sábado, 30 de junho de 2012

A piada sem graça do pibizinho

Dias atrás, Guido Mantega estrilou com um banco estrangeiro que previu que o Brasil teria expansão modestíssima neste ano. Se estiver mesmo convicto das projeções que faz, e nunca se cumprem, o ministro da Fazenda agora terá que partir para cima do Banco Central: desde ontem, tornou-se oficial que o PIB brasileiro irá crescer menos neste ano do que em 2011. O que era um pibinho virou um pibizinho.

No Relatório de Inflação divulgado ontem, o BC reviu as projeções de crescimento da economia brasileira de 3,5% para 2,5%. Confirmada a previsão, o Brasil avançará em dois anos o mesmo que o governo Dilma Rousseff prometia crescer apenas neste. A gestão petista está devendo, e muito.

Segundo o BC, o desempenho de todos os setores econômicos será bem pior agora do que foi no fraquíssimo 2011. Para a agropecuária, a previsão é de queda de 1,5% - antes esperava-se elevação de 2,5% no ano. O desempenho da indústria cairá à metade, para 1,9% anual. O dos serviços será o menos afetado, passando de uma alta de 3,3% para 2,8%.

Até poucos dias atrás, a Fazenda alardeava que o Brasil cresceria de "3% a 4%" em 2012, percentual do qual o Planalto nunca divergiu. Em seguidas ocasiões, Mantega sustentou que o patamar do ano passado - expansão de 2,7% - era ótimo "piso" para a economia brasileira numa época de vacas magras como a atual. Resta saber o que o ministro acha de tê-lo agora como teto inalcançável...

Depois de ter chamado de "piada" a previsão de que o PIB só avançaria 1,5% em 2012, feita pelo Credit Suisse na semana passada, Mantega agora terá de se contentar com o que, seguindo o ponto de vista do ministro, seria uma pilhéria do BC. De forma abrupta, a Fazenda também passou a falar dos mesmos 2,5% ora previstos no Relatório de Inflação. Como se faz uma revisão tão súbita sem que o governo se explique?

Infelizmente, é possível que, assim como o errático Mantega, também o BC esteja equivocado. A média dos prognósticos feita por mais de 100 instituições financeiras, estampada semanalmente no boletim Focus, já aponta para um crescimento de apenas 2,18% neste ano. A reversão das expectativas foi fulminante: há um mês, esperava-se algo pouco acima de 3%.

Para que o país cresça efetivamente os 2,5% previstos pelo Banco Central, a economia teria que acelerar muito no semestre que começa no próximo domingo. A LCA Consultoria estima que, para que o BC acerte, o ritmo de crescimento atual teria de ser triplicado. Para a Tendências, significa atingir algo como 9,5% ao ano. Alguém crê nesta possibilidade? Difícil.

A dura realidade econômica que ora vai se consolidando no país resulta da dificuldade do governo petista de agir adequadamente e na hora certa. A gestão Dilma demorou demais a baixar os juros, insistiu além da conta no incentivo ao consumo e até agora não conseguiu destravar os investimentos - alternativa que, de fato, teria o condão de melhorar a situação geral do país.

"O governo Dilma entendia que bastaria derrubar os juros, puxar as cotações do dólar e espremer os bancos para que baixassem os juros para que o PIB disparasse. Não é o que está acontecendo", comenta Celso Ming no Estadão. Para Miriam Leitão, n'O Globo, "o problema não é apenas o mundo. É a qualidade da nossa resposta. Ela tem sido fraca e sem nexo". "O Banco Central exime com excesso de condescendência a política econômica de responsabilidade pelo fraco desempenho do PIB", concorda o Valor Econômico em editorial.

Mais indicadores reforçam a percepção de que a resposta do governo do PT à crise é inadequada. O modelo de expansão da economia a reboque do consumo caminha para a exaustão, se é que ela já não chegou: o brasileiro nunca esteve tão endividado. Mostrou o BC ontem que o valor das dívidas já corresponde a 43,3% da renda das famílias no ano, recorde histórico desde 2005. Neste período, o endividamento mais que dobrou (era de 18,4% há sete anos).

A ferocidade com que os importados tomam conta do mercado brasileiro é outro agravante. No ano passado, os bens vindos do exterior atenderam todo o aumento de consumo de bens industriais verificado no país. Neste ano, contudo, estão indo ainda mais além: enquanto a demanda interna por estes itens caiu 2,4% entre janeiro e abril, a presença dos importados cresceu 0,4%, mostra o Valor em sua edição de hoje.

A um quadro que piora a olhos vistos, a presidente da República responde com o trivial simples da receita petista: medidas a esmo, desconectadas, fragmentárias. Os pacotes se sucedem e o país afunda, sem merecer do governo petista um plano de ação capaz de efetivamente evitar que o pior aconteça. Agindo assim, Dilma Rousseff e sua equipe brincam à beira do precipício.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

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