CRISE NO GOVERNO
Fortalecimento do PMDB com o caso Palocci faz petistas temerem que partido aliado possa reivindicar o posto
Adriana Vasconcelos, Maria Lima e Isabel Braga
BRASÍLIA. A ofensiva do PMDB, com o aumento da pressão por mudanças na articulação política do governo, levou líderes petistas a já admitirem a substituição do ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, do PT. Trata-se de uma ação preventiva do PT, uma vez que os peemedebistas, agora fortalecidos pela crise Palocci, podem reivindicar o posto com o qual sempre sonharam. Em outra ponta, o esforço pela reaproximação entre o governo e o PMDB conseguiu barrar, pelo menos por enquanto, o aumento da dissidência no partido em favor da criação da CPI para investigar o aumento do patrimônio do ministro-chefe da Casa Civil.
Dos oito senadores peemedebistas do chamado grupo independente que avaliavam a conveniência de assinar o requerimento da CPI, apenas Roberto Requião (PMDB-PR) decidiu ontem dar seu aval para a investigação.
- É inexplicável essa consultoria de um médico a bancos. Eu mesmo briguei sete anos com o Banco Itaú por causa de uma questão do Paraná e só agora descobri que o consultor do banco era o Palocci. Não tem cabimento - justificou Requião.
Ele comunicou sua decisão no jantar promovido anteontem pelo vice-presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu, com a bancada de senadores do PMDB. Hoje, o mesmo grupo tem almoço marcado com Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, quando os problemas da coordenação política do governo serão abordados, se a presidente abrir espaço para esse debate.
Percebendo o aumento da pressão por mudanças na articulação política do governo e antes que o PMDB se ofereça para resolver o caso, senadores petistas discutiam ontem reservadamente a possível substituição de Luiz Sérgio. A constatação é que, nos últimos dias, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, já estaria assumindo parte do espaço da articulação política. Uma outra alternativa para o posto seria o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
- O problema (de substituir Luiz Sérgio) é quando e como fazer. Agora, se surgir a decisão de mudar, não adianta só mudar o nome. Tem que mudar e dar autonomia à pasta, do contrário, qualquer um que assumir vai passar atestado de louco - observou influente interlocutor do governo na bancada do PT.
G-8 decide esperar novas explicações de Palocci
Luiz Sérgio, que se reuniu ontem com líderes aliados na Câmara, disse que é normal esse tipo de problemas entre PT e PMDB, lembrando que não é a primeira vez que isso ocorre e não será a última. Sobre mudança na articulação política, diz que a presidente Dilma tem total autonomia para decidir.
- O PMDB tem sido importante para as vitórias que o governo teve para a governabilidade. Não existe nada que não possa ser debatido, a equipe que temos hoje foi convidada, e a última palavra é da presidente Dilma.
Na saída da reunião, o deputado Eduardo Cunha, que representou o PMDB, afirmou que o partido está "muito satisfeito com o líder Vaccarezza e com o ministro Luiz Sérgio":
- O que o PMDB sempre colocou é que tem que se conversar mais, e conversar mais não significa trocar com quem vai se conversar - disse Cunha.
Quanto à proposta da oposição de criar uma CPI para investigar as suspeitas sobre as atividades de Palocci como consultor, os senadores peemedebistas do grupo independente, o chamado G-8, decidiram esperar as novas explicações do ministro cobradas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Nos bastidores, porém, a avaliação quase unânime da bancada do PMDB é que Palocci não conseguirá se sustentar no cargo.
- O governo vai ter que trocar o fusível para não queimar a instalação toda - advertiu um deles.
No jantar com Temer, alguns desfiaram um rosário de queixas sobre a falta de interlocução com o governo, mesmo em temas de seu próprio interesse. O senador Ricardo Ferraço (ES), por exemplo, estaria aguardando há dois meses uma audiência com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para tratar de uma proposta que ele está relatando no Senado e é de interesse do governo.
No jantar, os senadores aproveitaram também para tratar de um pleito concreto a ser levado a Dilma hoje: a redução dos juros das dívidas dos estados, reivindicação já feita por vários governadores, inclusive os do PT.
FONTE: O GLOBO
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