Investimento
produtivo caiu pouco; mortes de Covid e os dedos do presidente são ameaça para
2021
O
resultado do ano seria um desastre histórico certo e óbvio, “recorde”, por
causa da epidemia. Mas a
economia andou um pouquinho melhor do que o esperado no final do ano
horrível de 2020. Um tanto mais impressionante, o investimento caiu pouco
–trata-se aqui da despesa em novas construções, casas, instalações produtivas,
máquinas, equipamentos etc.
Caso
a economia mantivesse o ritmo de produção do último trimestre de 2020 ao longo
de todo este 2021, o crescimento seria algo em torno de 3,7% ao final deste
ano. Seria uma estagnação, trimestre ante trimestre. Mas, como
o trimestre final de 2020 foi muito melhor do que o restante do ano
desastroso, na média 2021 seria melhor.
Vai
manter o ritmo?
Difícil saber, mas o ano começou fraco: a economia sentiu o fim do auxílio emergencial, mais do que o previsto pelos economistas. A nova onda de morticínio da epidemia já fez estragos no primeiro trimestre e terá efeitos também pelo menos ainda em abril –o setor mais danado da economia em 2020 foi o de serviços, que não vai se recuperar enquanto o vírus estiver livre para matar, com ou sem restrições de movimento. A vacinação é tardia. Se houvesse governo, pois, seria possível crescer mais do que 3,7% e quase recuperar pelo menos o que se perdeu em 2020.
O
resultado mais notável do PIB do ano passado, vamos repetir, foi a queda até
pequena do investimento (0,8%). No pior momento da recessão de 2016, por
exemplo, o investimento chegou a cair 16,3% no primeiro trimestre daquele ano
(na taxa acumulada em quatro trimestres). Por falar no terror de 2016, o
crescimento da economia acumulado em quatro trimestres foi tão ruim ou pior do
que o do 2021 em três trimestres (chegando a diminuir 4,5%).
Os
auxílios emergenciais, o aumento da oferta de crédito, nos bancos e em parte
facilitado pelo Banco Central, e a “reabertura” da economia a partir de outubro
evitaram desastre ainda maior. Outra contribuição importante veio do comércio
exterior (valor das exportações menos importações), que contribuiu positivamente
com 1,2 ponto percentual para o PIB. As exportações não tinham tamanha peso no
PIB pelo menos desde ao ano 2000.
Quais os problemas para 2021? Aqueles sabidos por qualquer pessoa adulta e sensata: o governo de Jair Bolsonaro deixa passar a boiada assassina do vírus e a vacinação ainda é lerda. De efeito menos visível para o observador comum, há a gestão entre incompetente e estúpida da economia. Se deixarem estourar as contas do governo e Bolsonaro continuar a “meter o dedo”, fazer intervenções demagógicas e contraproducentes, dólar e taxas de juros subirão ainda mais.
O
choque de preços de commodities (grãos, petróleo) e de alimentos em geral,
multiplicado ainda pela alta do dólar, chutou a inflação para cima. O
IPCA acumulado em 12 meses deve chegar perto de 7% em meados do ano.
Pode ser um choque temporário. Logo, o Banco Central não precisaria reagir de
modo muito agressivo, elevando os juros rapidamente, embora no atacado de
dinheiro do mercado as taxas tenham explodido.
Mas
o choque de preços pode não ser temporário. A intervenções estúpidas do governo
e a má gestão geral da política econômica podem fazer com que o dólar permaneça
nas alturas (ainda mais se continuar a tendência de fortalecimento da economia
americana e de altas de juros por lá). Os juros subiriam. A inflação comeria
ainda mais poder de compra.
O
medo da epidemia e de que o governo cometa mais tolices causa insegurança e
desconfiança de consumidores e empresas. Seria mais um freio no PIB. O nome do
risco é Bolsonaro.
Renda média do brasileiro regride a 2009
A
renda do brasileiro regrediu ao nível de 2009. Quer dizer, o PIB
(Produto Interno Bruto) per capita de 2020 foi similar ao daquele ano
da década passada. PIB per capita: o valor da produção ou da renda dividido
pela população. Na verdade, a situação socioeconômica é pior: há mais
desemprego e pobreza.
No
ano passado, o PIB per capita diminuiu 4,8%. Baixas piores do que essa haviam
ocorrido apenas em 1983 (recessão final da ditadura militar) e 1990
(recessão do
Plano Collor).
Vai
demorar para que a renda média volte pelo menos ao nível registrado no ano de
2014 (anterior ao do início da grande recessão, último ano do primeiro
mandato de
Dilma Rousseff).
Se
o Brasil crescer 3,5% neste 2021 e 2,5% nos anos seguintes, o PIB (renda) per
capita volta ao valor de 2014 apenas em 2026. Mais do que uma década perdida em
termos de PIB, sem contar os desastres sociais e a degradação da capacidade
produtiva (crescimento mínimo da infraestrutura, desqualificação dos
trabalhadores, atraso tecnológico etc.)
Por que apenas 2,5% de crescimento ao ano, no futuro visível? Seria mais ou menos a capacidade atual de a economia brasileira crescer. Para ser mais, teria de haver aumentos de eficiência e/ou capacidade de investimento. É um chute informado, digamos. Pode ser que a capacidade básica ou média de crescimento tenha diminuído nestes anos.
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