Não haverá eleições prévias no PSDB para escolher o candidato à sucessão do presidente Lula. Existe um acordo tático entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), os dois nomes tucanos mais fortes: um terá o apoio do outro para a definição do candidato. Aécio admite trocar as prévias por “análises” que incluam pesquisas eleitorais – lideradas atualmente por Serra. Diante disso, o paulista já defende que o partido antecipe a escolha.
Serra e Aécio fazem acordo para evitar realização de prévias
Governador mineiro, principal defensor da disputa interna, aceita alternativas para definir candidato em 2010
Não haverá eleições prévias no PSDB para escolher o candidato tucano que vai disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ano que vem. O acordo tático entre os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, os dois nomes mais fortes do PSDB, está estabelecido numa frase: "Nada de disputa entre nós."
No pacto entre os dois governadores não há uma definição de candidato para a cabeça de chapa tucana, embora a maioria do partido adote a candidatura Serra como a mais provável. O que define, porém, as prévias como desnecessárias é o acerto de que um terá o apoio do outro para a definição do candidato titular.
Na quarta-feira, em entrevista concedida em Belo Horizonte, Aécio não só admitiu de público a hipótese de se adotar outro "instrumento de escolha", que não as prévias, como chegou a sugerir um "conjunto de análises que inclua pesquisas eleitorais", desde que se levem em conta aspectos como o baixo nível de rejeição, a capacidade de aglutinação e o potencial de crescimento, que ele considera seus pontos fortes.
As referências de Aécio à hipótese de não haver prévias e aos seus trunfos eleitorais foram lidos como sinal de manutenção da pré-candidatura - o que é visto com naturalidade dentro do PSDB. O governador mineiro vai mesmo tirar licença do comando do Estado por pelo menos 15 dias, para fazer um tour nacional em pré-campanha, começando pelo Nordeste. Ele entende que o período de outubro a novembro será decisivo para firmar seu nome como alternativa tucana à sucessão de Lula.
A cúpula do PSDB, depois do "acordo de conduta" entre os dois e da definição do apoio mútuo, qualquer que seja a decisão mais adiante, considera que não é hora mesmo de Aécio e Serra abrirem mão das pré-candidaturas. A direção tucana vê a exposição de Aécio fora de Minas como um investimento politicamente utilitário. É bom ele ser mais conhecido em outras regiões, dizem os líderes do partido, "para ser cabeça de chapa, vice ou mais um tucano de expressão nacional puxando a eleição de 2010".
MOMENTO
Pelo lado de Serra também há sinais de mudança de calendário e de confiança na empreitada eleitoral. O governador paulista, que defendia a tese de que anúncio do candidato só fosse feito em fevereiro ou março de 2010, já admite que o PSDB faça a escolha "na virada do ano". É possível até que a decisão seja tomada entre o fim de novembro e início de dezembro.
Diante do levantamento CNT-Sensus da última semana, mostrando que o nome do governador paulista está consolidado como candidato, com 49,9% das intenções de voto dos eleitores em confronto direto com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (25%), Aécio admite francamente apoiá-lo.
Afinal, o governador de Minas não tem dúvida alguma de que tucanos de todo o Brasil fariam a opção pragmática pela vitória com Serra. Na reunião da Executiva Nacional do PSDB, realizada quarta-feira em Brasília, o secretário-geral do partido e articulador da candidatura Aécio, deputado Rodrigo de Castro (MG), resumiu o sentimento que une serristas e aecistas: "O fundamental para nós é ganhar a eleição."
Foi o que o próprio Aécio disse ao deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) oito dias antes, quando visitou a Bahia em pré-campanha. Conhecido no partido como "serrista de carteirinha", Jutahy fez questão de ciceronear o pré-candidato. Inimigo declarado do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) - morto em 2007 -, o deputado acompanhou Aécio até mesmo em um jantar político na casa de ACM Júnior, que assumiu a vaga do pai no Senado. Na saída, o governador recomendou-lhe que não se preocupasse com a disputa pela vaga de candidato do PSDB em 2010. "Fique tranquilo, Jutahy. Tudo vai acabar bem", disse Aécio, para arrematar: "A única coisa que não podemos é perder a eleição."
A direção do PSDB vem festejando a relação entre Serra e Aécio. Há quatro meses, nenhum tucano tem notícia de críticas de um em relação ao outro. Os telefonemas são praticamente diários e os discursos dos dois cada vez mais parecidos. Até na polêmica do petróleo do pré-sal não há divergências entre o mineiro e o paulista. No fim deste mês, Aécio e Serra vão participar de dois encontros do PSDB nacional no Nordeste. Estarão em Natal (RN) no dia 25 e, no dia seguinte, em São Luís (MA).
CENÁRIO
Nas conversas com os baianos, o governador mineiro argumentou que o cenário de três meses atrás, apontando para uma disputa polarizada entre o PSDB e o PT, era bem diferente do atual, que inclui duas outras pré-candidaturas - a da senadora Marina Silva (AC), pelo PV, e a do deputado Ciro Gomes (CE), pelo PSB. Para o comando do PSDB, essas duas candidaturas tiram votos de Dilma e não de Serra, que despontou como "favorito" na análise dos tucanos.
Amanhã os dois governadores têm mais uma oportunidade para exibir o entendimento em vigor. Aécio inaugura o Espaço Minas Gerais, em São Paulo, um centro de referência para empresas e executivos do País e do exterior, agentes e operadores de viagens que queiram conhecer as potencialidades econômicas, turísticas e culturais do Estado.
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