveis foi feita com dinheiro vivo,
hábito compartilhado com seus irmãos, pai, mãe e ex-madrastas. É mais fácil
assim, sabe?
Era
para Bolsonaro ter falado ontem ao país em rede nacional de rádio e televisão.
Estava tudo pronto para a gravação quando ele achou melhor transferi-la para
hoje. Temia ser recepcionado por um panelaço no dia em que só se falava da
história da mansão milionária do filho dono de renda modesta.
Ainda
muito se falará. Dado o momento que o país atravessa, dia de panelaço é todo
dia.
Com
Ciro e Haddad como coveiros, frente de esquerda é enterrada
Poderá
ou não ressuscitar no segundo turno
Cada
um culpará o outro e explicará o fato de acordo com suas conveniências. Mas se
parte da esquerda ainda alimentava o sonho de uma frente ampla para enfrentar
Jair Bolsonaro no primeiro turno da eleição do ano que vem, o sonho acabou.
Na
semana passada, Ciro Gomes (PDT), derrotado três vezes para presidente da
República, jogou uma pá de cal na proposta de unir a esquerda:
“Quem for contra o Bolsonaro no segundo turno
tem a tendência de ganhar a eleição. O menos capaz disso é o PT. Por isso, a
minha tarefa é necessariamente derrotar o PT no primeiro turno”.
Fernando
Haddad (PT), autorizado por Lula a viajar em campanha pelo país, jogou, ontem,
a segunda pá de cal:
“A
direita tem o Ciro, Moro, Mandetta, Huck, Dória, qual é o problema? Isso tudo
tem um ano e meio para se discutir. Não faz sentido inibir uma pessoa de se
apresentar e conversar com a sociedade”.
Ciro
antecipou que não conversará com o PT porque sua tarefa é impedir que ele
dispute o segundo turno com Bolsonaro. Haddad respondeu excluindo Ciro, por ser
de direita, de qualquer conversa sobre a construção de uma frente ampla de
esquerda.
A
esperança de Haddad é que ele seja o candidato do PT e do resto da esquerda no
primeiro turno. A de Ciro, que ele vire o candidato da direita não bolsonarista
e de uma parte da esquerda que prefira distanciar-se do PT.
Não
haverá frente de esquerda, muito menos ampla. Haverá mais de um candidato.
Quanto ao segundo turno, é cedo para especular a respeito. Por ora, a esquerda
de todos os matizes diz que apoiará o nome que possa derrotar Bolsonaro, não
importa qual.
A ver, a ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário