Correio Braziliense
O
candidato à vaga de Marco Aurélio Mello tem se destacado pelas tentativas de
enquadrar opositores do presidente Bolsonaro na antiga Lei de Segurança
Nacional
O presidente Jair Bolsonaro anunciou,
ontem, que indicará o advogado-geral da União, André Mendonça, para a vaga do
ministro Marco Aurélio Mello, que se aposentará em 12 de julho, no Supremo
Tribunal Federal STF). Pastor presbiteriano, a escolha de Mendonça, por isso
mesmo, efetiva a promessa de Bolsonaro de que indicaria um nome “terrivelmente
evangélico” para o cargo. O anúncio de Bolsonaro esvazia as pressões crescentes
em favor de outros candidatos à vaga de ministro do Supremo.
Um deles é o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Humberto Martins, candidato apoiado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). Nos bastidores do Congresso, comenta-se que Lira teria estimulado o deputado Luis Miranda (DEM-DF) a fazer a denúncia da compra irregular da Covaxin para pressionar Bolsonaro a aceitar sua indicação, e não apenas por causa da disputa por verbas do Orçamento da União entre o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e a secretária de governo, ministra Flávia Arruda (PL-DF), aliada do presidente da Câmara. A aprovação de Mendonça, porém, não depende dos deputados, mas do Senado, onde será sabatinado, antes de seu nome ser homologado ou não pelos senadores.
Outro preterido na disputa seria o
procurador-geral da República, Augusto Aras, que vem mantendo alinhamento
absoluto com Bolsonaro em suas disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). O
mandato de Aras está no fim, e sua liderança na instituição foi muito
enfraquecida por causa de sua aliança com o presidente da República. Na escolha
da lista tríplice para o cargo de procurador-geral, a subprocuradora Luiza
Frischeisen foi eleita a mais votada, com 647 votos. Os subprocuradores Mario
Bonsaglia, com 636 votos, e Nicolao Dino, com 587 votos, também fazem oposição
ao procurador-geral. Cerca de 70% do Colégio de Procuradores participaram da
votação. Ninguém da lista agrada a Bolsonaro, que deve reconduzir Aras ao
cargo, o que reduz o desgaste pela indicação de Mendonça.
Aos 48 anos, André Mendonça faz uma
carreira meteórica. Santista, formado pela Faculdade de Direito de Bauru, no
interior de São Paulo, é doutor em Estado de direito e governança global e
mestre em estratégias anticorrupção e políticas de integridade pela
Universidade de Salamanca, na Espanha. Na Advocacia-Geral da União (AGU) desde
2000, exerceu os cargos de corregedor-geral e de diretor de Patrimônio e
Probidade. Em 2019, com a chegada de Bolsonaro à presidência, assumiu o comando
da AGU.
Presbítero
Após a saída do ex-ministro Sergio Moro, Mendonça assumiu a pasta da Justiça e
Segurança Pública em abril de 2020. No entanto voltou para a AGU em abril deste
ano, após a mais recente reforma ministerial do governo Bolsonaro, logo depois
da crise com o alto escalão das Forças Armadas. Mendonça também é ligado ao
ministro Dias Toffoli, que o designou diretor do Departamento de Combate à Corrupção
e Defesa do Patrimônio Público quando estava à frente da AGU. Ao lado do
ministro Alexandre de Moraes, é coautor do livro Democracia e Sistema de
Justiça, lançado em outubro de 2019, em homenagem aos 10 anos de Toffoli no
Supremo. Entretanto, tem se destacado pelas tentativas de enquadrar opositores
do presidente Jair Bolsonaro na antiga Lei de Segurança Nacional, um entulho
autoritário em contradição com a Constituição de 1988.
Mendonça também é pastor presbiteriano da
Igreja Presbiteriana Esperança, localizada em Brasília. Por isso, foi
qualificado como “terrivelmente evangélico” pelo presidente Jair Bolsonaro, em
solenidade na Câmara dos Deputados, em 2019. Seu nome é apoiado pela Associação
Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure). O presbiterianismo remonta à
Reforma Protestante do século XVI e ao reformador João Calvino (1509-1564), que
fugiu de Paris e se radicou em Genebra, após a conversão à fé evangélica.
Calvino fundou a Academia de Genebra, na qual formou líderes reformadores que
adotaram o conceito de absoluta soberania de Deus como criador, preservador e
redentor do mundo.
No Brasil, o presbiterianismo está dividido em várias denominações. A mais expressiva é a Igreja Presbiteriana do Brasil, fundada em Pernambuco, em 1862, pelo missionário Ashbel Green Simonton (1833-1867). Os primeiros calvinistas, porém, chegaram em 1555, com o vice-almirante da França Nicolas Durand de Villegagnon, para fundar a França Antártica. Sua expulsão por paulistas e portugueses, liderados por Estácio de Sá, resultou na fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, cuja cultura, por ironia, é antítese do calvinismo.
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