• Às vésperas do 5º Congresso do PT, ex-presidente age para que resolução final do evento indique ‘agenda de desenvolvimento’
Vera Rosa – O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula com outras correntes do PT a substituição das críticas mais duras ao ajuste fiscal e ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pela defesa de uma “agenda de desenvolvimento” que “crie esperança” no País. O movimento tem como alvo o 5.º Congresso do PT, que ocorrerá de quinta-feira a sábado, em Salvador, e, antes mesmo da abertura, provoca tensão no Palácio do Planalto.
Apesar de adotar um tom de desaprovação às medidas tomadas pela equipe econômica, Lula não quer que o PT saia do encontro de Salvador com o carimbo de partido de oposição à presidente Dilma Rousseff por avaliar que essa estratégia corresponde a um suicídio político.
Em entrevista ao Estado, ontem, Dilma considerou injustas as críticas a Levy e disse que ele não pode ser transformado em “judas” e ser malhado pelo PT. A ideia do grupo de Lula é “virar o disco” e mostrar que, agora, os petistas estão dispostos a ajudar Dilma a retomar o crescimento, reduzir a desigualdade e tirar do papel o slogan do governo – “Pátria Educadora”.
Na lista das “compensações” ao ajuste que a chapa da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), de Lula, tentará emplacar na resolução do 5.º Congresso estão propostas de crédito para fortalecer a indústria e manter empregos, de estímulo às exportações e de regulamentação do imposto sobre grandes fortunas.
A intenção é deixar claro que o pacote fiscal também atinge o “andar de cima” e não se concentra em restringir direitos dos trabalhadores, como seguro-desemprego e abono salarial.
O receituário do corte de gastos e a proibição imposta pelo PT a seus diretórios – impedidos de receber doações empresarias de campanha – são os capítulos que prometem causar mais polêmica no 5.º Congresso.
A tendência Mensagem ao Partido – integrada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro – mede forças com a CNB para influenciar as discussões.
Antes de viajar para a Itália, na semana passada, Lula pediu a dirigentes e parlamentares do PT que desbastassem os ataques ao governo e não dessem “um tiro no pé”. No sábado, porém, ao abrir a 39.ª Conferência da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, em Roma, ele disse que, “se cada presidente ficar esperando que o ministro da Fazenda diga que está sobrando dinheiro, nunca vai fazer programa de transferência de renda”.
Nova rota. A cúpula do PT convocou o 5.º Congresso para corrigir rumos em meio à maior crise dos 35 anos do partido, no rastro dos escândalos de corrupção. Desde abril, no entanto, quando o então tesoureiro João Vaccari Neto foi preso, acusado de desviar recursos da Petrobrás, o desgaste só aumentou e o nome de Lula chegou a ser associado a denúncias. Dirigentes do PT vão manifestar solidariedade ao ex-presidente no encontro de Salvador, que será aberto por ele e encerrado por Dilma.
Em conversas reservadas, Lula tem dito que um eventual fracasso de Dilma será debitado na sua conta e, diante desse quadro, somente será candidato à sucessão de 2018 se a economia estiver bem. No seu diagnóstico, ou o PT renova o discurso e ajuda Dilma a sair da turbulência ou o cenário de hoje será “fichinha” perto da rejeição que o partido pode amargar nas eleições municipais de 2016 e na disputa presidencial de 2018.
“Agora, é tempo de parar de falar em ajuste e falar de investimento, emprego e distribuição de renda”, disse o presidente do PT, Rui Falcão. “A política fiscal é de responsabilidade do governo e não é adequado criticar o ministro Levy. Acredito que o Congresso do PT será responsável e solidário com a presidente Dilma e sua equipe”, afirmou o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini.
Polêmicas petistas
Ajuste fiscal - Alas radicais do partido prometem entoar gritos de “Fora Levy” no congresso petista. O governo e o ex-presidente Lula pedem cautela e a cúpula da corrente majoritária tentará aprovar uma resolução política mais amena, focada em medidas “pós-ajuste”.
Taxação de fortunas - Para “compensar” o ajuste, o PT quer que o governo taxe as grandes fortunas do País, fazendo com que os mais ricos também paguem a conta. Levy não gosta da ideia e disse à presidente preferir um imposto sobre heranças.
Doações empresariais - Depois da prisão de João Vaccari Neto, o PT proibiu os diretórios de receberem financiamento de empresas. A medida causou protestos no partido e agora grupos se acusam mutuamente de quererem promover um recuo.
Fim do PED e nova direção - O Processo de Eleições Diretas (PED) é alvo de críticas em geral, por reproduzir vícios do mundo político, como abuso do poder econômico e compra de votos. Setores também querem abreviar o mandato da atual direção.
Constituinte exclusiva - Com a reforma política desfigurada pelo Congresso, o PT voltará à carga para encaixar na resolução a defesa de uma Assembleia Constituinte exclusiva, com o objetivo de votar o tema.
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