O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador José Serra chegaram de surpresa ao casamento de Natália e Igor, na casa da Praia de Tabuba, em Caucaia (CE), no fim da tarde do dia 8 de janeiro.
Durante a festa, circularam animados entre os convidados, sentaram-se com políticos presentes e posaram para fotos - até com o ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho (PMDB), colega do pai da noiva, senador Tasso Jereissati (PSDB), no Senado.
A presença de FHC foi uma demonstração do prestígio de Tasso, ex-governador e ex-presidente do PSDB, derrotado em outubro na disputa pela reeleição, numa campanha que contou com o empenho pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado de seus adversários.
Mas foi a desenvoltura de Serra que chamou mais atenção. Se alguém esperava vê-lo ainda abatido pela derrota na eleição presidencial, enganou-se. Estava "lépido e fagueiro", segundo relatos.
Nas poucas conversas políticas que teve - a mais longa com o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), sobre a disputa pelo comando do Democratas -, o ex-candidato a presidente da República mostrou que está voltando à ativa. E cheio de disposição para a tarefa que considera ter lhe sido conferida pelos mais de 43% dos votos que recebeu: fazer dura oposição ao governo Dilma Rousseff.
Serra avalia que os votos que recebeu são votos de oposição e que esse eleitorado vai querer dele e do PSDB um firme contraponto ao governo. Por isso, o ex-governador já começou a cobrar do futuro líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (SP), que assuma tal posição na condução da bancada.
Na opinião de aliados de Serra, o partido não foi combativo no confronto com o governo Lula. Inclusive durante a campanha, fez uma oposição "fru-fru", dizem, repetindo expressão usada pelo ex-governador paulista.
O futuro político de Serra é incerto, mas ele sabe o que quer: em 2014, disputar a Presidência da República pela terceira vez ou o governo de São Paulo, que ocupou de janeiro de 2007 a abril de 2010. Em qualquer um dos casos, espera fazer dobradinha com o governador Geraldo Alckmin. Um concorrendo ao Palácio do Planalto e o outro, ao dos Bandeirantes.
O cálculo é o seguinte: em quatro anos, ambos estarão igualmente fortes no Estado e seus projetos estarão necessariamente vinculados. "Serra e Alckmin estão ligados pelo destino", diz um deles.
Visto hoje, o projeto de Serra para 2014 parece quase impossível. Primeiro, porque o ex-governador Aécio Neves (MG), eleito senador, representa a expectativa de poder no PSDB e não está disposto a abrir mão de disputar a próxima eleição para a Presidência da República. Segundo, por causa da afinidade entre Alckmin e Aécio.
Terceiro, porque vários setores do partido, não só de Minas Gerais, estão cansados da hegemonia paulista no PSDB. E defendem um candidato não paulista a presidente.
Aliados de Serra rebatem cada obstáculo. Primeiro, acham que Aécio não vai fazer oposição de fato, por seu perfil mais conciliador. Segundo porque, apesar da proximidade com Alckmin, acreditam que o atual governador de São Paulo no fundo ressente-se da falta de apoio de Aécio à sua candidatura a presidente, em 2006. A tese é que Aécio "rifou" Alckmin em 2006, assim como o fez com Serra, em 2002 e 2010.
De acordo com esse raciocínio, a pregação antipaulista de Aécio prejudica sua pretensão. Acredita-se que o mineiro não conseguiria ser o candidato a presidente se Serra estiver contra.
Uma das falhas dessa avaliação, segundo aliados de Aécio, é não levar em conta peculiaridades da população de São Paulo. O paulista não é "bairrista" como o mineiro. Não deixa de votar num candidato por ser de outro Estado.
Aécio, dessa vez, está decidido a não abrir mão de ser o próximo candidato a presidente do PSDB e a barrar ofensivas de Serra desde já. Para começar, trabalha para impedir que o ex-governador de São Paulo suceda o senador Sérgio Guerra (PE) na presidência do partido a partir de 2011. O receio é que, uma vez presidente do PSDB, Serra torne fato consumado uma nova candidatura sua ao Planalto.
Por enquanto sem sucesso, a articulação de aliados de Serra previa fazer dele presidente do partido num acordo com Guerra, que assume em 1º de fevereiro mandato de deputado federal. Pela proposta, o pernambucano seria líder do partido na Câmara dos Deputados e apoiaria a eleição de Serra para dirigir o partido.
Para serristas, Guerra não tem inclinação para conduzir a oposição com a firmeza que consideram necessária. Lembram sua proximidade do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), aliado de Dilma.
Seja quem for, o próximo presidente do PSDB terá de administrar a divisão interna entre os grupos de Serra e de Aécio, para tentar viabilizar um projeto eleitoral com chance de vitória.
Serra não quer perder tempo. Acompanha o início do governo Dilma e já faz as primeiras críticas. Ao interlocutor que comemora a discrição da presidente nos primeiros dias, ele rebate dizendo que ela não fala porque não sabe o que dizer. Sobre economia, afirma que o governo está numa "sinuca de bico", porque a rigidez fiscal é completa, a inflação está em alta e o déficit externo também.
Com ou sem cargo no partido, Serra buscará espaço para fazer oposição ao governo. De imediato, pretende retomar seu blog, no qual planeja escrever comentários sobre política, economia e meio ambiente, três ou quatro vezes por semana. Também está aberto a prestar consultorias e fazer palestras - ao preço de R$ 50 mil, metade do que cobra FHC.
Raquel Ulhôa é repórter de Política em Brasília.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
Durante a festa, circularam animados entre os convidados, sentaram-se com políticos presentes e posaram para fotos - até com o ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho (PMDB), colega do pai da noiva, senador Tasso Jereissati (PSDB), no Senado.
A presença de FHC foi uma demonstração do prestígio de Tasso, ex-governador e ex-presidente do PSDB, derrotado em outubro na disputa pela reeleição, numa campanha que contou com o empenho pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado de seus adversários.
Mas foi a desenvoltura de Serra que chamou mais atenção. Se alguém esperava vê-lo ainda abatido pela derrota na eleição presidencial, enganou-se. Estava "lépido e fagueiro", segundo relatos.
Nas poucas conversas políticas que teve - a mais longa com o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), sobre a disputa pelo comando do Democratas -, o ex-candidato a presidente da República mostrou que está voltando à ativa. E cheio de disposição para a tarefa que considera ter lhe sido conferida pelos mais de 43% dos votos que recebeu: fazer dura oposição ao governo Dilma Rousseff.
Serra avalia que os votos que recebeu são votos de oposição e que esse eleitorado vai querer dele e do PSDB um firme contraponto ao governo. Por isso, o ex-governador já começou a cobrar do futuro líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (SP), que assuma tal posição na condução da bancada.
Na opinião de aliados de Serra, o partido não foi combativo no confronto com o governo Lula. Inclusive durante a campanha, fez uma oposição "fru-fru", dizem, repetindo expressão usada pelo ex-governador paulista.
O futuro político de Serra é incerto, mas ele sabe o que quer: em 2014, disputar a Presidência da República pela terceira vez ou o governo de São Paulo, que ocupou de janeiro de 2007 a abril de 2010. Em qualquer um dos casos, espera fazer dobradinha com o governador Geraldo Alckmin. Um concorrendo ao Palácio do Planalto e o outro, ao dos Bandeirantes.
O cálculo é o seguinte: em quatro anos, ambos estarão igualmente fortes no Estado e seus projetos estarão necessariamente vinculados. "Serra e Alckmin estão ligados pelo destino", diz um deles.
Visto hoje, o projeto de Serra para 2014 parece quase impossível. Primeiro, porque o ex-governador Aécio Neves (MG), eleito senador, representa a expectativa de poder no PSDB e não está disposto a abrir mão de disputar a próxima eleição para a Presidência da República. Segundo, por causa da afinidade entre Alckmin e Aécio.
Terceiro, porque vários setores do partido, não só de Minas Gerais, estão cansados da hegemonia paulista no PSDB. E defendem um candidato não paulista a presidente.
Aliados de Serra rebatem cada obstáculo. Primeiro, acham que Aécio não vai fazer oposição de fato, por seu perfil mais conciliador. Segundo porque, apesar da proximidade com Alckmin, acreditam que o atual governador de São Paulo no fundo ressente-se da falta de apoio de Aécio à sua candidatura a presidente, em 2006. A tese é que Aécio "rifou" Alckmin em 2006, assim como o fez com Serra, em 2002 e 2010.
De acordo com esse raciocínio, a pregação antipaulista de Aécio prejudica sua pretensão. Acredita-se que o mineiro não conseguiria ser o candidato a presidente se Serra estiver contra.
Uma das falhas dessa avaliação, segundo aliados de Aécio, é não levar em conta peculiaridades da população de São Paulo. O paulista não é "bairrista" como o mineiro. Não deixa de votar num candidato por ser de outro Estado.
Aécio, dessa vez, está decidido a não abrir mão de ser o próximo candidato a presidente do PSDB e a barrar ofensivas de Serra desde já. Para começar, trabalha para impedir que o ex-governador de São Paulo suceda o senador Sérgio Guerra (PE) na presidência do partido a partir de 2011. O receio é que, uma vez presidente do PSDB, Serra torne fato consumado uma nova candidatura sua ao Planalto.
Por enquanto sem sucesso, a articulação de aliados de Serra previa fazer dele presidente do partido num acordo com Guerra, que assume em 1º de fevereiro mandato de deputado federal. Pela proposta, o pernambucano seria líder do partido na Câmara dos Deputados e apoiaria a eleição de Serra para dirigir o partido.
Para serristas, Guerra não tem inclinação para conduzir a oposição com a firmeza que consideram necessária. Lembram sua proximidade do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), aliado de Dilma.
Seja quem for, o próximo presidente do PSDB terá de administrar a divisão interna entre os grupos de Serra e de Aécio, para tentar viabilizar um projeto eleitoral com chance de vitória.
Serra não quer perder tempo. Acompanha o início do governo Dilma e já faz as primeiras críticas. Ao interlocutor que comemora a discrição da presidente nos primeiros dias, ele rebate dizendo que ela não fala porque não sabe o que dizer. Sobre economia, afirma que o governo está numa "sinuca de bico", porque a rigidez fiscal é completa, a inflação está em alta e o déficit externo também.
Com ou sem cargo no partido, Serra buscará espaço para fazer oposição ao governo. De imediato, pretende retomar seu blog, no qual planeja escrever comentários sobre política, economia e meio ambiente, três ou quatro vezes por semana. Também está aberto a prestar consultorias e fazer palestras - ao preço de R$ 50 mil, metade do que cobra FHC.
Raquel Ulhôa é repórter de Política em Brasília.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
Um comentário:
O artigo da Rachel Ulhôa é bem elaborado, porém, assemelha-se às análises recentes, situando, como principal, eventual rivalidade entre tucanos de São Paulo e Minas Gerais, focando nomes (Serra e Aécio), enquanto o PSDB, como partido, não é realçado como projeto alternativo de governo. Presume-se que a postura tradicional de Minas Gerais conspira contra suas preferências à Presidência da República, tendo orígens que, no mínimo, levantam desconfianças:- "Minas não passa de uma autarquia da União, pois lá tudo é Federal". Oposicionismo mineiro sempre é e será de mentira, ou seja, não existe, pois é um Estado da Federação extremamente dependente dos cofres da União (tem 11 universidades federais de um total de 53; todas estradas de rodagem praticamente federais; 22% do funcionalismo público federal está em Minas Gerais, com população inferior a 50% do que São Paulo, que tem apenas 7,2% do funcionalismo da União, etc...) Obras em Minas são executadas somente com recursos federais, p.ex. Metrô de Belo Horizonte. Outro detalhe que conspira contra esse regionalismo mineiro e que realça sua discriminação:- "quais políticos de outros estados representam Minas no Congresso Nacional? Não conheço, mas é possível que tenha algum. São Paulo tem orgulho dos seus representantes provindos de outro estados. Até o grande Ruy Barbosa veio refugiar-se em São Paulo, onde a nacionalidade desponta de forma cordial e bem fazeja. Nosso Estado é o Brasil em toda vastidão, pois essa foi a vontade dos Bandeirantes! Rodolpho Varella
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