O que mais se ouve diante da sucessão de imagens e notícias que atestam nossa calamidade é: “Que horror!”. Sim, um horror. Mas que tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro.
Sem
Jair Bolsonaro, nunca teríamos Eduardo Pazuello como o ministro da Saúde mais
longevo de um ano de pandemia desenfreada.
Sem
Jair Bolsonaro, já teríamos superado a idade da pedra da pandemia e não
veríamos boçais repetirem o presidente em que se espelham e colocarem em dúvida
a necessidade básica de usar uma máscara.
Sem
Jair Bolsonaro, governadores não ficariam com medinho de adotar medidas mais
que urgentes, na verdade atrasadas, para conter internações e mortes, pois não
teriam hordas de arruaceiros atrás de si propagando absurdos.
Se
é tão óbvia a responsabilidade do presidente da República, por que seguimos
bovinamente repetindo “que horror”, em várias esferas da vida nacional, e nada
acontece a ele?
Graças a pensamentos como o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para quem os crimes cometidos pelo capitão são colocados na conta dos “exageros retóricos” ou de “comportamentos pessoais condenáveis”, e qualquer medida de contenção prescrita na Constituição é descabida no momento.
Para
Pacheco, a História tratará de apontar as responsabilidades pelos crimes da
pandemia. Enquanto isso, a missão do Congresso, segundo ele, é garantir que o
auxílio emergencial seja aprovado logo e que as vacinas cheguem em profusão aos
braços dos brasileiros.
Se
a omissão ao menos levasse a esses objetivos, vá lá. A História trataria de
julgar também os parlamentares.
Mas
não! A negociação do auxílio está emperrada na absoluta ausência de projeto,
que deveria ter sido pensado ainda na virada do ano, para garantir o mínimo de
compensação fiscal a que Paulo Guedes tenta se apegar.
Não
só não existe essa engenharia, como também nada garante que o pagamento de R$
250 por quatro meses passará no Congresso sem majoração de prazo e valor. O que
levará Guedes, Pacheco e companhia de volta à estaca zero e postergará em dias
ou semanas o pagamento.
Da
mesma maneira, a tal “planilha” que o imperdoável Pazuello apresentou a
Pacheco, Arthur Lira e companhia no domingo não passa de mais um papel de pão
sem validade. O Ministério da Saúde não tem como garantir as quantidades de
vacinas que tem prometido. Não com os acordos que assinou até aqui, preto no
branco.
Existem
protocolos de intenções com vacinas ainda não aprovadas pela Anvisa, e não
existe nem sinal de compra daquela única já aprovada em definitivo pela
agência, a da Pfizer! Um atestado simples da mais completa incompetência e
falência do Plano Nacional de Imunização.
Mas,
ainda assim, os órgãos de controle, o Ministério Público, o Congresso e parte
da sociedade seguem num misto de pensamento mágico de que tudo vai se resolver,
negação da gravidade e ilusão de que seja possível levar uma “vida normal”.
Diante
de tal cenário, o ministro da Economia, para justificar seu apego a um cargo de
que já foi destituído na prática pelo presidente, pede que lhe apontem se está
indo no caminho errado, porque assim ele sairá. É embaraçoso que o responsável
pela Economia, no momento de maior solavanco na vida econômica do país, não
tenha GPS.
Ainda
falta mais de um ano para as eleições, e os que podem agir agora, porque têm
mandato e atribuição legal para tal, seguem fingindo que não é com eles.
Enquanto
não se exigir de Bolsonaro que pare de sabotar as medidas de distanciamento e o
plano de imunização, sob pena de pagar com o que lhe é mais caro, a cadeira, o
Brasil seguirá com o nefasto título de pior país do mundo hoje no enfrentamento
à pandemia.
Uma música de protesto de um tempo igualmente macabro da vida brasileira dizia que quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Esperar o tal tribunal da História significa assumir e aceitar que pessoas continuarão morrendo aos milhares. E, assim, ser cúmplice de Bolsonaro.
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