O economista José Roberto Mendonça de Barros resume a conversa sobre os eventos que pressionam a inflação com uma frase: "eu nunca vi tanta complicação climática com tantos produtos em tantos lugares ao mesmo tempo." Mas, além das secas e inundações, há outros motivos permanentes e temporários para a alta dos preços. Neste clima, o Copom se reúne.
O trigo foi castigado em novembro por uma seca forte na Ucrânia e na Rússia. E agora é atingido pela inundação na Austrália.
- Do trigo produzido na Austrália, 60% foram rebaixados para ração porque não foram considerados apropriados para consumo humano - diz José Roberto.
A soja surpreendeu todo mundo. Apostava-se na queda e o produto está em alta. Além de quebras de safra, há agora a seca na Argentina. O milho, como é cultura complementar à soja em muitos lugares, também está com redução da produção. O café enfrentou furacões na América Central e redução de produção na Colômbia. No algodão, houve redução da produção nos Estados Unidos porque os preços estavam baixos. Problemas climáticos no Paquistão também afetaram a cana-de-açúcar.
- É mais fácil dizer que produto não tem problema. O arroz tem boa produção e uma oferta abundante, mas na maioria dos produtos há uma mistura de choques de oferta com baixos estoques - explica o economista da MB Associados.
Os baixos estoques não são eventuais. É que há algum tempo a política agrícola de todos os países vem abandonando a prática de manter altos estoques dos produtos. É caro manter o produto guardado. Assim, qualquer choque de oferta pode produzir uma elevação dos preços:
- Este ano é um extraordinário exemplo dos extremos climáticos e como eles produzem choques de oferta. Isso se soma à demanda crescente na Ásia por todos esses produtos e mais a atuação dos fundos financeiros nos mercados futuros de commodities.
Segundo o economista, os fundos financeiros não criam tendências, mas as aceleram. Quando o movimento é de alta, a especulação eleva ainda mais a alta.
Só esse lado das commodities agrícolas já mostra que esta inflação não é simples. Mas não é o único fator de pressão de preços.
- A mãe dos problemas é a demanda excessivamente aquecida, que faz com que os aumentos de preços se espalhem. O setor de serviços está com preços acima do teto da inflação há muito tempo e vai continuar assim. O aumento de gastos do governo aumenta ainda mais a pressão da demanda - afirma José Roberto.
Outros economistas ouvidos repetem que a demanda aquecida tem elevado salários e custos de serviços e que parte dessa demanda aquecida é o gasto excessivo do governo.
- O Copom decidirá a taxa de juros sem saber qual será o corte de gastos do governo. O Banco Central também tem um dilema. Não pode subir muito os juros porque isso vai atrair mais capital especulativo e derrubar mais o dólar -- alerta Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio.
Além da volatilidade da oferta agrícola, pelos eventos climáticos, e da demanda aquecida no Brasil, há também alta nos preços das commodities metálicas. - O aço não estava subindo muito, mas a inundação da Austrália provocou a paralisação da produção de carvão metalúrgico. Como são minas subterrâneas, pode demorar meses para que elas voltem a produzir. Diante desse cenário, os preços do aço subiram - relata José Roberto Mendonça de Barros. Como se tudo isso não bastasse, há outro problema.
- O petróleo vai superar a marca dos US$100 - prevê o economista. Há vários motivos para isso: o inverno prolongado e extremo no hemisfério Norte, a demanda na Ásia, o começo de recuperação americana.
O trigo foi castigado em novembro por uma seca forte na Ucrânia e na Rússia. E agora é atingido pela inundação na Austrália.
- Do trigo produzido na Austrália, 60% foram rebaixados para ração porque não foram considerados apropriados para consumo humano - diz José Roberto.
A soja surpreendeu todo mundo. Apostava-se na queda e o produto está em alta. Além de quebras de safra, há agora a seca na Argentina. O milho, como é cultura complementar à soja em muitos lugares, também está com redução da produção. O café enfrentou furacões na América Central e redução de produção na Colômbia. No algodão, houve redução da produção nos Estados Unidos porque os preços estavam baixos. Problemas climáticos no Paquistão também afetaram a cana-de-açúcar.
- É mais fácil dizer que produto não tem problema. O arroz tem boa produção e uma oferta abundante, mas na maioria dos produtos há uma mistura de choques de oferta com baixos estoques - explica o economista da MB Associados.
Os baixos estoques não são eventuais. É que há algum tempo a política agrícola de todos os países vem abandonando a prática de manter altos estoques dos produtos. É caro manter o produto guardado. Assim, qualquer choque de oferta pode produzir uma elevação dos preços:
- Este ano é um extraordinário exemplo dos extremos climáticos e como eles produzem choques de oferta. Isso se soma à demanda crescente na Ásia por todos esses produtos e mais a atuação dos fundos financeiros nos mercados futuros de commodities.
Segundo o economista, os fundos financeiros não criam tendências, mas as aceleram. Quando o movimento é de alta, a especulação eleva ainda mais a alta.
Só esse lado das commodities agrícolas já mostra que esta inflação não é simples. Mas não é o único fator de pressão de preços.
- A mãe dos problemas é a demanda excessivamente aquecida, que faz com que os aumentos de preços se espalhem. O setor de serviços está com preços acima do teto da inflação há muito tempo e vai continuar assim. O aumento de gastos do governo aumenta ainda mais a pressão da demanda - afirma José Roberto.
Outros economistas ouvidos repetem que a demanda aquecida tem elevado salários e custos de serviços e que parte dessa demanda aquecida é o gasto excessivo do governo.
- O Copom decidirá a taxa de juros sem saber qual será o corte de gastos do governo. O Banco Central também tem um dilema. Não pode subir muito os juros porque isso vai atrair mais capital especulativo e derrubar mais o dólar -- alerta Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio.
Além da volatilidade da oferta agrícola, pelos eventos climáticos, e da demanda aquecida no Brasil, há também alta nos preços das commodities metálicas. - O aço não estava subindo muito, mas a inundação da Austrália provocou a paralisação da produção de carvão metalúrgico. Como são minas subterrâneas, pode demorar meses para que elas voltem a produzir. Diante desse cenário, os preços do aço subiram - relata José Roberto Mendonça de Barros. Como se tudo isso não bastasse, há outro problema.
- O petróleo vai superar a marca dos US$100 - prevê o economista. Há vários motivos para isso: o inverno prolongado e extremo no hemisfério Norte, a demanda na Ásia, o começo de recuperação americana.
- Além disso, a produção subiu pouco. Nas projeções da Agência Internacional de Energia, o Brasil seria o terceiro país que mais aumentaria a produção, e simplesmente não houve esse aumento. Outros países também não conseguiram aumentar a produção - diz José Roberto.
O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco e a RC Consultores não veem espaço para queda nos preços das commodities no curto prazo, por uma combinação de fatores: crescimento dos países emergentes; recuperação dos desenvolvidos; especulação nas bolsas com o dinheiro farto e barato que circula pelo mundo.
- Por enquanto, não há elementos mais sólidos que permitam pensar em queda dos preços das commodities nos próximos dois a três meses. Não é só os alimentos que estão subindo de preço, são as commodities em geral e mais o petróleo. Esse movimento de alta não chegou ao fim. Temos muita liquidez no mundo com juros baixos, o fim do movimento especulativo ainda não está no radar - afirma Fábio Silveira, da RC Consultores.
Esse cenário faz com que a inflação não seja problema exclusivo do Brasil. Ela tem voltado também em outros emergentes. China, Coreia do Sul e Tailândia já subiram juros. Na China, os preços fecharam 2010 em 5,1%. Na Rússia, em 8,8%, no Uruguai, em 6,9%.
- Há duas razões para a inflação nos emergentes: choque de commodities e atividade em alta. Nos desenvolvidos, percebe-se apenas o choque de commodities, por isso a inflação nesses países está mais baixa - diz Elson Teles, da Máxima Asset.
Tudo isso mostra que o quadro sobre o qual o Copom decide hoje, nesta primeira reunião do governo Dilma Rousseff, não é como o que está sendo traçado no Ministério da Fazenda. Lá, na Fazenda, se diz que é uma simples inflação de alimentos, sazonal, e que vai ceder. Não parece fácil desatar tantos nós criados pelo clima, demanda alta, quebras de safras e, no caso brasileiro, os excessivos gastos públicos.
FONTE: O GLOBO
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