sábado, 30 de junho de 2012

Os verdadeiros ganhadores:: Paul Krugman

Aprovação de lei de saúde é vitória de Obama, mas beneficia em primeiro lugar os americanos comuns

A corte Suprema dos Estados Unidos, contrariando as expectativas de muitos, sustentou a validade da lei de reforma da saúde, também conhecida como Obamacare.

Haverá, sem dúvida, muitas manchetes proclamando uma grande vitória para Barack Obama -e isso é fato. Mas os verdadeiros ganhadores são os americanos comuns.

Sobre quantas pessoas estamos falando? Seria possível responder 30 milhões, o número de cidadãos que passarão a dispor de planos de saúde graças ao Obamacare. Mas isso subestima o número de ganhadores, porque milhões de outros americanos estariam em risco de perder sua cobertura de saúde.

Por isso, devemos acrescentar ao cômputo todos os que trabalham para empresas que oferecem bons planos de saúde, mas estão em risco perder o emprego (e quem não corre esse risco, em um mundo de terceirização e aquisições pelo setor de capital privado?); todos os que não teriam condições de pagar por um plano de saúde, mas agora passarão a receber apoio financeiro crucial; todos os com doenças que teriam resultado em impossibilidade de assinar um plano de saúde, em muitos Estados.

Mas e quanto ao custo? Uma boa maneira de expressar a questão é dizer que a estimativa do serviço orçamentário quanto ao custo das "provisões de cobertura" do Obamacare -basicamente, os subsídios necessários a tornar o custo dos planos de saúde acessíveis a todos- equivale, para os próximos dez anos, a um terço do custo dos cortes de impostos, esmagadoramente favoráveis aos ricos, que Mitt Romney propõe para o mesmo período.

É verdade que Romney alega que encontraria formas de compensar esse custo, mas não ofereceu qualquer explicação plausível sobre como o faria. Já a lei de saúde de Obama está plenamente coberta em Orçamento, por meio de uma combinação explícita de aumentos de impostos e cortes em outros gastos.

Portanto, a lei que a Corte Suprema acaba de sustentar é tanto um gesto de decência humana quanto um exemplo de responsabilidade fiscal. Está longe de ser perfeita -afinal, ela nasceu de um plano republicano, criado há muito tempo para evitar a necessidade de estender a cobertura do plano federal de saúde Medicare a todos.

Como resultado, é um sistema híbrido e canhestro de seguros de saúde privados e públicos que não funciona da maneira que um sistema criado do zero para esse fim poderia funcionar. E a luta para melhorar o novo sistema será longa e árdua, como aconteceu no caso da Previdência. Ainda assim, o Obamacare é um grande passo na direção de uma sociedade melhor -e quero dizer moralmente melhor.

Tradução de Paulo Migliacci

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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